No outono, você partiu meu coração.

Você o fez como se fosse a coisa mais natural do mundo, como se tivesse chegado à conclusão de que, já que as folhas nas árvores estavam mudando, você também podia mudar de ideia.  

— Espero que ainda possamos ser amigos – Foi o que você disse. Como se estivesse acenando uma bandeira branca. Como se tivéssemos estado em guerra.

— Claro – balbuciei em resposta, porque o que mais eu poderia dizer? Te ter como amigo seria melhor do que não te ter de jeito nenhum.

Eu não conseguia suportar essa ideia, então aceitei sua falsa bandeira branca, a que tinha acabado de declarar uma guerra no meu coração. Eu não te perguntei por quê, mas fiquei pensando nisso a noite inteira. Será que faria diferença? Será que eu poderia ter te convencido a ficar? Acho que eu não quereria um amor que precisa ser convencido. Não seria justo com nenhum de nós.

Quando você foi embora, eu fiquei olhando as folhas caindo pela janela, lembrando de como nós rolamos nas folhas no seu quintal no ano passado, antes mesmo de termos nosso primeiro beijo, e em como sua irmã nos lançou aquele olhar esquisito, porque éramos velhos demais para estar brincando de lutinha.

Meses depois, você me beijou sob aquela mesma árvore, e depois ficou com medo de ela ter visto e contado ao seus pais que você estava beijando um menino. Como descobrimos depois, seus pais não teriam um problema com isso. Me pergunto se eles vão perguntar por mim, se vão ficar tristes ao saber que não estamos mais juntos.

Nós ainda fingimos ser amigos durante o resto da estação, só que amigos não desviam o olhar quando o outro se aproxima e não fazem o possível para se evitar. Amigos conversam; nós só fingimos conversar, apagando e deletando mensagens de texto sem saber se deveríamos enviá-las. Bem, é o que eu faço. Como eu deveria saber o que você anda fazendo, se você sequer olha para mim?

Quando todas as árvores já perderam todas as folhas, sou obrigado a nos dar um tiro de misericórdia, como namorados, como amigos, como tudo. Paro de fingir que estou bem; você sempre me disse que eu era um péssimo mentiroso, então não deve ter acreditado, de todo jeito. Não me importo com a sua bandeira branca idiota. Você pode embrulhar meu coração nela e dar de presente para quem quer que seja o próximo.

Antes, o outono era bonito. Você me fez perceber que, apesar disso, ainda é uma estação de coisas moribundas.