Escarlate escrita por Vicky Refach


Capítulo 2
Mais que a mim


Notas iniciais do capítulo

Oie amores como estão?
Gente eu sei que prometi a um tempo atrás mas não foi possível, e eu sinto muito
LEIAM AS NOTAS FINAIS!!!



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O teto branco e as fortes luzes daquele ambiente a engolia um pouco mais a cada novo segundo, já faziam horas que estava ali... sozinha. O banco, desconfortável, era sua única companhia, junto à agonia da falta de notícias sobre ele. 

—Julieta? -Seus olhos deixaram a parede, e fitaram o homem a sua frente. –Alguma noticia? -Ela simplesmente negou. –Nos conseguimos convencer Ema a ficar em casa, não seria bom para ela...

—Não, não seria... -Seus olhos voltaram para onde estava deixando-se perder. 

—Nos prendemos Xavier e todos os outros, eles serão transferidos para a Capital e... -A voz se perdia em sua cabeça e ela pouco ouvia o que Brandão tinha a dizer. 

Os cabelos sempre perfeitamente presos, se encontravam desarrumados. A pele branca, como a neve, havia perdido mais um tom... e a força que todos viam em seus olhos, não se encontrava mais ali. 

Flash back 

—Julieta nos precisamos ir... -meu corpo permanecia agarrado ao seu impedindo que qualquer um se aproximasse e o roubasse de mim. –Se não o levarmos para um hospital imediatamente, ele irá morrer. –A voz de Darcy ia aos poucos invadindo a bolha a qual eu havia nos enfiado. –Julieta, por favor, deixe-me ajudá-la. -Seus braços envolveram minha cintura, puxando-me para longe, afastando meu corpo do teu corpo desfalecido. –Por favor o levem o mais rápido possível para o hospital e liguem para Rômulo! -Sua voz soava firme, enquanto seus braços envolviam-me carregando para fora da casa. 

Tudo parecia ainda mais cinza do que já era. O desespero já havia me tomado a muito tempo, mas nem os gritos que insistiam em sair de minha garganta me levavam de volta para ele. 

Minhas mãos permaneciam sujas com seu sangue, trazendo a cada instante a memória de seu corpo se jogando em frente ao meu,  caindo em meus braços em seguida, já quase sem vida. 

Haviam poucas coisas que tinham valor para mim nos últimos anos... 

Camilo, meu único filho. 

O império ao qual eu havia dado toda a minha vida para construir. 

E a mim, a quem cuidei e abracei nos piores momentos. 

Essa pequena e restrita lista de prioridades se desfazia como pô a minha frente, e nada daquilo fazia mais qualquer sentido. Mesmo que fosse difícil admitir fraquezas, Aurélio havia se tornado a mais forte delas... por que tinha meu coração, e eu nunca o havia dado a ninguém. A percepção de amor vem tarde, e só se da valor quando se perde, achava eu estar imune a este velho enlace da vida, mas não estava, ninguém está. 

Flash back off 

—Julieta? -A voz de Rômulo aos poucos a trazia de volta à realidade, interrompendo os devaneios que insistiam em levá-la a horas atrás. –Estas bem? 

—Como ele está? -ignorando a pergunta do médico, seu corpo se pôs de pé em frente à ele. O medo da resposta atingiu-a em seguida, e se aquele fosse o fim? E se a resposta fosse a única que se quer havia conseguido cogitar... e se o tivesse perdido? Sobreviveria? 

Sobreviveriam? 

Seus dedos tocaram o ventre, ainda imperceptível, e um aperto atingiu-lhe o peito, junto às lágrimas que aos poucos banhavam seu rosto. 

—Sem rodeios, Rômulo. 

—Ele perdeu muito sangue, e quase o perdemos em determinado momento, mas Aurélio é um homem forte, e conseguimos estabilizar seu quadro. -todo o ar preso em seu corpo esvaziou de seus pulmões, e como quem estivesse se afogando, Julieta voltou a margem... voltou a vida. 

—Vivo? -perguntou ainda sem fôlego. 

—Vivo! -afirmou o médico sorrindo. –Gostaria de vê-lo? -Ela sorriu em meio às lágrimas confirmando com a cabeça. 

O quarto, tão branco quanto todos os outros ambientes daquele hospital, lhe causava arrepios. O corpo, ligado à máquinas, lhe afligia. E todo o ar que havia liberado, voltou aos seus pulmões ao se aproximar e ver o quão debilitado ele estava. 

—É normal, devido ao estresse que seu corpo passou nas últimas horas. -respondeu a pergunta que não havia sido feita, mas que estampava a rosto da mulher. –Ele logo acordará, e removeremos o máximo de aparelhos possíveis, acredite o pior já passou. 

A porta do quarto bateu, e ela se permitiu aproximar-se dele. Os dedos pequenos desenhando o rosto sereno, traçando as bochechas, a barba, o lábio... tão conhecidos, tão seus. 

Se não fosse por ele não estaria ali, não estariam. Ainda que não soubesse do amor que geravam juntos, Aurélio arriscou a própria vida para salvá-la, e se aquilo não fosse amor, nada mais era. 

—V..vam..os casar, en..tao? -Um sorriso genuíno iluminou seus olhos ao ouvir sua voz. 

—Aurélio! - sussurrou genuína. –Você não aceitou o meu pedido, Sr. Cavalcante, então não posso afirmar com certeza. Nos vamos? -Seus dedos procuraram pelas mãos dele, apertando com firmeza, transmitindo naquele simples toque tudo que sentia. 

—Vamos...

O tempo voou e com ele a recuperação de Aurélio atingiu os 100% o levando para casa mais rápido do que os médicos julgaram ser possível. As visitas frequentes dos membros da família e dos amigos eram seu maior incentivo pra tal melhora. Queria ser forte por eles, por sua filha e principalmente por Julieta, que mais do que nunca precisava dele, ainda que pouco falasse, seus olhos diziam muito sempre. 

A conversa sobre o casamento não veio nos dias que se seguiram e sobre a gravidez muito menos. As noites dormidas no hospital eram regatas a risadas e provocações... beijos roubados, cama sendo dividida e sonhos sonhados juntos ainda que não divididos com o outro. 

Aurélio ainda pouco a tocava, se restringia a seus cabelos, pequenos toques no rosto, beijos no pescoço... mas nada mais. Ainda que o amor pairasse sobre eles, e fosse visto de longe, dois meses longe, ainda eram dois meses. E por mais amor que houvesse ali, coisas precisavam ser ditas e decididas para que enfim ele a tomasse em seus braços e a fizesse a mulher mais feliz do mundo, como pretendia. 

2 Semanas depois. 

—Você vai ficar em minha casa. -afirmou a morena. –Já pedi que arrumassem o quarto de hóspedes e uma de minhas empregadas está encarregado de cuidar de você. -Seus olhos se perdiam entre as roupas que arrumava na mala. –Tomei a liberdade de pedir que Ema arrumasse suas coisas e levasse a fazenda... 

—Nos precisamos conversar. -soltou num fôlego. –Antes que eu vá para sua casa, antes que qualquer decisão seja tomada. -Os olhos castanhos se fecharam e um longo suspiro escapou-lhe ao posicionar-se na frente dele. 

—Não podemos fazer isso em casa? -Pediu mais mansa do que costumava, e mesmo contrariado ele concordou. –Não estou fugindo, não sou mulher de meias palavras... 

—Eu sei que não. 

O sol caia anunciando o início da noite daquele começo de inverno. As cores pastéis tomavam o ambiente, e tudo parecia um pouco mais cinza que o outono passado, onde o marrom era o grande protagonista. 

Faziam duas semanas que não colocava seus pés naquele lugar. Duas semanas desde as agonizantes horas na mira do revólver de Xavier. Duas semanas que ela havia voltado, e inevitavelmente deixado sua marca. As rosas vermelhas voltaram a brilhar no meio da sala, e o inesquecível perfume dela exalava por todo o ambiente... talvez fosse só a percepção de um homem apaixonado, mas quem o culparia de se render assim tão facilmente? 

—Está bem acomodado? -Perguntou adentrando o quarto o vendo tirar a camisa pronto para se deitar. –Quer ajuda? -ele apenas negou com a cabeça, terminando o que fazia, deitando-se na cama. –Acho que ninguém irá nos incomodar... -Seus dedos se fecharam sobre a maçaneta, fechando a porta, garantindo a eles toda a privacidade necessária. –Diga, o que tanto quer conversar comigo que não pode esperar? -Seus olhos se encontraram, e ela juntou-se à ele, sentando-se na beirada da cama.  

—Ainda que nosso reencontro tenha sido conturbado, e tenha me levado a tomar decisões extremas -engoliu a seco. –Não diminui a importância da nossa última conversa. -A mente dela vagou pelos últimos dois meses e parou na despedida infame que tiveram, e nas palavras que havia dito no calor do momento. 

—Aurélio... 

—Eu não quero que queira ficar comigo pelo que aconteceu a duas semanas atrás. Eu não quero sua compaixão e muito menos que haja um sentimento de dívida entre nós! -olhos nos olhos. –Eu sei que nos  beijamos, ainda que brevemente, no hospital... sei que dividimos a cama, carinhos e que você foi mais do que essencial na minha recuperação, mas...

—Você precisa me ouvir! 

—Te ouvir de novo? Não é sempre isso que faço, Julieta? -Os olhos cheios de mágoas atingiram em cheio o coração da morena. –Da última vez que te ouvi você foi embora, incapaz de me dar qualquer explicação, e nos meses seguintes se não fosse por Darcy, eu nem saberia se estava viva e bem. 

—Se ponha no meu lugar, Aurélio... você foi o primeiro homem com quem me deitei depois de meu marido, o primeiro homem com quem eu quis estar. -Seus olhos aos poucos se enchiam de lágrimas. –E eu disse para você que não me arrependia, e não me arrependo. Mas não torna mais fácil de lidar com o turbilhão de sentimentos que estar perto de você me proporciona. -Suas mãos foram de encontro às dele que estavam apoiadas no colchão. –Eu estava no auge do desentendimento com meu filho, precisava ir para São Paulo, e precisava olhar para o que a gente tinha de longe, sem me sentir influenciado por seus toques e beijos... ainda que seja difícil de admitir, você me desconcerta. -suspirou. –Eu sei que não foi justo com você, com a gente... mas espero que me perdoe.  Porque eu estou aqui, eu estou inteira, e não pretendo ir a lugar algum sem você do meu lado. -Ainda que receosa, ela foi aos poucos se aproximando dele, deslizando as mãos por seus braços, deixando que seus instintos a guiasse, tocando em fim seu rosto. –Eu tive tanto medo de te perder meu amor... -As respirações aceleradas já os tomava, e sem medir suas ações, deixou que seu corpo caísse sobre o dele colando seus lábios o beijando enfim. Um beijo de verdade, com toda a saudade que havia reprimido nos últimos meses, com toda a vontade que controlou na troca de carícias das últimas semanas. 

—Você não vai mais fugir? 

—Nem que eu quisesse... -respondeu-lhe sorrindo. –Irá ficar aqui na fazenda comigo? -perguntou receosa. –Ou...

—Irei... -a cortou sorrindo. –Ainda há assuntos que precisamos conversar, mas irei ficar. -um frio percorreu sua espinha, voltando a se sentar ereta próxima à ele. 

—E o que ainda precisa ser conversado? 

—Nosso casamento?! –A morena gargalhou respirando aliviada. –Ou eu estava delirando muito quando ouvi tal pedido? -tanta coisa havia acontecido que havia se esquecido completamente de contar a ele sobre o que juntos enfrentariam pela frente. 

—Qual parte escutou do que eu disse aquele dia? -Os olhos claros se fecharam voltando aquele dia, mas tudo lhe parecia muito confuso. Lembrava dos gritos dela, do desespero, da palavra casamento e só. Nada mais. 

Um frio percorreu seu corpo ao vê-lo tanto tempo de olhos fechados rezando para que a parte mais importante tivesse sido ouvida, ainda que não fosse perceptível, completaria três meses na próxima semana e em breve sua barriga estaria a amostra, e mesmo que não achasse certo, ser uma mulher grávida solteira prejudicaria e muito sua vida. 

—Não lembro de muito, aconteceu tudo tão rápido que só ouço seus gritos, a palavra casamento, que se repete em minha mente por diversas vezes e mais nada. -Ela fechou os olhos e se aproximou um pouco mais, deixando novamente que suas respirações se tornassem uma e o coração batesse forte. 

—Sinceramente não sei como te dar esta notícia de outra forma... Ainda que eu ame você, casamento nunca foi e nunca será, para mim, prova de qualquer coisa... muito pelo contrário, só me trás mas lembrava-se... Eu não preciso de papel algum para amar você. Casamento está ligada a um negócio, a insistência que a sociedade tem em dizer o que é certo e o que é errado no relacionando do outro... -os olhos claros se rendiam a confusão. 

—Não estou entendendo aonde você quer chegar, Julieta. Queres ou não queres casar comigo? 

—Preciso casar contigo. 

—Como? -Perdeu a voz. 

—Aquela noite nos rendeu mais, muito mais do prazer e amor... -Suas mãos foram de encontro às dele, direcionando-as ao seu ventre. Seu corpo inteiro se arrepiou com toque, ainda que por cima da roupa. E um sorriso invadiu-lhe a face. –Eu estou grávida, Aurélio. Vamos ter um bebê. -Os olhos azuis arregalaram-se, e o homem ficou ainda mais branco do que era. 

—Um filho? -ela sorriu acenando. –Nosso? 

—Nosso, Aurélio, nosso.  –O ar fugiu de seus pulmões ao sentir tal notícia adentrar seus ouvidos. –Eu me casei da outra vez por um motivo muito parecido, estava grávida de Camilo...-respirou fundo. –Mas essa criança -sorriu ao por sua mão por cima da dele. -Fora feita com tanto amor, e eu não me arrependo nem por um segundo de tudo que vivemos... e se tenho que me casar para dar um nome à ela, e para continuar sendo uma mulher respeitada -sussurrou as últimas palavras com um leve desgosto. –Não há ninguém melhor do que você para ocupar este espaço em minha vida. -Ele a puxou para seus braços, a prendendo num abraço, demonstrando todo o amor e respeito que sentia por aquela mulher. Queria gritar para ela o quanto queria casar-se, o quanto queria que ela fosse enfim a sua mulher... mas não por nenhum dos motivos que ela havia citado. Julieta não precisava de seu sobrenome ou de seu respeito como homem perante a sociedade, ela era muito mais do que isso. E se casaria sim, honrando-a, mas principalmente se casaria por amor à ela. 

—Então vamos marcar a data, o mais rápido possível. —sussurrou em seu ouvido. –Minha mulher. -Tocou em seus cabelos, fazendo com que ela o encarasse. 

—Tua, e você meu, completamente. 

A troca de olhares se prolongou por breves instantes até que juntou-se à ele deitando ao seu lado, encaixando seus corpos. As mãos dele seguiram para seu ventre tocando-a com toda a delicadeza que possuía... ainda não acreditava ser possível o presente que Deus estava lhe dando. Julieta, e um bebê, fruto de todo o amor que sentia por ela, e que sabia ser recíproco. 

—O que você quer que seja? -Quebrou o silêncio que pairava no ar. 

—Sinceramente? Não tive tempo de pensar sobre isso. -riu sozinha. –Eu descobri no dia em que tudo aquilo aconteceu, passei muito mal e me arrastaram para o hospital. -revirou os olhos. –Mas espero que ele tenha seus olhos, sua bondade, sua luz... -respondeu o fitando. 

—Pois algo me diz que será uma menina. -sorriu. –Linda como a mãe, com cabelos escuros, a pele clarinha e olhos de café compôs teus. -Julieta sorriu o puxando para um selinho. –Com o nariz arrebitado na mesma proporção. -Gargalharam. 

—Queres uma cópia minha? -ele confirmou, a apertando mais em seus braços. –Não me parece justo... -ele riu. –E se for um menino? 

—Não será. -Ela gargalhou. –O que, não acredita no meu instinto paterno? 

—Acredito! -afirmou com ironia. –Tanto que já sei o nome perfeito para “Ela” e caso for um menino...

—Podemos providenciar uma menina mais para frente. -Julieta ergueu uma das sobrancelhas ao fita-lo. 

—Achas que sou o que? Nem pensar, se contente com apenas um, não tenho nem mais idade para isso. -revirou os olhos. 

—Então me diga, qual nome pensou para Ela ou Ele? Se forem muito bonitos, sinto muito mas terei que convencê-la de providenciarmos mais de um... -Suas mãos desceram do ventre para a cintura a apertando, puxando o corpo da morena ainda mais para si, sentindo-a prender o ar. 

—Se for menino poderíamos fazer uma homenagem a Mim. -Ele riu da modéstia. –Eu gosto muito de Joaquim, e queria que esse tivesse sido o nome de Camilo. 

—É um belíssimo nome, eu gosto muito. -Julieta o olhou, e viu toda a sinceridade por trás de suas palavras, sentiu seu corpo se encher de alegria e amor... era assim que era pra ser, então? Uma explosão de todos os sentimentos bons que o ser humano pudesse sentir? Não havia chego nem perto de tais sentimentos na primeira gestação... e agora? Agora só sabia sentir gratidão pelo homem que a abraçava e por ser ele o responsável por todas aquelas sensações. –E se for menina? -Estava curioso. 

—Uma homenagem ao pai... Aurora! 

 

 


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Notas finais do capítulo

Eeeeeeeeentao? Espero que tenham gostado.
Bom não colocarei a fic como finalizada pois pretendo escrever o casamento e mais uma surpresinha para vocês, mas não é uma promessa é nem sei quando irei postar.
Espero de coração que tenham sentido e se apaixonado tanto quanto eu por essa trilogia ♥️ Obg pelo apoio de sempre, vocês me fazem muito feliz.



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