Acordei com os raios solares invadindo o quarto pelas frestas da velha janela, estava muito cedo para as meninas acordarem então resolvi tomar um banho para evitar a grande fila que se tornaria mais tarde no banheiro.

Meus pensamentos estavam mais confusos do que um dia já foram, Harry insistia em dizer que Malfoy tinha se tornado um comensal, vivia o procurando pelo mapa do maroto e o seguindo pelos corredores. Isso me irritava profundamente, ele não poderia ser um comensal. Embora Malfoy seja uma pessoa prepotente e calculista, ele era fraco demais para depositar sua confiança no lorde das trevas. Até Ginny o havia repreendido com tal acusação.

Me troquei e sentei em uma das grandes poltronas perto da lareira no salão comunal. Abri um livro trouxa para ler enquanto os meninos não acordavam e relaxei no assento. Devo ter ficado entretida no livro por pelo menos uma hora, pois quando me dei conta Rony estava parado na minha frente com um semblante preocupado.

— Ah, desculpe, não te vi, o livro é extremamente atrativo. — Disse o fechando e colocando na pequena mesa de frente com a cadeira.

— Você é incrivelmente doida por ler desse jeito Mione. — Suas orelhas tomavam uma cor tomate vivo por conta da vergonha, toda vez que estávamos sozinhos isso acontecia. Mas então por que ele não me falava nada?

—Está tudo bem? — Eu perguntei quando ele sentou ao meu lado com as pernas inquietas.

— Está, é só que eu queria te dizer algo e não sei por onde começar. — Seu rosto estava mais vermelho do que suas orelhas. Ele gaguejava a cada palavra denunciando seu constante nervosismo.

— Pode falar Rony.

— Você lembra daquele episódio na T'oca? Da pasta de dente? — Assenti em concordância recordando do episódio constrangedor que por ora me fez ficar envergonhada. — Então, eu queria dizer que não havia pasta alguma, eu só sentia a necessidade de te tocar. Eu te acho linda Hermione.

Aquelas palavras me fizeram parar por um segundo para raciocinar. Aquilo não era uma declaração, era? Ele estava se declarando para mim? Meu coração descompassava no peito ao mesmo tempo que ele queria sair pela boca.

Senti meu estômago revirar e inconscientemente eu saí correndo em direção ao banheiro, fiquei trancada lá até o fim do café. Merlin, o que estava acontecendo comigo? Eu sempre o desejei, sempre esperei por esse momento e agora que ele tinha acabado de admitir que ele havia feito aquilo por puro flerte, eu saí correndo por estar sem reação.

Respirei fundo para tentar se acalmar, eu precisava falar com ele para me desculpar e revelar meus verdadeiros sentimentos em relação a ele.

Fui para as minhas aulas matutinas e tentei-me concentrar seriamente em cada explicação que o professor dava sobre a matéria. Iria aproveitar a aula de Herbologia para chamar Rony para conversar – já que partilhávamos essa aula juntos – as aulas passaram vagarosamente o que particularmente me alegrava. Poderia aproveitar cada momento da aula com apreciação. Hogwarts era minha casa, era minha nova família e eu adorava saborear cada minuto que o relógio transcorria por seus grandes ponteiros.

O horário do almoço chegou e meu estômago clamava por comida quando o primeiro passo em direção ao salão principal fora dado. Os salões estavam cheios e eram invadidos por conversas extremamente altas e risadas escandalosas.

Pirraça brincava com o distintivo de monitor do garoto da Lufa-Lufa o que me fez arrancar algumas risadas. Não concordava com a maioria das brincadeiras do Poltergeist mas algumas eram inevitáveis em se ficar calado.

Entrei no salão que já estava relativamente cheio e sentei-me entre Harry e Ginny que fizeram cara feia pelo distanciamento, ri com a situação e comecei a se servir.

— Nossa Mi, está com fome hein? — Harry perguntava em meio as risadas o que levou a um cutucão no braço direito por Neville.

— Realmente Harry, até pareço o Rony desse jeito. — Falando isso meus olhos varreram pela grande mesa dos leões, mas ele não se encontrava ali. — A propósito, cadê ele? — Perguntei diretamente para Harry que franziu o cenho com minha pergunta de supetão.

— Ele disse que não estava com fome e que nos encontraria na estufa. — Concordei com a cabeça tristemente e voltei a comer, ou pelo menos tentar engolir alguma coisa. Será que ele havia se chateado comigo? Eu preciso resolver essa situação o mais rápido possível.

Andava pelos corredores com Harry em meu encalço em direção as estufas. Os alunos mais afastados falavam prazerosamente sobre os testes para quadribol o que nos possibilitava falar sigilosamente sobre Malfoy.

— Harry eu já disse, ele não é um comensal e até Ginny concorda comigo. Você está criando situações na sua cabeça que não são reais. — Disse revirando os olhos por tamanha insistência do moreno.

— Mas então por que ele vive sumindo no mapa? — Ele perguntava apontando para o grande pergaminho velho que estava em suas mãos. O nome “Draco Malfoy” desaparecia vagarosamente do mapa. — Ele só pode estar aprontando alguma coisa.

Bufei em frustração e ao entrar na estufa resolvi me posicionar de frente para Rony e Harry, não aguentaria ouvir reclamações sobre Malfoy por algumas horas. Ora ou outra meus olhos se encontravam com os de Rony que sorria timidamente. Isso me tranquilizava, se não fosse pelos olhares insistidos de Lilá Brown.

A aula transcorreu normalmente, como sempre tinha obtido todas as respostas corretas para as perguntas que eram dirigidas para a turma o que me deixava orgulhosa. Consegui 20 pontos para a Grifinória só nesta única aula o que me dirigiu muitos parabéns vindos do restante dos alunos.

Quando a aula finalmente acabou eu me apressava um pouco para alcançar Rony que andava um pouco mais a frente.

— Rony, posso falar com você? — Perguntei com dificuldade por conta da pequena corrida que me fez perder um pouco do ritmo respiratório.

— Claro. — Ele respondeu alegremente e nos dirigimos para um canto mais afastado do campo.

— Queria te pedir desculpas pela minha reação de mais cedo, eu não sabia o que dizer. — Senti meu rosto corado em meio as palavras, era tão difícil se declarar para ele.

— Está tudo bem, eu já sabia que você poderia reagir assim. — Ele acusou-me com um sorriso sem graça. As palavras não saiam da minha boca, minha língua insistia em travar quando o assunto era lhe falar a verdade.

Ele se aproximava lentamente, já conseguia sentir sua respiração sob minha pele quando seus lábios finalmente tocaram os meus.

Seu toque era gentil mas ao mesmo tempo desengonçado, seu hálito revezava entre suco de abóbora e chocolate. Sua língua passeava calmamente sobre minha boca que logo permitiu a passagem. Suas mãos buscavam por meus cabelos enquanto eu o abraçava pelo pescoço.

Nos soltamos assim que dependemos de ar para os pulmões. Sua testa estava colada a minha e seu sorriso era tão contagiante que eu não pude deixar de sorrir em resposta. Entrelaçamos os nossos dedos e seguimos para o salão comunal.

Mal sabia ela que ao longe, Draco Malfoy observava toda a cena. Ele não transmitia nenhuma reação, mas no fundo, não havia gostado do que presenciou. Ela não era a garota certa para ele. Em um gesto frustrado e raivoso girou os calcanhares e saiu pisando forte.