Eu estava aproveitando minha tarde livre para adiantar meus trabalhos na sala de informática quando a figura bizarra da sala 15 entra e começa a procurar alguém e quando ele coloca o olho em mim percebo que estava bem irritado e com um corte bem feio na testa.

Todos ali estavam com medo de ser o escolhido e ser arrastado para qualquer lugar e ele continua com os olhos em mim.

A sensação de pânico me fez seguir esse cara até o lado de fora e ver o que antes foi a mochila de trapos... bom, agora era literalmente um monte de trapos.

—Pode me explicar por que aquele bando de sapatões do diretório acadêmico resolveu me agredir e me acusar de estupro?

Estupro?

—Eu não sei do que você está falando.

Eu de fato não sabia, mas já podia imaginar como essa história começou. E sim, a culpa parcial era minha.

—COMO NÃO SABE SE FORAM SUAS AMIGUINHAS QUE ESPALHARAM ESSA HISTÓRIA?!

Ele tava puto e a cada palavra deferida eu recuperava a noção do que ele tanto reclamava e também de que o que eu falei não era nem um pouco grave.

—Você tá falando de Aladdin Sane?

—QUEM?

—Ok, vejo que só parte dos boatos chegaram em você.

—Não, querida, o que chegou em mim foi uma pedrada e um monte de xingamentos.

Não é ele. Se Nico estivesse por aqui poderia identificar o cara e falar o que estava acontecendo. O pior é que baseado na descrição do tal cara nunca que ele apanharia sem revidar e parece que esse cara nem reagiu.

—Eu acho que isso foi um grande mal entendido, é que uma amiga tá agindo estranho e o pessoal da sala acho que ela tá saindo com um cara.

—Ok, mas eu posso perguntar o que sua amiga dando pra um cara tem a ver comigo?

O cara tava com a testa sangrando e ainda conseguia fazer a maior cara de cínico.

—Onde problema é que o povo inventa demais e a história virou esse absurdo.

Enquanto eu falava a história ele tirava o que não estava quebrado da velha mochila e amontoava em um canto e quando não havia mais nada ele jogou os restos de material e da mochila no lixo. Confesso que me deu pena dele jogando até o celular fora já que estava estragado.

—Então concluíram que eu sou o cara que estava abusando de sua inocente amiguinha e denunciaram para as piores pessoas possível. Vocês tem ideia de que poderia ter acabado em tragédia?

—Me desculpe, não esperava uma atitude tão extrema das meninas do diretório.

Depois disso ele juntou suas coisas e foi embora, sem falar mais nada. O que eu soube foi que nem do portão ele passou já que uma viatura da polícia militar estava esperando por ele.

Na semana seguinte as consequências começaram a aparecer.

Fotos das representantes do diretório acadêmico começaram a aparecer nos murais espalhados pelo campus. Algumas delas eram de duas que estavam transando no banheiro, outra era de uma delas fumando maconha atrás da quadra de esportes e muitas outras delas se encontrando com professores casados.

Ao todo eram 5 mulheres que apareciam nas fotos, 4 delas foram depostas do cargo e uma delas foi morta pela esposa de um dos professores.

Tudo aquilo foi um escândalo que chegou até a aparecer na televisão, a instituição estava com a imagem manchada e ninguém comentava de como tudo começou com medo de represálias.

O cara da sala 15 só apareceu novamente 2 meses depois da acusação de estupro foi arquivada e ninguém queria mais saber de conversa com ele.

Eu passava todos os dias perto dele antes de entrar na minha sala de aula e ele continuava como sempre... Com exceção de ontem.

Eu passei com meu jeito de sempre, mas ele me chamou com um assobio:

—Você não é a garota de 2 meses atrás?

Senti minha alma gelar nessa hora.

—Sim.

—Tenho um presente pra você.

Ele tirou uma foto do bolso e me mostrou. Nela estava Nico entrando em uma sala no bloco próximo ao estacionamento.

Ele estava a perseguindo.

—Por que tem uma foto da Nicole?

—Eu fui agredido e quase preso por causa desses encontros misteriosos da sua amiga, eu tomei a liberdade de procurar saber quem é o cara e ele está lá todas as sextas-feiras a partir das 11:45.

—Por que fez isso?

—Detesto uma história mal contada.