O porteiro do prédio que meus pais moram me deixa entrar. Ele fica um pouco surpreso em me ver, pelo que percebo. Pego o elevador e paro no décimo andar. Toco a campainha da casa dos meus pais.

Quem vem atender é uma das empregadas (deve ser uma nova, que eu não conheço). Ela me deixa entrar. Mamãe está lendo uma revista, sentada no sofá. Junto-me a ela. Algumas lágrimas já estão escorrendo pelo meu rosto, mas crio vontade pra pedir:

"Mãe... você pode me emprestar dinheiro, por favor? Eu menti, desculpa, eu não tenho emprego, e preciso pagar as contas da minha casa, e..."

A reação de mamãe ao ouvir aquelas palavras é de tristeza. Ela fica calada por alguns segundos, e eu também permaneço em silêncio, com as lágrimas rolando pelo meu rosto. Quando acho que ela desistiu de falar comigo, ouço sua resposta:

"Não."

Minha expressão é de surpresa, e ela logo acrescenta:

"Você escolheu nos deixar pra morar sozinha. Meu coração dói só de pensar, mas eu preciso parar de tratar você como uma criança. Você tem plena capacidade de se virar sozinha, que nem uma adulta. Não era isso que você queria?"

Minha cabeça está balançado pros lados, fazendo que "não". Parece que entrei em um "modo desespero", e tento convencê-la a, pelo menos, me deixar voltar a morar no meu antigo quarto. Porém, mamãe permanece firme em suas convicções.

"Eu sabia que você iria voltar alguma hora, que você nunca vai ser feliz desse jeito que você pensa. A vida é dura, não é fácil, não. Aqui em casa você tinha todas as mordomias do mundo, e você escolheu abandonar essa vida, manchou o nome da família. Agora, você tem é que sofrer as consequências, mesmo. Espero que você se arrependa bastante de suas atitudes. Ah, e seu pai estava certo. Chega de mordomias!"

Tento argumentar novamente, mas mamãe se recusa a ouvir.

"Pode ir embora, agora. Para nós você morreu."

Já não me importo das lágrimas preencherem meu rosto. Depois daquelas palavras, levanto e vou embora daquele lugar. Não sei como, mas consigo chegar em casa. Vou direto deitar na minha cama, ainda chorando sem parar. Acho que acabo adormecendo depois de algumas horas.