Um silêncio constrangedor se seguia pela sala, nenhum dos dois sabiam exatamente por onde começavam. Hermione entrelaçava a saia nos dedos enquanto Draco a olhava intensamente.

“Qual o seu problema Granger?” Perguntou se sentando ao seu lado. A castanha o olhou confusa. “Como assim? Qual é o meu problema?”. Ela pensou. “Você se aproximou do nada na sala de poções quando viu que ninguém se aproximava. Por quê?” Prosseguiu vendo que a confusão em seu rosto permanecia intacta.

“Só achei que você precisava de uma chance Malfoy. Não te culpo por tudo o que você teve que fazer. Todos sabemos que você e sua mãe foram inocentados graças ao Harry. Não é justo pagar por algo que você não tinha escolha. Tenho medos pelas suas ações Malfoy. Para mim você continua sendo o mesmo Malfoy de antes, mas não preciso olhar para você como um comensal.” Ela dizia cada palavra com compaixão. Ele a olhava encabulado pelas suas palavras. E num gesto repentino a beijou.

Suas línguas não se tocavam mas a sensação era incrível. Os lábios se movimentaram sincronizadamente. Era absurda tamanha perfeição. Hermione obtinha um gosto reconhecível de chocolate, Draco era mais refrescante, a lembrança do sabor de menta era perceptível em sua boca. Como se recordassem quem era quem ali, se afastaram rapidamente. Ambos tinham os olhos perdidos na face do outro. Hermione sentia seu rosto esquentar e o garoto só não sabia o que houve consigo para beijar uma grifinória.

“Desculpa. Não era para eu ter feito isso, nem sei o porquê eu fiz.” O loiro dizia com desprezo. Acabará de beijar uma nascida trouxa, por Merlin. Onde estava com a cabeça?

“Não tem problema.” Hermione disse em um tom de voz baixo. Estava envergonhada por tal ato do loiro. Mas envergonhada ainda pelo garoto ser sonserino. E esse sonserino ser justo Draco Malfoy.

“Granger?” Ele a chamou quando estava na porta do seu quarto. “Não conte isso para ninguém.” Ela assentiu e ele entrou.

Hermione ficou ali sentada na sala, olhando para o fogo que se mexia na lareira, o ambiente estava aquecido já que o inverno estava chegando com força. Se levantou e parou na porta do quarto do companheiro. Ele simplesmente entrou e não disse se queria continuar com as aulas, embora nem tivessem começado.

“Malfoy?” Bateu na porta delicadamente esperando resposta.

“O que quer Granger?” O loiro respondeu ríspido. Com certeza ele teria se arrependido do beijo. Então por que o fez? Isso nem ele sabia responder.

“É que você não me disse se queria continuar com a aula de feitiços depois daquele... Você sabe.”

Ele suspirou profundamente e destrancou a porta, a abriu para a menina entrar e voltou-se para cama.

“Por onde começamos?”

“Primeiro, se você ficar jogado nessa cama não teremos como começar.” Ela disse com um sorriso travesso e ele relutante se levantou bufando.

“Feliz?” Ele estendia os braços ao lado do corpo como se quisesse mostrar sua situação.

“Muito.” Ela disse com um belo sorriso nos lábios. Merlin, o que acontecia com ele? Ele não poderia achar o sorriso dela bonito.

Ela sacou sua varinha e fez o feitiço com perfeição. Na ponta, surgia uma cobra verde de pelúcia – bem fofa, por sinal – e o entregou.

“Agora preste atenção.” Ele assentiu e explicou passo a passo do processo.

Depois de horas tentando, algumas falhas e alguns acertos eram presentes. Risos invadiam o quarto cada vez que presenciavam alguma situação engraçada.

“Pronto?” Hermione perguntou à sua frente para passar confiança. Ele assentiu e apertou mais a varinha entre os dedos.

Com um gesto delicado e sutil, Malfoy fez-se aparecer uma rosa vermelha em pelúcia. A primeira vista não se parecia grande coisa, mas ao olhar para a garota que lhe ensinará deu um leve sorriso de satisfação. Ela sorria abertamente para ele, sua expressão era de extremo orgulho por ter conseguido ensinar alguém. Como sempre acontecia.

“Você conseguiu.” Ela disse exaltada se dirigindo para os braços do loiro. Draco hesitou mas depois de um tempo retribuiu o abraço. Hermione era leve e delicada. Seu cabelo tinha um cheiro viciante. Isso ele não podia negar.

“Obrigado.” Ele disse enquanto afagava os cabelos da garota.

“Desculpe. Me empolguei com o resultado.” Se afastando do garoto, ela pode perceber a expressão de confusão do loiro. Ele também não entendia o porquê se sentiu tão bem com o gesto de carinho.

“Não se preocupe.” Se voltou para o outro lado do quarto ficando de costas para a grifinória. “Já são 23h Granger, acho melhor você ir descansar.” Ele a olhou cansado e ela assentiu saindo do quarto.

Entrou no banheiro e tomou um banho rápido. Estava exausto com as aulas do dia e com tudo o que aconteceu. Precisava colocar seus pensamentos em ordem. Ele tinha beijado Hermione Granger. Uma nascida trouxa metida a sabe-tudo, grifinória, amiga do Potter e sua inimiga declarada em Hogwarts.

Durante seus anos em Hogwarts ele a atormentava sempre que podia, a xingava sempre que a via, fez seus dentes crescerem só para humilhá-la e agora ele tinha a beijado. Suas palavras foram reconfortantes, por um momento ele não se sentia mais sozinho e inseguro. Sabia que o restante dos alunos iria julgá-lo pelo seus atos, mas também sabia que enquanto Hermione Granger estivesse ali, ele teria alguém que o entendesse.

[...]

Hermione se jogou na cama assim que entrou no quarto, com as mãos entre o rosto pôde pensar em tudo o que tinha acontecido. Malfoy a beijou de repente “e Merlin como ele beijava bem.” E em seguida ela tinha o abraçado em uma reação por satisfação de ter ajudado alguém.

O que aquele garoto tinha na cabeça em beijá-la? Ele sempre a humilhou na frente de todos e agora a beijou sem explicação. Como poderia lidar com aquilo? Era o Malfoy, ele com certeza iria espalhar para a escola toda que a fez de idiota e ela simplesmente tinha deixado. Qual seria a reação da Ginny quando descobrisse? E o que Harry diria quando ela falasse para ele? Ela precisava resolver essa situação antes de quê algo pior aconteça e ela vire motivo de gozação.

Se levantou e resolveu tomar um banho, já estava ficando tarde e no dia seguinte teria aula. Foi até o guarda roupa e pegou uma roupa confortável. Entrou no banheiro e encheu a banheira. Seus músculos estavam muito tensos para se relaxarem apenas com uma chuveirada. Assim que a banheira se encheu completamente ela se despiu e entrou, fazendo com que a água quente fizesse o seu trabalho sobre os músculos rígidos. Sua mente vagava em um sentimento de tranquilidade, ela necessitava disso. Involuntariamente soltou um gemido de prazer por estar completamente satisfeita com a sensação leve que seu corpo transmitia depois do banho.

Se vestiu e se deitou na cama fofa que desde quando saiu para o café ansiava tanto para voltar. Permitiu sua mente vagar mais uma vez sob o loiro que dormia no quarto ao lado e repentinamente mergulhou na inconsciência.

Hermione acordou extremamente disposta para começar o dia, sua noite de sono fora tranquila o que não acontecia há muito tempo depois do fim da guerra. Suas noites eram rodeadas por pensamentos envolvendo Rony e sua morte súbita.

Olhou no relógio e decidiu descer para se alimentar, acordará com uma fome imensa e não via a hora de colocar algo na boca. Seu estômago a denunciava instantaneamente se o ambiente ficasse em silêncio, e só de imaginar essa cena seu rosto corava.

Draco se encontrava sentado no salão comunal do dormitório olhando para um ponto fixo, sua expressão parecia apavorada e seu maxilar tremia em um ritmo acelerado.

“Malfoy, está tudo bem?” Hermione perguntou com cautela enquanto sentava-se ao seu lado para observar o sonserino atentamente.

Ele assentiu levemente e se voltou para a castanha que o olhava com preocupação. “Ela realmente estava preocupada com ele?”

“Preciso ir Granger. Nos encontramos nas masmorras para a ronda.” Ele disse friamente se levantando e saiu do aposento pisando firme.

O salão principal se encontrava cheio quando a grifinória adentrou no aposento, rapidamente reconheceu a cabeleira ruiva de Ginny e se dirigiu para sentar-se ao seu lado.

“Bom dia Ginny.” Cumprimentou a ruiva com um sorriso no rosto.

“Bom dia Mione.” Ela sorriu de volta.

“Como foi a ronda com o Zabini?”

“Estamos tentando nos entender Mione, achamos melhor não ficarmos trocando farpas para o outro. Queremos aprender a conviver com as diferenças e começar uma amizade. Deveria tentar fazer isso com o Malfoy.” Ginny a olhava carinhosamente enquanto comia seu mingau de aveia.

“É, pode ser.” Hermione corava timidamente ao lembrar-se do episódio da noite passada.

“Está tudo bem?” O olhar da amiga passava de carinhoso para preocupado.

“Preciso te contar uma coisa.”

“Então diga.” A ruiva transmitia curiosidade pela sua agitação e exibia um sorriso divertido para a morena que desviava o olhar.

“Mais tarde, na biblioteca.” Ela disse e saiu com o sinal da primeira aula.