Prodígio de Titânio - Livro 2 escrita por Jojs


Capítulo 4
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Notas iniciais do capítulo

PENSA NUM CAPÍTULO DIFÍCIL DE SAIR?!!!!
Mas foi recompensador, mais de 6k de palavras!!!!!
Bem vindos ao aniversário da Lila!



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O sol tocava cada milímetro de espaço lá fora, mas Lizandra Stark só estava aconchegada na cama esperando dormir o máximo possível, virou de um lado a outro durante a noite inteira, como se algo na cama estivesse a atrapalhando e quando o sol ia se pondo ela tinha dormido a pouco, era horrível sentir-se cansada daquela forma, logo em um dia tão feliz como aquele, ela não precisava ser um gênio para saber que seu pai tinha planejado tudo para fazer do seu décimo nono aniversário tão especial quanto possível.

— Lila. — A porta se abriu devagar revelando uma mulher com flores nas mãos. — Vamos acordar, o dia já nasceu e não é qualquer dia.

— Me deixa dormir, Pepper. — Ela resmungou tampando o rosto e torcendo para que a ruiva fosse embora. — Só mais uns vinte minutinhos ou umas duas horas, quem sabe três.

— Não mesmo. — Pepper depositou as flores, narcisos, sobre o criado mudo e foi abrir as cortinas, mas percebia que toda vez que abria Lila usava sua telecinese para fechá-las. — Lizandra! Levante-se.

— Estou com dores, chame o Dr. Strange, estou bastante indisposta. — Lila tentou um último resmungo, mas Pepper lhe arrancou a coberta. — Belas flores, mas eu quero dormir.

— Vá tomar um banho, Happy está esperando você para o café. — A ruiva sorriu. — A propósito, Feliz Aniversário, Lila.

O banho frio era quase um mártir, mas era ótimo para manter Lizandra acordada e também deixar seu corpo mais alerta, um banho frio sempre ajudava com as dores no corpo que ultimamente não estavam tão constantes e ela agradecia bastante por isso.

Os olhos fechados impediam que a lu que ainda lhe irritava os olhos enquanto e água descia por seu rosto e tocava cada centímetro de sua pele, Lila pensava em como um banho de banheira seria bem mais proveitoso, mas demoraria e ela não queria Pepper no seu pé. A garota já desligava o chuveiro quando sentiu um choque a cabeça doer mais do que o de costume, Lila foi ao chão do banheiro com as duas mãos na cabeça enquanto as coisas flutuavam não só no banheiro, mas pela casa inteira.

— Srta. Stark … — A voz arrastada era masculina e a cada palavra dita era como um soco no rosto de Lila apenas pela dor causada. — Você desperta o meu interesse, é inteligente, forte … Creio que nos veremos em breve.

— Quem é você?! — A voz dela saiu em um sussurro e ouviu uma risada ao fundo. — Sai da minha cabeça.

— Até breve, Lizandra. — A voz parecia ir se dissipando aos poucos até sumir e as coisas pararem de flutuar.

Lila tratou de se levantar e enrolar-se na toalha, ela ainda sentia uma dor de cabeça e ao olhar o espelho teve outro susto, o reflexo de um ser roxo refletia no mesmo, ela esfregou os olhos e ele não estava mais lá, mas ela ainda tremia um pouco, só poderia ser algo da sua cabeça, nada mais do que isso, logo agora que ela queria ter apenas um dia normal.

Assim que ela transpôs a porta do banheiro secando os cabelos ela viu três figuras ali, a primeira estava um pouco ofegante e tão vermelha quanto seus cabelos, era uma Pepper preocupada. Logo ao lado dela estava Tony que parecia estar vestindo um terno quando saiu correndo até Lila, já que o nó de sua gravata estava pela metade e por último estava Happy perto da porta do quarto com uma arma na mão.

— O que foi? Comitê de Feliz Aniversário? — Lila debochou olhando os três, não contaria a eles sobre o homem roxo. — Podiam pelo menos me esperar tomar banho e trocar de roupa né?

— As coisas começaram a flutuar.  — Foi Tony a se pronunciar.  — Você está bem?

— Sim, eu estou bem, estava cantando no chuveiro, acho que me empolguei. — Ela mentiria, claro que mentiria, faria isso levando a mão a boca e escondendo um sorriso tímido, porém falso, para não preocupá-los. — Sabe como eu sou com a Madona.

— Então foi só isso. — Pepper sorria olhando para Tony e Happy. — Vamos deixá-la trocar de roupa e se juntar o Happy no café, nós estamos atrasados.

— Oh! Sim. — Happy ajeitava o terno. — Te espero no jardim.

— Está bem mesmo? — Tony perguntou enquanto só estavam Lila e ele no quarto. — Você não precisa mentir pra mim.

— Estou pai. — Ela mantinha o sorriso para tentanr convencê-lo. — Agora vá, não quero perder um minuto se quer desse dia.

Tony deixou Lila sozinha, ela sabia muito bem o que era melhor para ela, Lizandra realmente só precisava de um tempo para processar tudo aquilo, ignorar as possíveis vozes, ela aprendeu a blindar uma ou outra, não era mais tão automático e invasivo quanto antes, mas algumas ela ainda ouvia, como se sua vontade interna tomasse o lugar do bom senso, ela ficava preocupada com isso as vezes, mas queria e devia ignorar, pois no fim das contas não era nada, não podia ser nada.

Happy já a esperava para o café, ele estava no jardim e naquele dia Tony tinha saído por sua conta e risco, mas os segurança e motorista sabia que o Stark se viraria bem sozinho por um dia, ele queria mimar e dar atenção a garota a sua frente, Lizandra precisava dele e Happy sabia que sim. Na mesa haviam várias guloseimas que ele sabia que ela amava não era como se ela gostasse de muitas besteiras, mas haviam algumas.

— Quem escolheu isso tudo? — Ela sorria ao ver a variedade de coisas que gostava, era diferente da dieta rígida que ela andava seguindo. — Eu nem sei por onde começar.

— Não precisa escolher uma coisa só. — Happy lia algumas coisas no jornal e tomava apenas um café. — Você tem tempo para escolher o que quiser, comer o que quiser, aliás ... Isso chegou pra você hoje.

— O que é isso? — Lila olhava para uma caixa, havia algumas várias folhas em uma pasta lá dentro, mas por cima havia uma pulseira e um pequeno papel que estava escrito “Ligue-me quando precisar”. — Bruce?

—Sim. — Happy sorriu. — Ele está em Genebra, disse que não poderia vir para o seu aniversário mas mandou isso, é uma pesquisa que queria que você olhasse, disse que ia se divertir.

—Bruce me conhece muito bem. — Lila abriu um grande sorriso pegando a pasta e a folheando. — Vou começar com isso o mais breve possível, isso deve ter umas 250 páginas, em dois dias eu termino isso, basta foco!

—Não mesmo, isso é coisa para depois do seu aniversário. — Happy se levantou pegando a pulseira na caixa e colocando no braço dela. — Hoje você tem uma agenda lotada, sobre essa pesquisa eu aposto que você vai dar uma melhorada nela.

—Okay, okay, você venceu. — Ela devolveu a pasta para dentro da caixa. — E é óbvio que eu vou deixar isso muito melhor, estou mais ansiosa que nunca para ver o Bruce, papai vive querendo conhece-lo pessoalmente.

—Vocês três juntos seria realmente muita inteligência por metro quadrado, é compreensível que o Tony queira conhece-lo. — Happy voltou ao seu café. — De onde você conhece o Bruce mesmo?

—Quando estava naquele programa de jovens cientistas da S.H.I.E.L.D., ele também estava lá, pudemos conversar melhor, por mais tempo. — Lila se recordava daqueles momentos. — Mas eu o conheci em uma das festas do papai, trocamos mensagens, ele estava me ajudando com algumas coisas que eu queria aprender para impressionar o Sr. Stark, vulgo meu pai, ele também me ajudou a decifrar as coordenadas na época do sequestro, Dr. Banner é um grande cientista e ótimo amigo.

Lila tinha colocado em mente que falaria com Bruce depois, agradeceria o presente que ela amou, conversaria sobre algumas novas descobertas tecnológicas e insistiria muito para algumas horas com ele em um laboratório, era tudo que ela precisava, mais agora do que nunca. Happy a fez vestir a roupa mais bonita para a ocasião, assim que Tony saiu foi categórico em dizer que eles não poderiam demorar para encontrá-lo naquela exposição de arte.

Lila batucava os dedos sob o encosto do carro enquanto via as pessoas passando na rua, Happy tinha dito que a deixaria com uma pessoa de confiança, mas ela não sabia exatamente do que o segurança estava falando, Tony a prometeu o melhor dia de todos e ela sabia que ele daria, mas não conseguia parar de pensar no homem roxo e de alisar o cordão que estava em seu pescoço junto a um pingente, Phil tinha lhe entregado algum tempo depois do seu despertar, de acordo com ele tinha pertencido a mãe de Lila.

— Happy você conheceu? — Lila saiu de seu transe para confrontar o segurança. — Minha mãe.

— Pessoalmente pouco, seu pai esteve com muitas mulheres. — Happy sorriu mas logo percebeu que ela estava séria. — Acho que essa pergunta deveria ser feita a sua tia Angélica ou ao Phil, não acha?

— Ela anda muito ocupada fora da cidade. — Lila suspirou coçando a cabeça. — Tio Phil trata isso como um tabu, eu já tenho 19 anos, porque diabos ele não me conta?

— Talvez seja porque não pode. — Happy já estacionava perto do museu. — O seu pai está te esperando lá dentro e Lila ...

— Sim? — Ela olhou para o segurança uma última vez antes de sair do carro.

— Tenha o melhor dia da sua vida. — Ele sorriu e ela também.

Algumas poucas pessoas transitavam pelo museu, uma figura conhecida esperava Lila no hall, ela abriu um sorriso ao ver Tony com braços abertos para segurá-la como se fosse o seu porto mais seguro, ela sorriu abrigando-se nos braços do pai e esperando qual a surpresa ele tinha para dividir com ela naquele momento. Desde que veio morar com Tony, Lila sabia que ele era um cara muito importante e ocupado, se ele estava li no meio da manhã é porque ela era mais importante que toda a fortuna dele, o jeito que Tony a olhava era a aprova disso.

Os olhos dela cintilavam ao encontrar os dele, ela tinha que erguer o queixo e encarar os olhos de Tony que eram como os dela, ele sorriu dando um beijo na testa da filha, o tempo corria e ele tinha uma surpresa para ela. Lizandra demorou para adquirir um gosto artístico, mas com o passar dos anos ao lado dele se tornou uma admiradora da boa arte, alguém com o faro bem mais apurado que ele ou que Pepper que é quem entendia isso muito melhor.

— Alguns meses enquanto você ainda dormia eu ficava pensando em como seriam os nossos momentos juntos, tudo que você estava perdendo enquanto dormia. — Tony puxava a filha por um corredor que dava a um novo hall protegido alguns guardas. — Foi aí que conheci um sujeito muito talentoso que infelizmente não pode estar aqui hoje.

— Ele morreu? — Lila levou as mãos aos lábios.

— Não, não. — Tony riu puxando ela para perto. — Ele tinha uma exposição em Veneza, mas deixou tudo pronto e essa é a exposição de memórias não vividas nesses meses, coisas que perdemos de compartilhar juntos, mas que estão em tela.

Eram quase vinte quadros e haviam vários desenhos, desde Lila com Tony no laboratório até coisas banais como eles almoçando juntos, Lila estudando com Connor ou andando de bicicleta com Happy, havia até um almoço com Angélica e ela rindo de algo com Phil, era tudo tão real que ela parou perto de um em específico, era ela e Steve com algum aparelho eletrônico que ela o ensinava como funcionava e logo do lado um com ambos treinando, ela socava um saco de areia e o Capitão o segurava.

— Esse eu vou tornar realidade em breve. — Ela sorriu tocando a tela. — São tão lindos, mas ainda assim é tão triste tudo que eu perdi.

— Tudo que você ainda pode viver. — Tony apertou a bochecha dela. — Você só tem 19 anos minha querida.

— Vamos, escolha quantos quiser, eu compro para você. — Tony a olhava ainda presa no quadro dela com Steve. — Lila?

— Oh! Sim, levarei só um. — Os olhos dela foram a um quadro mais afastado em que todos estavam pintados juntos. — Mas só queria pedir ao pintor para fazer uma alteração.

— Qual? — Tony depositava a mão no ombro dela.

— Colocar a minha mãe na foto. — Ela girou o queixo olhando o pai. — Ele pode fazer isso né? É uma foto de família, ela tem que estar lá.

— Sim, ele pode. — Mesmo que continuasse com um sorriso sereno, era notável na face do Stark o desconforto.

Eles continuaram lá por um par de tempo, olharam todos os quadros, mas Lila não quis comprar nenhum outro que não fosse o da família, Tony ainda levou um que tinha ele, Happy e Pepper e outro em que ele estava com Lila, mesmo que ele quisesse ficar por lá por mais tempo não tinha como, Tony deveria estar nas Indústrias Stark mais tarde e Lila tinha mais compromissos durante o seu dia.

Os dois tinham acabado de transpor as portas do museu, passaram algumas horas lá dentro, conversaram sobre arte, sobre Industrias Stark e sobre a SHIELD, tudo isso para o futuro, Lila queria poder ajudar o pai, mas eles concordaram que ela teria que ir a faculdade, mesmo que agora eles concordassem que Nova Iorque seria um lugar bom para que ela estudasse, ainda mais com esses novos poderes. O garoto encostado no capô do carro escuro esperando Lila a fez sorrir e a Tony também, Connor e Lila se conheciam desde que ela chegara na casa do Stark, era bom ver que essa amizade deles se estendia pelos anos.

— Eu vim buscar uma moça para um almoço, dizem por aí que o pai dela já me deixou leva-la pra esse encontro. — Ele comprimiu os lábios olhando Tony que revirava os olhos. — Eu sei, sem amassos no carro.

— Você fala como se isso realmente fosse acontecer. — Lila sorriu abraçando Connor. — Vamos, eu estou faminta.

— Eu a criei muito bem para repelir meninos. — Tony olhava o seu celular, Pepper já estava louca atrás dele.

— Não repeliu o Capitão Rogers. — Connor encarava Lila e depois Tony.

— Ele é muito velho pra mim. — Ela respondeu apertando as bochechas dele. — E Steve é só meu amigo.

— Viu? Repelindo homens também. — Tony sorriu atendendo o telefone. — Sim, Pepper. O Connor já veio buscar a Lila, peça ao Happy pra vir me buscar.

— Vamos? — Connor piscou pra Lila. — Pro melhor almoço de aniversário da sua vida.

— Vamos. — Ela mal conseguia segurar o sorriso no rosto.

O som alto, as janelas abertas e as músicas que eles amavam, Lila e Connor tinham a melhor sintonia que se poderia pedir para melhores amigos, os dois tinha crescido juntos, a família de Connor envolvida com a política, a de Lila com a indústria bélica, os dois estudaram juntos na mesma academia de riquinhos e sabiam de muitas coisas sobre a suas vidas pois eles viveram isso juntos, Connor não conseguia mensurar o quanto se sentiu mal ao vê-la naquela cama durante semanas, perder Lila era como perder uma parte dele.

O carro cortava as ruas de Nova Iorque e os levava para um lugar em específico, o cheiro das flores parecia se sentido de longe, e Connor sabia como ela amava um lugar florido. O restaurante se destacava entre as construções cinzentas naquela cidade barulhenta, aquele lugar fora um achado, mesmo que também fosse um prédio entre outras construções, mas por toda sua extensão haviam flores e cores que encantavam Lila, ela se mantinha de olhos fechados e respirava fundo mesmo quando Connor já tinha estacionado.

— O que houve? — Ele perguntou tocando o ombro dela.

— Você não vai entender até que sinta. — Lila abriu os olhos devagar e tocou a mão dele entrelaçando os dedos nos dele. — Respire fundo, eu vou tentar fazer com que você também sinta.

— Não frita meu cérebro. — Ele brincou também fechando os olhos.

Era a sensação mais maluca que ele poderia sentir, a cada respirada ele sentia milhares de cheiros e parecia saber como cada flor se sentia, cada batimento, cada centímetro, era tão intenso e diferente aquilo, como se ele fosse um nervo exposto e sentisse cada toque, sua mente se expandia de uma forma tão maluca, flores que estavam longe dele eram identificadas como se estivessem a frente dos seus olhos, era quase como se ele fosse parte de tudo, ele entendia um pouco do poder telepático de Lila, mas não sabia que era tão forte assim, tão impressionante.

— Meu Deus. — Connor sorria ao abrir os olhos. — Se todos sentissem assim, nessa intensidade, os homens agiriam tão diferente, você tem que mostrar isso pro mundo.

— Nem todo mundo entenderia. — Lila torceu os lábios separando a mão da dele. — Algumas pessoas usariam isso para o mal, me usariam, eu também não consigo fazer isso com qualquer pessoa, você é especial.

— Obrigada. — Ele sorria com as bochechas coradas. — Você sente assim o tempo todo? Com tudo?

— Oh! Não. — Ela sorriu abrindo a porta do carro. — Meus sentidos não são aflorados assim 24 horas por dia, só quando eu quero, já teria enlouquecido se fosse, imagine só.

— É bizarro mesmo. — Connor já trancava o carro. — Se bem que você sempre foi bizarra, garota.

Na cobertura a quantidade de flores era imensa, haviam algumas mesas separadas, mas todas estavam vazias, apenas uma estava preparada para receber Connor e Lila para aquela ocasião, a jovem Stark olhava cada flor enquanto Connor dava as últimas instruções para o garçom enquanto Lila sentia o perfume das flores e era como um abraço forte que ela precisava receber e não sabia muito bem de quem, aquilo só foi interrompido quando Connor tocou no ombro dela e apontou a mesa onde eles sentariam.

Era óbvia a maneira como Connor a olhava, cada detalhe no rosto dela e a forma como Lizandra estava admirada com a cor das flores e com seu perfume, com algo tão singelo e puro, como ela ainda tinha um pouco da inocência que ele apreciava nela mesmo depois de anos, Connor não cansava de observá-la e principalmente de ser completamente apaixonado por aquela garota, ele não sabia quando aconteceu, mas sabia que existia, ele só percebeu que babava por ela quando Lila estalou os dedos a frente do rosto dele.

— Acorda Connor. — Ela sorriu, ele amava aquele sorriso. — Ta divagando no que?

— Nada. — Ele torceu os lábios. — Você não precisa perguntar para saber o que eu penso.

— Mas é mais legal quando a pessoa conta. — Ela ergueu e abaixou os ombros. — Vamos, diga.

— Em você, obviamente. — Ele comprimiu os lábios se ajeitando na cadeira. — Como você tem o mundo aos seus pés agora, você pode fazer qualquer coisa, sabe disso?

— É eu sei. — Ela olhava as flores como se perguntasse alguma coisa. — Só não sei por onde começar.

— Pode viver uma grande história de amor. — Connor ergueu a taça de água e Lila revirou os olhos. — Okay, ou descobrir alguma coisa que ninguém sabe ainda.

— Isso sim é mais a minha cara. — Lila confirmou com a cabeça. — Dá dor de cabeça, mas menos que amar alguém.

— Olha ela minha gente, Lila coração de pedra. — Connor revirou os olhos acenando para o garçom.

Eles almoçaram comidas vegetarianas, a dieta de Lila era rica em legumes e ela tinha adotado uma dieta sem carne durante a recuperação que ainda se estenderia por algumas semanas, mesmo com as vitaminas ela ainda sentia fome durante as refeições, mas se sua nutricionista dizia que aquele era o melhor caminho a se seguir, quem seria ela para dizer o contrário. Connor poderia pedir uma picanha ou algo bem suculento, ele nunca escondeu o seu amor pelo churrasco, mas em vez disso preferiu acomapanhá-la, era o aniversário de Lila, não havia o que ela pedisse que ele não atendesse.

Lizandra pensou em contar para Connor sobre o homem roxo daquela manhã, mas não seria bom preocupa-lo com pouco, não naquele dia, se bem que ... Talvez ela nunca contasse se não fosse necessário, Lila ainda buscava o nome daquele ser em sua mente, mesmo que ele não tivesse falado ela sentia que sabia, sim ela sabia, mas em algum lugar preso lá dentro, como ela sabia disso era um mistério. Ela divagou todo o caminho, não ouviu Connor falar sobre a faculdade e nem sobre como a mãe dele queria ver Lila em sua casa, ela só acordou quando ele estalou os dedos a frente dos olhos dela já com o carro parado.

— Desculpe, eu estava pensando em outras coisas. — Ela suspirou olhando para fora. — O que estamos fazendo no Brooklyn?

— Seu dia de aniversário ainda ta longe de acabar. — Ele sorriu abrindo a porta do carro pra ela e a ajudando a sair. — E te vejo mais tarde e agora te deixo na melhor companhia possível.

— Eu não estou entendendo nada. — Ela estreitou os olhos encarando Connor e saindo do carro, foi quando viu o homem alto pouco atrás do seu amigo. — STEVE!

— Lila. — O capitão sorriu acolhendo a jovem Stark em seus braços para o abraço caloroso. — Pronta para passar algumas horas comigo?

— O que você preparou pra gente? — Ela sorria segurando as mãos dele. — Você nos acompanha Connor?

— Infelizmente não. — Connor se aproximou dando um beijo no rosto dela. — Te vejo mais tarde.

— Okay. — Lila estava vermelha enquanto via Connor se afastar e sair de carro, quando encarou Steve novamente o capitão segurava a risada. — O que?

— Vocês dois ... Não falo nada. — Steve revirou os olhos sorrindo. — Vamos, tem algo especial lá dentro pra você.

Aquela era só mais uma casa comum entre as outras do Brooklyn, eles tiraram os sapatos na entrada e caminharam pela casa de piso de madeira completamente polido, havia algumas fotos nos lugares, Lila prestava atenção em cada detalhe, como se pudesse absorver casa partícula do ambiente e não demorou muito para perceber o óbvio, aquelas fotos eram da vida de Steve, mas porque estavam ali? Ela não entendia bem e se recusou a entrar na mente dele para saber, Lila tinha prometido a si que não iria invadir mentes alheias se não houvesse a necessidade, além da alta carga de dor de cabeça que vinha com o ato.

Ela se prendeu em uma foto que Steve estava com Peggy e deixou um sorriso escapar vendo aquilo, ela reclamava tanto que tinha perdido aquele ano, semanas e dias que não tinha vivido, que ficara naquela cama, mas Steve tinha dormido por setenta anos, perdera toda uma vida e ele não reclamava um segundo se quer, se considerava um privilegiado na verdade por poder viver os novos tempos, fora a primeira vez que Lila pensava naquilo, ainda mais olhando para foto dele e de Peggy juntos.

— Vocês formavam um casal muito bonito. — Lila falou tocando a foto. — Sabia que eu posso sentir as lembranças dessa foto se eu tocá-la? Saberei como foi esse dia. É interessante como fotos carregam essa energia com as lembranças, é algo que fotos digitais não tem.

— É uma energia poderosa e você é mais ainda por poder acessá-la. — Steve colocou a mão no ombro dela, sabia que a relação de Lila com os seus novos poderes ainda era complexa.

— Você sente falta disso? Desses momentos que você viveu e perdeu? — Ela se virou para o capitão. — Da vida que você poderia ter vivido ao lado da Peggy?

— Lila eu aprendi algo nesse tempo em que eu estive aqui, depois de acordar. Por mais que eu sinta falta e queira dormir e acordar naquele tempo, viver aquela vida, ter salvo o Howard e a Maria, ter dito que amava a Peggy a cada manhã enquanto olhava nos olhos dela ou ou ... — Steve comprimiu os lábios e fechou os olhos por um instante, ele mesmo estava se martirizando. — O que eu quero dizer é que não podemos viver no passado, foi bom, me trás muitas saudades, mas passou e o futuro é brilhante para vivermos a sombra do que já passou.

Lila suspirou olhando a foto por uma última vez, Steve tinha razão, não tinha porque sofrer por algo que já passou e sim viver o que ainda tinha pela frente, pois era óbvio que ela perderia o agora se ficasse sempre pensando no ontem. Os quadros na sala faiam com que ela viajasse por um tempo em que ela ainda não vivia, pela vida de Steve Rogers e quando ela olhou a TV ligada e alguns baldes de pipoca seu olhar divagou pela sala, não precisava usar a telepatia para saber o que viria.

O rosto no vídeo pausado era de Howard Stark, seu avô, ele estava tão jovem e sorridente ao lado de seu assistente Edwin Jarvis, Lila sorriu ao ver as plaquinhas que anunciavam os seus nomes, ela ocupou a poltrona a direita ainda submersa nas lembranças que poderia absorver com Steve, enquanto o capitão a olhava encantada e se sentava na outra poltrona da sala de estar e dava play no vídeo. A imagens passavam e viam Jarvis com Howard e Maria, o casal ria enquanto o mordomo tentava parecer confortável a frente das câmeras.

— Eles eram tão lindos juntos. — Lila acabara por comentar automaticamente. — Daria uma boa parte da minha vida para viver com eles nesse tempo.

— Você já disse isso uma vez. — Steve riu a encarando. — Eram tempos difíceis apesar dos sorrisos dos dois, até mesmo para os milionários como Howard ou para as famílias militares como era para os Carbonell no caso da Maria.

— Ela ainda não era a Sr. Stark aí? — Lila de pronto se virou ao loiro.

— Se tornaria no tardar de um ano. — Steve pareceu um pouco triste ao falar daquilo. — Isso foi alguns meses depois do meu acidente, seria interessante ter estado com eles.

— Meu pai nasceu poucos anos depois disso. — Lila batucou o braço do sofá enquanto parecia pensar em algo. — Você sabe se se tiver alguma foto deles eu posso tocar e ...

— Melhor não. — Steve cortou Lila, mexer no passado era pior. — Vamos ver os filmes, te trouxe aqui hoje para te mostrar mais sobe esse tempo, você sempre foi tão curiosa sobre minha vida nos anos 40.

— Que tal ... — Lila sorriu vendo os filmes sobre a pequena mesa de centro. — Algo sobre seu amigo Bucky? Ou a Peggy!

— Você é mesmo fã dele não é? — Steve riu pegando um dos filmes sobre Bucky. — Vamos ver sobre o James.

Os dois permaneceram ali por algumas horas, riram dos filmes, Lila chorou em alguns, fizeram comentários sobre a época e sobre as roupas e costumes, Steve contava sobre sua família e tudo que tinha vivido no exército, os olhos da jovem Stark quase brilhavam só de pensar em tudo aquilo, era quase palpável tudo que Steve tinha passado e a contava, aquele sem dúvida era um dos seus melhores aniversários de todos os tempos, não tinha como negar.

Logo iria escurecer e Lizandra não podia acreditar que tudo isso estava acontecendo, que o dia tinha passado tão rápido, era verdade quando diziam que quando você se diverte o tempo passa muito mais rápido, desde o acordar com Pepper, o café com Happy, museu com seu pai, o almoço com Connor e agora ali com Steve, algo ainda dizia a Lila que o dia não tinha acabado e era como se ela sentisse isso, pois seu olhar tinha ido rumo a entrada da casa quando ouviu alguém bater na porta Steve se levantar em um pulo conferindo o relógio um pouco indignado por tudo ter passado tão rápido.

— Já? — Steve falou baixo com o homem na porta. — Só mais um pouco.

— Desculpe, o cronograma é apertado, pode ter mais momento com ela depois. — O homem transpôs a porta passando pelo Capitão Rogers. — Lila? Vim te buscar.

— Tio Phil! — Ela sorriu se levantando de onde estava e se aproximando do homem. — Mas já? Estava tão divertido com o Steve.

— Eu falei. — Rogers ergueu e abaixou os ombros deixando um sorriso escapar. — Te vejo depois e prometo mais histórias.

— E fotos! Histórias e fotos. — Ela piscou para o loiro. — Vamos então, aliás ... Vamos para onde?

— Dar uma voltinha. — Ele piscou esticando a mão pra ela.

Olhar Lila tão atenta ao que se passava lá fora no casso fazia Phil se lembrar de Samantha, era como se a visse naquela idade, Sam era tão promissora e jovial, daria tudo para tê-la ao seu lado ainda hoje, daria tudo para poder entregar o diário de Sam para Lila, mas não poderia, não ainda, não era o momento certo, nem sabia quando esse dia chegaria, mas tinha deixado tudo preparado com Nick para caso ele faltasse, só precisava de tempo, isso mesmo, tempo e nada mais.

O carro vermelho os guiou para uma cafeteria próxima a um parque, nada muito especial, Lila ficou olhando as crianças correndo, uma delas estava com a mãe, ela ficou um tempo encarando aquilo, nem mesmo prestou a atenção devida a Phil saindo do carro e indo até a porta dela para abrí-la, seu olhar na mãe brincando com a criança era concentrado, Coulson até olhou para onde ela olhava e suspirou abrindo a porta do carro.

— Eu sei que você sente saudades dela, do que não conheceu. — Phil dava a mão para ela sair do carro e juntos ainda olhavam para mulher e a criança. — Eu achei que já fosse hora de te contar sobre ela, pouco, mas contar.

— Eu poderia entrar na sua mente e tirar cada mísero pedaço de lembrança que tem dela. — Lila tocou o dedo na testa dele. — Você sabe disso não é?

— Sei. — Ele encostou o dedo na testa dele. — E sei que não vai fazer isso, pois é o tipo de coisa que uma pessoa que não mede as consequências faria e você não é esse tipo de gente.

— Tem tanto medo assim que eu descubra que você tinha uma quedinha por ela? — Lila riu abaixando a mão. — A tia Peggy me contou a alguns anos, julgando pelo seu rosto vermelho ela não estava mentindo.

— Engraçadinha. — Ele estreitou os olhos. — Vamos entrar logo, esse lugar vende as rosquinhas recheadas que a Sam mais amava, sempre que ela vinha a Manhatthan ela levava várias rosquinhas dessas.

A decoração da loja era incrível, haviam cores e cheiros para todos os lados, Lila só queria sentar ali, respirar fundo e eternizar na sua mente aquele momento, mas seria melhor ainda vive-lo, por isso ela se juntou a Phil para experimentarem algumas rosquinhas, ela pediu algumas para viagem, ficou imaginando qual rosquinha combinava com qual pessoa e levou mais do que deveria, Phil apenas sorria ao vê-la se divertir.

Estar naquele lugar depois de tantos anos era nostálgico em vários sentidos, ainda causava alguns sentimentos conflituosos no agente, vê-la escolhendo as rosquinhas era muito semelhante a Sam e só ele sabia como ele queria estar com a mulher ali, não precisava ser em forma de romance como até Lila sabia agora, para Phil ter Samantha por perto era a garantia que tudo iria dar certo, que ficaria bem. Quando eles terminaram de escolher e compraram um refrigerante foram juntos sentar em um dos bancos da praça do outro lado da rua para observar as pessoas no parque.

— Ok você disse que eu poderia perguntar. — Lila mordiscava a rosquinha com recheio de blueberry. — Como você conheceu a minha mãe?

— Nós servimos juntos no exército e depois fomos convidados pelo seu avô a fazer parte da SHIELD. — Coulson olhou a própria rosquinha pensando na história. — Viramos grandes amigos, mas a Sam era diferente de todos os agentes, ela era culta, educada, aquele não era o lugar pra ela, o seu avô sabia disso, mas ter a Sam sempre tão bem sucedida era confortável a ele e mesmo que ela tivesse um grande talento musical, ele não a deixou ir pra Julliard, mas ela foi mesmo assim, como a Angelica, mas a Sam soube que aquilo não era pra ela.

— Ela se tornou uma agente de campo. — Lila comprimiu os lábios, Phil olhou pra ela e balançou a cabeça de forma positiva. — Você sabe que não poderia impedí-la, não sabe?

— Eu sei, Sam era indomável no que queria. — Phil tinha que assumir que esse era um traço forte nas Blaine. — Mais alguma coisa?

— Quem são os pais biológicos dela? — Lila estreitou os olhos.

— Eu não sei, na verdade nem a Sam nunca soube, se soube não me contou. — Phil via a mãe segurando a criança no colo, não deveriam demorar ali. — Ela dizia que sua família eram os Blaine e não importava se não compartilhassem o mesmo sangue.

— Um ótimo conceito de família, como todos vocês que me cercam. — Lila sorriu, mas logo o sorriso se desfez ao encarar Phil. — Tio ... Como ela morreu? O relatório não diz, eu sei que você não quer me contar, mas por favor.

— Tudo bem, um dia ou outro você teria que saber, mas tem que me prometer que não vai contar ao seu pai que eu te contei. — Ele apontava pra ela como se esperasse sua resposta. — Promete?

— Okay, okay, só conte.

— Sam foi designada para uma missão poucos dias após a morte dos seus avós, descobrir quem tinha matado Howard e Maria, Peggy pessoalmente a colocou na missão, queria a melhor para o caso e Sam era essa pessoa. Mas ela se envolveu demais com seu pai, bom ... Aí você foi feita e Sam não tinha descoberto a verdade, só que alguém estava atrás de algo que os Stark possuíam, ela não sabia quem, não sabia o que, mas a morte de Maria e Howard foi um assassinato. Ela se afastou do Tony pois era perigoso pra ele se ela fosse identificada e também pra você caso soubessem da gravidez.

— Ela se preocupava com nós todos, por isso me deixou com você, não é? — Lila queria entrar na mente de Phil e saber mais, precisava de respostas.

— Sim, ela te deixou comigo pois sabia que estava a salvo, não poderia te expor ao perigo daquela missão, eu te criei como minha filha esperando que ela voltasse. — Phil levava a mão ao rosto. — Se eu tivesse impedido a Sam, talvez ela estivesse viva, mas não... Eu a deixei ir embora para aquela loucura e foi tarde demais.

— Tarde demais? — Lila colocou a mão sobre o ombro de Phil o instigando a contar.

— Sim, eu cheguei ao apartamento dela depois de uma ligação, ela disse que alguém estava a perseguindo, havia sangue em todo lugar e uma carta póstuma com instruções para sua criação. — Phil agora olhava para suas próprias mãos. — Eu acho melhor irmos embora, está ficando tarde.

— Mas você não terminou de contar. — Lila se ergueu em protesto.

— Na verdade terminei sim. — Phil se levantou junto. — Pro seu próprio bem, deixe isso como está, não seja teimosa, por Deus.

— Tudo bem. — Era notável a frustração de Lila. — Vamos pra casa.

Phil levou Lila pra casa onde outras pessoas a esperavam, aquele dia fora longo e cansativo, a história da sua mãe ainda batucava na sua cabeça, o homem roxo também e talvez fosse só o cansaço que a fizesse ouvir aquelas vozes em sua cabeça, pensamentos de preocupação vindos de todos que estavam em sua volta, aquilo a irritava, se ela fraquejasse toda piedade deles faria sentido, ela não queria que fizesse, então sorriu como nunca e aproveitou o fim do seu dia mágico.

A cada minuto que passava ela se vi agradecida, queria sua cama, queria várias horas de sono, mas não queria decepcionar cada pessoa ali, chorara no banheiro duas vezes que entrou dizendo que queria lavar o rosto e fazer as necessidades, chorou pelo passado, pelo presente e pelo futuro, pela mãe que não conheceu, pelo medo que sentia no peito, pelo homem roxo e suas mãos trêmulas, chorou também sem precisar de motivos, talvez fosse isso, ela só precisasse chorar. Ao transpor a porta sorridente como se nada tivesse acontecido ela viu seu pai com um bolo em mãos e uma legião de par de olhos curiosos.

— Faça um pedido, querida. — Tony insistiu. — E assopre as velas.

— Okay. — Ela sorriu, mas queria chorar mais, não sabia bem o que pedir, só queria que toda aquela pressão sumisse de fato, que pudesse deitar a cabeça no seu travesseiro e chorar até que passasse, mas pediu a mágica das velas de aniversário que a desse tempo, sendo assim soprou, se tivesse tempo para viver tudo aquilo, não lamentaria pelo que poderia ter feito. — Pronto.


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