Hermione andava por todos os lados à procura de Ginny, elas tinham marcado de se encontrar na biblioteca depois das aulas para estudar e a ruiva simplesmente não apareceu. E o pior, nem sequer avisou.

Ela procurava pelo quarto dos monitores da ala oeste do 5° andar, mal sabia onde o dormitório se localizava mas ela precisava encontrar. Havia centenas de quadros pendurados nas paredes, uns à olhava de cara feia enquanto outros esbanjavam um belo sorriso reconfortante.

Do outro lado do corredor avistou a familiar cabeleira ruiva, ela corria em direção a amiga e arfava demostrando cansaço. Parou de frente com Hermione enquanto colocava as mãos sobre os joelhos para tomar ar. Se endireitou para se recompor e a olhou pela primeira vez depois da corrida.

“Então Ginevra Weasley, onde esteve? Por que não me avisou que iria se atrasar para os estudos?” Ela batia o pé freneticamente sob o chão liso mostrando irritação. Suas mãos apoiadas sobre os quadris davam uma bela imagem de mãezona que acabará de dar uma bronca no filho.

“Desculpe Mione, o Zabini e eu estávamos resolvendo como iríamos nos dividir durante às rondas. Estávamos terminando de ver horários e dias adequados. Estávamos achando melhor intercalar entre você e o Malfoy.” Hermione parou. Como ela poderia ser tão esquecida? Ela e o Malfoy não resolveram nada ainda e ambos precisavam mostrar as suas anotações para Minerva até o fim do jantar e não tinham nada pronto. “Vocês não começaram ainda não é?”

Hermione balançava a cabeça negativamente. Precisava encontrar o Malfoy o mais depressa possível e resolver isso logo. Não era algo demorado mas sua tarde de estudos teria que ser adiada.

“Você tem que encontrá-lo Mi, senão vocês dois vão se encrencar. Não será muito bom para a reputação da escola, dois monitores pagarem detenção no segundo dia de aula.” Hermione assentiu vagarosamente e foi à procura do loiro.

Ela já não aguentava mais correr pelos caminhos de pedra e fugir das zombações do Pirraça. Já tinha entrado no quarto dos monitores, no salão principal, em salas de aulas vazias e no campo de quadribol, não havia nenhum sinal do sonserino.

Decidiu esperar do lado de fora do salão comunal da Sonserina, afinal, era o único lugar que ela não poderia entrar e o único que ela não havia procurado. O quadro se abriu lentamente enquanto Hermione se esticava para ver quem sairia de lá. Para a sua infelicidade era o Zabini.

“Zabini? Oi, estou procurando pelo Malfoy, ele está aí dentro?” O moreno corou levemente de vergonha mas não se recusou a responder.

“Ah, oi Granger. Ele está sim. Está um pouco ocupado mas acho que pela sua afobação você deve estar preocupada com o horário das rondas.” Ele sorriu de canto antes de continuar. “Eu vou chamá-lo.” E entrou de novo pelo quadro.

Minutos depois um Malfoy ofegante e totalmente desarrumado se encontrava em sua frente. A gravata frouxa, a calça sem o cinto, os cabelos bagunçados e os lábios levemente inchados concluíram o pensamento da castanha. Ela o olhava com nojo. “Ele realmente não tinha mudado.”

“O que quer Granger?” Vociferou enquanto passava as mãos pelos cabelos na tentativa de ajeita-los.

“Desculpe atrapalhar sua transa Malfoy mas temos um horário de rondas para fazer. Acredito que você não queira pagar detenção assim como eu não quero, então peço que se arrume e vamos resolver esse problema. Assim você poderá voltar aos seus afazeres.” A castanha o olhava de cima a baixo com um tremendo olhar de repulsa que a invadia.

“Eu não acredito que você me atrapalhou para isso.” Ele dizia indignado mas se ajeitava rapidamente para andar pelos corredores. Tinha que se mostrar responsável pelo seu cargo de monitor.

Andaram de volta até o quinto andar e pararam de frente com o quadro, agora familiar. Disseram a senha e entraram. Malfoy jogou os sapatos de lado e se deitou despojadamente no sofá maior enquanto Hermione se acomodava na poltrona, colocando alguns pergaminhos sob a mesa.

“Tudo bem, precisamos resolver os horários, os dias e como iremos dividir as rondas pelos corredores.” Um silêncio desconfortável se seguiu dentro da sala. Hermione o olhava furiosa antes de gritar com uma voz fina. “Malfoy, você está me escutando?”

“Estou Granger, só fala que eu vou concordando.” Ele gritou de volta.

“Não senhor, eu não sou monitora sozinha. Você vai me ajudar a fazer essa planilha. Não temos muito tempo até o jantar.” Ela disse olhando para o relógio para verificar as horas.

Derrotado, o loiro se levantou e ficou de frente para a mesa pensando. Seu corpo estava curvado para frente enquanto seus dedos indicadores estava em contato com seus lábios. “Ele ficava extremamente lindo desse jeito.”

“Tudo bem.” Ele começou agora com a voz mais calma. “Blaise me deu uma adiantada no horário dele.” Seus olhos agora estavam voltados para os dela. Ela o olhava atentamente para começar a anotar o que iriam decidir. “Ele e a Weasley estão querendo fazer as rondas em dias intercalados, o que eu acho muito bom porque assim ninguém se cansa e teremos um dia de folga entre uma ronda e outra.” Ele falava pausadamente enquanto a castanha anotava tudo. “Os horários pode ser por volta das 22h. É um tempo razoavelmente bom entre a hora do jantar e o horário de dormir. E a ronda faremos juntos. É mais seguro. Posso ir agora Granger?” Ele se expressou numa paulada só e já se levantava do sofá.

“Claro, boa transa.” Ela disse ainda com os olhos fixos no pergaminho enquanto os passos firmes do garoto se dirigiam até a porta.

“Ora, francamente. Eu não estou mais no clima pra isso.” Ele se sentava de volta no estofado e olhava o ambiente em sua volta. “Desculpe por agir daquele jeito mais cedo. Estava estressado.”

Por um momento ela tirou os olhos do papel à sua frente e se voltou para os olhos cinzas parados mais acima.

“Tudo bem.” Ela disse com a voz intrigada. Um Malfoy nunca pedia desculpas.

“Quando vai me ensinar a fazer aquele feitiço?” Ela guardava os pergaminhos entre as vestes para levar junto com ela no jantar. A pergunta a pegou de surpresa.

“Podemos começar depois do jantar. Viemos direto para cá e começamos com as aulas.” Ela falava com um tom delicado na voz o fazendo sorrir timidamente. A voz dela era incrivelmente gostosa de ser ouvida, tinha a impressão de que o seu timbre sonoro fazia cócegas no seu tímpano de tão suave.

“Fechado.” Ele ainda a olhava. Hermione estava começando a sentir seu rosto esquentar quando o som dos passos pelos corredores a alertou de que o horário do jantar havia chegado.

“Ah Hermione, posso te pedir mais uma coisa?” Ele gaguejava demostrando nervosismo, suas palavras saiam tropeçadas enquanto suas mãos suavam.

Ela parou bruscamente e o olhou. 

“Desembucha Malfoy.”

“ Você poderia me ensinar aquela luta trouxa?” 

Incrivelmente, a castanha começou a gargalhar. Uma gargalhada tão alta que poderia ser ouvida por todo o castelo. Seu tom era de extrema arrogância. Seu riso não era de boa vontade mas expressava unicamente deboche.

“O Malfoy quer aprender luta trouxa? Comigo? Você só pode estar brincando.” Ela se voltava para a porta quando o loiro subitamente pegou seu pulso gentilmente.

“Por favor Hermione.” Sua voz saiu num fio de desespero. Por algum motivo ele precisava aprender a lutar, seus pensamentos vagavam na possibilidade do garoto se meter em confusão. Era típico dele.

“Tudo bem.” Disse em rendição. “Vamos ter aulas todos os finais de semana já que não teremos aula. Começamos no próximo sábado depois do passeio à Hogsmeade.” O sonserino assentiu com um movimento devagar e a soltou.

“Obrigado.” Ele sorriu e ela assentiu virando-se para fora.

[...]

As duas grifinórias partilhavam de uma conversa agradável enquanto se deliciavam com a comida maravilhosa que os elfos preparavam com tanto trabalho. Ginny se servia de salsichas e cenouras caramelizadas enquanto Hermione repetia pela terceira vez o carre de cordeiro com purê de repolho roxo.

“Conseguiu resolver o problema das rondas com Malfoy?” Ela perguntava enquanto cortava as salsichas em seu prato.

“Ah sim, resolvemos bem rápido esse problema. O que me intrigou foi o pedido repentino dele.” Hermione jogava o garfo de lado para se virar para a ruiva.

“Que pedido?” Ela colocava o garfo com as salsichas na boca e fazia pela milésima vez a expressão de satisfação ao devorar aquele prato.

“Lembra que te disse uma vez que eu praticava lutas trouxas?” A garota assentiu. “Então, quando estávamos procurando nosso quarto ontem ele me chamou de sangue ruim e como a minha paciência havia se esgotado eu o imobilizei com um golpe. E hoje depois de terminarmos ele perguntou se eu podia lhe dar aulas particulares.”

“Tá, o que tem de mal nisso Hermione?” Ela o olhava tentando ler suas expressões faciais na tentativa de entender aonde a castanha queria chegar.

“Bom Gi, ele não me pediu na intenção de só aprender, eu sei que no fundo tinha algo a mais. Era como se ele precisasse aprender.” As duas se voltaram para a mesa do outro lado da sala e encararam o loiro que conversava animadamente com uma garota loira do 6° ano. Animadinho demais para o gosto de Hermione.

“Ele deve ter seus motivos Mione. Eu tenho certeza de que vocês irão se aproximar, daí você pergunta pra ele. Seus olhos até brilham quando encontra com os dele.” A ruiva olhava do garoto para ela. Ginny era muitíssimo esperta, reparava em qualquer detalhe que qualquer pessoa pudesse ter perdido em uma conversa.

“Eu? Meus olhos não brilham quando eu o vejo. Você está louca? Ele é um Malfoy. Está certo que fizemos um trégua em relação aos xingamentos e azarações, mas se aproximar dele nunca.”

“Ah Mione... Se você soubesse o que fiquei sabendo pelo Zabine.” A ruiva dizia num tom curioso e divertido.

“O que você ficou sabendo?” A curiosidade veio tão rápido quanto sua indignação pelas palavras anteriores da amiga.

“Não vou contar. Quando você e o Malfoy estiverem realmente próximos como eu acho que vão ficar, eu te conto.” Ela se levantou e saiu em direção as grandes portas do salão, deixando para trás uma Hermione confusa.

[...]

Ela já estava sentada diante a mesa da diretora quando os demais entraram na sala. Não falava com Ginny desde a conversa do jantar, o que deixava a garota ainda mais irritada. Será que ela e o Zabini estavam tramando alguma coisa pela suas costas? Balançou a cabeça na tentativa de afastar tais pensamentos quando a diretora entrou na sala e começou a falar.

“Bom, avaliei o planejamento de vocês para a iniciação das rondas e devo admitir que os quatro trabalharam bem. Nunca houve tanta organização como vocês tiveram em toda a existência de Hogwarts. As rondas vão ser revezadas entre às duplas começando a partir de hoje pela senhorita Weasley e o senhor Zabini. Qualquer dúvida é só me procurar que tirarei as objeções de vocês.” Dito isso ela se virou e deixou os quatro sozinhos na sala que fora de Dumbledore à dois anos.

“Vamos Ginny?” Começou o sonserino. Ela concordou e saiu com Blaise em seu encalço.

“Pronto para aprender os feitiços?” Hermione perguntou para o loiro

“Pronto.” Ele respondeu sem ânimo e os dois saíram da sala.