A mão sob o machucado de um dos agentes servia para tentar diminuir o sangramento, na academia eles aprendiam sobre primeiros socorros, mas o que Lizandra nunca imaginou que teria que fazer era usá-los daquela forma, na verdade pensava em fazer com coisas pequenas, não em garantir que alguém continuasse vivo enquanto pressionava um ferimento, às mãos e a camisa de Lila estavam encharcadas de sangue alheio e ela balançava a mão pedindo para o homem respirar mais fundo.

— Algum médico aqui? — Ela gritou vendo que várias outras pessoas eram atendidas. — Esse homem está perdendo muito sangue.

— Aqui, eu estou indo. — Uma mulher mais distante entre os corpos deitados no chão respondeu. 

— Continue respirando, a ajuda já está vindo. — Lila pediu ao homem a sua frente.

O homem não conseguia falar nada, apenas concordou com a cabeça e conseguiu ficar parado para que Lila pressionasse o ferimento, a médica no entendo não demorou a ficar livre do outro paciente para ajudar com aquele, a jovem Stark se sentou ao lado do corpo com as mãos sujas e o rosto ainda meio atônito com o que tinha acabado de fazer, respirando fundo e ver suas mãos sujas de um sangue que não era seu.

O tremor começou logo em seguida, quando Lila percebeu o sangue também em sua roupa, ela tinha visto antes, mas a adrenalina não a deixou pensar em nada, não a deixou perceber que estava daquela forma, Hill foi a pessoa que percebeu que algo estava errado com ela e se abaixou próxima da garota a tirando do chão em seguida segurando Lizandra Stark pelos punhos e olhando dentro dos seus olhos trêmulos, ela conhecia o quadro de Lila, sabia que o descontrole dela poderia acabar gerando algo em escala pior.

— Lila olha pra mim. — Maria Hill pediu enquanto Lila só estava preocupada com as mãos sujas. — Você salvou aquele homem, conseguiu mantê-lo vivo até a médica chegar

— Eu … — Ela mal balbuciava as palavras.

— Vá se lavar no banheiro, é só seguir pelo corredor, segunda porta, tome leve essa blusa e vista por cima da sua. — Maria deu a Lila o seu casaco que estava próximo a cadeira que ela ocupava. — Eu preciso de você para ajudar com o comando da nave, você aprende rápido e eu não posso fazer isso sozinha.

— E o Nick? — Ela perguntou.

— Ele está ajudando os outros. — Maria soltou o outro punho de Lila. — Agora vá.

Cambaleante ela caminhou pelo corredor até a porta indicada, teve que empurrá-la com certa força para completar a caminhada e a fechou em seguida, ignorou os boxes e depois de três pias ela parou a frente de uma com um grande espelho trincado na frente, parecia que ninguém tinha entrado ali. As mãos trêmulas levaram um tempo para conseguir abrir a torneira, o chacoalhar da nave também não ajudou muito, ela evitava se olhar no espelho pois tinha passado a mão no rosto e o sujado de sangue também.

Toda a água possível parecia não ajudar a tirar aquilo, Lila esfregava os braços até vê-los avermelhados e se livrado daquilo, molhou o cabelo também em partes quando saiu de sua posição inclinada para limpar o rosto, a blusa que vestia foi jogada em uma das privadas e ela tentou dar descarga, sem sucesso, apenas fechou o box e tratou de limpar-se mais ainda, vestindo o casaco de Hill em seguida.

Quando saiu do banheiro ela não queria voltar até Hill, apesar da nave tremer ela sabia muito bem pra onde queria ir, precisava do seu celular, ligar para Connor quem sabe. Esfregou às mãos uma da outra e correu no meio do corredor até fazer o portal trêmulo como ela se abrir e jogá-la no hangar de cargas onde ela, Hulk e Thor estiveram pouco tempo antes, a procura pelo celular - no entanto - durou mais algum tempo.

O encontrou pelo toque, já que caíra entre algumas caixas, cento e vinte e sete chamadas, entre algumas do seu pai, de sua tia Angelica e algumas de Connor, ela ficou olhando o aparelho por alguns segundos até se assustar com ele tocando de novo em sua mão e deixá-lo cair no chão, a tela trincada pode ainda mostrar de quem se tratava, era seu amigo Connor, ela olhou o aparelho por alguns segundos antes de tomá-lo em mãos.

— Liz? — Connor chamou. — Você tá aí?

— Sim, estou. — Ela saía do meu das caixas e tomava o corredor. — Você tá bem?

— Claro, porque não estaria. — Ela mentiu, não queria deixá-lo preocupado. — Porque?

— Meu pai está no telefone, falando de SHIELD e de invasão. — Connor sabia que aquele nome era proibido, Lila contou a ele sob ameaças de silêncio. — Falaram sobre uma nave e sobre Nova York, meu pai quer nos mandar para Washington por uns dias, minha mãe e eu.

— Vá com ela. — Lila orientou apertando os botões do elevador. — É mais seguro.

— O que aconteceu? — O tom de voz dela não agradou Connor. — Você vai mentir pra mim ou dizer a verdade?

— Só sai de Nova York, Connor. — Ela olhava a tela do telefone. — Nós vamos resolver isso.

— Dúvido um pouco que o Tony concorde com você metida nisso, vem pra cá, vamos pra Washington juntos então. — Era quase uma súplica. — Não quero te perder.

— Você não vai. — Ela riu vendo o elevador se abrir. — Agora eu preciso ir, obedeça seu pai.

Lizandra volta para a companhia de Maria Hill, às coisas já tinham se acalmado na nave e pelas notícias seu pai tinha conseguido arrumar a turbina, eles tinham perdido Thor e Banner, mas Natasha e Clint estavam bem, pelo menos o Gavião Arqueiro estava realmente de volta, era uma ajuda e tanto. Lila encarava Maria Hill esperando sua autorização pra fazer aquilo, doía menos e era mais fácil se ela aceitasse a jovem Stark em sua mente.

— Tem certeza que quer fazer isso? — Lizandra perguntou a encarando. — Pode doer e eu não sou expert em fazer isso, por mais que as pessoas achem que sim.

— Confio em você, vou te ajudar pensando em como fazer isso. — Hill sorriu colocando as mãos da garota em seu rosto. — Faça.

Entrar em uma nova mente nunca era fácil, Maria sentiu a dor mas segurou o grito quase inquietante em sua garganta, ajudou Lila a viajar por suas lembranças e por um tempo deixou que ela visse demais, alguns momentos de fraqueza na SHIELD, nos vários anos que serviu, mas no fim às informações de como era comandar a nave estavam lá pra garota Stark ver, uma vez em sua mente e ela saberia como fazer.

— Não conte o que viu a ninguém, ok? — Hill pediu se apoiando no painel, ainda estava zonza.

— Tudo bem. — Lizandra respondeu se colocando ao lado dela. — Vamos lá.

Longe de onde Lila e Maria estavam uma dupla permanecia em silêncio, Coulson estava sangrando, próximo da morte, enquanto Nick Fury estava ajoelhado ao seu lado, enquanto ali ele lembrava de tudo que passou ao lado do agente, como tinha o conhecido, como foi trabalhar ao seu lado, ele prometeu não deixar que Phil fosse embora assim e ali estava ele segurando agora sua mão ensanguentada.

— Foi bom servir com você, diretor. — Phil sorria, mesmo na morte parecia feliz. — Preciso que faça algo po..or mim. — Ele quase engasgava com o próprio sangue.

— Você vai fazer, deixe de bobagem. — Nick o repreendeu. — Os médicos estão chegando.

— Nick sejamos francos um com o outros, eu não vou durar muito mais tempo, preciso de você. — Ele apertava com força a mão do diretor. — O diário da Sam, entregue a Lila, por favor.

— Phil …

— Nick, por favor. — Ele insistiu já sem força.

— Tudo bem. — Nick respondeu, mas Coulson já não estava vivo para ouvir.