The Kostroma Dynasty escrita por Mialee Aurestelar


Capítulo 18
Ato I: O Guarda


Notas iniciais do capítulo

Então... Oi! É, minha gente, faz seis meses quase. Eu não pensei que eu fosse ficar tanto tempo sem escrever essa fanfic, mas o segundo semestre me atropelou de um jeito tão absurdo que acabou dando nisso. Temos um capítulo enorme de 4000 palavras, então não vou ficar enrolando muito aqui, mas tenho alguns recado, leiam as notas finais!

Sobre esse capítulo: as vencedoras daquele desafio de eras atrás foram a Theresa e a Evelina. Colocarei pequenas narrações de todas que enviaram o desafio e as ganhadoras terão uma descrição mais longa e detalhada. Agradeço demais a todas pelas narrativas incríveis, tentei colocar o máximo das ideias de vocês na história, espero que curtam. Também adicionei as roupas de toda a família real na página de Gifs no Tumblr, deem uma olhada lá!

Só uma coisinha: mudei o photoplayer do Aleksei. Estava impossível achar gifs do Francisco Lachowski fazendo outra coisa que não modelando porque, bom, ele é modelo kkkkkkk. Agora a carinha do nosso czareviche será o Aaron Taylor-Johnson. Troquei as imagens em todos os capítulos, se tiverem curiosidade de olhar.



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Don't you wanna get away from the same old part you gotta play

'Cause I got what you need

So come with me and take the ride

It'll take you to the other side

 

The Other Side— The Greatest Showman

 

 

Crescer tem um milhão de vantagens. A independência, a possibilidade de fazer escolhas por si próprio, descobrir sua maneira de se encaixar no mundo. Mas, claro, como tudo na vida, também tem um milhão de desvantagens, e, no momento, Aleksei experienciava a leve frustração de não poder dar pulinhos, cantarolar ou inventar alguma brincadeira frenética como uma criança faria para extravasar o nervosismo que sentia. Afinal, era um adulto maduro e, mais importante, realeza. E isso significava que aspirar as atitudes de uma criança se mostraria uma vontade pouco sábia na grande maioria das situações.

Importante notar, porém, que o nervosismo de Aleksei não provinha de medo ou apreensão. Na realidade, pela primeira vez em muito tempo, o czareviche estava animadamente aguardando pelo que viria depois. Mal podia esperar para colocar a primeira de suas máscaras, e viver na pele de outra pessoa por um minúsculo espaço de tempo. Tentava com todas as forças domar a expectativa sobre como seria, para não se decepcionar quando o sentimento fosse menos do que ele imaginava. Tentava e tentava, mas a esperança não ia embora.

Veja, para os poucos que sabiam da farsa de Aleksei para se infiltrar na multidão sob a fantasia de um guarda, parecia óbvio que o czareviche planejava com isso conhecer melhor as selecionadas sem o título de herdeiro pesando sobre sua cabeça. Impossível negar que esse também era um dos objetivos, mas não era tudo e, ele tinha que admitir, tampouco era o mais importante.

Naquela noite, durante as breves horas em que poderia andar por aí fingindo ser outra pessoa antes que a falta do czareviche começasse a ser notada, Aleksei tinha uma missão importante. Queria descobrir se, sem tantos olhos sobre si, era capaz de espontaneidade. Se era capaz de se afastar da racionalidade e da frieza por um momento e fazer um estranho rir de uma piada boba, não por educação ao herdeiro do país, mas porque era genuinamente engraçado. Queria descobrir se parte da casca que criara para si mesmo era removível com a coroa. E o risco era grande, claro, porque podia não ser. Ele poderia ser incapaz de leveza mesmo quando distanciado de si mesmo, e isso era assustador. Mas, naquele instante, o medo não estava falando alto o suficiente para que ele tivesse impulsos de desistir.

— Alek, estão terminando a inspeção final do salão — Catherina entrou no quarto sem cerimônia, retirando Aleksei de suas divagações — Vamos liberar a entrada da Guarda em uns dez minutos, você deveria ficar pronto.

Aleksei anuiu, mas sentou-se na cama ao lado de Catherina ao invés de ir preparar-se. Ainda tinham tempo, e fazia alguns dias desde que tinham tido a possibilidade de conversarem um pouco.

— Então, ansioso para se misturar com a plebe? — perguntou ela, carregando na ironia na última palavra, em uma imitação tosca e cômica de certos membros da nobreza que logo estariam ocupando o salão de bailes.

— Falando em termos oficiais, um pouco, mas tenho controle da situação — provocou ele, abrindo um sorrisinho de canto.

— E em termos realistas?

— Nunca me senti tão elétrico — Catherina baixou os olhos para a perna esquerda de Alek, que balançava em um tique de impaciência, como quem dissesse “é, eu percebi” — Pois é. Estou a ponto de saltitar, Catherina. Saltitar.

A czarevna abriu um sorriso de divertimento. Era óbvio que ela deveria estar se divertindo com aquela situação, já que era mais do que raro que ele estivesse tão visivelmente irrequieto, e ela estivesse tranquila e em controle da situação. Levando em conta a personalidade dos dois, era bem mais usual que acontecesse o contrário.

— Vai dar tudo certo, Alek. — ela abriu um sorriso zombeteiro — Sua noite de Cinderela vai ser perfeita se depender dessa Fada Madrinha aqui.

Aleksei revirou os olhos, mas tinha um pequeno sorriso encaixado no canto dos lábios.

— Você não conseguiu nem garantir minha saída até a meia noite, que Fada Madrinha de merda que você me saiu – Aleksei desviou com sucesso do tapa que Catherina com certeza imaginava que deveria ser leve, agora rindo de verdade.

— Nunca vi alguém tão ingrato na minha vida! Deveria te transformar em abóbora com meus incríveis poderes para você deixar de ser tão mal-agradecido.

O riso de Aleksei vacilou um pouco, mas ele conseguiu fazer isso passar despercebido pela irmã. Era um pouco desconcertante ouvir ela brincar com magia, mas, no fim, ela podia fazê-lo. Quem desconfiaria da maior caçadora de sua geração? Em teoria, Aleksei também era isento de suspeitas, mas, com aquela coisa se agitando em seu peito quando queria, ele não se sentia no direito, nem em segurança para tal, como se todos o julgassem culpado, não só ele mesmo.

Aleksei percebeu que era hora de mudar de assunto.

— Por outro lado, você realmente está com a aparência de algo fora desse mundo, Cat — disse, apontando para o vestido dourado da czarevna. Era até bem simples, mas Catherina com certeza chamaria muita atenção no salão — Está muito bonita.

— Tentando me ganhar com elogios, é? — ela sorriu, se levantando da beira da cama.

— Funcionou?

— Um pouco. Vai funcionar melhor ainda se você tentar ser um pouquinho assim com as selecionadas. Se você for tão engessado quanto no último jantar, acho que até eu vou ter que te considerar uma causa perdida.

Aleksei estava prestes a responder um “eu vou chegar à mesma conclusão” soando bem mais amargo do que zombeteiro, quando foi interrompido por um guarda batendo à porta, anunciando que a inspeção do salão fora finalizada.

Catherina colocou a máscara dourada que lhe dava uma expressão rapina sobre o rosto, e virou-se para o irmão.

— Pronto para se misturar à multidão?

Aleksei baixou os olhos para si, para o uniforme e a máscara em suas mãos que o tornariam igual a todos os guardas zelando pelas pessoas no grande baile de abertura daquela fase nova e peculiar de sua vida. Conseguiu colocar um meio sorriso no rosto.

— Provavelmente não — disse, colocando a máscara que cobria todo seu rosto — Mas você consegue imaginar hora melhor para fingir do que em um baile de máscaras?

*

Nos primeiros minutos, Aleksei decidiu por uma abordagem mais segura. Postou-se com as costas para uma das paredes do salão, em uma posição de atenção e vigília como a de outros guardas espalhados pelo lugar. Queria reconhecer em que terreno estava pisando primeiro.

O salão resplandecia em uma decoração branca e prateada, exalando elegância. Alek percebia que sua mãe tinha dedicado tempo pensando em como preencheria aquele salão. Cercados por um ambiente alvo e imaculado, nem de longe tão esplendoroso quanto um baile real poderia ser, as cores das roupas e das máscaras requintadas era como um farol, chamando atenção. Era genial, na verdade. Afinal, no primeiro baile da Seleção, ainda que fosse importante mostrar requinte, o que deveria tomar o centro eram as pessoas. As selecionadas. O czareviche.

De fato, estava funcionando. Os pais de Aleksei andavam pelo salão, de braços dados e com máscaras que estavam ali só para que os dois não destoassem do tema, afinal não se podia esconder quem eram os donos da festividade. Os dois eram como um imã, com os olhos de todos gravitando em sua direção uma hora ou outra. A mesma afirmação se aplicava a Catherina, que abria sorrisos para antigos conhecidos enquanto lutava, provavelmente, com a vontade de dar um “chega pra lá” no primogênito dos Guuzeva, que estava a rondando desde o começo do baile.

Aleksei se surpreendeu ao perceber que sabia exatamente quem eram as selecionadas. Decorara o nome de todas elas, esperava, mas não imaginara que conseguiria identificar todas sob máscaras. Nem conseguiria explicar como tinha certeza de que eram elas, só sabia. Como em um eco daquela sensação que o assolara em seu primeiro encontro com todas elas, sentia uma parte pequena dentro de si reconhecê-las. Tentou não se incomodar demais com essa estranheza. Não podia perder tempo.

Não pôde evitar a formação de um pensamento estratégico em sua cabeça, dividindo as garotas em grupos de semelhanças tênues. Havia as que irradiavam dominância, parecendo estar em casa. Outras não chamavam tanta atenção, mas pareciam estar encarando aquela situação com coragem e confiança. E havia as que estavam claramente deslocadas. Abigail Rodríguez, se ele não se enganava, era uma delas. Era visível que a garota estava incomodada, sem saber direito como agir. Aleksei foi rápido em decidir que aquela era uma das damas que ele deveria tentar conhecer sob outra pele que não a de herdeiro, já que imaginava que só pioraria o desconforto dela.

Chegou devagar perto da garota, para não assustá-la.

— Está tudo bem, senhorita? Parece pálida.

Abigail, que estivera meio encostada e meio escondida perto de uma janela, abriu um pequeno sorriso para Aleksei, ou melhor, para o guarda.

— Tudo bem, obrigada — hesitou por um segundo, antes de continuar — Como foi a primeira vez que você trabalhou em um baile? Se sentiu tão esquisito quanto eu devo estar parecendo?

Foi a vez de Aleksei hesitar. Não esperava uma pergunta tão direta.

— Desculpe, pergunta boba. Vou parar de atrapalhar o seu serviço — em seu momento de silêncio, Abigail se apressou em voltar atrás no que dissera, um pouco sem jeito.

— Não, não atrapalha — disse Aleksei, falando depressa para evitar que ela fosse embora — E não é uma pergunta boba só... Inesperada. — Aleksei ponderou quanto de verdade podia usar em sua resposta — Faz muito tempo, então não me lembro bem, mas acho que é impossível não se sentir pequeno num ambiente desse.

— Menos mal para mim, então — respondeu rindo um pouco, parecendo um tanto grata de poder conversar com alguém. Mesmo assim, era claro que estava desconfortável, e de vez em quando olhava para um dos cantos do salão, incomodada. Aleksei seguiu seu olhar para se deparar com duas selecionadas, Olivia e Isidora, conversando e olhando para a direção deles de vez em quando.

— Qual é o problema?

— Nada com que eu não esteja acostumada — ela suspirou, cansada — Provavelmente estão falando de mim, não estão fazendo esforço nenhum para esconder.

— Falando de você? Vocês mal chegaram no palácio, o que há para dizer?

Abigail riu, parecendo achar graça da incredulidade no tom de Aleksei.

— Não precisam me conhecer, só precisam me olhar — ela abriu os braços e desceu os olhos para si, como se dissesse “veja” — Não sou exatamente o que se esperaria para a futura czarina do país.

Aleksei não era idiota. Sabia do que Abigail estava falando, só não sabia ao certo como dizer a ela que aquilo não fazia sentido. A garota estava, realmente, vestida com mais simplicidade do que as outras garotas, em um vestido azul. E parecia muito consciente, de uma maneira ruim, do fato de ser mais gorda do que as outras. Aleksei não se sentia no direito de lhe dizer que ela era tão bonita como cada uma daquelas damas no salão. Imaginava que seria estranho ouvir algo assim de uma pessoa que ela literalmente conhecia há cinco minutos. Também não podia dizer que aquela conversa curta tinha sido muito mais interessante do que as que tentara ter com as garotas que sussurravam mesquinharias sobre ela. O que acabou dizendo não foi perfeito, mas era o que ele tinha:

— Não é possível definir quem é certo para governar só olhando, é mais complexo do que isso.

Ela levantou as sobrancelhas diante da certeza com que ele dissera aquilo. Aleksei mordeu a língua, esperando que não tivesse acabado de colocar seu disfarce em risco.

— Imagino que sim — respondeu ela, rindo. Alek relaxou um pouco, salvo sob sua máscara — O que define uma czarina, então?

A partir daí Aleksei teve que tomar cuidado com o que dizia, mas a conversa fluiu bem. Abigail, para a surpresa do czareviche, tinha opiniões bem firmes e foi bem interessante conversar com ela. Parecia que as coisas estavam dando certo, por enquanto.

*

Aleksei precisava se policiar. Não conseguiria falar com todas elas, não disfarçado. Não haveria problema que descobrissem o que ele estava fazendo depois que seu pequeno ato tivesse terminado, mas ele não queria ser descoberto antes de as cortinas terem se fechado. Precisava arranjar desculpas para se aproximar, senão ficava tudo óbvio demais.

O pretexto que ganhou foi tão bom que ele mal pôde acreditar. Uma das selecionadas, Nastya Morozova, estava conversando com o guarda que cuidava da porta de vidro que dava para a varanda e a escadaria que seguia direto para o jardim, tentando convencer o homem a deixá-la sair só por um minutinho. Aleksei se aproximou, se dispondo a acompanhar a garota até o lado de fora, coisa que, depois de um olhar de reconhecimento entre ele e o outro guarda, foi autorizado.

Aleksei andou alguns passos atrás da garota, e esperou um pouco antes de falar algo, querendo deixá-la se acostumar com a presença dele.

— Perdão pela intromissão, senhorita — começou ele, e Nastya o olhou, curiosa — Mas porque essa fuga repentina do salão?

Nastya abriu um sorriso meio encabulado, andando bem perto da neve que se acumulava na grama, logo que o calçamento acabava. Não parecia se importar com o frio.

— Rodei aquele salão inteiro cumprimentando nobres, e me dirigir ao Czar e à Czarina foi um tanto estressante, não vou mentir — Aleksei soltou um riso curto, engasgado. Sua mãe provavelmente ficaria desolada em saber que amedrontava as garotas. Ela riu um pouco também — Precisava respirar antes de voltar e encarar as cerimônias que acontecerão mais tarde.

— Parece uma boa ideia — comentou ele — Não vai molhar a barra de seu vestido se ficar tão perto da neve assim?

Nastya corou, se afastando relutantemente do monte de neve. Definitivamente não estava preocupada com seu vestido.

— Eu... Ah, eu gosto de colocar os pés na neve quando estou me sentindo estressada. Me ajuda a acalmar — ela sorriu de leve — É estranho, eu sei.

Aleksei tinha seus próprios rituais particulares, então a última coisa que podia fazer era julgar Nastya.

— De maneira alguma. Mas acho que deveríamos voltar agora, meu superior — seu superior. Era engraçado dizer isso — não vai gostar que fiquemos tanto tempo fora. Talvez possam liberar a senhorita para voltar aqui mais tarde, quando o baile tiver terminado, se quiser.

— Vou me lembrar disso — disse, menos envergonhada e empolgada com a ideia — Obrigada.

Voltaram para o salão falando pouco, mas Aleksei gostara da garota. Havia algo acolhedor e curioso sobre Nastya, e gostaria de saber mais sobre ela.

*

Voltaram bem a tempo da dança de abertura. Era uma coreografia bem simples, comum a bailes do tipo. Era bonito ver os pares deslizando pelo salão em formações diferentes, mas, de verdade, não poderia ser mais básico. Tinha sido combinado bem antes da ideia de Aleksei se infiltrar no meio da multidão que as selecionadas dançariam com os guardas, e o czareviche não faria parte da dança inicial, não acharam que seria justo que apenas uma garota ganhasse a primeira valsa com ele. Contudo, era exatamente o que iria acabar acontecendo.

Antes de que se desse conta, Aleksei fora levado a entrar na formação, alinhado com a fila de guardas que estava em frente à fileira com as vinte selecionadas. À essa altura, Aleksei tinha certeza de que até mesmo Catherina o perdera no meio dos outros, então não estava preocupado com aquele acidente de percurso. Sabia os passos daquela valsa tão bem quanto sabia quantos dedos tinha nas mãos.

Deu dois passos à frente, tomando as mãos de seu par e se colocando em posição. Kira Drozdova, reconheceu. Os primeiros movimentos da coreografia eram os mais complicados, justamente para chamar atenção, e Kira parecia especialmente concentrada no que estava fazendo. Aleksei achou melhor deixar aquele pedaço da dança passar antes de tentar alguma conversa.

Passada a parte inicial, agora era só se movimentar em uma valsa básica. Bem quando ele relaxou, um outro casal acabou chegando perto demais, empurrando Aleksei para frente. A coisa foi pequena, então pouca gente deve ter percebido, mas ele tinha acabado de pisar no pé da garota.

— Perdão, senhorita.

— Não se preocupe, é claro que não foi culpa sua — Kira, olhou por cima do ombro de Aleksei, tentando enxergar quem era o outro par — Não deveriam ter escolhido bons dançarinos para essa valsa? — Kira arregalou os olhos, percebendo o que dissera — Nossa, isso soou mais maldoso do que eu esperava.

Aleksei acabou rindo, e achando o casal que os atropelara. O rapaz estava claramente se esforçando bastante para fazer tudo certo, mas era claro que não era um dos melhores dançarinos. A selecionada com que ele dançava, Katherine, parecia estar se divertindo um pouco com a situação, pelo menos.

— Nem todos quiseram servir de pares essa noite. Acharam melhor trazer alguém que quer estar ali do que alguém que é bom, mas seria uma péssima companhia.

— Sábia escolha — respondeu ela, aliviada de ele não ter levado seu comentário a mal.

Kira era alguém com maneiras sociais bem trabalhadas, era óbvio. Conseguia conduzir uma conversa tranquilamente com alguém que acabara de conhecer, e Alek admirava isso. Não puderam falar muito, a dança era curta, mas ele decidiu que tentaria falar com ela novamente, assim que tivesse a oportunidade.

*

O tempo de Aleksei estava se esgotando. Ganhara exatamente uma hora e meia de invisibilidade e, percebeu surpreso, quase uma hora inteira tinha se passado. Logo precisaria voltar para seus aposentos, colocar o terno em que algum estilista famoso trabalhara com afinco nos últimos dias e se apresentar diante de todos. Ninguém se surpreenderia ou se ofenderia com um atraso dentro desse período, era mais ou menos normal.

Calculava que poderia falar com mais três selecionadas, se escolhesse bem. Seus olhos vagaram pelo salão, buscando ninguém em especial. Com os minutos correndo, ele já não podia ter a mesma liberdade do início do baile. Burburinhos sobre a ausência dele deveriam estar começando a se formar.

Pousou o olhar sobre uma das garotas que vinha lhe chamando a atenção desde o começo. Theresa Dashkova era uma das selecionadas que se deixavam ficar mais aos cantos, quieta, mas não havia nada de hesitante nela. O vestido vermelho era certamente um dos contribuintes para essa sensação, destacando-a como uma gota de sangue na neve.

Alguma coisa em Aleksei lhe avisava que seria mais sábio falar com Theresa logo antes de deixar o salão para se livrar da fantasia de guarda, ou quando já fosse, novamente, o herdeiro da nação aos olhos de todos. Essas ideias foram caladas, contudo, quando ela começou a se aproximar de Aleksei, com um andar displicente de quem não quer nada em especial.

— É no mínimo divertido, não? Ver todo esse frenesi para descobrir quem será a felizarda que irá fisgar o czareviche.

— Como é? — Aleksei não conseguiu parar uma exclamação de surpresa, se virando para a garota. Quer dizer, aquilo parecia ser o começo perfeito para o tipo de conversa que ele teria gostado de gerar, responderia uma de suas perguntas. Mas parecia perfeito demais.

Pela postura de Theresa, era difícil desconfiar de algo. A garota exalava uma confiança firme. Aleksei conhecera muita gente com uma aura como a da garota. A maioria eram políticos. Alguns eram atores. Todos eles tinham um poder singular de captar a atenção.

Apesar disso, a postura dela apontava para descontração. Tinha apoiado as costas na parede perto da qual Aleksei realizava sua falsa vigília. Tinha uma taça de bebida na mão, e uma marca vívida de batom vermelho estava estampada na boca do objeto. Observando os olhos dela, porém, Aleksei só encontrava a mais pura sobriedade.

— Quer dizer, como não estariam empolgados? É um grande conto de fadas se realizando, um sonho midiático — revirou os olhos — Quem não gostaria de acreditar em algo tão bem vendido assim?

Aleksei ponderou por um momento. Não era como se não soubesse daquilo – quem dissesse que não tinha absorvido nem uma das coisas que os livros e os filmes mostravam definitivamente estava mentindo -, mas era até cômico imaginar que agora ele fazia parte desse tipo de sonho.

— E você? Está soando cética demais para ser uma das que compraram a ideia.

— Não é difícil perceber que a Seleção está acontecendo por uma questão política — ela deu um meio sorriso — E, por mais que os contos de fada tenham tentado nos convencer do contrário, há pouco espaço para romance quando se tem uma coroa na cabeça. Se alguma das garotas acredita nisso, provavelmente vai deixar esse palácio muito decepcionada.

Aleksei era incapaz de discordar. De fato, era até um pouco acalentador saber que ele não era o único a duvidar da ideia que seria possível encontrar amor dentro de um prazo de que ninguém realmente falava, mas estava lá, sem dúvidas. Mas decidiu que queria saber mais sobre a visão de Theresa nisso. Aquela opinião jogada parecia só a ponta do iceberg.

— Se me permite perguntar, qual seu interesse aqui, então?

Theresa abriu um sorriso, parecendo esperar a pergunta e gostar de poder respondê-la.

— A Seleção pode não ser tão bonita como a pintaram, mas é um momento essencial. Não tenho dúvidas de que isso constará nos livros de história daqui muitos anos. E, bem, eu não poderia recusar a oportunidade de fazer parte de algo tão grande, nem que fosse como uma nota de rodapé.

Aleksei deu um meio sorriso sob a máscara. Se tornar história era uma boa resposta. O czareviche se lembrava do dia em que tinha percebido que, ao contrário da maioria das pessoas, mesmo que não fizesse nada de extraordinário com sua vida, só seguindo o que era esperado dele, ainda teria seu espaço nos livros de história de Aldan. Fora uma percepção bem forte para uma criança de doze anos.

— Imagino que irá se divertir no processo — comentou Aleksei.

— Com toda certeza — respondeu Theresa, dando um sorriso de lado que fazia com que ela parecesse saber algo de que ele não sabia.

— Tenho mais uma pergunta — arriscou ele — Sobre o momento histórico que é a Seleção... Acha que é um bom momento? Que fará diferença para melhor, quero dizer.

Theresa desencostou-se da parede, olhando de frente para Aleksei, agora.

— É uma mudança grande, ter alguém que não faz parte da realeza assumindo o trono — fez um movimento leve com a taça em sua mão, indicando que Aleksei deveria olhar para um dos cantos do salão, onde sua mãe estava — A Czarina foi a primeira em gerações, e é inegável que o governo atual teve um tom diferente dos outros, pelo menos em alguns aspectos — Aleksei quase detectou um nota de amargura no final da frase. Quase — Não vejo por que uma das garotas não seja capaz de trazer algo positivo para o próximo reinado.

— Mesmo que seus motivos para estar aqui sejam o de um romance falho? — Aleksei sentia que estava jogando alguma espécie de partida de xadrez verbal com Theresa.

— Você está distorcendo o que eu digo de propósito — ela sorriu com divertimento — O motivo é importante, sim. Querer amor me parece o mais fraco deles, tenho que admitir. Querer dinheiro, poder, status, estabilidade... São ambições que me parecem mais sinceras, e ambicionar nos move em frente. Ter um interesse em particular não faz ninguém ruim, a questão são os meios para chegar até lá.

— Isso... — Aleksei pensou sobre o que queria dizer. Era uma ideia diferente. Não sabia se concordava ou não, mas fazia algum sentido — Você é muito segura em suas afirmações, senhorita, alguns diriam que é uma boa característica para uma governante.

— Eu? Não, não sirvo para isso — riu — Hei de ganhar meu pedaço da história por outros feitos que não o de ser coroada.

— Acho que isso só o tempo vai dizer — n ão sabia de nada ainda, era o primeiro baile, impossível tirar qualquer conclusão, mas, por mais que Theresa soasse sincera, sabia que não tinha visto nem a metade.

— Provavelmente. Só mais uma coisa — parecia estar dando aquela conversa aleatória como encerrada. Sorriu para ele, abaixando a cabeça em uma minúscula reverência — Se solte mais, alteza. Seus movimentos refinados o denunciam.

Aleksei estacou, assustado. Só pode observar enquanto Theresa se afastava, claramente se divertindo com a situação.

Correu os olhos pelo salão, procurando as garotas com quem falara naquela noite. Procurou sinais de que elas sabiam, mas, até onde pôde enxergar, elas pareciam indiferentes a informação de que era Aleksei sob a máscara, e isso o acalmou um pouco. Sua intuição estivera certa. Theresa realmente era alguém para procurar entender com cuidado.

Deu mais algumas voltas no salão, agora prestando atenção em seus movimentos, imitando a maneira como os outros guardas andavam. Teve boas conversas com mais duas garotas, Elizaveta Rumyantseva e Alexandra Tremblay. Depois, foi hora de finalizar aquele experimento.

Já andando pelos corredores vazios, Aleksei tirou a máscara. Era um pequeno alívio receber o ar frio no rosto, depois da quantidade que tinha suado atrás daquela máscara.

Não tinha tempo para parar e refletir sobre o que tinha sido aquela uma hora e meia. Uma pena, senão teria percebido quantas vezes tinha rido, só naquele período. Ou quantos pensamentos tinha lhe passado pela cabeça, que não tinham nada a ver com burocracia ou preocupação com a imagem que estava passando. Ou como sua expressão, naquele exato momento, tinham um quê de vitória e de coragem. Era pequeno, mas, para Aleksei, era muito. Se tivesse percebido, talvez tivesse aberto um sorriso inteiro. Uma pena que não tinha tempo para isso.

 

 


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Espero que sim!

Foi complicado escrever esse capítulo porque eu dei uma enferrujada depois de ficar tanto tempo longe da história, então me perdoem se estiver ruinzinho, prometo melhorar kkkkkk. Ah, e se estiverem perdidas sobre o ponto em que estamos na história, não se preocupem, eu precisei reler tudo para escrever esse capítulo kkkkkkkk.

Enfim! Depois de tanto tempo sumida, eu imagino que vocês tenham tomado a fic como abandonada, mas eu meu objetivo é acabar essa fanfic, demore o tempo que demorar. Eu entendo se vocês tiverem sumido nesse meio tempo - quem não sumiria? - mas eu vou continuar escrevendo enquanto tiver alguém lendo.

Inclusive, a partir de semana que vem até mais ou menos o fim de Janeiro (eu fiz um planejamento completíssimo da fanfic, agora vai pra frente) eu vou postar dois capítulos por semana, para compensar todo esse tempo perdido.

É isso, minha gente!



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