Pov. Ágda Freirdóttir 

Crianças carregando cestos cheios de flores praticamente me derrubaram ao passarem por mim em direção a procissão, quando se juntaram ao grupo jogaram as pétalas de cores variadas para o alto dando um colorido ainda mais bonito a cena a minha frente. 

O sol forte da manhã ofuscava minha visão, mas eu estava grata pelo calor que vinha dele, os invernos estavam cada vez mais longos e a primavera seria muito bem-vinda. Com isso em mente virei meu rosto em direção ao sol e fechei meus olhos para aproveitar o calor que emanava. Quando pétalas atingiram meu rosto, um suspiro cansado escapou por entre meus lábios. 

Algo estava para acontecer, eu simplesmente sabia que estava para acontecer, por dias eu vinha ignorando a sensação engraçada de frio na barriga, porque tudo que eu queria era ser contagiada pela alegria que eu via, os músicos na calçada, os longos cabelos das mulheres rodopiando no ar, crianças sorrindo. Porém hoje, eu a sensação acordará mais forte, mais intensa e minha apreensão não podia ser disfarçada. 

— Alegre-se Ágda! Seu povo está feliz, e dias férteis e felizes se anunciam princesa. - A voz de Klaus, meu mais fiel amigo e guarda me tirou de meus devaneios. 

— Algo está para acontecer- elevei minha voz por cima dos barulhos para que o loiro ao meu lado escutasse. 

— Ágda olhe essa festa, esses rostos felizes. Como você pode achar que algo está para acontecer? - Os olhos verdes percorriam meu rosto com ar de cinismo. 

— Eu simplesmente sei. - respondi gesticulando exasperada conforme nos afastávamos e íamos em direção ao castelo.- É essa sensação dentro de mim, começou com um friozinho na barriga, engraçada até, e agora tem toda essa expectativa se agitando dentro de mim, me agonia, mas ainda é boa. É inquietante, borbulhante e hoje eu acordei sentindo como se fosse transbordar de mim.  

Minhas mãos caíram derrotadas ao lado do meu corpo junto com um suspiro exagerado que me escapou, virei para olhar para Klaus que tinha uma sobrancelha levantada após meu apaixonado discurso. 

— Borbulhante? - questionou ele com divertimento.-Princesa, você não faz o menor sentido. 

Uma fileira de dentes muito brancos apareceu enquanto sorria, um toque de deboche no rosto, me limitei a revirar os olhos e seguir a caminhada até o castelo. 

— Você passou muitas luas amuada após a morte da sua mãe, o frio do inverno certamente ajudou na melancolia. Você só não está mais acostumada com alegria, ou a leveza dessa nova estação e está esperando que algo te leve ao estado de antes. - ele pareceu respirar fundo antes de continuar. - Como seu amigo eu te peço, pare de procurar preocupações. 

— O que eu faço com essa sensação que parece borbulhar dentro de mim? - parei de frente a ele já dentro do castelo. 

— Bem, acho que você deveria tomar um néctar, isso deve ser só teu estomago rejeitando a sua tentativa de fazer um jantar para seu pai. 

— Eu não cozinho tão mal assim, seu idiota!- empurrei com o ombro. 

— É você que está falando de sensação "borbulhante" na barriga, não eu.- Klaus deu de ombros e estava prestes a acrescentar algo quando um dos guardas do meu pai apareceu esbaforido na nossa frente. 

— Princesa Ágda!- chamou ele fazendo uma reverência com a cabeça.- Seu pai a espera na sala do trono imediatamente. 

O segui pelos corredores do castelo até a sala do trono com Klaus ao meu lado, eu o olhava com minha melhor expressão de "Eu sabia!". 

— Aí está, minha filha Ágda! - disse meu pai na direção dos quatro estranhos presentes na sala.- Venha cá filha, conheça nossos visitantes os príncipes de Asgard, Thor e Loki. 

E dois pares de olhos se viraram na minha direção um azuis curiosos, mas foi o segundo de verdes desdenhosos que fez o borbulhar transbordar de vez. Aquilo não era bom.