"Meu filho, eu te digo em verdade, nenhum dom é como a liberdade. Então nunca viva em escravidão."

— Frase atribuída a um tio de William Wallace

O dia havia começado bem animado no dormitório, Aura notara.

Isabelle era a mais agitada, já desde cedo separando as roupas e cada acessório que combinava, parecendo estranhamente motivada a estar em sua melhor aparência. Amy e Jessica testavam alguns feitiços nos respectivos cabelos, alguns para alisar e outros para deixa-los cacheados. Até mesmo Claire aparentava animação, esticando seu vestido lilás em um cabide atrás da porta.

— Não vai se preparar? - perguntara ela.

— Não. - Aura respondera, simplesmente, e voltara a desenhar no pergaminho a sua frente.

Ela conseguia sentir a frustração das garotas no ambiente; no fundo elas desejavam que Aura também se juntasse ao grupinho e as ajudassem a se arrumar. Mas foi apenas no fim da tarde que a garota entrou no banheiro e se vestiu com o longo vestido preto e simples que já possuía entre suas coisas. As outras já estavam prontas e apenas avisaram que iriam na frente, ao que Aura concordou, ainda dentro do banheiro. Ela se olhava no espelho; geralmente não perdia tempo com isso, mas dessa vez sentiu uma leve nostalgia.

Quando saiu do dormitório e do Salão Comunal, não conseguiu evitar um sorriso ao ver Altair Lestrange ali, esperando por ela, em vestes negras como seu vestido e os cabelos penteados  e repartidos ao lado. Ele parecia realmente feliz em caminhar até as masmorras com ela, e segurando sua mão.

Aura conseguia sentir vários olhares sobre si conforme avançava pela festa, até professor Slughorn para cumprimenta-lo. Slughorn já estava rosado pelo hidromel que andara bebendo; sorria para ela e fazia questão de dizer a todos o quanto era talentosa e visivelmente poderosa. Sentia Riddle a encarar desde que chegara, e não conseguiu evitar lançar a ele um olhar divertido. Sabia o quanto isso atiçava sua curiosidade.

— ... trouxas sendo assassinados aos milhares! - a voz de Slughorn a trouxe de volta para o presente - Isso está virando uma barbaridade!

— Senhor, - a voz de Tom Riddle estava suave e educada - eu acredito que a Guerra Trouxa está a par com a Guerra Bruxa. Não há necessidade de falarmos apenas sobre Grindelwald. Hitler também anda promovendo várias tragédias.

Lestrange, Avery e Malfoy, que também se encontravam naquele grupo, seguraram suas risadas, Mors notou; sabiam que a opinião do Herdeiro de Slytherin divergia muito da que apresentava.

— Ora isso é verdade, Tom. - retrucou professor Dumbledore, que se juntara ao grupo - Mas não podemos ignorar o fato de que o mundo da magia interfere no mundo trouxa. Essa guerra começou aqui, e se alastrou para pessoas inocentes.

Aura Mors viu o sorriso de Tom Riddle vacilar e encarou Albus Dumbledore com um olhar carinhoso. Aquele homem havia passado por tantas coisas, e ainda assim realizaria muitos grandes feitos no futuro. Ele era quase tão poderoso quanto Merlin, embora Merlin não tenha sido tão bondoso ou calmo.

— É uma pena que trouxas não consigam se defender de maneira eficaz. - murmurou Avery, contendo um sorriso zombeteiro.

— Nem mesmo os bruxos estão conseguindo conter a ameaça de Grindelwald. - foi a vez de Tom comentar, e dessa vez ele não conseguiu disfarçar a leve admiração em sua voz, o que fez com que Dumbledore o encarasse por um breve momento.

— Senhorita Mors, a senhorita não tem nenhuma opinião sobre esses grandes conflitos? - prof. Slughorn questionou, pousando a mão em seu ombro. Provavelmente estava ansioso para exibi-la mais uma vez.

— Na verdade, eu tenho. - cruzou as mãos atrás das costas - Minha opinião é que, todos deixamos que Grindelwald ficasse tão poderoso. A única coisa que ele fez, foi matar algumas pessoas em seu caminho e então muitos se aliaram a ele por intimidação ou persuasão. Mas a maioria não se aliou, e ainda assim vivem se escondendo com medo ao invés de se juntarem e irem ao encontro desse bruxo das trevas e seus seguidores, dizendo que sim; eles poderiam tortura-los ou tirar suas vidas mas nunca, nunca tirariam sua liberdade. A liberdade de não viverem com medo por não terem o mesmo ideal desse tirano ou por não se unirem a ele. E tenho certeza de que, se isso acontecesse, Grindelwald recuaria como um animal amedrontado. Porque é isso que os tiranos temem: o povo que eles oprimem, pois sabem que um dia, entre suas muitas vítimas, com certeza haverá alguém que revidará.