No inverno, eu fiz o possível para transformar o meu coração em num bloco de gelo.

A ideia era simples: se eu pudesse olhar para você e não sentir nada, nem a saudade que me devorava por dentro, nem a nostalgia dos momentos bons que você me trouxe, nem a ocasional raiva por você ter me deixado, nós ficaríamos bem. Nós poderíamos ter aquela falsa paz que você queria, e, quem sabe, não doeria tanto.

— Pense em outras coisas – Foi o que minha melhor amiga me disse. Ela nunca gostou de você. – Se mantenha ocupado.

— Conheça novas pessoas – Foi o conselho do meu irmão, que era o único da minha família a saber sobre nós. – Baixe o Grindr, sei lá. É o jeito mais rápido de seguir em frente.

Os dois já tiveram bem mais relacionamentos do que eu, mas eu não segui os conselhos de nenhum. E eu tentei. Mas não ajudou que você parecesse ter todo o meu verão dentro de si, e que eu precisasse do seu verão para sobreviver ao inverno. A sensação que eu tinha era a de estar definhando junto com as árvores, tentando alcançar você do jeito que os galhos se esticam para alcançar o céu, só que já era tarde demais. No outono, elas estavam morrendo; no inverno, elas já estão muito além de salvação.

Até meus pais, que não se interessam pela minha vida nunca, perceberam que tinha alguma coisa errada. Minha mãe até se desgrudou de sua tese por tempo o suficiente para entrar no meu quarto depois do jantar, quando eu estava deitado na cama olhando para o teto, e se sentar ao meu lado.

— Está tudo bem? – perguntou ela.

— Tudo – respondi, porque o que mais eu poderia dizer? – Por quê?

— Nada. Você tem andando mais quieto que o normal.

Fiquei me perguntando como ela tinha notado isso, se, quando eu falava, ela nunca ouvia. Acho que você teria uma explicação emotiva para isso, mas não posso exatamente te perguntar agora, posso? Amigos, uma ova. Amigos não passam a maior parte do tempo tentando se evitar. Amigos não precisam declarar que são amigos, como se estivessem propondo um tratado. E eu nunca tive vontade de chorar por ser amigo de alguém antes.

— Pareço?

Ao invés de responder, minha mãe só ficou me olhando por alguns instantes. Então, ela disse:

— Você sabe que pode conversar com a gente sobre qualquer coisa, certo?

Fiz que sim com a cabeça. E eu sei que você vivia me dizendo para conversar com meus pais sobre as coisas – eles já sabem, lá no fundo, você dizia, então por que não tornar oficial? –, mas deixei que ela fosse embora sem dizer o que havia acontecido. Levaria tempo demais, e não havia nada que ela pudesse fazer. Àquela altura, nenhuma fogueira que ela pudesse acender conseguiria me esquentar.