Uma semana antes da chegada em Boulder City.

— Eu sabia! — Rosemary exclamou, batendo a mão na mesa. — Sabia que terminar com o Charles não ia te fazer bem, Vanessa! Eu te disse para não dispensar aquele menino.

— O Charles era um idiota, mãe! — rebati indignada.

— Ele te mantinha com os pés no chão! Te fazia focar onde importava, Vanessa!

Engoli tudo o que eu queria dizer. Era sempre assim. Eu tinha energia para rebater um, dois ou três dos absurdos que mamãe falava quando nós tinhamos essas conversas, mas ela afirmar que Charles me fazia bem só porque ele cortava minhas asas e me atava ao caminho que meus pais traçaram para mim foi um pouco demais.

— Vamos com calma, né? — Jeremy interveio. Não tinha esperanças de que ele diria algo que fizesse sentido ao meu favor, porém eu já era grata pelo fato dele ter brecado a torrente de asneiras que saía da boca de Rosemary. — Já conversamos sobre isso e chegamos à conclusão que Charles não fazia bem para a Vanessa.

— Não fazia bem? Ela se sentia desconfortável com ele, Jer! Tudo pode causar desconforto — mamãe disse, respirando fundo.

— Eu nunca disse desconfortável — falei, com voz e cabeça baixas. — Disse que ficava ansiosa o tempo todo. Apreensiva. Não me sentia bem e ponto.

— É desconfoto! — insistiu ela. — Vanessa não é nenhuma criança. Está na hora dela criar vergonha na cara e entender que relacionamentos são complicados — finalizou e eu resolvi me calar. Minha energia para rebater havia acabado. Agora, começava o monólogo.

— Não importa o que era. Essa assunto já está encerrado — Jeremy falou. — Por que você mentiu para nós, Nessa?

— Porque eu sabia que vocês não iam aprovar — resmunguei. Eu já sentia o nó se formando em minha garganta.

— Então por que você foi lá e fez ainda assim? — perguntou mamãe.

— Porque eu queria — falei. — Porque ainda é o que eu quero. Por que é tão difícil para vocês me deixarem decidir o que fazer com a minha vida?

Mamãe suspirou profundamente, como se eu tivesse acabado de falar o maior absurdo do mundo.

— Porque, Vanessa, você só tem dezesseis anos! Não tem nem ideia do que é ser adulta! — minha mãe disse.

— Eu deveria descobrir sozinha, não acha?

Rosemary se levantou da cadeira e saiu da cozinha sem dizer mais nada. Ao chegar no outro cômodo eu ouvi o barulho do telefone sendo discado e então palavras sussurradas. Engoli a saliva com força, apreensiva. Só deus sabia que tipo de tortura ela estava planejando. Poucos minutos se passaram antes que ela retornasse.

— Você quer ser adulta? Quer ter responsabilidades? — perguntou. — Pois bem. Sua avó está muito doente, Vanessa. Você vai passar os últimos dois meses do verão cuidando dela para aprender a ser adulta, criar responsabilidades e, acima de tudo, pensar muito bem no rumo que você quer que sua vida tome. Do jeito que está não dá.

— Tá — concordei contrariada. — Que dia ela chega? — perguntei, cruzando os braços.

Rosemary riu.

— Ela não vem pra cá. Você vai para lá — esclareceu e eu só quis morrer.

Eu passaria os últimos dois meses do verão em Boulder City.