The Kostroma Dynasty escrita por Mialee Aurestelar


Capítulo 34
Parte I: Pôr do Sol


Notas iniciais do capítulo

Olá, olá!

Feliz ano novo, minha gente! Espero que tenham tido boas comemorações e que esse ano seja melhor e mais gentil para todos nós!

Demorei um bocado, né? Olha, que inferno que é passar MESES em um capítulo só, tô até enjoada do que vocês vão ler kkkkkk

A enrola foi uma série de complicações: fim de semestre, problemas familiares (felizmente resolvidos), começo de semestre, surto com a monografia, decidir fazer mais um semestre de graduação por causa do TCC, fim de semestre de novo… Enfim. Graças a todos os deuses eu terminei esse capítulo infinito e posso passar para o próximo, que deve sair com mais rapidez se tudo me ajudar. Sou da opinião que abrir o ano com um capítulo novo deve ser bom sinal kkkkkkk

Enfim. Finalmente chegamos ao princípio do baile e o começo da treta toda que eu prometi! Espero que gostem e boa leitura^^



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“My hands were cold but now it’s already spring

Dreamy breezes blow here and there

Different from usual, I like this feeling

Maybe tomorrow will be a different day”

Starry Night – Mamamoo

 

Aleksei nunca conseguira enxergar a si mesmo como uma “criança da primavera”. Não era uma pessoa particularmente otimista, não gostava nem era propenso a mudanças e surpresas. Talvez, imaginara em algum momento, tivesse demorado demais a nascer e perdera o fim do inverno, que faria muito mais sentido. 

Era um tanto impossível fugir de bailes de aniversário impregnados pela primavera, ainda mais tão no início da estação. As cores vibrantes, as flores, a vivacidade meio inexplicável que afetava os que estavam ao redor de Aleksei junto com o clima mais ameno. Ele não detestava nada disso. Não conseguia detestar, quando era a estação favorita de sua mãe – ela sim, a personificação da primavera. Mas sentia-se destoante, como o único pedaço de chão que não descongelara o suficiente para permitir que algo nascesse ali.

Agora, a sensação era outra. Aleksei não conseguia dizer bem o que era, mas lhe parecia… Intermediário. Como se estivesse no meio de alguma coisa, sem a menor ideia do que seria o final. Se pegou com um sentimento estranhamente primaveril: esperança. Mas estava à espera do que exatamente? Que tipo de mudança poderia vir se ele nem sabia se estava agindo da maneira certa para que algo acontecesse? Talvez os sonhos que andava tendo estivessem afetando sua percepção da realidade.

Tinha tentado não se acostumar com eles, com os sonhos plácidos que tinha há noites a fio. Mesmo assim, ao acordar naquela manhã e se dar conta da ausência completa deles pela primeira vez em semanas, sentiu um vazio inquietante. Não que tivesse dormido mal ou algo do tipo, mas era justamente o dia de seu aniversário. Naquela série de acontecimentos estranhos, seria demais relegar esse fato à simples coincidência. Só podia esperar que não fosse um sinal de algo ruim se aproximando.

Aleksei sacudiu a cabeça, não querendo entrar com uma expressão sombria no salão em que sua família o esperava. Seria seu último momento tranquilo no dia, e ele não iria estragá-lo.

Nem tinha que se preocupar com isso, percebeu, porém, ao entrar na sala e ser recebido por um coro de “parabéns pra você”, com Catherina o puxando para chegar mais perto da mesa que ostentava em seu centro um familiar bolo meio torto que destoava de todo o resto do café da manhã chique que o cercava. Só isso foi o suficiente para fazer Aleksei abrir um sorriso: não importava quantos anos passassem, sua mãe ainda continuava horrível em fazer bolos que parecessem tão bonitos quanto eram gostosos. Era uma tradição que Alek adorava. Devia ter começado quando ele tinha uns sete anos, quando, depois da morte da avó do czareviche, sua mãe começou a ter mais espaço para tocar as coisas à sua maneira - e uma dessas coisas era a oportunidade de fazer algo com suas próprias mãos para os filhos, mesmo que não fosse tão incrível quanto o que os cozinheiros do palácio podiam fazer. O que para ela era só um desejo de trazer algo de sua vida antes de se tornar realeza, para Aleksei, Catherina e Damian virou um momento caseiro bem raro para eles. Preparar bolos nos aniversários uns dos outros era sempre meio caótico, dava um pouco errado, mas era indiscutivelmente um ato de carinho puro do começo ao fim.  

— Feliz aniversário, meu amor — Yeva foi a primeira a se adiantar e lhe dar um abraço, no qual Aleksei se deixou ficar um instante a mais, e mesmo assim lhe pareceu muito pouco. Quão estranho era sentir saudades de alguém que ele via todos os dias? Provavelmente não mais estranho do que conseguir perceber, apesar do amor genuíno que emanava de sua mãe, que ela estava se esforçando para conseguir parecer inteira, feliz como costumava estar antes da transformação inexplicável das semanas anteriores. Queria dizer alguma coisa, qualquer coisa. Que estava grato que ela estivesse se esforçando por ele. Que ficaria mais feliz se pudesse ajudá-la. Que já era adulto o suficiente para ouvir as tristezas dela. Que…

  — Se não assoprar a vela logo, não vai sobrar nada para você fazer um pedido — disse Catherina, puxando o rapaz de volta à realidade. Não havia tempo para que ele encontrasse a coisa certa para dizer para Yeva, nem era o lugar para aquilo. Depois, prometeu a si mesmo, depois acharia um jeito de ter essa conversa.

— Eu sei que você só não quer que caia cera derretida no bolo — devolveu ele, e ignorando as piadas de seus amigos, procurou pensar em um bom desejo. Aceitou a primeira coisa que lhe veio à mente, talvez porque era difícil saber que rumo sua vida teria dali em diante. Que eu encontre um jeito de parar essa guerra, pensou, por favor. 

Apesar da nota tão amarga que aquele pedido carregava, Aleksei mal sentia seu peso. Fazia pedidos parecidos com esse há muitos anos, no fim das contas, mais como um lembrete do que por acreditar que uma vela teria o poder de mudar alguma coisa. Mas, mais importante, estava rodeado das pessoas que mais amava. Havia sol entrando pelas janelas grandes, comida na mesa e o burburinho das conversas de que ele genuinamente gostava de participar. Preocupações, ainda que enormes, não conseguiriam lhe ocupar a mente por muito tempo, ali.

— Então, como se sente com seus 26 anos? — perguntou Andrey, quando o processo de cortar o bolo e cada um se ocupar de pegar seu café da manhã terminou, agora sentados ao redor da grande mesa redonda ao centro da sala — Mais sábio?

— Eu aposto em mais velho e rabugento — se intrometeu Isaach, recebendo uma cotovelada do czareviche em resposta. — Vai dizer que é mentira?

— Enfim — disse, ignorando solenemente o amigo. — Estou bem. Igual, acho.

— “Igual” é uma palavra muito forte, Alek. — Aberash comentou, com a naturalidade de como se estivesse dizendo algo muito mais banal. — Os últimos meses foram muito propensos a mudanças e você não esteve imune a elas. Acho que nenhum de nós.

O mais surpreendente, talvez, era ver seus pais, Catherina, Isaach e Andrey concordando com aquilo. Não imaginava que as minúsculas diferenças que sentia em si mesmo fossem tão visíveis. Mais importante, não tinha parado para pensar em quão seriamente a Seleção poderia impactar quem estava próximo dele. De maneiras outras, sim, mas ainda assim ele não seria o único. Havia algum conforto nisso, uma vez que, mesmo que estivesse gostando de como estava se saindo até agora, sentia uma vergonha difícil de abandonar da coisa toda – afinal, aceitar a mudança era aceitar que estava pior antes, que o jeito de ser e de se portar que construíra para si mesmo nas últimas duas décadas não funcionava, que poderia ser melhor. E, bem, ainda não estava tão confortável em admitir isso.

— Eu, por exemplo, estou aprendendo a passar pelos corredores do palácio com um pouco mais de delicadeza. — Aleksei agradeceu silenciosamente pela intervenção de Catherina, já que não tinha ideia do que responder. — Já quase matei duas das selecionadas de susto aparecendo “do nada” no corredor. Não sabia que eu era tão assustadora.

O comentário gerou uma risada geral. “Assustadora” não era uma palavra que ninguém naquela mesa usava para descrever Catherina com frequência, mas era um adjetivo merecido e ela tinha plena consciência – e nenhuma vergonha – disso.

Daí em diante começou uma enumeração das coisas que eles vinham experienciando com as selecionadas ali, num clima de descontração muito bem-vindo. Até Isaach, que passava menos tempo no palácio, teve que apontar como não tinha mais paz nos passeios que costumava fazer pelo jardim, já que elas tinham o mesmo apreço pelo ar livre que ele, ou, nas palavras de Isaach, “deviam ter uma resistência ao frio absurda ou muito amor por mato”.

— Acho que está na hora de deixarmos vocês à vontade — começou Yeva, já se levantando junto com Damian, depois de bastante tempo de conversa. A fala foi recebida por um burburinho de contrariedade, que eles não precisavam ir tão cedo etc, diante do que a Czarina riu. — Agradeço o amor, mas tenho certeza de que têm assuntos a tratar que não são apropriados para pais ouvirem. Já tive a idade de vocês, ora.

Não havia como argumentar com isso, de fato, então se limitaram a despedirem-se dos dois. Antes de ir, Damian se dirigiu ao filho:

— Aleksei, podemos conversar por um minuto? — Apesar de estranhar o pedido do pai, o czareviche concordou, seguindo os dois até o corredor.

Ficaram parados ali em silêncio por um momento, com Damian e Yeva trocando olhares. Ao que transparecia pela interação silenciosa dos dois, era o Czar quem deveria tocar aquela conversa, e não parecia lá muito certo de como começar. 

— Eu sei que esse processo todo não começou de um jeito bom para você — disse, finalmente. — Também percebo que não tornei nada mais fácil, e sinto muito por isso.

— O senhor não precisa… — Aleksei queria dizer que não havia necessidade daquilo, a raiva do começo da Seleção tinha passado, mas Damian gesticulou para que ele esperasse.

— Preciso. Não gosto da maneira como agi com você e um pedido de desculpas decente é o mínimo que posso fazer. — Ele suspirou, talvez porque a parte mais difícil tinha passado, e abriu um sorriso. — Mais do que isso, estou muito orgulhoso de como tem lidado com tudo até agora, como pai e como governante. 

Era estranho o quanto o czareviche vinha esperando por ouvir algo assim. Um pedido de desculpas e um pouco de reconhecimento. Seu pai, pensou não pela primeira vez, era mais perceptivo do que se dava crédito – e em momentos como aquele, parecia mais consigo mesmo do que com uma sombra do avô de Aleksei, aristocrático e rígido. 

— Obrigado, pai. — Não conseguia formular nada, tão surpreso quanto feliz. Esperava que seu pai conseguisse perceber pelo sorriso em seu rosto o quanto aquilo significava para ele. 

Ficaram um momento em um silêncio carregado, apesar de não ser ruim. Yeva, que tinha mais jeito com esse tipo de coisa do que o marido e o filho, interveio antes que se prolongassem demais.

— Também temos um presente — disse, dando a deixa para que Damian tirasse uma caixinha preta do bolso. — Lembra do anel dos Kostroma?

Aleksei assentiu. Sua paz de espírito deu uma balançada com a pergunta, mesmo que tivesse certeza de que Yeva não tinha a menor intenção de acusá-lo de nada. Claro que se lembrava. Tinha recebido o anel de presente ao fazer quinze anos, como era comum na família. Poucos meses depois, o perdera. O pior era que nem se sentia tão triste quanto deveria pelo ocorrido. Em parte era porque toda a situação em que o perdera fora tão complexa que essa parecia a menor das causalidades, mas principalmente porque odiava usar a joia. Tinha esperado para ganhá-la desde criança, mas era incômoda, pesada demais para algo tão pequeno, parecia carregada de uma eletricidade que nunca chegava a dar choques. Era como se seu corpo estivesse rejeitando usá-lo. Nunca contara isso para ninguém e, claro, não estava nada orgulhoso de ter perdido o anel que tinha pertencido ao primeiro Czar do pós-guerra. 

— Queríamos que você tivesse algo com o brasão da família, para você e para os seus filhos — disse Damian, entregando a caixinha para Aleksei. — Talvez seja um pouco não ortodoxo, mas preferimos representar nossa família a sermos tradicionais.

Curioso, o czareviche abriu a caixa, se deparando com um anel bastante parecido com o primeiro. Era de prata, largo e com o brasão entalhado em traços pequenos e finos. A diferença estava ali: além do brasão dos Kostroma, um urso negro com dois sabres ao fundo, havia ramos de flores se enroscando na base da imagem.

— São íris — apontou seu pai, radiante de orgulho. — Consegui convencer sua mãe a escolher algo para representá-la e sua família.  

Aleksei tinha certeza de que fora um longo caminho para convencer Yeva daquela ideia, mas era óbvio que ela tinha gostado do resultado final – o presente era tão para ela quanto para ele.

O anel se alojou no dedo de Aleksei sem peso fantasma, sem reação além do frio da prata em sua pele. E, por isso, era perfeito. Teria apenas algumas décadas de idade quando fosse a hora de passá-lo adiante, mas, até lá, o czareviche gostaria de poder contar alguma boa história, ligar um mínimo de tradição a ele que fosse, algum legado.

A ideia de legado era interessante nos dias bons e aterradora nos dias ruins. Que país deixaria ao governo de seus filhos? Que tipo de Czar seria? Que tipo de pai? Lhe parecia um tanto precipitado pensar nesse tipo de coisa, mas aquele era um dia bom. Havia uma confiança irradiando de seus pais por meio daquele presente e, naquele momento, pensar sobre o futuro dava um pouco menos de medo.

— Obrigado, aos dois — disse, incapaz de conter o sorriso que lhe ocupava o rosto. — Prometo cuidar bem dele.

— Sabemos que sim, querido — afirmou Yeva, dando um aperto afetuoso na mão de Aleksei. Damian, ao seu lado, balançou a cabeça em concordância.

— Você deveria voltar e comemorar com seus amigos — completou o Czar, dando uns tapinhas no ombro do filho. — Vai ser um dia longo, tente descansar por agora, certo?

Aleksei assentiu, seguindo para o salão depois de observar seus pais sumindo pelo corredor, já resolvendo alguma outra coisa. Aqueles momentos longe da pompa e dos olhares de uma multidão a que estava tão acostumado tendiam a parecer pequenos, mas costumavam ocupar lugares bem maiores na memória do czareviche, bem mais mornos e afetuosos. Acreditava veementemente que seria impossível sobreviver à corte sem um punhado desses momentos na bagagem.

No salão, a conversa estava animada. Aleksei entendeu sobre o que estavam fofocando assim que a pergunta infame saiu da boca de Catherina:

— E aí, quem vai ficar responsável pela recepção do nosso príncipe favorito? — na mesma hora os olhares se voltaram para Aberash, que não pensou meio segundo antes de responder.

— Faz dois anos que eu fico de babá daquele homem, já cumpri meu tempo.

— Ah, Abe, você é quem tem mais paciência aqui — emendou Isaach. — Achei que tinham se dado bem na última vez.

— Eu tenho uma educação impecável, só isso — respondeu ela, e abriu um sorriso de quem sabe de alguma coisa que os outros não. — E você, Isaach? Pelas minhas contas, é sua vez de vigiá-lo. 

Aleksei soltou um riso engasgado ao se dar conta que nem Catherina nem Andrey sabiam do que Aberash estava falando. Foi trocar um olhar com Aberash para ela ter que morder a boca para não rir também.

— Ei! Podem parar com essa trocação de olhares aí — reclamou Catherina. — Do que eu não estou sabendo?

— Como você sabe disso? — perguntou Isaach, virando-se para Aberash, perplexo, e depois para Aleksei. — Você contou?

— Claro que não, não era meu caso para contar — disse o czareviche, dando de ombros, mas incapaz de sumir com o divertimento que devia estar estampado em seu rosto.

Não precisou de meio segundo para a czarevna adivinhar a coisa toda.

— Você transou com ele?? — exclamou ela, arregalando os olhos numa expressão que podia ser de surpresa, preocupação, desgosto ou os três ao mesmo tempo.

— Desse jeito o palácio inteiro vai ficar sabendo, doida — reclamou Isaach, fazendo sinais para Catherina falar mais baixo.

— Respondendo sua pergunta — disse Aberash, ignorando o caos que estava acontecendo —, eu vi vocês saindo do salão. E vi que ele nem olhava na sua direção no dia seguinte. Se dois mais dois é igual a quatro…  

Passado o choque inicial, Isaach começou a gargalhar.

— Eu odeio o tanto que você é perceptiva, sabia? É assustador.

— Fico lisonjeada — respondeu ela, abrindo um sorriso orgulhoso. 

— Parem de me ignorar — resmungou Catherina. Aleksei estava até com dó de vê-la tão perdida, mas era engraçado demais. — Você não pode soltar uma informação dessa e não contar a história.

— Exatamente — se intrometeu Andrey, a que Isaach respondeu com sua melhor expressão de “até você?” — Quero saber com que cara eu vou olhar para o dito cujo quando ele entrar no salão de baile hoje à noite. 

— Vocês são horríveis. Bando de fofoqueiros — reclamou ele, mal contendo o riso.

— Como se você não soubesse tudo da vida amorosa de todo mundo nessa mesa — alfinetou Andrey. Se tinha alguém capaz de arrancar aquele tipo de informação deles, era Isaach. 

— Tá bom, tá bom… — disse, se dando por vencido. Ele suspirou, pensou um pouco e depois riu. Aleksei tinha que concordar que devia ser difícil saber por onde começar.

— Desculpe, fiz um trabalho bem ruim em guardar segredo — disse o czareviche, um pouco preocupado em talvez haver mais naquela história do que ele tinha previsto. Isaach espantou suas preocupações com um abanar de mão.

— Primeiro que a culpa foi daquela dali, não sua — disse ele, apontando para Aberash — E segundo que um ano de segredo para um caso tão besta foi até muito. — Um ano antes as coisas tinham estado bem diferentes, mas ainda conseguia se lembrar do quanto tinha rido da cara de absoluta derrota de Isaach quando ele viera lhe confessar o que tinha feito na noite anterior. — Foi no baile do ano passado, lembro que decidi arrastá-lo para fora do salão antes que irritasse algum nobre com menos senso de humor que a maioria. Acho que ficamos uma boa hora andando a esmo pelos corredores e no fim dessa hora… Bom, vocês sabem.

— Agora me explica como isso aconteceu depois de uma hora ouvindo as conversas daquele imbecil — comentou Catherina, fazendo pouco esforço para esconder sua revolta com a situação. — Bebida demais? 

— Eu tenho certeza que o álcool afetou meu julgamento — respondeu Isaach, rindo. — Mas não tanto, eu não estava tão fora de mim assim. Acho que essa é a parte engraçada: dos dias que fiquei vigiando Ezequiel, aquela foi a hora que ele falou menos. Parecia outra pessoa, juro. 

— Tem certeza que ele não estava alterado demais para formar uma frase? — perguntou Andrey, o que fez Aleksei rir um pouco. Tinha indagado algo muito semelhante na primeira vez em que escutara aquela história. 

— Pior que ele nem estava tão bêbado assim, também. Não, era diferente… Melancólico, acho que essa é a palavra. Não me lembro mais sobre o que falamos, mas a sensação que ficou foi de que aquela foi a única conversa de verdade que eu já tive com ele. 

— Confesso que é bem difícil acreditar nisso — disse Andrey, e Catherina concordou. Aleksei entendia, pelo menos em parte. Não costumava duvidar das percepções de Isaach, então ficava no mínimo intrigado com a possibilidade de que Ezequiel fosse mais do que um herdeiro mimado e inconsequente. Mas que era um tanto difícil imaginar o que o amigo estava descrevendo, isso era. Era mais fácil pensar em Ezequiel como um revoltado do que como uma pessoa triste.  

— Ele realmente faz muito esforço para parecer confiante em sua impertinência — disse Aberash —, mas, se vocês olharem por tempo o suficiente, vão perceber que é um esforço enorme. Está o tempo inteiro tentando não parecer tão cansado quanto está.

Isaach e Aberash trocaram um olhar cheio de significado, em uma compreensão mútua. Isaach podia fazer quantas piadas quisesse, mas ainda tinham um nível de percepção tão assustador quanto o da cantora. Aleksei imaginou que teriam uma conversa sobre aquilo mais tarde. 

— E foi uma noite boa, de qualquer maneira — continuou, encerrando aquela história. — Se não tivesse voltado a ser ele mesmo na manhã seguinte, talvez eu tivesse um pouco mais de vontade de conviver com ele agora. 

— Obrigada — disse Catherina, jogando as mãos para o alto, num movimento de “aleluia”. — Já estava pensando que ia rolar uma tentativa de redenção para aquela criatura. 

— Ora, por favor, eu tenho altos padrões para com quem eu me relaciono — Isaach respondeu, fingindo uma expressão de ofensa que não demorou a se desmanchar em riso. — Ezequiel pode não ser tão raso quanto tenta desesperadamente parecer, mas tanto empenho em querer ser percebido como uma pessoa desagradável não é bom sinal. Dou chances para quem merece.

Catherina estendeu o braço para apertar a mão de Isaach, radiante de orgulho. Nem parecia que estava profundamente ultrajada até uns segundos antes. 

— Depois de eu entreter vocês com a minha vida — começou Isaach —, voltemos à questão urgente: quem vai ficar de olho nele?

— Será que é necessário? Com a aliança com a Espanha rompida, não temos que cuidar da diplomacia deles, o que ele ou Leonor fazem não tem real impacto para nós — apontou Andrey. — Os escândalos deles não são mais nossos escândalos. 

Era de fato tentador esquecer da presença de Ezequiel e deixar que ele causasse quantos problemas quisesse para si mesmo, mas Aleksei sabia que era uma ideia inconsequente. Admitiria, apenas para si mesmo, que ainda queria poupar Leonor dos problemas causados pelo irmão, mas o motivo maior era outro:

— Não podemos. Não faço a menor ideia de como Ezequiel vai agir sabendo que temos uma Seleção acontecendo e não quero descobrir — disse o czareviche. Era muito grato aos amigos por terem se prontificado a resolver o problema diplomático que era o príncipe espanhol quando ele e Leonor ainda estavam noivos, mas sabia que eles estavam cansados daquilo, também. — Posso pedir a um guarda para ficar de olho nele, vocês não precisam fazer isso.

Depois de três anos, Aleksei quase entendia o jeito caótico em que Ezequiel funcionava. Era sarcástico e rude, mas sem jamais tirar um sorriso da cara, o que conseguia ser mais irritante. Tinha um carisma que, se tivesse sido usado do jeito certo, poderia ter o transformado em um bom líder – contudo, parecia usar essa característica só para flertar com quem lhe interessasse. De qualquer maneira, o príncipe espanhol nunca parecia estar sozinho por muito tempo e Aleksei só podia inferir que ele detestava lidar consigo mesmo, o que explicaria a melancolia que Isaach viu nele um ano antes. O fato era que Ezequiel não era confiável por ser imprevisível demais, e deixar que as selecionadas lidassem com ele, a maioria delas ainda pouco familiares com a corte, era tão imprevisível quanto. E, bem, gostaria de, na melhor das hipóteses, poupá-las da chatice de Ezequiel e, na pior, de qualquer ideia questionável que ele tivesse. 

— Se ele perceber que colocamos um guarda para vigiá-lo, podemos ter problemas de verdade — apontou Catherina. Ela soltou um suspiro tão enfadado que Aleksei teve de rir um pouco, apesar de saber o que a irmã ia dizer em seguida. — Deixem comigo. Vou mantê-lo na linha e longe das selecionadas. Mas se ele sair do salão, não vou participar de nenhuma conversa melancólica na madrugada. 

O clima sério foi embora com o último comentário da czarevna, dissolvido em riso.

— Você nunca vai me deixar esquecer disso, vai? — disse Isaach, que conhecia muito bem a amiga que tinha. 

— Jamais.

— Já que estamos nesse assunto — disse Andrey —, como vão as coisas com as selecionadas? Algum nome em que devemos ficar de olho?

Dava para ver a curiosidade brilhando nos olhos de seus amigos. Diferente de como tinha sido com Leonor, Aleksei estava tentando ser mais aberto com eles sobre como andava se sentindo, principalmente por perceber que precisava de todos os conselhos possíveis para passar por aquela Seleção. Mesmo assim, ainda era estranho falar sobre aquilo. Sem nem perceber, já estava dando um jeito de evitar uma resposta de verdade.

— Acho que não — teve que rir um pouco, diante do que ia dizer em seguida. — Confesso que estive tão preocupado nesses primeiros encontros que só agora me sinto um pouco mais tranquilo para fazer alguma coisa além de calcular o próximo passo. Não pensei sobre isso até agora.

— Alek, pelo amor de Deus, esse tipo de coisa a gente não pensa, a gente sente — disse Isaach, no tom de puxão de orelha a que o czareviche tinha se acostumado.

Aleksei ficou olhando para o amigo, se achando um pouco idiota por não ter considerado algo tão óbvio, mas ainda assim acreditava que tinha alguma razão naquela história: 

— Você não acha que está um pouco cedo para sentir alguma coisa?

— Depende. Se com sentir você quer dizer estar se apaixonando, então sim, pode ser um pouco cedo. Para algumas pessoas não seria, mas eu te conheço o suficiente para saber que é o seu caso — respondeu ele, e Aleksei rezou bastante para não estar ficando vermelho. Isaach vivia lhe enchendo por achar que o czareviche era romântico e devagar demais para seu próprio bem. Isaach estava maluco e não sabia do que estava falando, obviamente. 

— Agora, é claro que você sentiu alguma coisa — disse Aberash. — Você deve ter gostado mais de um encontro ou outro, se sentido melhor na presença de uma delas ou desgostado das conversas com outras. É disso que a gente quer saber, não precisamos de uma análise completa de cada uma, ué. 

— Tá bom, tá bom, vocês venceram. — Aleksei riu, nem podia ficar surpreso com a capacidade de seus amigos de tirar informações dele. Já tinha sido melhor em esconder coisas deles, mas não sentia mais tanto orgulho ou vontade de fazer isso mais. Era solitário demais, apesar de parecer mais seguro. As opiniões, broncas, parabenizações, piadas e conselhos sobre sua vida que vinham das bocas deles costumavam ser envoltos num afeto que ele não sabia como tinha conseguido passar sem. — Por onde eu começo…

 

*

Não sabia que ia ser daquele jeito. Talvez ele tivesse se enganado com a manhã tranquila e com os últimos meses turbulentos o suficiente – nem sempre de uma maneira ruim – para que ele se esquecesse de vez em quando. Podia dar todas as justificativas, mas o fato era que tinha que se segurar para não fazer movimentos repetitivos de impaciência e que tinha suor se formando nas palmas das suas mãos. O fato era que não queria continuar esperando as portas da entrada principal do palácio se abrirem, mas se mantinha parado ali. E, eventualmente, a comitiva chegou com ela logo na frente.

Aleksei sentiu um choque descendo pela espinha quando viu Leonor, o que foi outra surpresa desagradável. Tinha desejado conseguir olhar para ela e não sentir coisa alguma, como se fosse uma estranha. Ao invés disso, se via tendo que lidar com aquela onda de afeto, atração, mágoa e raiva, tudo com um gosto amargo, tudo misturado demais. Quanto tempo teria que ficar ali?

— Bem-vindos — disse, fazendo uma reverência curta para os herdeiros espanhóis. Ao menos sua voz saiu firme e cordial no momento de cumprimentá-los. Não saberia onde se enfiar se tivesse exposto qualquer pedacinho do que estava se debatendo em seu peito. — Fizeram boa viagem?

— Fora a turbulência crônica que acontece nas suas fronteiras, sim — respondeu Ezequiel, com o sorrisinho irônico característico. O czareviche esperou pela próxima abominação diplomática que sairia da boca do príncipe. — Se bem que é uma boa maneira de me fazer gostar ao menos um pouco de pisar neste país gelado.

Dava para ver a raiva emanando de Leonor. Mais do que isso, pela primeira vez Aleksei percebeu que ela também estava tensa. Aquele receio sempre tinha estado ali quando se tratava de Ezequiel? 

— É uma sorte que seja primavera, então — respondeu Aleksei, de certa forma acostumado a contornar os possíveis embates em que o irmão de Leonor sempre parecia ter tanta vontade de se enfiar. — As temperaturas já estão mais amigáveis até para quem não cresceu aqui.

— É habitável, ao menos. Não imagino como você iria aguentar viver um inverno aldiano, Leo — disse, dando de ombros, como se não soubesse exatamente o que estava fazendo. — Uma sorte, de fato.

Aleksei continuou encarando o príncipe espanhol, tentando encontrar uma resposta que não fosse xingá-lo. Se recusava a olhar para Leonor, também. Não queria saber o que o rosto dela entregaria sobre o que achava do comentário. Mas, bem, apesar da tensão, valeu muito a pena ver a expressão convencida de Ezequiel se desmanchar em algo entre vergonha e pavor quando Yeva parou ao lado do filho.

— Bem-vindos. — Quem olhasse de longe, veria só a mais pura cordialidade por parte da rainha. Aleksei conhecia a mãe, porém, e sentiu como ela estava assumindo um papel de protetora ali. — É muito bom vê-los de novo, ainda mais depois de tanto tempo. Não é mesmo, Ezequiel?

— Sim, vossa majestade. — Nunca deixava de ter graça como o príncipe espanhol murchava em sua ironia confiante quando estava perto da Czarina. Era um mistério por que ele era tão afetado justamente por Yeva; não era maluco de desrespeitar Damian como fazia com Aleksei, mas Yeva tinha um efeito muito mais forte nele, dava quase para acreditar que era uma pessoa agradável.

— É uma pena que vão ficar tão pouco tempo, e depois de uma viagem tão longa! Há muita coisa nova para ver por aqui… — continuou ela, já indicando que Ezequiel a seguisse. — Por exemplo, expandimos a galeria de arte de que você gostou tanto da última vez. Eu teria o maior prazer em lhe levar lá, o que acha?

— Seria ótimo, vossa majestade. — Foi a única coisa que ele conseguiu responder, acompanhando a Czarina para fora da sala sem nem tentar trocar meio olhar com a irmã.

Aleksei só conseguiu segurar o riso até os dois saírem pela porta, quando Leonor começou a rir também – para a sorte de ambos, a comitiva já tinha se dispersado para cuidar de seus afazeres. Tentou, sem muito sucesso, manter a compostura, mas no fim tinha até algumas lágrimas nos olhos. Parte daquele riso também era do nervoso que estava sentindo com aquela situação toda – sua mãe tinha lhe ajudado mais do que calculara com aquele teatro. 

— Deus, que milagre sua mãe performou no Ezequiel? — comentou Leonor, quando conseguiu respirar o suficiente para falar alguma coisa. A descontração tinha afetado ela também, pelo visto.

— Se um dia descobrir, prometo lhe contar — respondeu, sentando-se em um dos bancos encostados na parede da entrada, sendo acompanhado por Leonor logo em seguida. — Você parece estar precisando de um.

Aleksei quis se bater por matar o clima leve com tanta rapidez, mas era impossível não reparar. Leonor levantou as sobrancelhas, no mínimo surpresa com o comentário.

— Não estou parecendo abalada dessa maneira, Aleksei.

— Não quis dizer que você parece estar mal, só… Nunca te vi tensa perto de Ezequiel, não até hoje. 

Leonor riu de novo, mas dessa vez não havia humor ali.

— É bem verdade que Ezequiel parece duplamente empenhado em acabar com a própria reputação, mas nunca me diverti estando do lado dele. Há três anos nossa relação era muito parecida com a que temos agora.

— Eu… — Ele desistiu de se justificar no momento em que percebeu que talvez realmente não tivesse visto algo que já estava ali há muito tempo. Era uma percepção estranha. Quanto de Leonor ele tinha ignorado, assim como ela tinha feito com ele? — Esqueça. Desculpe pelo comentário indevido. 

Ela lhe ofereceu um sorriso condescendente demais para ser tranquilizante. 

— Você continua o mesmo, hum? Pelo menos é familiar.

Aquilo doeu. Era como se os últimos meses tivessem desaparecido. Pior, sentia como se não tivesse mudado nada, de fato. Era tão difícil sair de seus padrões perto dela – logo quem mais parecia desaprovar quem Aleksei tinha sido nos últimos anos.

Por mais que quisesse, não conseguia se forçar a expor nada do que estava sentindo, nem raiva, nem tristeza, nem mesmo conseguia contradizê-la. Tudo que pôde fazer foi dar um sorriso fraco e um “acho que sim” como resposta.  

Seus velhos hábitos eram fortes o suficiente para que o czareviche conseguisse ignorar a dor daquele comentário queimando em sua mente e seguir por uma conversa rasa por mais alguns minutos sobre o baile, sobre a vida de Leonor na Espanha, sobre a Seleção no geral, cumprindo seu papel como anfitrião. O suficiente para conseguir arranjar uma justificativa convincente para ir para outro lugar e deixar Leonor se instalar em seu quarto, quando na verdade só queria sumir da frente dela o mais rápido que pudesse.

Nem sabia para onde estava indo, se perdendo pelos corredores infinitos do palácio de propósito. O mais humilhante de tudo era perceber o quanto vinha querendo surpreender Leonor, fazê-la se arrepender ao menos um pouco. Merda. Tudo o que tinha conseguido, porém era provar o ponto dela mais uma vez.

Tinha prometido a Catherina que ia se dar um feriado pessoal e não tocar em trabalho, mas foi a única coisa em que conseguiu pensar para ocupar sua cabeça até o próximo compromisso. Estava tão distraído com seu humor cada vez mais decadente que sentiu o coração quase sair pela boca quando percebeu que tinha companhia.

— É muito engraçado o quanto você é previsível às vezes, sabia? — disse Isaach, sem nem se levantar da poltrona em que estava acomodado.

 — Hein?

— Eu sei que não sou o melhor exemplo do mundo — começou Andrey, andando na direção de Aleksei —, mas é ridículo que seu jeito de escapar dos seus problemas seja trabalho, Alek. Não podia ser um vício melhor? 

— Em vez de me insultar, vocês dois podem me explicar o que estão fazendo no meu escritório?

Isaach finalmente se levantou, empurrando Aleksei porta afora.

— Te tirando dele.

— Vamos jogar cartas — informou-lhe Andrey, não fazendo nenhum esforço para parar Isaach de arrastar o czareviche pelos corredores. — E, no meio tempo, você pode nos contar como foi a recepção da comitiva espanhola.

Aleksei só conseguia olhar para os dois, em choque. Seus amigos sempre tinham estado ali para ele, mas aquilo era um pouco diferente. Não estava acostumado a intromissões tão evidentes – e obviamente tão necessárias, ainda mais quando se encontrava num humor tão pouco amigável. Não era como se não precisasse delas antes, seus sentimentos conflitantes sobre Leonor eram um problema bem diminuto se comparado com o que tinha enfrentado nos anos anteriores. Talvez… Talvez agora eles sentiam que podiam fazer aquilo porque havia uma abertura que não existia antes? Que Aleksei não os afastaria ainda mais se fizessem algo? Só essa possibilidade aliviou um pouco o peso na consciência do czareviche. Não estava tão imutável assim, no fim das contas.   

— Obrigado — disse, e não lhe passou despercebido quantos agradecimentos tinha feito só naquele começo de dia.

— Guarde os agradecimentos para depois do jogo, duvido que você vai estar tão generoso depois que eu vencer com glórias — disse Isaach, parando de puxá-lo e passando o braço ao redor dos ombros de Aleksei, num passo bem mais tranquilo.

— Que eu me lembre, o recorde de vitórias é meu. Isso, claro, se não contarmos as vezes que você roubou — rebateu Andrey.

— Calúnias! Posso vencer você de olhos fechados desde que éramos adolescentes.

— E com algumas cartas debaixo da mesa — comentou Aleksei, ganhando um olhar da mais pura ofensa por parte de Isaach.

— Temos péssimos competidores nesta tarde, senhoras e senhores — disse o outro, num tom tão dramático que Aleksei não teve outra escapatória a não ser rir.

Antes que percebesse, entre picuinhas bestas, gargalhadas e conversas sérias de verdade, a tarde passou e os sentimentos amargos que Leonor tinha gerado evaporaram. No fim, Aleksei ganhou uma única partida das cinco que jogaram e não poderia se importar menos. 

 

***

Leonor, quando estava de bom humor, gostava de dizer que Ezequiel podia ter todos os defeitos do mundo (o que ela não usava como hipérbole. Era praticamente literal), mas ao menos era honesto. O príncipe estava mais do que acostumado a abrir um sorriso torto e soltar alguma piada sarcástica em resposta. Também estava mais do que acostumado a fingir que nem sentia uma pontada de tristeza quando ouvia isso.

O fato era que Ezequiel nem podia dizer que Leonor estava errada, não mais. Se aquela atitude toda tinha começado como uma farsa, já tinham se passado anos demais para que ele pudesse dizer que aquilo era uma mentira, não quem ele era de verdade. E, bem, não era como se não fosse absurdamente divertido quase matar seus pais de desgosto. Ou que não adorasse as festas, a bebida, o sexo. Nada como uma multidão e música alta o suficiente para deixar os ouvidos apitando quando finalmente havia algum silêncio.

O problema era esse: o silêncio era insuportável. Tinha se tornado cada vez mais seco, violento, com o passar dos anos, de uma maneira que fazia Ezequiel duvidar que teria alguma escapatória além de aumentar a frequência e a altura do barulho até atingir algum limite que não deveria ter ultrapassado. Nos dias melhores, Ezequiel achava até graça do quão clichê era isso. Ultimamente, porém, o humor vinha com menos frequência. 

Depois de uma certa idade, aceitara que seu modo de agir era bastante óbvio para muita gente, mas, mesmo assim, Aldan tinha sido um choque de realidade. Ninguém tinha lhe dito nada de maneira direta, provavelmente porque eram muito mais capazes de diplomacia do que ele próprio. Saber tudo isso, claro, não impedia Ezequiel de odiar o jeito como Aleksei parecia desconsiderar seus comentários sarcásticos não por educação, mas por saber exatamente o jogo de Ezequiel. Ou se sentir do tamanho de um grão de poeira quando Yeva parecia enxergar através dele, como se fosse transparente. O príncipe mal sabia explicar para si mesmo porque a Czarina lhe afetava tanto. Era só que… Ela era tão gentil. Parecia capaz de toda a compreensão e paciência do mundo – não para ele, não de verdade, mas para um filho? Um ente querido, um amigo que fosse? Que tipo de pessoa Ezequiel teria se tornado se tivesse alguém como ela o educando?

Não. Ezequiel balançou a cabeça, como se isso fosse jogar os pensamentos fora. Aí estava, silêncio demais, pensamentos demais. Se obrigou a voltar para a realidade, finalmente tomando coragem para entrar no salão de bailes. O ruído das conversas e a música encheram seus ouvidos e ele sentiu alívio o suficiente para ignorar o olhar torto que recebeu de Leonor ao se colocar do lado dela.

— Pensei que tinha desistido de vir — comentou ela, sem encará-lo.

— Meia hora de atraso não é nenhum crime, Leo — disse, aceitando de bom grado a taça de champagne que um garçom lhe ofereceu. Se forçou a tomar um gole pequeno, precisava estar sóbrio para a primeira parte daquele plano, pelo menos. — O czareviche se atrasou mais de uma hora no último baile e não vi ninguém reclamando.

Leonor levantou os olhos para ele, com alguma resposta na ponta da língua que ela acabou desistindo de dizer no meio do caminho. Em vez disso, decidiu tratar de um assunto mais urgente:

— Só… Só tenha algum senso hoje, ok? Não passe vergonha, não me faça passar vergonha. 

Ezequiel abriu um sorriso torto, já pronto para responder.

— Ora, por favor, Leo, eu jama-

— Por favor digo eu, Ezequiel. Não faço ideia de qual é a inconsequência que você planejou fazer aqui hoje, mas é óbvio que haverá alguma — ela suspirou, irritada. — O que quer que seja, não quero saber. E prefiro voltar para casa não sabendo, então administre as proporções do que você vai fazer.

Sem esperar ele responder, Leonor se afastou para o centro do salão. Mesmo cercado de som o suficiente, Ezequiel não conseguiu afastar aquela pergunta amarga de sempre: se tudo o que ele fazia era tão estupidamente óbvio, como Leonor e seus pais não percebiam?

Não pela primeira vez, Ezequiel questionava-se, com um tom de desespero cada vez mais difícil de ignorar, sobre o quão longe seus pais iriam para mantê-lo como herdeiro. Nunca prestara para aquilo. Vinha se esforçando para prestar cada vez menos. E, mesmo assim, a promessa de ser coroado continuava firme e forte. Em uma única vez, só uma, seu pai tinha ameaçado passar a coroa para Leonor. Tinha sido a noite mais feliz da vida do príncipe, mesmo com o rosto ardendo dos tapas pesados que tinha recebido. Na manhã seguinte, contudo, era como se a possibilidade sequer tivesse existido. 

Eram uma monarquia sob a lei Sálica, afinal – Deus, como Ezequiel tinha lido sobre essa maldita lei – o que, em termos de gente, significava que só um homem teria direito à coroa. Mesmo que ele abdicasse, o trono não iria para Leonor. A solução, claro, era que o rei abolisse a lei. Ezequiel sabia que haveria apoio do conselho real, do sistema judiciário e da população. Porque Leonor era uma líder da cabeça aos pés e Ezequiel era menos capaz que uma criança – tinha se certificado que assim fosse. Só faltava que o rei cedesse. E, bem, talvez isso fosse muito mais difícil do que o príncipe espanhol tinha calculado.

Ezequiel virou a taça praticamente cheia na boca, mal sentindo o álcool. Precisava de bem mais que aquilo para que ele começasse a sentir o efeito e necessitava de algum alívio daqueles pensamentos circulares. Prometeu a si mesmo que se controlaria na próxima e tratou de focar no que ia fazer.

Leonor estava certa, no fim das contas, tinha vindo até Aldan por um motivo. Era muito bom ter um tempo longe de seus pais e, apesar de realmente não ter muito amor por aquele país, tinha que admitir que eles sabiam dar boas festas – mas não estava ali só por esses motivos. Na verdade, essa era mais uma de suas tentativas de fazer o pai dos dois desistir dele de uma vez por todas. 

Já tinha tentado muita coisa e descartado muitas delas até segunda ordem, quando não tivesse mais opções. Violência física fora a primeira que riscara da lista. Não ligava muito para ter que tomar alguns pontos, mas a sensação de ferir outra pessoa era tão horrorosa na hora e pior quando a adrenalina passava que ele não conseguia se empurrar para fazê-lo. Também já tinha entendido que a maioria das coisas que fazia na Espanha desapareciam com rapidez demais para gerar qualquer consequência, seus pais tinham ficado bons em acobertar suas tentativas de escândalo com o passar dos anos. 

Seus melhores resultados foram fora das fronteiras espanholas. Aldan, assim, era um terreno bastante fértil, mas não só por isso. A Seleção poderia ser justamente a cartada de que Ezequiel precisava. Ora, havia gente do mundo inteiro assistindo aquilo, era impossível que a notícia não corresse. Era uma chance boa demais para desperdiçar, então Ezequiel ia usar o jogo que melhor dominava: sedução. Não deveria ser tão difícil que uma das selecionadas não tivesse comprado o “sonho” de se casar com o czareviche e caísse em seu charme, não é?

Correu os olhos pelo salão, calculando com qual delas seria sua melhor chance. Nessa, acabou encontrando o olhar de Isaach e foi um tanto vergonhoso o tamanho do esforço que teve que fazer para abrir um sorriso e cumprimentá-lo, não desviar os olhos no mesmo instante. Se ele também estava incomodado, não demonstrou no sorriso com que o cumprimentou, mas se manteve longe – ao que Ezequiel agradeceu profusamente. Não era a primeira vez que ficava vulnerável demais perto de alguém que não deveria – qualquer um que o pegasse em um dos momentos de silêncio, principalmente quando ele estava bêbado, veria mais do que era seguro. Mesmo assim, ele tinha tomado um mínimo de cuidado para não ter nada assim em Aldan, aquele era o último lugar em que queria parecer tão fraco quanto era na realidade. 

De fato, a culpa era do outro por tê-lo arrastado para fora do salão e causado aquela situação ridícula. Não conseguia sentir raiva de verdade, porém. A vergonha vinha por saber que, com mais frequência do que gostaria, pensava naquela noite com uma espécie de carinho. Isaach, ao contrário do que o príncipe tinha imaginado, era um bom ouvinte e tinha acomodado sua tristeza com uma naturalidade que Ezequiel nunca tinha visto. Justamente por isso era perigoso, um lembrete do quão frágil era aquela persona que tinha construído para si mesmo. Era engraçado, não? Depois de tantos anos, era esperado que ele tivesse ficado cada vez melhor em emanar só a confiança mais pura, não mais dado a quebrar a cada migalha de afeto que recebesse. 

Aquela seria uma das noites difíceis, constatou o príncipe quando se viu encurralado por seus pensamentos mais uma vez. Suspirou, se obrigou a beber só metade da taça que tinha nas mãos e voltou a prestar atenção ao seu redor.

Conseguia sentir o olhar de Catherina sobre si, muito ciente de que estava sendo vigiado. Ela era a escolhida daquela vez, hum? Ter a czarevna seguindo cada movimento seu seria um problema muito maior se ele não tivesse visto o jeito que ela olhava e conversava com um dos guardas posicionados pelo salão. E o jeito que ele olhava para ela. Era uma distração esperando para acontecer. Ezequiel apostava que teria abertura para fazer o que quisesse em umas duas horas, no máximo. 

Por enquanto, então, ele se contentava em esperar e tentar fazer uma boa escolha. Beleza não era um critério ali, por ser um denominador comum – e, sinceramente, não fazia a menor diferença no tipo de objetivo que o príncipe tinha em mente. Descartou as que pareciam inocentes demais e as que eram inteligentes o suficiente para adivinhar as intenções de Ezequiel em um instante. Logo, já tinha um punhado de opções em mente. 

Só restava esperar. O que, como muitas outras coisas, talvez fosse mais difícil do que Ezequiel tinha calculado. 

Ele estava certo sobre ser uma noite difícil. Houve momentos de alívio: a apresentação de Aberash para a abertura das danças, a beleza do salão se transformando, a conversa inesperadamente boa que teve com sua prima, cada gole de álcool que se permitia beber. Quando se distraía, porém, os pensamentos voltavam, mais altos que a música e o ruído das conversas. Merda, por quanto tempo Catherina ia continuar vigiando-o?

 Quando a janela para agir finalmente veio, Ezequiel não estava exatamente sóbrio, mas ainda estava funcional. E, na realidade, suas primeiras tentativas estavam indo muito bem quando sentiu uma mão em seu ombro:

— Há quanto tempo, vossa alteza. — Se o sorriso e o tom de Isaach exalavam a mais pura cordialidade, a mão firme no ombro do príncipe era bem mais sincera nas intenções do outro. — Estava lhe procurando para resolver uma questão, se importaria de me acompanhar por um momento?

Ezequiel nem teve tempo para recusar, já sendo levado para uma das varandas do salão e depois para um dos cantos do jardim. Mal podia acreditar no seu azar. Catherina estava distraída, tinha visto Aberash e Aleksei deixando o salão e havia um burburinho entre as selecionadas. Era o caos perfeito para que ele pudesse trabalhar em paz. O czareviche precisava ter amigos tão dedicados assim?

— O que você quer? — disse, desvencilhando-se de Isaach assim que ficaram sozinhos.

— Eu poderia perguntar o mesmo, mas acho que já adivinhei. — O desdém no rosto dele era impossível de ignorar. Querendo ou não, Ezequiel tinha passado a conhecer o círculo próximo a Aleksei nos últimos anos. Fora Catherina, não eram hostis com ele, até amigáveis nos melhores dias. Assim, ver Isaach expressando raiva o desconcertou mais do que o príncipe gostaria. — Sério, Ezequiel, você não está ficando velho demais para esse tipo de armação suja?

Acho, pensou. Estava tão, tão cansado. 

— Eu sei que vocês me desprezam no geral, mas nem conversas eu posso ter mais? Que bela imagem da realeza aldiana vocês fazem. — Enquanto conseguisse expressar só raiva, estaria bem. Talvez irritasse Isaach o suficiente para ser deixado em paz. 

— Ah, me poupe. Você mente pior ainda quando bebe. 

— Achei que tinha conseguido mentir bastante bem ano passado — se arrependeu no instante em que isso saiu de sua boca, ciente do quão pouco convincente seria. Não havia porque voltar atrás, porém. — Ou você realmente acreditou naquela baboseira sentimental? 

Ezequiel não gostou da expressão que caiu sobre o rosto de Isaach. Parecia demais com pena. 

— Diga o que quiser para se sentir melhor, não me importo. — Ele se aproximou de Ezequiel e o príncipe precisou de bastante esforço para não dar dois passos para trás. Apesar de ter só alguns centímetros a mais, Isaach parecia ter o dobro do tamanho. Era a raiva dele ou o fato de Ezequiel estar se sentindo do tamanho de um inseto? — Mas você não vai bagunçar essa Seleção por algum capricho. Você sequer considerou o tamanho do estrago político que aquele seu joguinho faria, se desse certo? 

Sim. Sabia, sabia bem demais. E estava disposto a pagar o preço, mesmo que fosse egoísta. A resposta devia ter ficado estampada em sua cara, porque a pena evaporou da expressão de Isaach.

— Seu… A Espanha ficou pequena demais para sua incompetência, é isso? — Ele respirou fundo. Ezequiel não estava tirando prazer nenhum em deixá-lo tão agitado, só precisava que ele fosse embora. Não entendia a insistência em continuar aquela conversa.

— Claro, o mundo é meu parquinho pessoal — respondeu, abrindo os braços e o sorriso mais orgulhoso que conseguiu. — É o meu presente de despedida para vocês. Presente de fim de noivado, se é que isso existe. Agora que eu penso nisso, é um presente muito razoável, tão horrível quanto a união que foi desfeita, graças aos céus.

— Cale a boca.

Quase dava para ver o limite que Ezequiel estava prestes a ultrapassar. Era óbvio que não podia parar agora. 

— Não, não, essa é uma pergunta que eu tenho há anos. Como os melhores amigos do czareviche, tão gentis e honráveis, nunca o alertaram sobre como ele é um parceiro horrível? Iam deixar o casamento acontecer sem dizer nada e oferecer suas condolências quando ele conseguisse ser o primeiro Czar divorciado do pós-guerra? 

Quando Isaach o agarrou pelo colarinho da blusa, Ezequiel esperou por um golpe e o fim daquela conversa infinita. Se preparou para revidar, para sair daquilo com alguma dignidade. O golpe nunca veio, porém. 

Olhou para cima, encontrando o outro de olhos fechados, respirando fundo. Não demorou para que Ezequiel fosse solto. Sua confusão só aumentou quando Isaach começou a rir.

— Que mau uso você faz dessa sua capacidade de observação. — Ezequiel nem sabia o que responder, paralisado por aquela reação ilógica. A frase seguinte parecia bem mais um diálogo com ele mesmo do que direcionada ao príncipe. — Meu Deus, como eu queria que ela tivesse razão com menos frequência.

— Do que diabos você está falando?

— Aberash, quem vigiou você por todos esses anos, coitada, me fez uma descrição muito boa do seu jeito de operar. Quer dizer, eu te descreveria como triste ou perdido. Mas cansado? Determinado? Leal? Nunca. — Ele riu de novo, balançando a cabeça em descrença. — Mas eu nunca vi ninguém parecer aliviado quando está prestes a tomar uma surra. Você só quer que acabe logo, não é?

Ezequiel estava certo. Aquela era uma noite horrorosa. Como tinha saído de um plano perfeito, o último de que precisaria, para a conversa que mais evitara a vida inteira? Não estava sóbrio o suficiente para isso. 

— Você não está fazendo sentido nenhum. Acabar com o quê?

— Me diga você. — Isaach se aproximou de novo, mas dessa vez não havia hostilidade no ato. — O que vinha depois que o plano desse certo? Depois que o mundo pegasse fogo e você conseguisse o que queria.

Estava ficando tonto. Conseguia sentir a verdade se debatendo para sair de sua boca, com uma facilidade assustadora. Anos de mentiras para querer despejar todos os seus segredos para a primeira pessoa que fazia a pergunta certa? 

— Sinto decepcionar, mas não tem nada de mais profundo ou melhor para vocês salvarem aqui — conseguiu dizer, detestando cada palavra. Era verdade, não era? Por isso pesava tanto. — Sou uma causa perdida e gosto muito disso. Pronto, terminamos?

A tontura finalmente ganhou de Ezequiel, fazendo-o pisar em falso. Ótimo, talvez caindo e desmaiando ele conseguiria fugir daquela situação. Sua sorte deveria ter desaparecido inteira porque, ao invés do chão, foi Isaach que o segurou. Depois de meia hora ao ar livre, naquele clima infernal de Aldan, era impossível não sentir algum tipo de conforto no calor do corpo de Isaach. Para o conforto no cheiro um tanto familiar do outro, ele não tinha boas justificativas. 

— Me solta.

— Foi você quem caiu em cima de mim, em primeiro lugar — disse o outro, sem afrouxar o abraço em volta do príncipe. Era absurdo o quanto Ezequiel estava se segurando para não descansar a cabeça no ombro de Isaach. — Fique aí até encontrar seu equilíbrio de novo, não quero ter que te carregar se você cair e quebrar alguma coisa. 

— Você não tem que fazer nada por mim.

— Eu sei. Ainda é um mistério por que estou me submetendo a isso aqui. — Ele finalmente se afastou, mas manteve as mãos nos ombros de Ezequiel. Estava sério de novo. — Olha, nem por milagre eu deixo você voltar para aquele salão sozinho. Você tem duas opções: voltar para o baile com um acompanhante permanente — ele apontou para si mesmo — ou encerrar a noite e ir para o seu quarto. 

Ezequiel levantou uma sobrancelha, pronto para indagar de onde Isaach tinha tirado essa certeza de que podia negociar com ele. O desafio morreu depressa, porém. Se fosse sincero, não estava com a menor vontade de continuar naquele baile. Sabia que se odiaria por isso de manhã, quando percebesse o tamanho da oportunidade que tinha perdido, mas no momento só estava com frio e pouca coordenação motora.

— Que seja. Já vi bailes aldianos o suficiente por uma vida inteira, de qualquer maneira — respondeu, voltando para dentro do palácio sem esperar por Isaach. Não demorou muito para o outro lhe alcançar, seguindo-o até quando ele saiu do salão para o corredor que levava até seu quarto. — Você não tem nada melhor para fazer?

— Não. Cumpro minhas funções direito, como posso ter certeza se você vai mesmo fazer o que prometeu se eu não averiguar?

— Sei. Também vai dormir na minha porta para ter certeza de que não vou sair de noite?

— Preferiria muito mais ficar da porta para dentro, na verdade. — Ezequiel esperava muitas coisas, menos flerte. Depois de tudo que ele tinha dito? — Mas hoje não. É o aniversário do meu melhor amigo e é comemorando com ele que eu vou passar a noite. 

— E a coisa toda de não confiar em mim? — perguntou, quando chegaram à porta do quarto do príncipe.

— Estou apostando que você vai se sentir menos inclinado a voltar para o salão depois que ver sua cama. — Ele abriu um sorriso bastante convencido diante da falta de contestação do príncipe, que estava com sono demais para ficar irritado com isso. — Conversamos amanhã. Boa noite, Ezequiel.

— Boa noite.

Pela primeira vez no dia, o silêncio foi gentil com Ezequiel. Ele não lhe deu pensamentos ansiosos sobre seus pais, sobre Leonor, sobre a conversa que Isaach insistia em continuar. E lhe embalou num sono sem sonhos, permitindo quietude também dentro de sua cabeça.


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Notas finais do capítulo

Depois dessa introdução (e esse pulinho no final da noite, pelo ponto de vista do Ezequiel), começamos o baile de fato - o próximo ainda é tranquilo, vou deixar o coitado do Aleksei comemorar o aniversário dele um pouco, né kkkkkkk. Atualizei o Tumblr com um monte de coisa, inclusive nas páginas individuais das selecionadas ;)

Deixo aqui registrada minha reclamação sobre ternos, revirei tudo quanto é canto pra achar uma coisinha mais criativa que um terno comum. Difícil viu kkkkkkkk. No fim, decidi eu mesma desenhar um negócio… Não ficou nenhuma obra de arte, ainda tô aprendendo a lidar com desenho digital, mas curti bastante fazer, talvez apareçam mais algumas ilustrações daqui pra frente, heh.



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