Os filhos do tigre escrita por Anaruaa


Capítulo 12
O casamento - Sohan




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/762389/chapter/12

 

 

Então, meu irmão se casou. 

Anik nunca tinha se apaixonado antes, nem era do tipo romântico, mas quando conheceu Radha, ele apaixonou-se perdidamente.

Radha era de uma casta abaixo da de Anik, mas ele não se importou. Ele a conquistou e casou-se com ela. 

Quando mamãe levou Radha para a nossa casa, eu já estava morando nos Estados Unidos. Pouco tempo depois, Anik a conheceu e a levou em uma viagem mística pela Índia, e quando voltaram, anunciaram o casamento. Eu só a conheci nas vésperas da cerimônia. 

Embora não a conhecesse, eu soube que Radha era especial. Mamãe sempre falou bem dela e fez questão de levá-la para trabalhar em nossa casa, mesmo não gostando de ter empregados em casa. Radha conquistara mamãe, e minha mãe não era fácil de se conquistar. Radha a ensinou a praticar ioga, e isto a deixou mais calma e equilibrada, o que era ótimo. 

Além disso, Radha conquistou o coração de meu amigo Anik, algo inédito. Era óbvio que a garota era especial. 

Eu fiquei muito surpreso quando Anik me ligou dizendo que iria se casar. Ele já havia me contado sobre a relação dos dois, dizendo que estava apaixonado, mas que Radha recusava-se a ter um relacionamento com ele. Depois ele me disse que estava praticando a ioga e que sairia em uma viagem com Radha, visitando templos e cidades sagradas por toda a Índia. Eu recebi muitos cartões postais e mensagens espirituais, do antes agnóstico e agora crente, Anik. Eu sempre lhe perguntava sobre sua relação com Radha, mas ele evitava falar no assunto, dizendo apenas que "tudo acontece no tempo certo". Então, um dia, ele me disse que tinham ficado noivos. 

Radha não tinha família. Ela foi abandonada pelo pai e criada por um velho xamã que já havia falecido. Por isso, meus pais fizeram questão de realizar a cerimônia tradicional para os noivos. Meus pais e eu representamos a família da noiva. 

A cerimônia não durou sete dias, como é comum, mas apenas três. No primeiro dia, as mulheres reuniram-se para os banhos e preparativos da noiva. Na noite anterior ao casamento, houve o Sangeet. Todos estávamos muito felizes pelos noivos e nos divertimos muito. As mulheres estavam muito enfeitadas e brilhantes. Mamãe e tia Kelsey pareciam rainhas, de tão belas. Mas a mulher mais bela de todas, era Kamala. 

Eu não a via há algum tempo, apesar de estudarmos na mesma faculdade. Eu adiantara algumas matérias do curso para me formar antes. Fiz isto à pedido de minha mãe, que desejava deixar os negócios nas empresas Rajaram para se dedicar a outras atividades, junto com meu pai. Por este motivo, meus horários eram muito apertados e eu não fazia as mesmas aulas que Kamala, então, nós nos víamos poucas vezes. Assim que a vi, fiquei mais uma vez fascinado por sua beleza. 

Kamala usava uma Lehenga azul clara, com bordados prateados, assim como o choli de mangas curtas. A dupata estava jogada por seus ombros e uma longa trança, enfeitada com joias douradas, caia por suas costas. Ela usava um pesado colar dourado, uma argola com contas douradas nas orelhas e um bindi em sua testa. Sua mão estava pintada com o Mehndi e ela usava uma pulseira escrava. Ela me viu e sorriu para mim, acenando com a mão. Meu coração disparou e eu acenei de volta. 

Eu não pensava mais em Kamala havia algum tempo. Eu cheguei a pensar, por alguns anos, que ela era a mulher da minha vida, pois eu estive apaixonado por ela durante toda a minha adolescência. Mas, ao estudarmos juntos, sermos vizinhos e ainda assim, não retomarmos a amizade que tínhamos na infância, pensei que eu estava errado. Kamala era apenas um amor platônico, desses que uma pessoa nunca esquece, mas que nunca vive. Como Anik tinha previsto, meus planos de reaproximar-me de Kamala não deram certo. Assim, comecei a namorar Andrea.

Andrea era um pouco mais velha do que eu e me encantou. Eu fiquei com ela por acaso, em uma festa, a qual eu tinha ido por causa de Kamala. Eu não esperava gostar de Andrea, mas ela era gentil, educada, carinhosa, atenciosa e bonita. Nós estávamos juntos há quase dois anos. Ainda assim, eu não a levei à Índia, não sentia que ela era a mulher que eu queria apresentar a meus pais. 

Kamala aproximou-se de mim e começou a conversar. Eu fiquei surpreso.

— Olá. Então você é o irmão da noiva? — Ela perguntou rindo.

— Ah, sim. E do noivo também! — Respondi, arrependendo-me em seguida.

Kamala riu e colocou a mão na cintura, balançando a outra mão diante de mim.

— Ah, não senhor. Não me venha roubar o irmão!

Nós dois rimos animados. Kamala estava bem humorada. Parecia satisfeita.

— Você deve estar feliz por causa de Anik, não é Kamala?

Ela olhou para mim, sorrindo, com os olhos azuis cheios de lágrimas. 

— Sim. Estou feliz e muito emocionada. Nunca achei que Anik se casaria antes de mim. Ele nunca se apaixonou por alguém antes.

— E você já se apaixonou? — Perguntei sério.

Kamala parou de sorrir e me encarou por alguns segundos, antes de responder:

— Nada sério. 

Nós dois ficamos em silêncio, nos encarando por vários segundos. Kamala baixou a cabeça, sem graça, então mudou de assunto.

— Papai me disse que tia Nilima quer se aposentar. Não achei que isto fosse acontecer um dia! — Kamala riu.

— Sim. Depois que mamãe começou a praticar ioga com Radha, ela mudou muito. Está mais equilibrada e menos ligada ao trabalho. Ela me disse que quando o senhor Kadam estava vivo, ela tinha outras atividades além de cuidar das empresas e que, naquela época, ela era mais ligada às coisas espirituais. Ela sente falta desse tempo e quer se desligar dos negócios para viver uma vida plena com meu pai. Por isso estou adiantando as matérias da faculdade. 

— E quando você se forma?

— Daqui há um ano.

— Rápido! Então você vai assumir o lugar de sua mãe na empresa?

— Sim. E vou trabalhar com seu pai.

Kamala me lançou um olhar enigmático e franziu a testa levemente.

— Por enquanto. 

Ela então me pediu licença e saiu para falar com Radha. Nós não nos falamos mais naquela noite.

Eu era o padrinho do noivo, então, o acompanharia no trajeto até a casa da noiva, onde a cerimônia seria realizada. Eu dormi no hotel, assim como meu tio Ren e Anik. Na manhã seguinte, seguindo as tradições, atravessamos a cidade, montados em cavalos. Anik vestia os trajes nupciais típicos e estava muito emocionado. 

A noiva estava linda, usando um traje de casamento tradicional, vermelho e coberta de joias, presentes de mamãe e tia Kelsey. Todas as mulheres da família tinham as mãos pintadas com o Mehndi. Radha tinha pinturas nas mãos e pés. Anik estava radiante quando entrou.

Eu, como padrinho, acompanhei o noivo, enquanto Kamala, a madrinha, ficou ao lado da noiva. Nós ficamos de frente para o outro e eu não consegui evitar olhar para ela. 

Desta vez, Kamala usava um Saree rosa, com bordados dourados e pedras. Seus cabelos estavam presos na nuca e ricamente enfeitados com pedras preciosas. Ela usava muitas joias e parecia uma noiva. Nós nos olhamos e sorrimos para o outro. Eu estava encantado por ela. Ela parecia emocionada por causa do irmão. De vez em quando, Kamala notava que eu a olhava e corava ou baixava os olhos desconcertada. Eu estava completamente enfeitiçado por ela.

Enquanto Anik e Radha circulavam o fogo sagrado recitando seu juramento, eu me imaginei em seu lugar. Eu desejei viver aquilo, casar-me, ter uma família, filhos, com uma mulher linda e especial, capaz de fazer meu coração bater com força. 

Eu imaginava que a mulher da minha vida me faria sentir com mais intensidade, me faria respirar mais profundamente e meu coração bater com mais força. E somente uma mulher me fazia sentir algo assim. 

Durante a cerimônia de casamento do meu melhor amigo, eu cheguei a conclusão de que só havia uma mulher a quem eu desejava. E decidi que eu nunca mais tocaria outra mulher, até o dia em que Kamala fosse minha.

O casamento aconteceu no período de férias, então eu não voltei imediatamente aos Estados Unidos. Anik e sua esposa foram aos Estados Unidos com sua família. Eles viveriam naquele país, na casa de Kelsey e Ren, até que Anik terminasse a faculdade. Eu me despedi deles, mas fiquei na Índia por algumas semanas, trabalhando com minha mãe, depois fui ao Japão, continuar o estágio na sede japonesa das Indústrias Rajaram. 

Assim que voltei aos Estados Unidos, terminei o namoro com Andrea. Eu estava determinado a conquistar Kamala. Eu não tinha mais nenhuma dúvida de que a amava. E estava seguro o suficiente para confessar meus sentimentos e implorar a ela por uma chance. Não falei sobre isso com ninguém, nem mesmo com Anik. Este seria um momento meu e de Kamala e só dizia respeito a nós dois. 

Eu estava ansioso para vê-la. Eu já estava nos Estados Unidos há algumas semanas, mas ainda não tinha me encontrado com Kamala. Então resolvi ir à sua casa depois da aula. 

Saí de casa por volta das seis da tarde e fui caminhando. Nós morávamos perto um do outro e eu aproveitei a caminhada para pensar no que eu ia dizer a ela. Eu planejei dizer que gostava dela há muito tempo e que todas às vezes em que tentei dizer a ela, eu fiquei nervoso e falei alguma besteira. Mas acima de tudo, o que eu queria dizer, era que eu amava e que esperaria por ela pelo tempo que fosse preciso. A partir daquele momento, eu pertenceria apenas a ela. 

Quando eu estava próximo à casa de Kamala, vi um carro parar ali em frente. Um homem desceu do carro e caminhou até a porta. Eu o conhecia. Era o professor Robert Simon. O que ele fazia na casa de Kamala?

Professor Robert vestia um terno preto, alinhado e segurava um buquê de flores em sua mão. Ele apertou a campainha e a porta se abriu. Kamala saiu e estava linda, usando um vestido azul escuro, curto, mas elegante. Ela jogou os braços ao redor do pescoço do professor e os dois se beijaram apaixonadamente. Eu havia demorado demais...

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Os filhos do tigre" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.