"Não há beleza rara sem algo de estranho nas proporções."

— Edgar Allan Poe

Era o início de seu sexto ano em Hogwarts e, se fosse honesto consigo mesmo, Tom Riddle sentiria falta do lugar. Ali era sua casa. O lugar onde pertencia, quase literalmente, já que descendia do próprio Salazar Slytherin. Porém ele tinha planos e mais planos; planos esses que o faria se tornar o maior bruxo que todos já viram. Pessoas tremeriam ao vê-lo e ninguém ousaria sequer pronunciar seu nome. Passava os olhos pelo Salão Principal enquanto distraidamente girava o anel de ouro e negro em seu dedo; precisaria tirar uma pequena dúvida com Slughorn assim que surgisse uma oportunidade.

Quando o último aluno foi selecionado para Lufa-Lufa, diretor Dippet se pôs de pé e fez-se silêncio em todo Salão.

— Uma boa noite e um bom retorno a todos vocês! E também desejo aos primeiranistas que aproveitem sua estadia aqui na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts! - aplausos se irromperam mas Dippet ergueu a mão, pedindo silêncio novamente - Contudo, preciso comunicar-lhes de que este ano contamos com uma incrível surpresa. Receberemos uma nova estudante que cursará seu sexto e sétimo ano conosco, após ser educada em casa. A senhorita Aura Mors.

Riddle franziu o cenho quase imperceptivelmente. Hogwarts nunca recebera estudantes desta maneira, vindos do nada. Era algo muito estranho. Ao seu lado, Avery e Lestrange esticavam o pescoço para conseguir ver a garota que acabara de entrar no lugar. Ele também ergueu os olhos, curioso.

A garota que entrou era alta e vestia uma longa capa negra de viagem, que farfalhava a cada passo que ela dava. Se não estivessem todos olhando para ela, ninguém notaria sua presença pois seus passos eram completamente silenciosos. Os cabelos eram negros, da exata cor do azeviche e isso ficava completamente evidente conforme a luz das velas refletiam nos fios. Caminhava com a cabeça erguida e com leveza. Sentou-se no banco, sem cerimônia, e esperou que o diretor se aproximasse com o Chapéu Seletor.

— Não consigo ver o rosto dela... - ouviu Avery sussurrar com Lestrange e quase revirou os olhos. Tinham muito potencial, mas desperdiçavam o tempo com garotas e quadribol.

De fato, de onde estavam não conseguiam ter uma boa visão da garota. Mas viram quando o Chapéu mal tocou em sua cabeça e já anunciava "CORVINAL". Isso também o deixou desconfiado; apenas com ele o Chapéu fora tão rápido em selecionar, e havia a explicação de ser o Herdeiro de Slytherin. A mesa azul e bronze aplaudia sua recém chegada.

— Agora, - Dippet recomeçou, sorrindo - vamos ao jantar! - rapidamente o banquete surgiu e todos voltaram a conversar alto e normalmente.

O assobio de Lestrange fez o grupo de sonserinos voltarem seu olhar a ele, mas seus olhos estavam fixos na mesa Corvinal.

— Ela é mesmo uma graça! - ele disse.

— Uma graça? - Avery ergueu as sobrancelhas - Aquela ali é sem dúvida a garota mais linda que já se viu em Hogwarts!

Devido a comoção causada pelos dois, logo metade da Sonserina estava encarando a garota nova. Tom ergueu uma sobrancelha e correu os olhos pela mesa em frente. Agora ele podia ver seu rosto e por um momento humilhante ele ficou sem ação; claro, ela era bonita, sem dúvida alguma, mas tinha alguma coisa em seu rosto que o deixou desconfortável. Observou com atenção. Era um rosto branco, branquíssimo na verdade e ele desconfiava que ela talvez fosse até mesmo mais pálida do que ele próprio. Os cabelos negros caíam como cortinas seguindo o contorno de seu rosto, com uma elegância própria; seu nariz era fino pelo que pode observar, não podia ver seus olhos já que ela estava de lado, conversando calmamente com uma garota ao seu lado.

E então, Aura Mors se virou lentamente, o encarando direta e certeiramente. Como se soubesse que ele a estava encarando e não todos os outros garotos da Sonserina. Ela o encarou nos olhos, mesmo afastada ele conseguia sentir a intensidade de seu olhar. Subitamente fechou a mente, e mesmo assim não pode evitar um sentimento de invasão; como se ela soubesse tudo que se passara em sua mente com apenas um olhar. Geralmente, ele encarava as pessoas desse modo, nunca era encarado. Os olhos da garota Mors eram cinzentos, mas não ao estilo Malfoy. Eram cinzentos como um céu completamente em fúria pronto para derramar a tormenta ou como um crepúsculo sem luz. Bonitos até, mas sinistros e estranhos.

Aura Mors lançou a ele um sorriso. Foi um sorriso de lado, um pouco contido, e os olhos cinzentos brilharam estranhamente. Com certeza, os outros considerariam um sorriso educado ou até mesmo gentil, mas ele o considerou como um sorriso que poderia significar qualquer coisa. Ergueu uma sobrancelha e lutou para não desviar os olhos.

— Mais uma que estará caidinha por você até o fim de semana, Riddle. - Malfoy comentou, enquanto os outros garotos resmungavam.

Não. Ela não era como as outras garotas. Ela não deu risadinhas e seu rosto nem ao menos ficou vermelho.

Por fim, quando o jantar se encerrou, ele inclinou-se para seu grupo.

— Descubram o que puderem sobre essa Aura Mors. - ordenou, baixo, e então se ergueu para guiar os primeiranistas.

Mas seus pensamentos estavam a mil.

Ficaria de olho na senhorita Mors.

***

Mors se afeiçoou ao ambiente de Hogwarts assim que se sentou na mesa de sua nova Casa, Corvinal, sem muita surpresa por ter sido selecionada sem hesitação por parte do Chapéu Seletor. Gostou de ouvir vozes e risos tão vivos e alegres ao seu redor. Foi uma boa experiência e uma relativamente boa mudança. Normalmente, estava sempre só. Claire Wood era uma garota de cabelos cor de mel e olhos brilhantes de vida, e fora gentil com ela; a convidara para se sentar ao seu lado e se dispôs a falar de Hogwarts com carinho. Também não era uma pessoa intrometida.

E tinha ele. Thomas Marvolo Riddle, Mors o reconheceu assim que o viu. Era um rapaz tão bonito de dezesseis anos, em sua aparência realmente nada indicava o que ele viria a se tornar daqui a alguns anos, exceto pelos seus olhos azuis. Eram olhos tão bonitos quanto ele, mas frios e inexpressivos demais para serem considerados normais. Ele a encarava, com certeza ela já tinha sua atenção, mas quando retribuiu seu olhar sentiu o quão desconfortável ele ficou, apesar de não demostrar.

Mors tentou segurar uma risada, mas não evitou lançar a ele um sorriso. Com certeza, ele passaria a noite e até mesmo o resto do ano letivo tentando desvenda-la. Seria divertido vê-lo tentar. Mas ela estava ali em uma missão, e não iria falhar.

Seguiu Claire Wood até o dormitório, perdendo alguns minutos observando o Salão Comunal da Corvinal; lindo, azul e o teto era enfeitiçado para parecer um céu estrelado, do mesmo jeito que o Salão Principal. Ela já estivera ali uma vez, conversando com uma antiga amiga.

Se perguntou se a veria mais uma vez.

Claire era uma de suas colegas de dormitório, assim como outras três garotas: Amy Prescott, Jessica Dawson e Isabelle Christie. Logo percebeu que corvinais não eram muito invasivos, pois poucas perguntas a foram feitas e ela respondeu com sinceridade. Mors nunca mentia.

Suas coisas já estavam ao pé de sua nova cama, e todas concordaram em apagar as luzes e tentar dormir. O dia seguinte seria o primeiro dia de aula, e precisariam de toda energia que dispusessem. Não demorou muito para que todas já estivessem dormindo.

E, silenciosamente, Mors se levantou.