Escarlate escrita por Vicky Refach


Capítulo 3
Capítulo 3- Estado de Poesia


Notas iniciais do capítulo

Como estão?
Bom, eu decidi, depois de reler Escarlate. Que não só a história, como vocês, mereciam um final sem deixar nada entre aberto.
Um final feliz de verdade. Sem meias palavras.
Quero muito agradecer ao apoio e comentários de todos, tanto aqui quanto no Twitter. Vocês me fazem feliz.
Espero que vocês sintam cada palavra aqui escrita, e que me contem o que sentiram.
Espero que gostem, fiz de coração.

EM ITÁLICO É FLASH BACK



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—Aurora Sampaio Cavalcante desce daí! -Uma das mãozinhas agarravam o galho da árvore, enquanto a outra esticava-se o máximo possível para alcançar a suculenta maça centímetros a cima. Era a segunda vez que a voz da mãe invadia seus ouvidos, e ela ignorava. -Aurora desce agora!-No auge dos 5 anos, a pequena princesa havia se tornado os motivos dos novos cabelos brancos da mulher e da infinita diversão do pai. 

Os cabelos castanhos caiam sobre seus ombros e a pele clara como leite se iluminava no sol. Havia herdado toda a beleza da mãe, mas em contra partida era sapeca e levada como o pai. Um verdadeiro menino de saia, como dizia Julieta. 

O homem surgiu de trás da árvore e se posicionou embaixo da onde a pequena estava.

—Vem pequena, papai te pega. -Os olhos castanhos se arregalaram ao perceber que o marido abria os braços e Aurora largava o galho, os fechou, e quando abriu a menina sorria nos braços do pai com uma maçã nas mãos, e uma animação contagiante. 

—Você está de castigo para sempre Aurora Sampaio 

—Cavalcante! -completou sapeca. –Me desculpe mamãe, mas eu queria muito a maçã. -A menina se soltou dos braços do homem e correu em direção a casa, adentrando como um furacão. Já conhecia a bronca de cor e salteado. 

—E o senhor? -O fitou brava, com toda a imponência da Rainha do café, o fazendo sorrir. –Pare de apoiar as traquinagens dela, pare de a ensinar subir em árvores, pare de acobertar as bagunças! Pare de incentiva-la. -O homem se aproximou ainda mais, subindo dois degraus, envolvendo-a em seus braços. –Eu estou falando sério. -Ele sorriu e levou os lábios a seu pescoço. –Aurélio...

—Eu te amo! -sussurrou em seu ouvido. –E o que posso fazer, se nossa menina é uma pequena levada? Ela sabe que tem meu apoio e por isso não fará nada que eu não permitir. E eu jamais a colocaria em risco. -A mulher suspirou e deixou que ele continuasse a beijar seu pescoço... era sempre assim no final das contas, um simples beijo seu e ela sentia suas forças indo embora, e a autoridade desaparecer de suas veias. –Vou pedir que ela não suba mais em árvores, ok? -Julieta revirou os olhos e o puxou para um beijo. 

Tão bom como da primeira vez.

Tão intenso como se fosse o último.

—Não ache você que irá me convencer com seus beijos, ela está de castigo e o senhor também. -O fitou dos pés à cabeça erguendo a sobrancelha. Deixou que suas mãos passeassem pelo corpo bem definido e mordeu os lábios. –A sua sorte, meu amor, é que eu te amo muito, se não... -As gargalhadas podiam ser ouvidas de longe, mas já era um costume. A Rainha vivia exibindo sorrisos, e ao lado do marido transbordava felicidade. 

—Vem minha Rainha, o castelo pode ficar algumas horas sem sua governante. 

—E para onde o Rei pretende me levar? -Ele parou de súbito e voltou a encara-la.

—Para o Paraíso, como sempre.

—E sua filha ficará com quem? -ergueu a sobrancelha como se o lembrasse do castigo. 

—Já falei com Tenória, o furacão está em boas mãos. -mais uma vez voltou a enlaçar suas mãos nas dela, sem deixar que a mulher respondesse, e voltou a puxa-la  rumo aos estábulos. Ambos corriam, cabelos ao vento, sorriso no rosto e a fazenda inteira como testemunha do amor de ambos. 

Já havia virado rotina, e que bela rotina.

Os tecidos brancos brincavam por entre seus dedos, arrancando-lhe suspiros. A garotinha de 16 anos que secretamente vivia dentro de si, gritava em excitação a chance de escolher, pela primeira vez, o vestido de noiva. 

Já faziam horas que se encontrava ali, perdida entre os tecidos, indecisa. Queria algo perfeito, queria que ele a achasse perfeita. 

—Então futura mamãe, gostou de algo? -Julieta sorriu ao ouvir a voz de Ema, e suas insinuações.

—Não consigo me decidir, futura filhinha. -A mais nova revirou os olhos sorrindo. –Eu gosto muito deste creme, e daquele bege. Mas a quantidade de pedras me incomoda. -Ema se dirigiu aos vestidos e os analisou, Julieta merecia mais. 

—Alguma vez a senhora idealizou o seu vestido? -A mulher a fitou. 

—Há mais de 20 anos. 

—Ainda se lembra dele? -Seu coração acelerou ao fechar os olhos e se deixar levar, lembrava-se perfeitamente do vestido ao qual idealizara. Uma dorzinha invadiu seu coração. –Vejo que sim... bom, eu poderia desenha-lo para a senhora. 

—Jura? -A animação era evidente, e ali, naqueles segundos de imaginação, Julieta Sampaio de 16 anos, roubou para si o corpo da mulher de 40.

A saia solta e lisa se destacava unicamente pelo pano que continha alguns poucos brilhos. A cintura era marcada e no corpete um lindo bordado de flores ganhava espaço. A renda caia um pouco sobre a saia, mas apenas como um detalhe. As mangas acompanhavam toda a delicadeza, fechando-se completamente no busto havendo um pequeno decote nas costas. 

O tom de bege fora o escolhido, preservando sua idade e toda a vida que carregava nas costas. 

—Posso tirar suas medidas? -perguntou Ema. A mais velha concordou se colocando de pé. 

—O casamento é em três semanas. -começou Julieta. –Mas ainda assim é melhor que deixe-o um pouco mais folgado. 

—Não o quer tão justo ao seu corpo? -A morena mordeu os lábios, não sabia como dar tal notícia e pedir segredo. 

—Não posso tê-lo tão justo ao meu corpo... -Ema a olhou sem entender, mas não fez mais perguntas. –Porque estou grávida, Ema. E eu e seu pai queremos oficializar o casamento antes de anunciar para todos. -Os olhos claros foram aos poucos se arregalando e a fita caiu de sua mão. 

—GRAV...

—Shiiiiu! -Julieta aproximou-se colocando os dedos sobre a boca da enteada. –É segredo, Ema. 

—Mas não será por muito tempo! -Afirmou ainda sem acreditar. –Oh meu deus!!! 

—Mas só virá à tona depois do casamento, e então tudo bem. -Ela entendia, era tão conservadora quanto a madrasta, e por mais que quisesse gritar sua felicidade com a notícia para o mundo, apenas abraçou a mulher a sua frente.

—Será uma ótima mãe, Julieta. Eu tenho certeza. -Os olhos castanhos se encheram de lágrimas, ela queria carregar consigo, aquela certeza também. –E eu serei a irmã mais babona do mundo. 

—Eu quero muito estar para você, para o que precisar, Ema. Jamais ocupando o lugar de sua mãe, mas ser presente. Dividir a vida e segredos, tanto quanto possível. -O abraço se prolongou e Ema sorriu também em lágrimas.

—Como eu queria que a senhora tivesse aparecido muito antes em nossas vidas. 

—Acredite meu amor, eu também. 

O céu tingido de laranja iluminava o caminho que seguiam no meio dos cafezais. O cavalo, Soberano, corria por entre as plantações, enquanto o vento os envolvia e uma imensa paz percorria seus corpos. Ao menos uma vez na semana, Aurélio, a roubava para si, e juntos percorriam todo o vale, desfrutando unicamente da companhia um do outro. 

Ela havia mudado tanto naqueles longos cinco anos. Havia se tornado a mulher que sempre quis ser. Forte, determinada, amável, sua e dele completamente. Não havia ali espaço para qualquer outra Julieta que não fosse aquela.

Era inegável que havia sido um longo caminho de pedras, que seus medos e anseios vez o outra invadiam suas veias e ela vestia a carrancuda máscara de mulher indomável, mas era só estar nos braços dele que se perdia...e agradecia ao céus por ter cedido aquela noite e se entregado aos desejos e paixão que sentia por ele. Fora ali que sua transformação começara. 

—Aurélio? -O homem apertou-a contra seu corpo demonstrando estar ouvindo-a –Está com sono? -a pergunta o pegou de surpresa. Já fazia um tempo que estavam deitados. –Porque eu estou com uma vontade louca de comer atemoia, e não acho que conseguirei dormir sem sentir o gosto da fruta em minha boca. -Ele a virou em sua direção, e viu que ela mordia os lábios diante de tal confissão, não acreditou ser verdade. 

—Jura? 

—Eu não pediria se não fosse sério. Eu preciso muito comer atemoia, e a culpa é do seu filho! -A gargalhada escapou de sua garganta. –Pare de rir,  homem. -Ele continuou a fita-lá por breves instantes, antes de começar a se levantar. Estava se colocando de pé no meio da noite, apenas para satisfazer seus desejos... riu sozinho, sabia que faria qualquer coisa por ela, e para satisfazê-la, a qualquer hora. 

—E a senhora poderia me dizer aonde encontrarei atemoia uma hora dessas? 

—Tem um pé perto dos estábulos, acredito que estejam maduros. -Os olhos brilharam ao falar da fruta, e ele soube naquele momento que iria até a lua buscar o que ela desejasse. Voltou a se aproximar da cama e selou seus lábios. A mulher sorria com a expectativa de ter seus desejos saciados. Estava completamente rendida a gravidez, a seus hormônios e tudo que vinha junto da carga de amor que flutuava por seu corpo. 

—Eu volto logo. 

O cavalo foi deixado amarrado uma árvore antes da que pretendia levá-la. Ainda que estivessem juntos a muito tempo, ali era a primeira vez que iam sozinhos. O topo mais alto do Vale do Café. 

Ela sorriu ao reconhecer o lugar, e passou a caminhar sem ele. Era lindo, dava-lhes uma completa visão da cidade e uma privacidade sem tamanho para observá-la sem serem observados. 

O homem a abraçou por trás com força. Admirando-a enquanto ela admirava a paisagem... ela era sua paisagem favorita. 

—Por que me trouxe aqui? -perguntou virando-se para ele. 

—Porque faz um tempo que quero amá-la aqui, tendo o sol e céu como testemunha do nosso amor. 

—Aurélio... -Sussurrou em seu ouvido um tanto quanto vermelha. –Você já foi mais discreto em seus anseios. -ele riu, girando-a novamente em seus braços. 

Era começo de primavera e a árvore amarela encontrava-se no auge de seu esplendor. Tudo ali contribuía para o cenário que havia imaginado com ela, agradecia aos céus por terem se casado em uma época tão linda quanto aquela. 

Os poucos fios de cabelo que se encontravam presos foram soltos, e junto ao vento balançavam em sentido contrário aonde o homem beijava. Seus lábios percorriam o pescoço em total devoção. 

—Queres ser minha aqui? Agora? -Um arrepio percorreu-lhe a espinha ao sentir os primeiros botões do vestido sendo abertos, e a boca dele percorrer o mesmo local beijando a pele clara.

—Como se eu já não fosse tua completamente. 

Os últimos botões do vestido foram fechados. Suas mãos suavam e os olhos se perdiam em meio às lembranças dos últimos meses e de tudo que havia sido vivido. 

Do medo de perdê-lo a certeza de que não se via mais em uma vida a qual ele não fizesse parte. Ainda que por muito tempo quisesse negar, aquilo já havia se tornado uma verdade absoluta, e essa era uma das poucos a qual ela acreditava. 

Pertencia à ele, e ele a pertencia. 

A porta do quarto foi aberta e Julieta suspirou se virando. Sorriu. 

—Camilo. 

—Estas linda, Dona Julieta. -Logo o rapaz se colocou diante dela e a abraçou. –Rezo para que seja a mais feliz das mulheres, e que Aurélio a mereça. 

—Espero eu ser capaz de merece-lo. 

Até mesmo a relação com o filho haviam evoluído depois do atentado, tudo se encaminhando para o final feliz que tanto sonhou, mas nunca julgou merecer.

Seus olhos caíram sobre o espelho e a mulher ali refletida, sorriu. Talvez não estivesse perfeita, mas estava o mais próximo do que sempre sonhou em estar. O vestido desenhava seu corpo nos lugares certos. O cabelo preso em um coque baixo, possuía a leveza necessária junto a alguns fios soltos. Os olhos brilhavam mais do que qualquer joia, contendo ali todas as suas certezas. 

Ao ouvir a porta se fechar atrás de si, voltou a ficar sozinha. Seus dedos tocaram o ventre levemente saliente, e sorriu. 

—Está pronto para dizer sim ao papai, meu amor? -Um arrepio percorreu sua espinha e ela sorriu. –Eu também estou. 

A manta cobria o chão e era palco do amor de ambos. As roupas ha muito haviam sido deixadas de lado, e ali, diante de céus e terras se amavam. 

Ele a tocava como um artista desenhando sua mais bela obra, ainda que já conhece todos os traços daquela pintura, era sempre inesquecível amá-la, toca-la, fazê-la sua. 

Os corpos suados já se faziam um só, e moviam-se num ritmo único, e beijavam-se com fervor, e não se importavam com nada nem com ninguém. 

Aurélio parou seus movimentos, afastando seus corpo, a sentindo suspirar frustrada sem entender. Sentou-se e estendeu as mãos puxando-a para o seu colo, voltando a encaixar seus corpos, deixando que ela definisse o ritmo que os levaria ao completo deleite daquele enlace. Era sempre um prazer ser comandado por ela, senti-la mover-se e ditar quando juntos chegariam ao ápice. 

A barriguinha de cinco meses já se fazia presente e Aurélio babava ainda ainda mais pela mulher e pelo filho. Só a voz do homem fazia a criança dar cambalhotas dentro do ventre da mãe, arrancando-lhe sorrisos. 

O sol invadia o quarto e já despertos o casal se olhava. Era sempre assim, independente  de quem acordasse primeiro, os olhos caiam sobre o parceiro e ficavam a olharem-se por minutos incontáveis, decorando os muitos traços da beleza do outro. Mas, desde que a barriga ganhará forma, era só isso que faziam, e Julieta sentia-se frustrada. 

Os dedos delicados passaram a traças o rosto do marido, se perdendo em seus lábios e nas muitas linhas que formavam seu rosto. Sentia seu corpo queimar só por tê-lo assim tão perto, queria mais do que seus beijos, e queria agora. 

—Aurélio...-suspirou se aproximando, tomando a boca do homem para si. –Me ama! -O pedido soou como uma ordem, e ele gargalhou. –Eu estou falando sério. 

—Meu amor...

—Não me venha com “meu amor” já faz semanas que você não me toca! De nenhuma maneira, até seus beijos esfriaram. Você não me deseja mais? -perguntou se afastando. –Tem outra mulher? -Ele queria rir, mas sabia que isso só a irritaria mais, ainda que fossem só os hormônios, não gostava de irrita-lá. Respirando fundo se colocou também sentado sobre a cama. –Anda, me responda! -Olhou no fundo dos olhos castanhos que começavam a se encher de lágrimas, sorriu e a puxou para si, beijando-a com toda vontade que possuía em seu corpo. 

—Eu só não quero machucar vocês. -Afirmou os afastando brevemente. –Cada célula do meu corpo ama e deseja ardentemente você, meu amor. -Deixou que seus dedos passeassem atrevidos pelo corpo da amada, puxando a camisola para cima, se perdendo entre suas coxas. –Só você. 

—Você não vai nos machucar. -Afirmou. 

Os últimos raios de sol iluminavam os corpos nus. As flores amarelas da árvore enfeitavam o chão, e o corpo da mulher permanecia parado, de olhos fechados sentindo os últimos espasmos de prazer percorrer seu corpo, enquanto era observada por ele. 

Algumas pequenas marcas avermelhadas  permaneciam no corpo escultural, mostrando-lhes o tamanho da intensidade a qual haviam se amado na tarde daquela quinta-feira. 

Os olhos castanhos se abriram e a mulher sorriu ao ver que ele a admirava. 

—Você não se cansa de me olhar, não é? 

—E como eu poderia? Tu és a mais bela entre as obras de arte, meu amor. Eu me tornaria poeta, só para ser digno de amar uma obra prima como você. -Suas declarações sempre rouba-lhe a fala, queria ela ser tão boa com as palavras e retribuir-lhe da mesma forma. 

—É mesmo? Dizem que quando um escritor se apaixona por alguém, esse alguém se eterniza, você me eternizaria? 

—Se Deus tivesse me dado essa dádiva, não só estaria eternizada, como sérias a minha fonte de inspiração mais bonita, mais sincera. Mas felizmente tu já é eterna, Julieta, pois nenhum verso meu lhe faria jus. 

O grito de dor ecoava pelos quatro cantos da mansão. O homem atrás de si segurava seu corpo e suas mãos, enquanto ela fazia força e respirava com dificuldade em meio as contrações. 

Era auge de verão e as chuvas de fevereiro banhavam São Paulo quando a bolsa da mulher estourou e a certeza de que no meio daquele caos seu bebê nasceria em casa. O hospital mais próximo encontrava-se fechado devido aos estragos da chuva. As ruas estavam um caos pelo alagamento, e nenhuma outra alternativa era viável a não ser ter seus filhos ali. 

A parteira dava as instruções. O suor escorria por seu corpo. Suas mãos se fechavam com força sobre as do marido, e a criança demorava a vir ao mundo. 

—Eu não aguento mais... -Choramingou cansada. 

—A senhora está quase conseguindo! -Seus olhos se fecharam e uma nova onda de dor atingiu seu corpo e gritou alto. Junto ao grito de força da mãe, misturou o choro do bebê. –É uma menina! -Anunciou a parteira. 

Uma menina! 

Sua menina!

As lágrimas vieram em ambos os olhos. Aurélio abraçava-se à ela com força, agradecido, emocionado, apaixonado. Não haviam palavras que descrevessem o amor que atingia seu peito naquele momento, e a vontade que sentia de gritar ao mundo o quanto amava-as.

O pequeno bebê foi colocada no colo da mãe, que a pegou sem jeito. O choro cessou assim que sentiu o corpo da mulher contra o seu, ainda que fosse a primeira vez que encontrava seus braços, Julieta era sua casa, a pequena sentia. Aurélio envolveu-as em seus braços e ambos fitaram juntos a pequena criança fruto daquele amor tão sólido e verdadeiro. 

—Bem-vinda Aurora. 

A vida voa, brinca com o tempo e desafia o amor a alcançá-los e ser capaz de ser vivido neste pequeno período ao qual temos na terra. 

A vida é boa, e é bela. Ainda que pedras no caminho desafiem sua beleza e seu esplendor. Cabe somente a quem está vivendo ser capaz de enxergar que há muito por trás, que ainda precisa ser vivido.

Graças a ele havia aprendido enxerga as belezas da vida. E como era bom, finalmente sentir que estava vivendo, aproveitando, se permitindo. 

Aurora veio como um sofro de vida em meio aos seus dias cinzas, lhe trazendo coragem, e como havia pensado uma vez... Aurélio chegou para abalar seus sentidos, balançar seus muros. Puxou pra si a marreta, e sozinho decidiu derruba-las, e foi em um dos golpes contra o coração de gelo, que o amor havia enfim se consumado. Mas ainda faltava a ser quebrado, e por sorte não precisou terminar o serviço, e o que restava de muros para ser derrubados, caíram por terra pelas mãos de seu filho. O amor em sua forma mais pura e sincera. 

O pequeno pacote que dormia em seus braços. 

Era final do dia quando sentou-se na cadeira do escritório e passou a ler os muitos contratos que precisava de sua aprovação. A criança dormia tranquila em seus braços, e ela agradecia aos céus por isso. 

A porta fora aberta e Aurélio sorriu, sabia que estariam juntas. 

—Ela deve estar te atrapalhando, deixe que eu fico com ela. -A morena negou. 

—Acabei de conseguir faze-lá dormir, nenhum dos empregados estava conseguindo, e o choro cortou meu coração.

—Sempre corta... -Ele sorriu negando. –Achei que você seria a parte controladora da educação dela, mas vejo que ambos mimaremos Aurora. 

—Não mimaremos não, -sorriu. –Mas ela é ainda tão pequena, não resisto ao seus encantos. -O homem se aproximou e tocou em seu rosto. 

—Ela puxou os encantos da mãe. Eu também não resisto aos seus encantos. 

O amor transforma, cuida, refaz, salva! É a única certeza de felicidade, que se possuía. Pois sem amor nada somos, nada aprendemos, nada seremos capaz de ensinar. 

E que triste é a alma que atravessa a vida sem ter a chance de conhecer esse sentimento tão transformador. 

—Ainda assim irei me arriscar. -Seus olhos se fecharam e voltou a desenhá-la com os dedos, deixando que as palavras voassem se seus lábios, só levado pelos sentimentos que carregava no peito, e pelas sensações que invadiam seu corpo toda vez que a tocava. 

Tu és...

Ah meu amor tu és a personificação 

De Capitu a olho nu

Tem olhos de cigana 

Oblíqua e dissimulada 

Capaz de fazer qualquer um 

Se apaixonar perdidamente.

És como poesia 

Rabiscada em livros de grandes 

Artistas

Mas que se quer foi finalizada ainda

Pois nem Machado de Assis

É capaz de transcrever uma obra 

Como tu. 

—Feliz aniversário de casamento, Julieta. Eu te amo. 

—Eu te amo ainda mais, Aurélio, ainda mais. 


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Notas finais do capítulo

E eeeeeeentao? Ficamos por aqui, meu amores, foi um prazer finalizar Escarlate com vocês. Espero que nos esbarremos mais em outras histórias ♥️

Ps: O poema contido no texto é de minha autoria e por isto não está assinado.



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