Deus Salve a Rainha escrita por Lady Led


Capítulo 3
Meu manto é negro, para combinar com a minha alma.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/762647/chapter/3

Ela quer que todos os sussurros em sua cabeça cessem um dia. Catarina consegue ouvir as pessoas ao redor apenas como um eco das vozes malvadas que enchem a cabeça dela, fazendo com que ela por vezes deite com a cabeça toda na água, quando ela se banha na banheira com a água morna ao redor dela.

Catarina alivia a tensão de seu corpo, deixando os ombros sempre altivos caírem quando ela entra no quarto de hóspedes que lhe foi cedido no castelo de Afonso. A luz que vem da janela é escura, repleta das luzes dos raios que cortam o céu naquela tempestade grandiosa que cai lá fora, castigando todas as pessoas que não conseguem um abrigo a tempo.

O vento gelado que vem através das janelas abertas faz com que Catarina sinta-se renovada, tendo a pele tocada pela única coisa que consegue ser maior que ela. A própria criação.

Ela quer fechar os olhos, ajoelhar nas pedras cinzas do piso, como um tipo de pedido que apenas ela vai entender, e que ela nunca deixou que ninguém soubesse que ela se ajoelha para pedir algo a alguém, mesmo que esse alguém seja uma coisa tão poderosa que pode criar raios tão fortes quanto aqueles que estão cortando o azul-escuro do céu.

“Quero ser grandiosa como esse raio.” Catarina bate em seu peito magro, sentindo os ossos cutucarem seus dedos também magros. Faz tempo que ela não come, seu jejum é feito como um sacrifício e um sacrilégio para forçar seu corpo a entender que ela não precisa de coisas tão poucas assim para conseguir viver. “Nada vai me impedir, nenhum homem, nenhuma mulher.” Seus cabelos batem no seu rosto com o vento, e ela pode sentir algumas gotas minúsculas tocarem o seu rosto da chuva que entra pela janela.

Catarina as vezes acha que é uma heresia as coisas que ela pensa, o jeito que ela pensa de outras mulheres, do jeito que ela pensa de si mesmo como algum tipo de deus também, caído por alguma blasfêmia que a divindade não perdoou. Esses pensamentos se iniciaram quando ela ainda era uma menina, caminhando com a escuridão já iminente em seu coração, arrancando com ódio todas as rosas do jardim, deixando que os espinhos cortassem a pele de seus dedos, apenas pela sensação do sangue escorrendo pelo seu pulso, manchando o tão impecável vestido branco em que a colocaram naquela manhã.

Naquele momento ela se sente maior, mais altiva e mais importante do que todas as pessoas que estão no mundo. Ela sente como o vento balança os seus cabelos negros, como se fosse alguma prova da teoria que ela tem em sua mente de que é um deus esquecido naquela terra que está quase morta.

A jovem Catarina guarda essa afirmação para si, sabendo que é capaz de ter o seu corpo queimado em uma fogueira alta, assim como eles fazem com as muitas mulheres que eles pensam ser bruxas ou feiticeiras sem nenhuma prova eminente disso.

Com as gotas d’água batendo em seu rosto agora, Catarina, uma quase Rainha, de olhos e boca tão venenosos que causam uma nauseá imediata em que deixe sua visão tempo demais nela, olha para fora com os olhos turvos, rezando de uma maneira quase profana para que Afonso case-se com ela, e depois morra, porque ela quer reinar essas terras, porque ela deseja tanto isso que prefere ver o solo se contaminar em veneno e nunca mais ser fértil do que vê-lo sendo governado por uma plebeia.

Mas ela não podia se deixar negar que Amália fazia com o que seu coração batesse em uma velocidade desconhecida para ela, que seu corpo respondesse em um tipo de desejo que ela tenta a muito reprimir quando toca em outros corpos de outras mulheres. Mas quando ela vê Amália, Catarina sabe que não é apenas ódio que rodeia o peito dela, mas também um tipo de paixão amarga que corrompe seu coração que não sente nada mais do que raiva e amargura.

Ela quer enrolar os cabelos ruivos de Amália em seus dedos magros e longos, fazer ela se ajoelhar perante ela, e dizer que Catarina podia se sentar em seu trono porque ela era a sua real Rainha. A mulher de cabelos pretos longos queria não apenas Amália como sua serva, mas também como um corpo e uma alma que pertenciam apenas a ela.

Catarina, a jovem e bonita princesa, olha para fora pensando em outra mulher aquecendo seu corpo porque ela é uma herege, uma coisa que deveria queimar em uma fogueira feita para limpar a sua alma. Ela pensa, que talvez foi por esse pecado que ela caiu, por esse pecado de observar lábios finos, e por demorar sua mão demais em cinturas sedosas que os deuses a expulsaram de seu pedestal, por que isso que ela era não podia ser uma criação do divino, e sim do homem com os seus dedos sujos de carne e terra.

A mulher ainda escuta os sussurros em sua cabeça, agora com as vozes sendo substitutas pelo tom de voz de Amália, mas não uma voz raivosa que tenta expulsar ela de seu quarto, mas sim uma voz sedosa, a chamando para adentrar com os lábios os vãos de suas coxas brancas e longas. Catarina pode quase sentira na ponta da sua língua o gosto daquela pele que começou a fazer seu sangue ferver.

A jovem princesa sente seu corpo se aquecer com o pensamento de seus lábios no meio das coxas da outra mulher, ouvindo de sua voz doce que ela vai deixar o trono que ela usurpou para Catarina se ela apenas não parar de lhe beijar com tanta intensidade. Catarina sente os bicos de seus seios ficarem duros abaixo de seu vestido de seda, o ar machucando as pontas deles, causando uma sensação que quase a faz cair novamente nos pisos de joelho.

“Amália.” Ela sussurra para o vento que parte por toda a sala, colocando suas coxas juntas para causar algum alivio em seu corpo fervente. Ela cheira como pecado, afinal.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

HELLO! Obrigada inicialmente para todo mundo que comentou o capítulo anterior, vocês são fodas. Bem, os capítulo são curtinhos par ter esse ar de conto medieval/poesia que eu quero passar com a história, e por conta disso vou tentar atualizar com mais frequência. ♥

Venham falar comigo no twitter, o link tá na minha bio do perfil, ou só vim pedir que eu passo, ai a gente fica confabulando como a Globo tinha a faca e o queijo na mão e guardou os dois na geladeira.

XOXO, Led.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Deus Salve a Rainha" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.