Os filhos do tigre escrita por Anaruaa


Capítulo 13
Anik 2




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Eu conheci a mulher da minha vida havia menos de um ano e nós já estávamos casados. Mas se dependesse apenas de mim, eu teria me casado com Radha muito antes.

Radha era uma mulher maravilhosa, mas também era teimosa. Ela sabia quem eu era: o avatar do Deus Ganesh e dizia-se minha serva. Eu lhe dizia que não a queria como serva, mas como companheira de vida, mas ela recusava-se. Com muita paciência, eu consegui mostrar a ela que seu destino era ser minha esposa. Ela me aceitou e hoje estamos casados. 

Depois que conheci a história da minha família, eu saí em uma viagem aos lugares mágicos onde meus pais tiveram suas experiências místicas e onde eu vivi em outra vida. A experiência foi incrível e realmente me mudou. Eu queria largar tudo e viver como um iogue. Foi Radha quem me impediu, dizendo que meu destino nessa vida era outro. Radha me disse que, em breve, eu teria que ajudar a minha irmã em sua missão.

Resolvi voltar aos Estados Unidos para terminar a faculdade. Radha e eu viveríamos na casa de meus pais até eu me formar, depois construiríamos um lar para nós dois. Nós viajamos dois dias depois da cerimônia de casamento, no avião particular da família. Meus pais e Kamala viajaram conosco. 

Nos últimos meses, minha irmã e eu nos afastamos um pouco. Kamala não parecia gostar da pessoa que eu me tornara. Eu sentia que ela evitava ficar perto de mim e fugia das conversas que eu tinha com ela. Isto me deixava triste. 

Durante o voo, notei que Kamala passava muito tempo ao computador ou ao telefone. Eu a via sorrindo e percebi que ela parecia feliz. Mas ela estava distante de mim. Eu queria conversar com ela, como fizemos a vida toda, mas eu fiquei com receio de ela me afastar. Foi Radha quem notou minha hesitação. 

— Meu amado marido, por que você não vai falar com sua irmã? Eu vejo você olhar para ela tão triste.

— Não sei Radha. Kamala está diferente comigo. Ela parece estar me evitando. — Olhei para a minha esposa — Será que ela está com ciúmes?

Radha sorriu para mim. 

— Não está não. Sua irmã está com medo. Ela sabe que você mudou, mas ela não entende essa mudança. Seja leve Anik, seja suave. Você sempre cuidou de Kamala e sempre cuidará. Você não precisa mudar nada em relação a ela. Kamala não precisa de um iogue, nem de um Deus. Ela precisa do irmão dela. 

Minha esposa tinha razão. Kamala era minha melhor amiga. Eu mudei bastante, e rápido demais, minha irmã ainda não tivera tempo de se acostumar com isso. Mas nada fazia sentido se me afastasse de Kamala. Dei um beijo breve em Radha, levantei-me e fui até minha irmã.

Kamala estava com o celular na mão e sorria, enquanto lia alguma coisa na tela do aparelho. Parei de pé ao seu lado e falei em tom de brincadeira:

— Posso saber o que há de tão interessante nesse celular, irmãzinha.

Kamala me olhou surpresa e corou. 

— Ah, nada demais. Apenas algumas mensagens. 

— Ah, sim, imagino. Só fico me perguntando quem seria o autor de tais mensagens, que te fazem sorrir desta forma.— Falei brincalhão.— Então Kamala, você está apaixonada?

Kamala ficou desconcertada, tentando disfarçar enquanto eu a encarava com um sorriso torto. Então ela abriu um grande sorriso e apontou o lugar a seu lado para que eu me sentasse. 

— Estou sim. Muito apaixonada. E é a primeira vez que eu me sinto assim. 

Eu sabia que não era verdade. Kamala foi apaixonada por Sohan durante sua adolescência. Mas não valia a pena citar esse fato. 

— E quem é o cara?

— O nome dele é Robert. Ele é professor na universidade e nós estamos namorando há cerca de um mês.

—Professor? 

— É. Mas ele é jovem. Só é muito inteligente. Assim com o você, irmaozão. 

— Quão mais velho? — Perguntei preocupado. 

— Ele tem 30 anos, Anik.

— Papai já sabe?

— Não. Nem ele, nem mamãe. 

— Hum. Não quero estar perto quando você contar a eles.

Nos primeiros dias depois de chegarmos em casa, recebi a visita de vovó Sara e vovô Mike, pais adotivos de mamãe, e de seus filho Samuel e Rebecca. Eles não puderam ir ao meu casamento na Índia, então foram conhecer Radha. 

— Nossa, você é linda! Meu Deus, como os indianos são lindos! — Disse vovó. 

— Não é vovó? Radha é a mulher mais linda de todo o mundo!

— Ela é uma das mulheres mais bonitas do mundo. — Corrigiu papai — Digamos que ela combina com as outras mulheres da família. 

Todos rimos animados.

Mais tarde, vovó reclamou de sua dor na coluna, dizendo que não conseguia sequer fazer caminhadas. Vovó Sara e vovô Mike, desde sempre foram adeptos a um estilo de vida saudável. Ambos praticavam exercícios e corriam todos os dias. Além disso, eram vegetarianos e optavam por alimentos orgânicos e pobres em carboidratos. Por isso, o fato de vovó estar enfrentando problemas de saúde preocupava a todos. 

— Já levei a mamãe em vários médicos, tentamos acupuntura, massagens, mas a dor ainda continua. — Disse Rebeca. 

— Talvez eu possa ajudar. — Disse Radha.

Radha ofereceu-se para tratar de Sara. Ela tinha conhecimentos de medicina ayuvérdica, e em poucos dias de tratamento, a dor de Sara tinha diminuído. Ela começou a praticar ioga com Radha, e trouxe outras pessoas para praticar também. 

Enquanto eu estudava, Radha passou a ensinar ioga. Papai alugou um pequeno estúdio perto de casa para ela receber seus alunos, que não paravam de surgir. 

Um mês após nossa chegada aos Estados Unidos, Kamala trouxe Robert para conhecer nosso pais. Mamãe gostou dele de cara, mas papai foi mais resistente. Robert era muito simpático e acabou conquistando papai em pouco tempo. 

Além de professor, Robert era consultor financeiro e prestava serviços a várias empresas. Papai ficou muito interessado e recebeu alguns conselhos do namorado de minha irmã. Os olhos de Kamala brilhavam quando Robert falava de negócios. Eu via que minha irmã estava apaixonada, só não tinha certeza se era pelo homem, ou por seu conhecimento. 

Terminei o último semestre na faculdade e finalmente me formei. A cerimônia de formatura contou com a presença de todos os meus parentes dos Estados Unidos, incluindo minha irmã e seu namorado. Sohan me ligou pela manhã para dizer que não poderia ir à cerimônia e me parabenizando pela conquista. 

Logo após me formar, Radha e eu resolvemos construir nossa casa. Eu comecei a dar aulas de história e Radha continuou dando aulas de ioga. Compramos uma fazenda no Óregon e construímos nossa casa. Ela era pequena, mas aconchegante, lembrando mais a cabana de Phet do que a casa de Nilima ou de meus pais. Nós gostávamos de viver de maneira simples e o mais natural possível. Havia um riacho que passava na propriedade, e nos dias mais quentes, tomávamos banho nele. Nós cultivávamos hortaliças e procurávamos produzir o máximo das coisas que precisávamos para nosso sustento. Construímos uma pequena estufa para produzir alguns vegetais, que normalmente não cresceriam no clima do Óregon. Tínhamos duas vacas que nos forneciam leite e um pequeno apiário, de onde obtínhamos mel. Nós produzíamos um delicioso iogurte, fermentado naturalmente e adoçado com este mel. 

As pessoas que vinham nos visitar, encantavam-se com nosso pequeno refúgio. Muitos alunos pediram para fazer as aulas de ioga na fazenda. Radha gostou da ideia e transferiu seu estúdio para a fazenda. As pessoas chegavam e não queriam ir embora. Alguns chegavam nas primeiras horas da manhã e iam embora apenas à noite. Eles ficavam na fazenda trabalhando nas hortas, cuidando dos animais ou ajudando na cozinha. Radha começou a ensinar sobre a cozinha védica e os segredos das ervas. 

Nossa casa estava sempre cheia, então resolvemos construir outras casas, para que as pessoas pudessem ficar, se assim desejassem. 

Um ano após nos mudarmos, nossa fazenda tinha muitos moradores. Vivíamos como uma comunidade, trabalhando juntos em prol de todos. Havia paz e harmonia em nossas vidas simples. Pessoas de diferentes lugares do mundo vinham nos visitar, muitos deles ficavam. 

Nossa comunidade foi crescendo e nós adquirimos outras propriedades para receber a todos. Eu não desejava outra vida, não desejava deixar meu lar. 

Mas quando o mau se mostrou, eu tive que ajudar minha família a combatê-lo.


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