Escarlate escrita por Vicky Refach


Capítulo 1
Capítulo 1- Orgulho e Preconceito


Notas iniciais do capítulo

Oooooi babies, como estão?
Bom chegamos a última parte da trilogia! Sinceramente eu estou muito animada em entregar essa fic em especial, fiquei muito feliz com a história e as ideias e espero de coração que gostem.
Muito obrigada a todos os comentários e apoio em Utopia, me sinto muito grata mesmo!!!
Bom, Escaralate foi dividido em dois capítulos porque ficou extremamente grande, não teria condições que posta-lo uma única vez.
Mais uma vez espero que gostem e me contem sobre ♥️



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“O amor comeu minha paz  e  minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.” 

—Quando nos veremos de novo? 

—Quando a saudade do corpo e da alma for tão grande que já não aguentaremos mais nos manter distantes. 

—Está saudade me atingirá assim que teu corpo atravessar aquela porta. -Ela gargalhou. 

—Meu corpo permanece aqui, e ainda é cedo, ninguém me espera em casa. Alguém lhe espera? -Ele negou. –Então não morra antes de levar o tiro, não sinta minha falta antes que eu vá embora... só me ame, Aurélio, só me ame. 

Seus olhos se perdiam na xícara de café, e no silêncio, pouco recorrente, que a mansão transmitia. Seus silêncios nunca mais haviam sido tão silenciosos quanto gostaria, desde a mudança para São Paulo. A casa sempre cheia, pessoas sempre falando demais, sorrindo demais, vivendo demais... E nos segundos que roubava para si, a mente lhe traia, e lhe levava a ele, a aquele dia, aqueles beijos, toques, prazeres...

Já faziam dois meses desde aquela noite... dois longos meses de saudades, frustrações, empecilhos, problemas e medos...

—Julieta? -Seus olhos largaram o café, e voltaram a ter foco, procurando a dona da voz. –O jantar já está sendo servido, se juntará a nós? -Com um breve sorriso, ela concordou, levantando-se e seguindo a Nora.

Jane e Camilo haviam se mudado para a mansão assim que a mulher encontrara o filho em estado deplorável no ringe clandestino, dando um basta àquela situação e os convencendo a vir morar com ela. A mudança para São Paulo ocorreu dias depois, quando os assuntos pendentes se tornaram incontroláveis, aceitando que as coisas no Vale ficariam bem sem ela, por um tempo. Susana assumiria seu lugar, Aurélio havia aceitado trabalhar na fazenda, e cuidar de seus animais, estando assim sempre por perto, e junto à Brandão os três conseguiriam dar conta de tudo, sem ela. Não houveram despedias, as coisas eram como eram, e nada poderia ser feito a respeito... os dias de fragilidade haviam acabado, e agora Julieta Bittencourt voltara ao comando de seu corpo, deixando o sentimentalismo de lado, focando no que realmente importava: Sua fortuna, seu legado e sua reputação.

A mesa cheia de comidas, e cheiros lhe causava náuseas e caretas perceptíveis a todos os presentes. Há tempos não se sentia bem, e mesmo que negasse a si, sentia os primeiros sintomas de uma grave doença atingindo seu corpo, roubando-lhe a vida.

—A senhora está bem? -perguntou Charlotte. –Parece um pouco pálida...

—Sim, querida. Estou ótima. -afirmou mais para si mesma, do que para a moça, forçando-lhe um sorriso. –E Darcy, quando se juntará a nós?

—Ele chega do Vale amanhã, almoçaremos juntos, suponho. -Respondeu Camilo.

—Elisa trabalha durante toda a semana, não pode se ausentar pelos preparativos do casamento.

—Imaginei que sim, Jane. Casamentos são sempre trabalhosos, mas o trabalho vem em primeiro lugar, para mulheres como eu e tua irmã.

A conversa fluiu por breves instantes, e antes que saísse correndo em direção a qualquer um dos banheiros da casa, a mulher se levantou, deixando para trás a comida e as pessoas totalmente desentendidas de suas ações. O corpo, cansado, encostou-se em uma das paredes brancas, tentando recuperar o fôlego e a lucidez.

Mas o que raios estava acontecendo consigo?

—Mãe? -Os olhos castanhos se abriram aos poucos, e fitaram o filho. –O que está acontecendo?

—Nada, por quê?

—Como “por quê?” A senhora chegou pálida a mesa, mal tocou na comida, se levantou apressada, e agora está aqui escorada nas paredes. Devo concluir que isso é normal? -A rainha revirou os olhos voltando a caminhar, ignorando o tom de voz usado pelo mais novo.

—Acordei indisposta, ando trabalhando muito aqui na capital. Não há com o que se preocupar, eu vou sobreviver mais alguns anos. -A língua afiada não adoecia nunca, e Camilo suspirou deixando que ela seguisse em direção a seus aposentos.

O corpo cansado caiu sobre cama, encolhendo-se num abraço apertado envolta de si própria. Não estava tudo bem, já devia ter procurado um médico a semanas! Quem estava querendo enganar? Sentia todo seu corpo quebrado, e judiado... sentia-se fraca desde que saíra pela porta do quarto, em que vivera seus maiores momentos de felicidade, e decidira nunca mais voltar... sentia-se quebrada por tê-lo deixado cheio de esperança, e partido duas semanas depois sem se importar com o que havia ficado para trás, sentia-se pequena, e doía, céus como doía se sentir pequena... ainda que não vissem, ainda que não percebessem. Ela já não era mais a mesma de antes.

Seu corpo se rendeu ao sono e ao cansaço, sem se importar com as vestes que usava ou em banhar-se antes de dormi. Não tinha forças, as lutas diárias vinham sendo o auge do que conseguia aguentar. E tudo que julgava merecer era uma excelente noite de sono.

O dia amanheceu ensolarado, adentrando as frestas das cortinas, acordando a todos com seu esplendor. Menos a ela, que já se encontrava desperta a algum tempo, debruçada sobre a privada do banheiro colocando para fora tudo e mais um pouco que havia ingerido no dia anterior.

O café seria servido a pouco, e ela não se sentia nem um pouco disposta a comparecer. Seus olhos se fecharam cansados, tentando se lembrar de onde havia pego aquela doença, e porque os sintomas iam e vinham, apareciam e reapareciam durante semanas... não fazia sentido.

Logo após banhar-se e vestir qualquer um dos inúmeros vestidos longos que preenchiam seu guarda-roupa, ela decidiu descer e juntar-se aos demais. Todos já se encontravam presentes, e sua chegada roubou-lhes brevemente a atenção.

—Darcy! Que bom vê-lo por aqui, chegou cedo. -Um breve sorriso foi dado, e assim sentou-se à mesa continuando. –Bom dia Elisabeta, bom dia à todos. Espero que tenham feito boa viagem. 

—Bom dia, Julieta. É verdade chegamos cedo, Elisa trabalha ainda hoje, e eu tenho assuntos para resolver. -A mais velha ouvia atenta apenas sorrindo e concordando.

—Que cheiro é esse? -perguntou mudando de foco rapidamente.

—Café? -respondeu Charlotte.

—Não, não é café... -o embrulho voltou a seu estômago com força.

—Talvez seja meu perfume, é francês. -Tudo aconteceu muito rápido, antes que pudesse pensar em correr e se fechar na primeira porta que encontrasse. Seu corpo se inclinou para o lado e mais uma vez vomitou.

—Mãe!

—Julieta! -a mesa entrou em alarde e desespero. Segundos mais tarde ela se recompôs, levou um guardanapo aos lábios pedindo licença.

—Sugiro que tomem café na sala ao lado.

—Espera, aonde a senhora está indo? -perguntou Camilo se levantando.

—Ao banheiro. -Revirou os olhos. –Tenho uma reunião e preciso me recompor.

—De forma alguma, nós vamos ao médico. -Afirmou, recebendo um revirar de olhos da mulher.

—Não tenho tempo para médicos, Camilo. Eu vou para a reunião, e você deveria vir comigo.

—Talvez Camilo deva ir a reunião e a senhora ao médico, nós podemos lhe acompanhar. -Ofereceu Elisa. –Seu rosto está pálido, e algo me diz que irá desmaiar a qualquer instante.

—Não irei atrapalhar a vida de nenhum dos senhores, estou ótim... -Sua visão foi aos poucos se escurecendo e o corpo desfaleceu em seguida. 

Todos olhavam chocados a cena sem entender o que estava acontecendo e em que momento aquela mulher se tornou frágil e desprotegida, o loiro agiu às pressas impedindo que o corpo da mãe colidisse com o chão. A Rainha havia perdido a cor, as forças e a dureza e encontrava-se desfalecida. 

—Deixe que eu a levo para o hospital, Camilo. A reunião de hoje é importante, Julieta não iria querer perder. -O mais novo concordou, e logo Darcy trazia a mulher para seus braços sendo seguido pela noiva. –Tens certeza que pode faltar ao jornal hoje?

—Não creio que demorarão a atender a Rainha do Café, então eu posso chegar mais tarde. E ela se sentirá mais confortável estando na presença de uma mulher. -Sem mais delongas o casal seguiu mansão a fora deixando para trás os outros com olhares preocupados.

O hospital não ficava muito longe da mansão. A porta fora aberta com brutalidade e Elisa passou abrindo espaço para Darcy que continuava a carregar a mulher desfalecida nos braços, gritando por ajuda.

—O que houve? -perguntou uma jovem enfermeira se aproximando.

—Ela desmaiou pouco depois de vomitar.

—Bateu alguma parte do corpo?

—Não. -As perguntas eram respondidas às pressas e logo Julieta fora encaminhada para o melhor médico de plantão, assim que reconheceram quem era a paciente.

—Um sobrenome faz toda a diferença. -comentou Elisa  seguindo-a de perto. –Eu vou com ela, nos espere por aqui.

Aos poucos a consciência voltava a ela, e a visão turva ia ganhando formas. Onde estava? Por que tudo era tão branco? E de onde vinha tais luzes? Resmungos escaparam de seus lábios, e a mulher a seu lado se aproximou mais.

—Julieta, está me ouvindo?

—Onde estamos? -perguntou ao reconhecer a voz de Elisabeta

—No hospital, a senhora desmaiou. -Pouco se lembrava, e de forma alguma conseguia reagir ou espernear. O médico logo adentrou a sala se aproximando aos poucos.

—Vejo que a senhora já está consciente, poderemos fazer exames mais precisos então.

—Eu estou ótima, não sei o que faço aqui. -A teimosia voltara com tudo fazendo a mais nova revirar os olhos e se sentar nas cadeiras do consultório. –Mas já que não terei escapatória, me diga doutor, o que há de errado?

—Preciso que me responda algumas perguntas, antes de realizar qualquer exame desnecessário.

—Pois bem. -Sentou-se na maca. –Pode perguntar.

—Aqui diz que a senhora vomitou antes do desmaio, aconteceu outras vezes? -Seus olhos se fecharam tentando puxar na memória.

—Algumas vezes no último mês. -As anotações começaram.

—Sabe me dizer quantas, e o intervalo delas?

—Aah três ou quatro vezes por semana, talvez um pouco mais. Dias melhores outros piores. -Elisa parecia desacreditada que ela não tivesse procurado por um medico antes.

—Mais algum sintoma?

—Não sei ao certo. Venho me sentindo muito cansada, mas ando trabalhando demasiadamente. Então sono e cansaço se fazem muito presentes. Além de náuseas, tonturas. -O médico anotava cada palavra dita, e a seu lado Elisa arregalava os olhos diante de tais informações, a Rainha permanecia alheia.

—A senhora sentiu alguma diferença no teu corpo no último mês? -Ela negou. –Quantos anos a senhora tem, se me permite a pergunta?

—Faço 40 no próximo mês. Mas não entendo aonde quer chegar com tal questionamento. -O médico analisava exames e lia papéis.

—Suas rédeas estão em dia? -Um rubor tomou-lhe o rosto. –Ou já pararam de vir a muito tempo? Digo  meses talvez 8, 9 ou 10?

—Estão normais, e sim, continuam vindo. -Revirou os olhos ao sentir que estava sendo chamada de velha. –Ou pelo menos vinham regularmente até mês passado... aí meu Deus estou entrando na velhice por completo! -O médico riu, e a mais nova continuava a olhar a mulher sem realmente saber se ela ainda não havia entendido a situação.

—Eu não queria parecer ofendê-la ao fazer a última pergunta, mas já me respondeu ao constatar que suas rédeas estão atrasadas.

—Não estão atrasadas! Pararam de vir. -Afirmou.

—Sra. Bittencourt existem possibilidades de a senhora estar grávida? -Julieta continuou o fitando sem saber ao certo se havia entendido a pergunta ou se seus ouvidos estavam, de certa forma, lhe traindo. Como assim grávida? –A senhora se relacionou com algum homem nos últimos meses? -seu coração batia descompensado e ela já não tinha mais nenhum tipo de controle sobre si. –Precisarei realizar alguns exames, mas acredito estar certo de meu diagnostico, a não ser é claro que não haja essa possibilidade. -Pálida e sem rumo, Julieta se quer ouvia o que o homem dizia.

—Vamos embora. -Direcionou-se a Elisa.

—Eu ainda não lhe dei alta!

—Este assunto não sai destas paredes! Invente qualquer diagnóstico para espalhar entre seus colegas, pois qualquer boato que surgir a meu respeito acabará com a sua carreira. -E assim, saiu porta a fora, sem deixar que o homem respondesse.

—Julieta! Julieta espere! -A mais nova agarrou-lhe o braço a puxando para si. –Darcy está aí e irá querer saber mais sobre a consulta. Não espero que tomemos café e que me conte sobre o assunto, mas ao menos me diga o que dizer a ele.

—Fraqueza e muitas horas de serviço. -Sussurrou.

—Existe a possibilidade? Quero dizer...?-perguntou também em voz baixa. –Eu não direi nada a ninguém.

—Existe. -sussurrou fraca. –Vamos embora.

 

Flash back uma semana após Quimera (à noite) 

O foco nos papéis a sua frente impediam que a Rainha percebesse o que acontecia a seu redor, passos apressados invadiam o ambiente, e nem o guarda costas conseguira impedir que ele invadisse o escritório, chamando pela primeira vez a atenção de Julieta. 

—Não consegui impedir que ele entrasse... –Aurélio ignorou o capanga e se aproximou da mesa onde a mulher estava. 

—O que faz aqui? -O tom levemente superior o deixou intrigado, mas  só quando Olegário saiu se permitiu continuar. 

—Por que não me contou que iria para São Paulo? -Tudo nele exalava decepção e angústia, ao contrário dela que se mantinha intocável, inatingível. 

—Eu não lhe devo satisfações. -Impaciente o homem rodeou a mesa se aproximando dela que se pôs a ficar de pé. 

—Não, mas me deve consideração! 

—Aurélio por favor vá embora, não torne tudo ainda mais difícil . 

—A senhora me disse que quando a saudade do corpo e da alma fossem gritantes, poderíamos nos ver... mas me ignora mais do que qualquer outra coisa desde aquela noite! 

—Shiiiiiiu, quer que a cidade inteira escute sobre isso? 

—Eu não estou lhe reconhecendo -Um passo mais próximo –Vai me dizer que foi mais um de seus momentos de fraqueza e devaneios? -A respiração acelerada os tomava, e a proximidade era perigosa demais para ambos. –Diz! Diz pra mim que não sente nada, diz que é indiferente! Anda, fala! 

—Aurélio... existem mais coisas no mundo do que eu e você. Existem pessoas, existem negócios, e existem limites. Nos ultrapassamos todos os limites possíveis, e foi ótimo. -Seus dedos tocaram-lhe o rosto. –Mas Eu sou uma mulher importante, respeitada e não posso me dar ao luxo de me entregar a prazeres carnais. 

—Então não existe amor aqui... são só “prazeres carnais” - as aspas se faziam presente em sua voz e ele riu sem humor. –Eu ame-a sozinho, fui tolo e inconsequente. 

—Somos adultos, completamente responsáveis pelos nossos atos. Não me arrependo, mas não voltará a acontecer.  —Uma força irreconhecível surgia dentro de seu corpo para que fosse capaz de terminar aquela fala sem se derreter em seus braços, o levar para o quarto e mostrar para ele quanto amor existia ali. –Você é meu funcionário, continuará trabalhando aqui e ajudando Susana e Brandão. Eu confio em você. Não irei me despedir, ou lhe dar mais que essas explicações, espero que entenda. -Já longe dos olhos claros, ela permaneceu de costas caminhando em direção a porta oferecendo-lhe a saída. 

—... -Ainda que quisesse contrária-lá e chamá-la de louca, escolheu reservar-se a sua insignificância e respeitar a dignidade que lhe restava se retirando. As lágrimas vieram a seu rosto, mas logo foram limpas, não podia se deixar levar, ele despertava seu melhor lado, mas o mundo ao qual vivia não deixava que ela usufruísse de tal dádiva. Não havia espaço para Julieta Sampaio no mundo dos homens, nem para o amor que essa mulher sentia por aquele homem. 

 

Flash back off 

 

No banco de trás do carro, Julieta, acariciava seu ventre sentindo o coração palpitar a cada segundo que passava mergulhada nas palavras do médico. Era tão óbvio yque chegava a ser cômico, como não havia percebido antes? Todos os sintomas gritavam em sua cara que aquela era a única possibilidade. Já havia sentido aquilo antes... ainda que de outra forma e em outras circustâncias. Seu corpo todo parecia se encher de amor, e de repente todas as barreiras construídas e reforçadas com o tempo caiam por terra... Aurélio havia as abalado como nunca, e agora o filho dele terminara de derruba-las. 

Filho 

Dele

Seu

Nosso

Um pequeno fruto de todo amor que negava sentir, mas que agora transbordava, explodia, gritava o tamanho de sua força. 

—Julieta? Chegamos. -Ela respirou fundo antes de descer do carro. –Tens certeza que estais bem? 

—Sim! Eu ando trabalhando muito, algumas vitaminas e tudo se resolverá, não se preocupe querido. -sorrindo para Darcy, ela adentrou a mansão. 

—Senhora Julieta que bom que chegou! -Os braços de Charlotte envolveram seu corpo num breve abraço. –Como foi no médico? 

—Era apenas cansaço, algum descanso e tudo se resolverá. -sorriu sincera. Quanto menos soubessem, melhor seria. –Vou me recolher, preciso de um tempo. 

—Creio que terá que esperar mais um pouco. -A morena as fitou sem entender. –Ligaram  do Vale, parecia urgente. -Finalizou Jane. Seu coração acelerou ao pensar na possibilidade de ser ele a tentar contato, sorriu inevitavelmente. 

—E quem era? - A esperança em sua voz era palpável. 

—Susana, pediu que retornasse o quanto antes. 

Logo o telefone se encontrava em suas mãos. O pedido de chamada fora feito, e agradecia aos céus por ter colocado telefone na fazenda facilitando a comunicação. Talvez algo estivesse dado errado com as negociações... não devi ter se mantido longe por tento tempo! 

Três toques depois e finalmente atenderam.

—Susana? Sou eu.

—Julieta minha cara... -a voz trêmula deixou-lhe em alerta, algo grave realmente estava acontecendo.

—O que houve, por que me ligou? 

—Peço que fique calma antes de qualquer coisa. 

—Chega de enrolação Susana, diga logo o que houve? 

—Todos os funcionários foram dispensados, e as portas da fazenda estão fechadas. -Os olhos da Rainha iam aos poucos se arregalando. –Há apenas eu e Aurélio aqui dentro. -Um misto de confusão e amargor tomou-lhe a boca sem entender aonde aquele assunto ia dar, e o que raios Aurélio fazia ali sozinho com ela. –Há uma arma sendo apontada para ele...

—Ccomo...? 

—Xavier invadiu a fazenda tem algumas horas, há capangas por todos os lados... -O telefone fora arrancado da mão da mulher. 

—E eu matarei seus dois aliados, queria Julieta, se não estiver aqui dentro de 12 horas. -A chamada caiu e com ela a mulher desfaleceu caindo ao chão.

—Julieta!!! 

Darcy, Elisabeta, Charlotte e Jane rodeavam a mulher que aos poucos recobrava a consciência. Elisa era a mais aflita entre eles, por saber das condições da Rainha e querer desesperadamente chamar um medico. 

Seus olhos se abriram e ao se dar conta de onde estava e do que havia acontecido ela tentou se levantar rapidamente, sendo atingida por outra tontura. 

—Julieta o que raios está acontecendo? -perguntou o homem.

—Invadiram a fazenda, Xavier e seus homem. -Darcy se assustou e todos pareciam chocados. –Ele está com Susana e Aurélio em sua mira, e ameaça matá-los se eu não estiver lá dentro de 12 horas. 

—Aí meu Deus... -sussurrou Charlotte. –E agora? 

—Eu vou dar alguns telefonemas, ninguém deve estar ciente do que está acontecendo. Brandão saberá como agir quando chegarmos, e tudo ficará bem. 

—Não temos muito tempo, Darcy. Ele vai matar Aurélio... -suas mãos tocaram o ventre e um aperto tomou-lhe o corpo. -Precisamos ir agora! 

As coisas foram jogadas no carro pelos funcionários enquanto Darcy falava com Brandão e com a polícia do Vale do café. Julieta permanecia calada, inerte em seus pensamentos se sentindo cada vez mais sem chão e numa montanha russa de sentimentos e sensações. 

—Está tudo pronto, vamos! 

—Eu vou com vocês. -Anunciou Elisa. –Julieta não vem se sentindo bem, é bom que alguém fique com ela, eu entrei no consultório sei das recomendações médicas. -Darcy concordou e a Rainha sorriu agradecida. 

—Então vamos! 

A viagem que era longa pareceu se estender ainda mais. Os enjoos aumentaram e junto à ele a preocupação em dar tudo de si para salvar seu amor, e contar-lhe sobre o presente que haviam ganho... Não havia tido tempo para pensar sobre isso, sobre eles, o futuro, o bebê... talvez em outras épocas cogitaria beber alguns chás, ingerir canela e entregar o feto a sorte... Mas não era mais a mesma, pela primeira vez, estar grávida era sinônimo de amor e entrega. Pela primeira vez havia concebido seu filho nos braços de um homem de verdade, e pela primeira vez desejava desfrutar das alegrias da maternidade ao lado do pai, esperava que ele sentisse o mesmo quando a verdade viesse à tona. E que casasse com ela, impedindo que seu nome e seus negócios acabassem na lama. 

De longe já era possível ver a movimentação na entrada da fazenda. O carro parou e logo todos cercavam a eles. 

—Os capangas estão nas entradas, mas Xavier é burro por demais, e tem no máximo quatro homens. -começou Brandão. –Acreditamos que não haja mais nenhum dentro da casa, mas é só uma suposição, o que pode colocar todos em risco. 

—E como irei entrar? -foi direta. –Sim, eu vou entrar. Há vidas correndo perigo por minha causa, e essa discussão não está em questão. 

—Julieta... -interviu Elisa. 

—Eu sei me cuidar. -respondeu antes que qualquer coisa a mais fosse dita. 

—Vamos render três, dos quatro homens. O que está na entrada fica, para que anuncie a sua chegada. -Ela apenas concordava. –Assim que entrar rendemos o homem e invadimos. É de extrema importância que se mantenha calma e não faça alarde, entraremos por todos os lados, e seria mais seguro se não estivesse nisso, mas também acredito que a senhora será uma bela distração para ele, e facilitará tudo se houver mais gente dentro da casa. 

—Ótimo, então vamos. O prazo se acaba em poucas horas. 

Os homens logo adentravam a propriedade rendendo os capangas com uma facilidade quase cômica. As duas mulheres apenas observavam de longe cada qual perdida em si e no que viria a seguir. 

—Tome cuidado. -sussurrou Elisa. –Não ha so tu neste corpo, e ainda que se sinta intocável, ele não é...

—Não estou me jogando a um ato de loucura, Elisabeta... -Um longo suspiro escapou de seus lábios. –Ainda que eu ame a ideia de ser uma heroína, não me arriscaria tanto se aí dentro não estivesse a razão pela qual eu respiro...

—Ccomo? -Seus olhos se encontraram e a mais velha sorriu. 

—Aurélio é o pai do meu filho, e arrisco-me a dizer futuro marido... mas para isso preciso salvá-lo. -Sorrindo surpresa, Elisa tocou nas mãos da mulher. 

—Boa sorte.

—Eu vou precisar. 

Brandão deu lhe sinal positivo, e aos poucos ela adentrou a fazenda caminhando. De longe o homem que cuidava da porta não havia percebido as ações do grupo, e sabia que a mulher chegaria, não detectando a ameaça real. Não demorou para que as escadas da entrada fossem alcançadas e ela subisse. O homem bateu na porta avisando o patrão, que sorria diante da entrada, mataria todos eles e ninguém jamais saberia. 

—Ora, ora, ora, minha Rainha chegou. -Julieta nada lhe disse, fitando-o dos pés à cabeça, deixando que agarrasse seu braço e fosse jogada dentro de sua própria casa. Susana e Aurélio encontravam-se amarrados juntos no centro da sala. 

—Aurélio... -sussurrou, e mesmo que num sopro o homem seguiu a direção do vento a olhando adentrar o ambiente. 

—Julieta! -respondeu ao sussurro, ainda que amordaçado.

—Um belo reencontro! Sabia que a senhora viria correndo quando escutasse que o belo barão estava sobre minha mira. -Sorrindo Xavier jogou-a no sofá. 

—O que quer? -Dirigiu-se a ele pela primeira vez. 

—Acabar contigo! Como ousou tentar acabar comigo. E quero que seja logo, antes que está situação vire um alarde e tentem entender o que está acontecendo. -Julieta continuava a fita-lo de forma desafiadora. –Passará todas as fazendas compradas aqui no Vale para mim, simples assim. 

—O que lhe garante que eu não irei denúncia-lo, quando sairmos daqui? - O homem se aproximou pegando em seu queixo, fazendo com que Aurélio se agitasse, e a mulher o repugnasse ainda mais. 

—Leve como uma troca, minha cara. Suas terras pelo meu silêncio. Todos saem ilesos e eu não conto sobre a bela viúva passar noites nos braços de um certo barão. -Susana que ainda não havia se pronunciado arregalou os olhos diante daquela informação. 

—Então o meu silêncio em relação a por vida de pessoa em risco, está unicamente ligado ao seu silêncio sobre a minha vida sexual? 

—Exatamente. -Julieta rezava a todos os Santos para que a invasão a mansão já houvesse começado, porque se ficasse mais tempo no mesmo ambiente que aquele homem o mataria com suas próprias mãos. –É triste que as mulheres tenham essa necessidade em dormir com qualquer um que encontram por aí... se eu soubesse que estava necessitada, teria me candidato. -Ela  o fitou dos pés à cabeça desdenhando-lhe com os olhos. 

—Não me deito com porcos. -A arma na mão do homem seguiu para seu pescoço. 

—Mais deitastes com falidos, incompetentes e 

—Honrados. -completou por ele. –Mas não acho que estamos aqui para discutir sobre isso, não é? Cadê os papéis? Dei-me que Eu assino. -o sorriso presunçoso tomou o rosto do homem que se dirigiu a mesa mais próxima onde havia deixado os papéis. De pressa a mulher seguiu em direção a Aurélio arrancando a faca que havia escondido em suas botas entregando a ele, esperando que conseguisse cortar as amarras de suas mãos. 

—Eu me viro por segundos e a senhora já está aos pés deste homem? Sinceramente esperava mais de ti, Julieta Bittencourt. -A arma voltou a ser apontada. –Levante-se, não lhe quero perto dele. Hoje és toda minha. -Aos poucos foi levantando-se do chão permanecendo ao lado de Aurélio. Seus olhos viram ao fundo o reflexo de Brandão e Darcy e por breves instantes fraquejou. E assim como ela, ele os vira refletidos na taça de vinho a sua frente, seguindo em sua direção. E num ato de puro desespero atirou. 

—Julieta!!! -Gritou Darcy vendo o corpo da mulher ser jogado para longe e o de Aurélio ensanguentado em sua frente. 

O sangue vermelho escarlate escorria pelas mãos, sujando a camiseta branca, roubando-lhe a vida. O corpo caia aos pouco, rendido ao disparo e ao ato insano de coragem... 

Coragem ou insanidade? 

Quem se atira no meio da morte, impedindo que o outro se vá, entregando a própria vida em sacrifício? 

Quem se doa com tamanha intensidade? 

A vida dela valia mais do que a sua? Ou a sua simplesmente não existia sem a dela? 

Mal sabia ele, que no puro ato de desespero, não havia salvo somente a ela, mas o amor em sua forma mais pura e genuína... 

—Aureliooo!!! -O grito ecoou pelos quatro cantos da mansão. O sangue dele manchava tuas mãos e a vida se desfazia naquele abraço desesperado em tons de cinza e escarlate. –Você não pode nos deixar, você não pode nos abandonar...

—Ju... -Seus olhos iam aos poucos se fechando. -Eu... Eu te

—Amo! Eu te amo! Não me deixa, não nos deixa! Você não pode! -voltou a gritar para ele em agonia –Você não pode nos deixar... eu estou grávida, meu amor, grávida de um filho teu... não nos deixe, por favor. -Um breve sorriso, em meio a dor tomou-lhe o rasto. –Não podes fazer isto comigo! Nos vamos nos casar, Aurélio. Você não pode me deixar... não pode! 


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Notas finais do capítulo

Eeeeeeeeeeeentão?
Mais uma vez: eu dividi escarlate em dois capítulos, o segundo será postado dia 20/06.
Espero que tenham gostado e que me contem sobre isso ♥️