Desta vez, a menina estava longe. Bonolenov sentia-se triste, mas não podia ir até ela, pois se encontrava no meio de uma missão. Shizuku murmurava qualquer coisa sobre não se lembrar do que estavam roubando, e Phinks tentava inutilmente repetir a estratégia que formulara. No final das contas, os dois avançaram juntos, deixando Bono como vigia. Ele se recostou no muro e fitou as nuvens. O céu estava escuro naquela noite. Sem estrelas. Muito diferente do azul-claro dos cabelos de Mayuri.

Ela não estava tão longe assim. Talvez pudesse encontrá-la quando a missão acabasse. Ou talvez ela viesse a seu encontro, pois a menina tinha seu próprio jeito curioso de sempre cruzar seu caminho. Bono lembrou-se com nostalgia da tarde em que dançaram juntos, de como os cabelos ondulados dela cobriam seu rosto enquanto os dois giravam e giravam. Se não havia espaço na vida de Bono para o amor verdadeiro, Mayuri era a mentira que sua vaidade tanto desejava.

Phinks e Shizuku retornaram fazendo barulho. Lutavam contra alguns guarda-costas que se recusavam a desistir. Bonolenov juntou-se a eles apenas pelo esporte. Enquanto saltava de um lado para o outro e socava os oponentes, pensava em como o boxe parecia uma dança e em como os sons da dança pareciam o riso de Mayuri.

Deixaram os terrenos da mansão. Phinks cantava vitória por todos os tesouros que haviam roubado, e Shizuku perguntava o que teriam para o jantar. Os dois combinaram de ir a uma pizzaria e olharam para Bono, que ergueu a mão em educada recusa. Ele seguiu por outro caminho, solitário. Sentou-se debaixo de uma árvore e fitou o céu. Ficou assim até amanhecer.

Levantou-se de súbito. Despiu as luvas e as ataduras, revelando os buracos que cobriam seu corpo. Inspirou fundo, fechou os olhos... E girou. Girou e girou. Compondo a música que o acalantava. Compondo a música que o tornava um deus. E acreditou que, onde quer que Mayuri se encontrasse, sua música seria capaz de alcançá-la.