Hermione entrou em uma cabine não muito na frente, acompanhada de Ginny que estava inquietante ao seu lado. O trem acabara de sair do lugar e começar a acelerar quando Neville e Simas se juntaram a dupla para fazer companhia.

A viagem transcorreu tranquilamente, Hermione tentava auxiliar Finnigan a realizar alguns feitiços mas como era normal de se esperar, o garoto só resultava em pequenas explosões. Longbottom explicava cuidadosamente e detalhadamente sua situação com Luna e como resolveram manter a relação em amizade, suas palavras eram claras e o tom de sua voz demostrava não haver ressentimentos.

O sol começava a se pôr quando o quarteto se deu conta de que em poucas horas estariam de volta a Hogwarts, Ginny e Hermione se dirigiram ao banheiro feminino e colocaram suas vestes. Ao voltarem à cabine a presença dos garotos não se instalava ali, dando mais privacidade as meninas parar iniciar uma conversa de assunto particular.

“Mione, o que o Malfoy queria com você em King’s Cross?” A voz da ruiva soava com curiosidade, ela olhava atentamente a castanha quando a mesma parecia intrigada com a pergunta.

“Nada, por quê?” Hermione não tirava os olhos da edição do profeta diário que estava em suas mãos. Sabia que seu rosto havia corado com simples pergunta. A temperatura de sua face aumentava gradativamente com o olhar acusativo da ruiva. Passou as mãos pelas vestes na tentativa de diminuir o suor que se instalava denunciando seu nervosismo.

“Vi você conversando com ele.” Respondeu dando de ombros.

“Não era nada demais. Eu apenas cai e ele me ofereceu ajuda.” A garota sorriu travessa mas não disse nada.

Hermione passou a admirar a paisagem que passava num borrão. Irritada, se virou para a amiga e tentou colocar um ponto final no assunto.

“Qual é Ginny? É o Malfoy. O mesmo Malfoy de antes. Por que eu iria me envolver com alguém que trata todos com inferioridade sendo eu, o seu melhor alvo?”

“As coisas mudam Hermione. Além do mais, ouvi dizer que ele está tentando mudar. Para se redimir. Você sabe que ele e a senhora Malfoy foram inocentados graças ao Harry e segundo o profeta diário ele nunca quis se juntar para o lado das trevas.” Hermione não pôde deixar de bufar mostrando irritação.

“Para mim ele vai ser o mesmo fuinha de sempre. Arrogante, prepotente, preconceituoso, egoísta e comensal que sempre foi.” Ginny deu outro sorriso de lado fazendo a amiga ficar vermelha de raiva e voltar para o seu jornal. Porém, seus pensamentos vagavam na atitude do loiro há um ano atrás. Ele realmente sabia o que estava fazendo. Se lembrou de como o loiro a ajudou mais cedo. Não sentia arrogância na sua voz. Muito menos nojo.

Ao chegarem em Hogwarts, Hermione não pôde deixar de soltar um gritinho de entusiasmo ao ver o resultado da reforma que a escola passara durante as férias. Pegou uma das carruagens que levavam os alunos até o colégio e confortavelmente começou a apreciar ainda mais a vista à sua frente. Quando deu por si já estavam parados em frente as grandes portas de madeira do castelo, entraram e deixaram suas malas no primeiro andar para Filch as levar para os dormitórios.

O grande salão era invadido por conversas e risadas assim que a nova diretora Minerva McGonagall fez seu discurso de boas vindas. Hermione acabara de se servir de purê de batatas e costelinhas quando uma garota do terceiro ano se aproximou. Com um pigarro a atenção de Hermione se voltou para a terceiranista. Com um sorriso delicado a menina chegou próximo ao ouvido de Hermione a fazendo olhar sem entender mas logo se acalmou.

“Senhorita Granger, Minerva McGonagall está chamando a Weasley e você para a sua sala assim que acabar o jantar.” Entregando um pergaminho nas mãos da morena, a loira se retirou e sentou-se no outro canto da mesa.

Olhava intrigada para o pergaminho por alguns segundos. Ao abri-lo se deparou com o que deveria ser a senha. Mostrou o papel para Ginny e voltou para o seu prato.

O jantar desenrolou-se normalmente, embora as conversas ecoassem pelo salão, não aconteceu nada de anormal para terem que se preocupar. Os fantasmas sobrevoavam todas as mesas, pirraça atormentava alguns alunos pelos corredores – aqueles que já tinham terminado suas devidas refeições – e o sir Nicholas contava sua história de como seu empenho para pegar alguns comensais durante a guerra fora um sucesso.

Assim que o salão começou a se esvaziar Hermione e Ginny se dirigiram a sala do diretor. Disseram a senha e a gárgula girou lentamente revelando a escada que dava passagem para a sala. Bateram na porta e com a resposta da professora giraram a maçaneta, McGonagall já se acomodava em sua cadeira quando as grifinórias entraram. Duas figuras já permaneciam ali sentados do outro lado da mesa, ambos não fizeram questão em olhar quem mais fora convidado para a pequena reunião.

“Sentem-se senhoritas.” McGonagall apontava para as duas cadeiras ainda vazias.

Observando mais de perto Hermione pode reconhecer uma das silhuetas sendo de Malfoy, seu braço apoiado despojadamente no braço da cadeira. O outro garoto – também sonserino – por outro lado estava exageradamente rígido em seu assento. Seus olhares se cruzaram. Por um momento o castanho mergulhou-se no cinza intenso. Aquele olhar realmente a fazia perder os sentidos. Sabe-se lá Merlin o porquê.

“Não precisa babar Granger, eu sei que sou incrivelmente irresistível.” O loiro a encarava com seu típico sorriso de deboche, fazendo a menina desviar o olhar para um ponto qualquer da sala.

“Chamei os senhores aqui porque eu, juntamente com os outros professores achamos que vocês quatro tem as qualidades necessárias para serem nomeados os novos monitores.” Ela disse claramente e todos assentiram cautelosos. “Como o senhor Malfoy e o senhor Zabini pertencem à Sonserina assim como a senhorita Granger e a senhorita Weasley à Grifinória decidimos separar vocês em dupla, Granger e Malfoy serão uma e Weasley e Zabini serão outra.” Hermione olhava atentamente para a bruxa sentada na sua frente, não pode deixar de reparar na cara de desdém do Malfoy assim que soube que iria conviver com a garota. Ignorou completamente a presença do loiro e assentiu em concordância. “O quarto da senhorita Granger e do senhor Malfoy ficará na ala leste do quinto andar, já o da senhorita Weasley e do senhor Zabini ficará na ala oeste. Podem ir agora e se ajustarem em seus respectivos quartos, creio que suas coisas já foram levadas para lá.” Dizendo isso a diretora entregou dois pedaços de pergaminho; um para Malfoy e outro para Ginny. “Esses pergaminhos contém a senha do quarto de vocês. Estão dispensados.”

Hermione saiu da sala realmente muito contente com o acontecido. Seu sonho sempre fora ser monitora e agora ninguém poderia estragar sua chance. Nem mesmo Malfoy.

[...]

Os corredores estavam vazios, só tinha os dois ali e os fantasmas que voavam tranquilamente pelo caminho. Estava relativamente tarde para que alunos estivessem fora da cama, ainda mais sendo o primeiro dia de aula, todos estariam descansando em seus salões comunais para às aulas do dia seguinte.

“Calma Granger, o quarto não vai sair do lugar.” Malfoy tentava alcançar Hermione que apressava os passos para chegar ao quarto dos monitores.

“Não pense que estou feliz por dividir o quarto com você Malfoy.” Ela cuspia as palavras mas desacelerou a caminhada para o loiro acompanhar.

“Nem eu, preferia ficar com a Weasley fêmea traidora de sangue do que com você, sujeitinha de sangue ruim.” Sua voz saia arrastada, fez questão de dar ênfase na palavra “Sangue ruim”. Sua expressão era de fácil compreensão. Mostrar seu devido lugar perante a sociedade bruxa.

Com um movimento rápido e firme, Hermione imobilizou o loiro o jogando no chão, sua varinha em punho apontava para a garganta do garoto que a olhava assustado.

“Desde criança eu praticava lutas trouxas Malfoy, elas me serviram para alguma coisa, por exemplo o belo soco que te presenteei no 3° ano.” A expressão em seu rosto era obviamente de surpresa e pânico. Malfoy nunca reagia bem quando alguém o batia de frente. “Nunca mais me chame de sangue ruim entendeu? Essa coisa de puro sangue se foi junto com Voldemort, aliás, meu sangue é mais limpo que dê muita gente da sua laia Malfoy. Estamos entendidos?” O loiro assentiu e Hermione tirou seu joelho do peito do sonserino enquanto estendia a mão para o garoto se levantar. “Sabe Malfoy, todos estão dizendo por aí que você está mudado. Essa sua atitude mostra muito bem que você não deixou alguns costumes do passado.”

“Desculpe Granger, força do hábito. Estou tentando mudar realmente mas é difícil fazer isso da noite para o dia.” Hermione podia sentir sua risada de deboche ao seu lado.

“Se precisar da minha ajuda, estou inteira a disposição.”

“Não preciso da sua ajuda Granger.” Hermione revirou os olhos e continuou a procurar o quarto. “É aqui.” O loiro apontava para um quadro onde um pegasus batia as asas gentilmente, em seguida o grande cavalo alado se curvou formando uma reverência. O pegasus era incrivelmente bonito. Seus pêlos eram negros e seus olhos reluziam um azul tão profundo que era possível enxergar a alma do animal. Ele era indiscutivelmente perfeito. “Diga a senha Granger.”

“Cerveja amanteigada.” O quadro se abriu revelando uma grande sala. O porcelanato iluminava o aposento com seu tom em branco, as paredes auxiliavam ainda mais na iluminação, a nuance de beje nas paredes contrastava com o branco do piso. Ao centro uma mesa preta acompanhava um conjunto de um enorme sofá e poltronas da mesma cor que se encontravam na lateral do grande assento. Um lustre enorme em cristais pendia sob o teto deixando a sala impecável. “Isso é lindo.”

“Muito.” Aprofundaram-se para observar os detalhes mais de perto. A sala era de tirar o fôlego.

O único corredor pertencente no cômodo possuía três portas: uma à direita, uma à esquerda e uma no fundo. Abriram primeiro a porta da direita. Um quarto verde e cinza – deduziram ser o quarto de Draco – com móveis em madeira pura, uma cama, uma escrivaninha e um pequeno guarda roupa. Era o suficiente para o deixar com um ar confortável. A porta da esquerda era evidentemente o quarto de Hermione. Malfoy não aguentou a curiosidade e deu uma espiada. O quarto não mudará quase nada. As paredes eram invadidas por um vermelho vivo. Hermione não perceberá a presença do loiro no batente da porta. A mesma sacou a varinha e conjurou vários ursinhos de pelúcia em formato de leões. Draco ao observar essa cena, apenas sorriu. Como aquela menina durona gostava de coisas fofas?

“Não sabia que a sabe tudo Granger gostava de ursos de pelúcia.” A voz do garoto fez Hermione se sobressaltar com o espanto. Malfoy cruzava os braços com um mero sorriso nos lábios.

“Não sabia que o sangue puro Malfoy soubesse o que é uma pelúcia.” Hermione ainda se concentrava em seus feitiços.

“Também temos brinquedos no mundo bruxo Granger. Claro que os nossos são enfeitiçados mas ainda são pelúcias.” Ele descruzou os braços e colocou as mãos nos bolsos da calça. “Vamos ver o banheiro.” Malfoy se dirigiu para a porta e a abriu.

O banheiro era simples. Uma banheira grande, um box com um chuveiro, um balcão com um enorme espelho, duas pias e inúmeras toalhas. Draco fechou a porta e foi em direção ao seu quarto, Hermione ficou parada à sua frente na entrada do seu dormitório grifinório.

“Boa noite Hermione.” Draco girou a maçaneta e entrou, deixando uma Hermione confusa para trás.

“Boa noite Draco.” Sussurrou.