"A Morte é uma sombra que sempre segue o corpo."

— Provérbio Inglês

Durante a aula de poções, professor Slughorn se aproximou de forma animada da mesa que Aura Mors dividia com Claire Wood. Aura já tinha uma bela ideia do que o professor iria lhe dizer, mas mesmo assim o lançou um sorriso gentil; ela realmente gostava dele. Claro, ele ainda sentiria muito medo e sua vida sairia do conforto, mas Horace Slughorn encontraria sua coragem com o tempo.

— Senhorita Mors, senhorita Wood, como sempre é um prazer vê-las trabalhando juntas! - ele exclamou, com seus fartos bigodes balançando a cada palavra - Bem, eu queria deixa-las a par de uma pequena festinha que farei no Dia das Bruxas, apenas para alguns alunos e convidados, é claro! Poderia contar com a presença de ambas?

— Mas é claro, professor. - Claire respondeu, claramente tentando ser educada.

— Estaremos lá. - Aura completou, sorrindo.

— Esplendido! Aguardem minha coruja! - foi a vez do professor comemorar e em seguida se dirigiu para a bancada onde Riddle estava, com certeza pronto para convida-lo.

— Os doces são ótimos. - Claire comentou, enquanto deixavam a poção descansar - Por mais que eu não goste das festinhas, os doces sempre me motivam a ir.

Mors deu uma leve risada; conversas começavam a se erguer conforme o fim da aula se aproximava.

— Precisa de fantasias? - ela perguntou, suavemente.

— Ou fantasias ou apenas roupas elegantes. - Claire deu os ombros, balançando os cabelos aloirados - Os detalhes sempre vem em seu bilhete, teremos que esperar para ver. - a encarou - Você se fantasiaria de que?

—  Não sei. E você?

— Não consigo pensar em nada. - os olhos azuis esverdeados de Wood a examinaram - Você está diferente.

Aquilo a surpreendeu.

— Como diferente? - Mors perguntou, esticando as mãos a sua frente e as observando - Minha aparência está mudando?

Claire pareceu estranhar sua pergunta.

— Não sei, você parece a mesma desde que chegou. - respondeu - Mas ao mesmo tempo parece... diferente. Não sei explicar. É como se algo em sua essência tivesse mudado levemente, o suficiente para eu notar. Confuso, só consigo explicar assim.

***

— Então, você pretende ir a festinha do velho Slug? - Altair Lestrange perguntou à garota mais bonita de Hogwarts.

— De fato, pretendo. - ela deu um sorriso curto, parecendo estar com a mente em outra coisa - Estou aguardando as informações restantes.

— Ah, claro. - ele murmurou, olhando ao redor do corredor, onde alunos conversavam e corriam para próximas aulas - Suponho que já tenha sido convidada por alguém?

— Na verdade não, já que Slughorn começou a falar sobre a festinha apenas uma hora atrás. - Aura ergueu uma sobrancelha negra - Você gostaria de ir comigo, Altair?

Ele sentiu como se fosse atingido por um raio.

— O certo não seria eu a convidar, senhorita Mors? - Lestrange pigarreou, tentando disfarçar o jeito como se atrapalhou.

— De certa forma. - ela inclinou a cabeça levemente para frente, fazendo seus cabelos negros escorregarem pelos ombros - Mas você estava demorando muito, e eu preciso ir para a aula de Transfiguração. Então, qual a sua resposta?

— Sim. - ele riu - É claro que eu gostaria de ir com a senhorita.

Altair observou Aura dar mais um de seus sorrisos gentis e seguir lentamente pelo corredor. Era estranho que ele se sentisse tão confortável na presença de alguém que conhecia apenas à seis meses, mas Mors era diferente; ela não era fútil como a maior parte das garotas puros sangue que conhecia, e o fazia rir mais vezes do que seus próprios amigos. Aura Mors era verdadeira, e isso chegava a doer.

— Ah, - ela parou e o encarou do fim do corredor - diga ao Tom Riddle que gostaria de ter minha moeda de volta.

— Direi. - respondeu prontamente. Não sabia do que ela estava falando, mas não conseguiria negar nada a ela.

***

Aura Mors entrou na sala de aula de História da Magia calmamente. Seus cabelos, negros e longos, estavam soltos como sempre e irritantemente se assentavam de forma perfeita com seu rosto pálido e bem marcado; definitivamente, nenhuma garota - ou mulher - tinha tão boa aparência quanto ela em Hogwarts. Ou em Londres.

Seus olhos se encontraram, acidentalmente. Estranhamente, os grandes olhos de Mors estavam leves e pareciam até mesmo mais claros, como se a tempestade dentro deles estivessem se acalmando gradativamente. Foi só após muitos segundos que Tom Riddle notou que estava encarando Aura Mors de forma descarada e desviou os olhos subitamente, balançando de leve a cabeça. O que fora aquilo?

A moeda de Mors - que ainda estava com ele - pareceu ficar mais pesada e gelada em seu bolso. Tentou conter a vontade de levar as mãos ao rosto e esfrega-lo; sentiu-se cansado, como se não dormisse há meses, mas isso tinha explicação já que seu sono estava se tornando cada vez mais agitado desde que tivera aquele maldito sonho.

Sempre que fechava os olhos agora, sentia como se uma sombra o acompanhasse e estivesse ali, bem ao lado dele, o observando dormir. Era como uma presença, mas não hostil, apenas... perturbadora. Não gostava de se sentir observado, e já bastava que Aura Mors o observasse sempre enquanto ele estava acordado - com seus grandes olhos de tempestades fixos em seus movimentos.

Aura Mors... Ela havia chegado do nada e de repente trazia uma nova dinâmica para Hogwarts. Capturava a atenção de seus servos, cativava os professores, era poderosa - até mesmo ele era forçado a admitir -, sua mente era impenetrável e sua aparência era tão bonita que nem mesmo ele, algumas vezes, conseguia desviar o olhar. A magia dela também era estranha; era fria e quente ao mesmo tempo, assim como suave e violenta.

A culpa era toda de Aura Mors, se ele não conseguia descansar ou se ainda não havia feito de seu anel sua segunda Horcruxe. Mas o Herdeiro de Slytherin ainda não havia se decidido o que fazer e que atitudes tomar com relação à Aura Mors. Ela sabia demais e sabia coisas que ninguém poderia saber.

Tom Riddle se perguntava se Aura Mors seria realmente uma humana. Ou algo mais.