Deus Salve a Rainha escrita por Lady Led


Capítulo 2
Enfie os dedos no fruto que meu amor mordeu.




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Catarina é o ser humano mais cruel que já caminhou sobre os pisos do quarto dela, Amália tem certeza. Ela pode respirar toda a maldade contendo no corpo magro e esguio da mulher em sua frente sorrindo como Lúcifer deva ter sorrido antes de ser expulso de um céu por um pai tão misericordioso. Amália sente a áurea negativa e escura ao redor de uma mulher que mesmo em cores como vermelho – no caso do vestido de hoje – ainda sim pinga negro por toda a sala.

É uma dúvida divina que Amália tem, de como, e porquê, Deus havia deixado aquela mulher caminhando pelos solos do mundo que ele criou até hoje, despejando todo o seu veneno para qualquer pessoa com o coração minimamente puro, ou para qualquer pessoa que passasse em sua frente.

“Eu vim ver de perto a plebeia que encantou o Rei, e foi maior do que um reino inteiro.” Ela cospe as palavras na direção da ruiva, sorrindo a cada alfinetada do som da sua voz em direção a moça em sua frente. Amália quer responder a altura, quer envolver as mãos ao redor daquele pescoço magro e pressionar com tanta força até sentir toda a vida saindo do seu corpo, até sentir as unhas quebradiças entrarem nem que seja minimamente na carne, fazendo então, que um filete de sangue sujasse seus dedos. Mas a futura Rainha apenas engole em seco, o queixo levantado, como forma de ficar a altura da mulher em sua frente.

“Eu não sou maior do que nada.” Amália responde ao fim, e cruza os braços sobre os seios, acima do vestido de veludo azul que ela quis tanto colocar naquela manhã, mesmo sabendo do clima frio e nebuloso que rondava pelo reino. Talvez, ela pensou durante alguns segundos naquela manhã quando olhou do muro do pátio para baixo, onde os guardas faziam seus exercícios matinais, seja a presença nefasta de Catarina que esteja contaminando todo o ambiente. “Afonso é capaz de fazer suas próprias escolhas, e ele confiou no coração e me escolheu.” Amália percebe quando o sorriso cruel de Catarina vacila no seu rosto assim que ela diz o nome de Afonso. É a vez da ruiva sorrir com o veneno escorrendo de seus dentes, caindo dos seus lábios rubros brilhantes. Ela entende aquele estremecer de Catarina, ali na frente dela. “Você não veio me ver de perto apenas por questões reais Catarina, você veio ver quem roubou o coração de Afonso em seu lugar.”

Catarina vacila nas palavras de Amália. O sorriso sumindo de seu rosto, deixando para trás o fantasma da forma horripilante que ele possuía sempre. Amália entende, com todo o seu coração do que Catarina realmente tem inveja dela. Ela tem a alma exposta em frente a plebeia, apenas com algumas palavras.

“Você realmente acha que eu estou aqui por Afonso?” Sua língua venenosa se enrola como uma cobra no nome de Afonso, e Amália sente o seu estômago se revirar com a decadência e blasfêmia que aquela mulher usa o nome do seu esposo. “O quão estúpida você é por achar que estou aqui por cauda de Afonso? Estou aqui pelo poder, não por causa de um homem igual a outro homem.” Ela cospe as palavras para Amália, o sorriso venenoso voltando ao seu rosto quando ela captura um punhado de cabelo ruivo da mulher em sua frente, e enrola em seu dedo longo e magrelo.

Se Amália não estivesse tão exaltada pelo contato repentino da escuridão de Catarina em seus cabelos ruivos, perceberia que o dedo magro que enrola os seus fios de cor cobre também treme. Treme em ansiedade.

“Afonso é apenas uma ponte para o seu poder.” Amália não pode exitar, ela não vai exitar perante Catarina, que mantém seus olhos no cabelo que enrola em seus dedos. A mulher ruiva quer empurrar a futura Rainha de perto de si, quer cravar suas unhas em seu braço e lhe dizer, olhando em seus olhos que nunca mais a toque, mas seu corpo está paralisado, todo envolto pela energia que emana de Catarina, tão imponente em sua imitação de algum ser divino. “E eu sou um contra tempo que você não quer lidar.”

“Vejo que você, pelo menos, é uma garota esperta.” Seu dedo larga o cabelo de Amália, e seu corpo volta um pouco para trás. Seu sorriso posto em seu rosto como se em momentos atrás ele não tivesse vacilado sobre o mínimo som e pronunciamento de um nome. “Afonso sempre gostou das garotas espertas.”

Amália cruza os braços sobre os seios apenas para que não fique imóvel perante uma presença como aquela. Catarina nunca se sentiria sendo maior que Amália enquanto ela estivesse viva e caminhando com saúde pelo reino e pelo castelo que agora era dela.

“Saia do meu quarto, Catarina.” Ela diz com um punhado de força em sua voz. Catarina é como uma sugadora de energia para Amália, e a ruiva se sente cansada quando pede com a voz exaltada. “Essa é o meu castelo, Catarina, eu exijo que você saia imediatamente do meu quarto.”

Catarina sorri mais uma vez, mostrando os dentes enfileirados, como um animal que está prestes a dar o bote em uma presa desavisada.

“Vejo que você também sabe dar ordens.” Catarina diz, empurrando o corpo de Amália com o seu para trás, a energia presente na cena fazendo com que a ruiva de porte pequeno sentisse seu corpo sendo sufocado pelo corpo magro de Catarina, que estava tão próximo ao teu que o calor do corpo poderia ser sentido por entre as vestes pesadas comum. “Logo você vai ver, Amália, dar ordens não é apenas o que precisará fazer nesse castelo.”

Catarina a olha nos olhos uma última vez, seu rosto uma expressão de plenitude tão falsa que Amália se pergunta como pode enganar tantas pessoas, como pode fazer com que Reis e reinos se curvem a ela. É como se fosse a sua arma, aquele rosto magro bonito, e seu corpo que se move como o vento assim que entra na sala onde você está. É como uma armadilha de um animal que sabe que as presas não são suficientes para os seus planos de matança.

É uma teia, como de uma aranha traiçoeira, e Amália sabe do fundo de seu coração, que muitos homens já ficaram presos como moscas naquelas teias.

“Saia.” É o seu último suspiro de força. Sua última palavra antes que a escuridão tão forte de Catarina coloque seus dedos gelados ao redor do corpo de Amália, em um espécime de teia mortal e invisível.

Catarina dá um passo para trás, curvando o corpo em um sinal claro de deboche pelo ato de respeito que o povo faz para com a sua família real. Amália sabe que aquilo é apenas para lhe provocar, para constatar o fato de que até ali, curvada diante de uma plebeia que não é nada mais do que um atraso em seus planos, Catarina ainda é sangue puro e azul real.

“Se é isso que a Vossa Alteza deseja.” Seus lábios formam as palavras, mas Amália quase não pode ouvir. Seus ouvidos e sua cabeça zumbem com o a força daquele encontro, e por alguns segundos depois que Catarina já saiu dos seus aposentos, ela ainda quer se curvar com a mão em punho sobre o seu peito que queima como uma fornalha.

Lá fora, Amália pode ver pela janela, a tempestade castiga o seu, lembrando a todos que ela é a mais poderosa, e quem não aguenta, deve sair da sua frente.

 

 

 


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Notas finais do capítulo

[comentários são apreciados].

XOXO, Led.



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