As Raízes de Yggdrasil escrita por The White Searcher


Capítulo 11
Capítulo 11 – A capital dos espadachins




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O cheiro a mar abundava os arredores da cidade marítima pertencente ao reino de Midgard, e também, vizinha da própria capital. Gaivotas sobrevoavam tanto a cidade situada numa ilha não muito distante da terra principal, como os campos verdes do vale a sul de Fial. Não ostentava de muralhas, pois estas de nada serviriam em caso de batalhas e invasões, porém, usufruíam de um sistema sofisticado de defesa em torres que pousavam gentilmente no cenário, erguendo-se em cada um dos cantos impostos na cidade. Por ser construída sobre águas profundas e salgadas, maior parte de sua estrutura era revestida pela madeira refinada com trabalho, para durar centenas de anos com a manutenção correta. Barcos atracavam tranquilamente nos píers menores, e não havia ainda sinal de qualquer navio atracando naquele momento, apesar da cidade estar abarrotada tanto de marinheiros fartos e altos, como espadachins atarefados, para lá e para cá.
Mais distante, uma espécie de plataforma que emergia no cenário e se destacava pelo seu material sofisticado, e também pelo tamanho que apresentava. Seria a plataforma em que pousavam os aeroplanos que faziam as mais longas viagens, em menos tempo, apesar de ter preços relativamente caros. Porém, nenhum atracava também naquele momento, o que indicava que era, apesar de já parecer lotada, uma hora tranquila para se visitar o centro da cidade.

E assim o aprendiz o fazia. Carregando com vigor o papel em sua destra, se encaminhou pela cidade com cautela, devido ao tratamento que recebera toda a sua vida pelas ruas e vielas de Amar’Sin, cidade amaldiçoada pelo mesmo nome, onde sempre precisava estar atento ao seu redor, para não ser assaltado e esquartejado. Apesar de que Isla seria uma cidade mercadora realmente tranquila. Mercadores marinheiros esfregavam as mãos enquanto pechinchavam com os desesperados espadachins que necessitavam urgente de alguns materiais para suas missões, como atalhos pelo longo caminho que levava à experiência. Apesar do desespero, nada como um aperto de mãos ao término do negócio, para seguirem suas vidas.

Soltou um longo suspiro após descansar o corpo num dos poucos bancos livres na praça principal, a qual mais parecia uma feira, do que realmente a praça em si. A estatueta de ferro que ficava no meio do local, escondida por trás de dezenas de barracas de frutas, doces, armas e armaduras. Só então se lembrou. Talvez Cenia estivesse por ali, e o pudesse guiar até a Guilda dos espadachins. Mas uma rápida olhadela em volta, percebeu que seria impossível. Havia gente em demasia, aglomerados todos num único espaço, ao ponto de se atropelarem. Não havia trazido sua mochila, afinal, estava destruída do ataque da noite anterior. Sua arma também, mas ainda tinha a bolsinha de couro com o peso das moedas de gorjeta que Ray havia lhe dado.

Agarrou seu propósito, decidido a comprar uma arma para que pudesse vencer no teste de admissão dos espadachins, apesar de nunca ter usado nada fora aquele gládio que havia sido quebrado. Também não acreditava que fosse encontrar sequer que fosse uma adaga por menos de mil e quinhentos zenys, mas a perseverança era a única a morrer no ruivo.
Persistiu naquela ideia, enquanto divagava sobre o acontecido da noite anterior, ainda descompassado, e com um gosto estranho em sua boca. Apesar de tudo, não sentia nem sede e nem fome, apesar de nada ter comido desde o almoço do dia anterior.

“Um apóstolo…” Pensou para si, enquanto deambulava por entre as pessoas, tentando não sofrer encontrões dos fortes marinheiros que abriam caminho com sua força e tamanho bruto. “Aquele monstro… Pelo que estudei no campo de treinamento, ele seria o Mestre das Calamidades. Mas algo pareceu… Estranho.” Acidentalmente, perdido em sua própria mente, trombava com um senhor de frente, o qual ignorou a existência do rapaz caído no chão, e prosseguiu caminho em uma longa passada. Ergueu prontamente seu corpo, sacudindo as próprias vestes, e levando a canhota à sacola de dinheiro na sua cintura, a sacudindo levemente, para ouvir o tilintar das moedas. “Um apóstolo do Mestre das Calamidades lhe ofereceu o corpo. Talvez isso o tenha enfraquecido, e talvez por isso eu ainda esteja vivo. Nós estejamos vivos.” Não seguiu caminho, perambulando seu olhar distante pelas construções locais, as quais se assemelhavam às da capital, Fial. Não haviam muitas, mas eram estruturas altas e requintadas, construídas com a melhor pedra que os dois reinos poderiam oferecer, numa coloração quase branca. Alicerces visíveis de madeira tratada, e telhas laranjas que formavam uma estrutura de cone. Janelas bordadas em madeira, e vidros que seriam tão fortes, quanto uma parede. Prestando melhor atenção, passeou os olhos pela placa em madeira postada ao lado esquerdo da porta completamente escancarada, dando lugar a um sigilo quase total, principalmente no meio de todo aquele escarcéu.

“Loja de armas” – Estava gravado na placa, de forma tão livre e espontânea, que quase pareceu zombar da cara de Nero, o qual abriu um sorriso, assim como o próprio caminho para adentrar na loja.

Bem fundo em seu âmago, sabia que de nada valeria os mil zeny que guardava com tanta prudência e cautela, mas não perderia a mão por tentar. Seus olhos precisaram de alguns segundos para se habituarem à troca de luminosidade, e também de cores, já que o exterior era deslumbrante, com arcos floridos e sempre resplandecente, ali era o oposto.
As paredes eram em madeira escura, assim como o chão, evitando que refletissem as luzes dos candelabros ligados acima do único balcão principal, situado no centro do estabelecimento em cilindro.

— Bem-vindo à principal loja de armas de Isla. – Uma voz feminina divagou com total desinteresse, enquanto suas mãos manuseavam habilmente uma pequena adaga que reluzia com seu material prateado. Estava debruçada no balcão, apoiando o corpo pelo cotovelo do braço livre, enquanto a mão apoiou a própria cabeça, esmagando a bochecha farta. Cabelos loiros e curtos que pareceram uma cortina pela posição da cabeça, e um par de óculos desajeitados em seu rosto sem qualquer marca visível. Era inteiramente limpo, como a neve. Olhos azuis como o céu, como o mar.

Uma rápida inspeção, revelava que o cheiro de nada mudava ali dentro, continuando a manter o forte odor que o oceano trazia consigo. Olhando para a porta atrás de si, contemplava apenas de um clarão. Também não havia qualquer tipo de armas expostas nas paredes, como imaginava que seria uma loja que supostamente vende armas.

— Impressionado pelo estabelecimento? Ou tem uns parafusos a menos? – Sua voz se fez presente novamente, logo após um suspiro. Como era baixo naquela idade, com apenas doze anos, o rapaz não conseguia ver nada do uniforme.

Acanhado, aproximou-se do balcão e se postou na ponta dos pés, para encarar a garota por cima do balcão.

— Tem alguma arma que possa vender por menos de mil zenys? – Perguntou, mas com sua esperança diminuindo com cada palavra que proferira.

— Uma arma por menos de mil zenys? – Se a mulher fosse um gato, ou um cachorro, teria arrebitado suas orelhas, mas sua face não se alterou do tédio profundo. Por fim se levantou do balcão e encarou Nero por alguns segundos, antes de guardar a adaga algures onde clientes não pudessem se apossar do material, e recuou para a traseira do edifício. – Tenho espadas, alabardas, lanças, adagas… - Foi recitando, com uma voz abafada pela quantidade de madeira no local, mas era possível perceber que estava remexendo num entolhado de armas no armazém. Então, voltou. Carregava consigo uma espada de noventa centímetros, com uma lâmina bela e refinada pelo ferro e forja. – Aqui. – Disse, a pousando sobre o balcão, com o punho metálico à disposição do rapaz.

Seus olhos brilharam ao pousar sobre o objeto, e a garota continuou com aquele olhar tedioso.

— É linda! – Disse o ruivo, animado e ansioso em simultâneo, pronto para agarrar o punho da arma, que fora puxada pela mulher de forma impiedosa.

Um sorriso se formou nos lábios da mesma à medida que o de Nero desaparecia, formando pequenas covas graciosas em suas bochechas, então, a mesma continuou.

— Mas nenhuma por menos de dois mil Zenys. Sinto muito, garoto. – E guardou a espada provavelmente no mesmo lugar em que havia guardado a adaga. – Se não tem como pagar, desande. – E voltou à postura de outrora, num tédio profundo, com os olhos focando tanto o garoto, como o exterior clareado.

Aproveitou seu dinheiro para a comida, já que todo o esforço de caminhar por entre as pessoas lhe abrira o apetite. Visitou a pousada local, igualmente voltada para a praça lotada de pessoas ocupadas de mais para usufruírem daquele estabelecimento, em que o tratamento ao publico era bem diferente do daquele na loja de armas. Também queimavam variados incensos, postado tanto por cima da porta principal, como atrás do balcão, para disfarçar o cheiro de água salgada e de suor que tresandava pelas ruas. Mas nem o mais forte dos incensos enganou o farejar do ruivo que se sentou solitário numa das mesas envernizadas de madeira, a comida estava sendo preparada com prontidão na cozinha. Podia ouvir todo o tipo de movimento vindo da mesma também, já que cautelosamente tinham feito as paredes de modo a abafarem qualquer som vindo do exterior e interior.  
Seu corpo relaxou, exalando o cheiro de peru e batata com os olhos fechados, mas que logo tornaram a abrir. Detalharam e mapearam o local, como se fosse um exercício próprio para fugas rápidas, nada que não tivesse aprendido nas ruas de Amar’Sin, assim como todas as manias. Tinha quadros emoldurados nas paredes, com peles de criaturas expostas ao ar como demonstração a oferendas que aventureiros faziam ali. Uma pesada âncora de ferro e já muito envelhecida pelo tempo, pousada no canto mais vazio do local, como se resguardassem aquele espaço apenas para sua solidão.
Desde pedaços de panos que deviam ser das velas, a pedaços de madeira dos cascos, até mesmo um leme embelezava as paredes, tornando o local um tanto quanto artístico pela forma como separavam os produtos exibidos. E acima do balcão, captou a atenção do rapaz, a espada que reluzia o brilho que entrava pela janela no topo do edifício de uns cinco metros de altura, exposta num suporte em madeira escura. Não tinha nada em especial, era apenas uma espada comum de noventa centímetros que qualquer cavaleiro portaria em suas missões… Mas o nome delicadamente gravado no portador da espada, em uma tonalidade dourada, talvez revelasse o nome da mesma, e o do antigo dono.

Mas antes que tivesse a chance de se levantar e se encaminhar para perto do balcão, o suficiente para ler as palavras gravadas, o homem robusto surgiu da cozinha. Um sorriso em seus lábios, costumeiro dos taverneiros para manter seus clientes confortáveis, e com movimentos ágeis, contraditórios ao seu tamanho, contornou o grupo de mesas até alcançar o aprendiz. À sua frente, pousou o melhor prato que havia comido até então, de frango e batatas ainda quentes e recém feitas, com um sabor tão bom quanto o aroma, e um suco de uva preparado naquele mesmo momento. Durante a refeição, seu olhar bailou novamente pelo local. O dono do estabelecimento estava sozinho atrás do balcão, distraído com um copo de cristal, o qual girava para que o pano abrangesse todos os locais de sua estrutura. Acima do balcão, um segundo andar, com uma sacada interior que teria metade do espaço oferecido pelo andar inferior, e talvez o mesmo número de mesas. Uma escadaria que levava a este segundo andar, embelezado por videiras que entrelaçavam no corrimão polido e envernizado, e apenas podia supor que ao fundo do segundo andar, ficaria o corredor com os quartos.

Sem muitas adversidades, o ruivo pagou sua estadia breve, no caso, o almoço precoce, já que ainda não dava meio dia, mas também não queria ir para o exame de admissão de barriga vazia, e então, se despediram com um aperto de mão. O garoto saiu do local acariciando a própria destra, sentindo uma pitada de dor do apertão que havia tomado ao cumprimentar o taverneiro como velhos amigos, e nisto franzia o cenho.
Ao chegar no exterior, reclamando consigo baixinho, notou que o local estava despovoado, diferente de como estava minutos atrás, apesar do escarcéu não ter diminuído… Apenas… Estava distante. Atento, olhou em volta, buscando o aglomerado de pessoas, e contemplando, além do amontoado exasperado dos habitantes e marinheiros, um enorme mastro que se erguia ao longe, com uma vela maior ainda, a qual era retraída lentamente pelos homens que trabalhavam arduamente.

Aquele seria o único navio com audácia suficiente, ou talvez burrice, que levasse os aventureiros até um navio dito como fantasma, naufragado numa ilha um pouco distante. Pelo andar da história, Nero teria também que visitar este navio naufragado um dia… Ele só não sabia ainda.

Talvez por pura intuição, tomou o rumo oposto ao do aglomerado, em direção a uma única construção após uma pequena ponte. Era maior que todas as outras, com espadas gigantes em um metal refinado embelezando seus telhados. Era óbvio o símbolo prestado… Era a casa da guilda dos espadachins, e tinha o caminho desimpedido até a tal. Apesar do detalhe hiperbólico, a construção evidenciava dos mesmos detalhes de todas as outras casas locais.


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