Memento Mori escrita por Nightshade


Capítulo 4
Perversidade


Notas iniciais do capítulo

Capítulo dedicado à Julli e Anne Lisboa e Carol, cujos comentários elevaram meu espírito! Obrigada, lindas!!!

Espero que gostem!!!



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"A perversidade é um dos impulsos primitivos do coração humano."

— Edgar Allan Poe

 

Tom Riddle observou atentamente os passos e gestos de Aura Mors. No café da manhã, ela havia entrado no Salão com outras quatro garotas, com certeza de seu dormitório. E mais uma vez ela encontrou seu olhar, com aquele sorriso irritantemente enigmático. Quem essa garota pensava que era para agir deste modo? Sabia que havia mandado Malfoy, Lestrange e Avery descobrirem o que pudessem sobre Mors, mas também sabia que a incompetência humana não reconhecia limites; daria dois dias a eles, e se não trouxessem informações úteis, seriam castigados severamente.

A primeira aula do dia seria Poções, e não conseguia imaginar nada que pudesse ocorrer  de diferente dos outros alunos. O velho professor Horace Slughorn o adorava, assim como todos os outros professores de Hogwarts - com exceção do velho Dumbledore. Mas em parte era sua culpa; não deveria ter falado tanto quando o professor de Transfiguração fora ao orfanato anos atrás.

Seguiu em direção a aula de Poções aparentando tranquilidade, embora sentisse o olhar de Mors - que vinha caminhando com os corvinais alguns metros atrás de si - queimando em suas costas. Estava desconfortável, e odiava esse efeito que a garota nova provocava. Claro, ele já estava acostumado com os olhares das garotas e, Merlin, elas pareciam ir as alturas quando ele as cumprimentava ou sorria; Aura Mors não era assim. Ele tinha absoluta certeza de que não o encarava por seu charme.

Sentando-se ao lado de Abraxas Malfoy, lançou disfarçadamente um olhar a garota; ela se sentara na mesa ao seu lado esquerdo, na diagonal, e dessa vez não o encarava. Parecia serena, de mãos cruzadas sobre a mesa, ouvindo com educação o que Claire Wood a murmurava.

— Ora muito bem, muito bem! - a voz de Slughorn ecoou pela sala, enquanto ele entrava pela porta, com um sorriso alargando seus fartos bigodes - Mais um ano letivo se inicia, e estou muito feliz em vê-los! - lançou uma piscadela a Tom, que sorriu mecanicamente - Mas, vejam só! Tenho aqui em minha classe a senhorita, Aura Mors, estou correto? Espero que esteja gostando de Hogwarts, minha querida!

— Hogwarts é maravilhosa, professor Slughorn. - até mesmo a voz de Mors era bonita. Grave e feminina. Melodiosa, porém firme. Riddle ergueu as sobrancelhas; poderia jurar que Malfoy e Lestrange pareciam hipnotizados - Acredito que nunca me cansarei de admira-la. - e novamente ele notou o brilho nos olhos cinzentos da garota. Um brilho misterioso.

— Fico feliz, muito feliz! - Slughorn riu - Agora me diga, senhorita Mors, gosta de Poções?

— Bem, acredito que eu seja... versada em poções. - respondeu e Slughorn pareceu brilhar.

— Então me diga, qual é o nome desta poção? - ele indicou um caldeirão no extremo de sua mesa. Riddle reconhecia todas as poções, mas se inclinou para frente, interessado em saber como Aura Mors se sairia.

— Veritaserum. Uma poção sem cor nem odor que força quem a bebe a dizer a verdade. Muito usada em julgamentos de bruxos das trevas, se não me engano. - respondeu serenamente.

— Perfeito, perfeito! - disse Slughorn - Agora... reconhece esta? - apontou para o caldeirão ao lado.

Mors se ergueu um pouco para enxergar.

— É a Polissuco. A não ser que meus olhos estivessem enfeitiçados, reconheceria esse aspecto característico sempre que o visse.

— Excelente! - em seguida, embalado pelas respostas certas da garota, apontou para o último e mais distante caldeirão - Por último, está?

Mors precisou se levantar e caminhar até a mesa. Seus passos eram calmos e controlados. Como os de um felino, notou Tom.

— Pelo brilho perolado, é claro, e pelo vapor em espiral, é Amortentia. - respondeu, mas parecia um pouco distraída - Dizem que tem um cheiro diferente para cada um, dependendo do que mais o atrai.

— Presumo que saiba seu efeito?

— É a poção de amor mais poderosa que existe. Porém, mesmo com esse nome, apenas produz uma forte paixonite. Nada pode se comparar ou imitar o amor. - Mors concluiu.

O Herdeiro de Slytherin precisou de muito esforço para não deixar que sua expressão calma se tornasse uma de puro deboche e desgosto. Claro, mais uma pessoa que falaria do amor como se fosse grande coisa. Com certeza Aura Mors se daria muito bem com Dumbledore.

— Que aroma sente, senhorita Mors? - questionou o professor. Ele a olhava como se ela fosse a única na sala.

— Sinto cheiro da natureza, do campo... - fechou os olhos, parecendo perdida em si mesma - Cheiro da terra molhada pela chuva e de... algum tipo de flor... - voltou a abrir os olhos, parecendo visivelmente perturbada.

Aquilo agradou Tom. Significava que ela não era tão firme quanto queria aparentar.

— Oho! Maravilhoso, senhorita Mors, esplendido! - Slughorn riu, feliz - Vejo que será um prazer tê-la em minhas aulas! - em seguida se virou para Tom - Tom, meu rapaz, parece que você tem uma rival à altura!

Podia ter sido um comentário inocente, mas as palavras ditas, juntamente com o leve erguer de queixo de Aura Mors, o fez fumegar por dentro. Forçou um sorriso educado quando o olhar de Mors encontrou com o seu.

— Parece que sim. - disse, em voz agradável, tentando ser charmoso.

Aura Mors sustentou seu olhar. Sem hesitação.

***

Mors sabia que, com toda certeza, Tom Riddle estava completamente irritado com o fato dela ter sido o centro das atenções na aula de Poções. Podia ver o quanto estava inconformado pelos seus olhos; e ela via muito bem. Claro, ele era arrogante e narcisista - embora escondesse muito bem, sempre, com perfeição. Precisava dar a ele crédito por isso - e a situação ferira seu ego. Bem, não podia fazer nada. Estava cumprindo seu dever. E não iria simplesmente mentir seus conhecimentos - que eram muitos.

Em todas as aulas encontrara com Riddle, e em todas as aulas sustentava seu olhar calculista. Sabia que ele já ordenara a seus... colegas que ficassem de olho nela. Era uma criatura perversa, desde criança. Sabia que tentariam arrancar algo dela. Via ali exatamente os futuros comensais da morte, e pais dos comensais da morte.

Tantas vidas desperdiçadas...

Fechou os olhos. As outras meninas já haviam adormecido. Pensou novamente no aroma de flores que sentira na poção... aquele aroma tão conhecido e estranho ao mesmo tempo... Quase podia sentir a sensação fantasma de pétalas em seus dedos pálidos...

Voltou a abrir os olhos e a sensação desapareceu. Fazia tanto tempo, tanto tempo que quase não mais acreditava em seu passado. Teria sido realmente real? Seriam todas aquelas sensações verdadeiras?

Não tinha resposta para isso.

Lentamente, se levantou da cama, observando com carinho as jovens meninas adormecidas. Cada uma delas com seus sonhos, cada uma em seu mundo.

Suspirou.

Fantasmas... eram isso que suas lembranças - tão antigas - eram agora.


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Notas finais do capítulo

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