A Bela Fera escrita por HeyIvye


Capítulo 6
Stained Beauty


Notas iniciais do capítulo

Penúltimo capítulo e o negócio ficou sofrido viu. Quando escrevi ela, eu totalmente esqueci que o desafio só permitia 6 capítulos. ksksksks Mas tentei não correr muito com nada. Espero que gostem, beijinhos e até as notas finais.



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O sol bateu forte no rosto de Jungwoo quando as cortinas do quarto foram abertas bruscamente. Ele tomou alguns segundos para se situar no mundo, a confusão de alguém recém acordado triplicada pelo susto. Jogou o grande lençol por cima de seu rosto para fugir da luz mas também sentiu o mesmo ser puxado a seus pés. Levantou a cabeça consternado e viu, na névoa do sono, o vulto de Taeyong a beira da cama.

Esfregou os olhos algumas vezes para tentar firmar sua vista. Ouviu uma risada baixa e reabriu seus olhos, resmungando mal humorado.

— Vamos lá dorminhoco, acorde. Tenho algo para mostrar a você.

Jungwoo resmungou algo indecifrável e pediu 10 minutos para aprontar-se, que já iria descer. Ainda rindo, Taeyong saiu do quarto com a promessa de que voltaria para atormentá-lo se não estivesse pontualmente lá embaixo para o chá da manhã.

Ele banhou-se com cuidado para não molhar o curativo, e enquanto estava se dirigindo a cozinha, as imagens do dia anterior voltavam a sua cabeça. Havia descoberto parte da história de Taeyong e sua relação com as flores, algo lhe possuiu e tentara beijá-lo e foi rejeitado. Ficou sentado, estarrecido e envergonhado, naquele banco pelas próximas horas até que caiu uma chuva forte. Sem forças, havia voltado calmamente para a mansão e, ao chegar – molhado e humilhado – encontrou Taeyong no hall de entrada com uma expressão preocupada. “Eu já estava indo buscar você de volta nos jardins. Olhe só pra você, todo molhado. O que diabos aconteceu? Você se perdeu?”

E continuou falando sobre o quantoo outro deveria ser prudente e cuidar de sua saúde. Enxugou e trocou o curativo de Jungwoo, que se manteve calado frente aos questionamentos do outro. Que se esforçou de forma hercúlea para preencher o silêncio até que ambos se encaminharam para seus quartos de dormir.

E lá estava novamente, Taeyong lhe servindo café, sorrindo e sendo gentil como se o que houvera ontem tivesse sido um sonho de Jungwoo. Estava confuso, mas devolveu os sorrisos e resolveu agir como tal da mesma forma. Resolveria aquilo mais tarde. Primeiro queria saber o que Taeyong iria mostrá-lo que precisou levantar-se tão logo o sol surgira.

Se encaminhavam para a parte de trás do Castelo quando Jungwoo resolveu questionar o que iriam fazer.

— Estamos indo até os estábulos. Vamos ver como está o seu cavalo e dar um passeio com ele. Tem um caminho por ali – apontou para a direção em que estávamos indo – que dá em uma enorme cachoeira. Pensei em levá-lo para conhecê-la.

Sorriu.

— Garanto a você que nunca verá paisagem mais bonita que a que iremos visitar. Se você quiser, é claro. Falou rapidamente a última frase, olhando-me de soslaio.

Sorri para ele e somente quando chegamos nos estábulos e me garanti que meu cavalo estava em ótimas condições, que aceitei sua proposta.

— Onde está o seu cavalo? – Perguntei olhando ao redor.

— Em lugar algum porque não possuo um. – Disse, parecendo divertido. – Iremos até nosso destino no mesmo cavalo.

Engoli em seco. “Está tudo na mais perfeita ordem Jungwoo, você consegue.” Pensei. Era a minha oportunidade de atormentá-lo um pouco como fizera comigo ontem.

— Tudo bem. Mas eu irei guiá-lo, você vai comigo. Falei.

Taeyong sorriu largo. – Acredito que o certo seria eu guiar nós dois até lá visto que eu sei o caminho e você não.

— É só você me dizer o caminho a seguir. Chegaremos lá da mesma forma.

— Por favor me deixe guiar. Já fazem anos que eu não tenho o prazer de montar um. – Falou.

O amaldiçoei em silêncio, concordando em deixá-lo guiar desta vez. – Mas a volta será minha. Nenhum acordo a partir disso.

Alimentamos o animal, e eu o selei enquanto Taeyong limpava a baias.

Eu subi primeiro ficando mais atrás do cavalo para que ele pudesse subir a minha frente, mas ele balançou a cabeça em negação.

— Vá mais pra frente. Disse. Me dei conta do que ele queria fazer e não, de jeito nenhum eu permitiria.

— Você está maluco, de jeito nenhum que você me levará a sua frente no cavalo, como... Como uma mocinha.

Ele riu alto dessa vez, o som profundo acariciando meus ouvidos. Eu não ia ceder, de modo algum.

A minha careta só se aprofundava a medida que seguíamos floresta adentro. “Como diabos eu permiti que ele me levasse a sua frente no cavalo?”.

Jungwoo ficará mortificado quando perdera o jogo rápido de números que fizeram para decidir quem ficaria na frente de quem. Nunca havia perdido nesse jogo antes e justamente agora isso aconteceu. Cruzou os braços no peito, indignado que seu corpo estava reagindo a respiração quente de Taeyong no seu ouvido e dos braços fortes ao seu redor segurando a sela. Odiava a necessidade que sentia de encostar-se em seu peito quando estava tão indignado e humilhado. Odiava que ele o afetava dessa forma quando estava tentando manter-se com raiva.

— Você vai assim, rígido e bravo, o caminho todo até lá?

Taeyong falou. Eu podia sentir o riso na sua voz. Meus pêlos se arrepiaram na proximidade de sua voz da área sensível atrás da minha orelha. O cutuquei com o cotovelo no seu estômago para esconder a excitação atrás da irritação.

O que não ajudou em nada. Ele curvou-se ligeiramente, gemendo de dor e seus lábios encostaram na ponta do meu ouvido. Eu queria xingar alto em frustração.

 Teve um momento que precisamos nos desviar da trilha. Taeyong explicou que a tal cachoeira ficava logo mais a frente. Eu agradeci a todos os deuses por isso.

— A trilha leva para onde? - Indaguei.

— Ela vai até a beira do rio. O mesmo onde a cachoeira desafoga. Respondeu ele.

— Você vai muito até lá? – Virei me para olhá-lo.

— Hoje não mais. Disse apenas.

Depois de alguns minutos, o ar começou a ficar mais frio e úmido. Pude ouvir mais a frente, o barulho da água. Quando saímos do bosque denso pude então entender. Taeyong havia dito que não existia paisagem mais bonita que essa e não poderia deixar de concordar. Parecia que a cachoeira era portal para um outro mundo. A água cristalina parecia brilhar quando atingida pelos raios do sol, a grama aos arredores era tão verde quanto a do belo jardim do castelo. Vi algumas lebres que em nada pareciam afetadas pela nossa presença, correndo pelas bordas da água.

Taeyong parou o cavalo debaixo da sombra de uma árvore grande e desci como se algo em mim estivesse pegando fogo. Bem, talvez estivesse mesmo.

Fiquei retirando partículas de poeira e pêlos inexistentes em minhas roupas para não ter que encará-lo enquanto atava meu cavalo a árvore.

— O que achou?

Levantei a cabeça bruscamente para olhá-lo mas ele não estava olhando para mim, seus olhos estavam passeando por todo o local. Quando finalmente Virou-se para mim foi a minha vez de desviar o olhar com a desculpa de que estava analisando o meu entorno.

— É absolutamente maravilhoso. Quase tanto quanto seu jardim.

— Sim, é lindo.

Eu poderia jurar que seu tom de voz havia ficado ainda mais profundo. Quando o olhei ele estava me encarando. Fingi uma tosse, meu rosto deveria estar vermelho em todos os extremos. Maldito homem.

Ele então, tirou a bolsa que havia trazido consigo e nela tinha uma toalha, alguns recipientes fechados e várias frutas. Franzi o cenho.

— O que é tudo isso? – Questionei.

— Bom, pensei que, já que estaríamos aqui uma boa parte do dia, poderiamos muito bem fazer um piquenique aqui. Não há lugar melhor.

Arrumamos tudo na toalha branca. Taeyong realmente tinha se preparado. Havia muita comida ali e tudo parecia incrivelmente delicioso. Fizeram a refeição enquanto conversavam amenidades. Jungwoo falou sobre a vila que fica aos arredores do enorme campo do castelo, falou de sua rotina, das inúmeras fugidas que deu com as criadas e dos breves momentos com homens em becos escuros longe da vista de qualquer outro ser.

Em dado momento, Jungwoo perdeu-se na conversa. Taeyong estava rindo alto de algo que ele falara e seu semblante parecia pacífico. Lembrou-se novamente de como ele cuidou dele na noite anterior, como ele preparou com tanto esmero o piquenique na cachoeira para os dois. Jungwoo não podia encontrar uma palavra para o que sentia em seu peito naquele momento. Era um misto de admiração, com respeito, carinho, atração e curiosidade. Queria extrair tudo o que pudesse daquele homem. Se antes queria ser consumido, agora queria consumi-lo e devorá-lo. Fazê-lo esquecer toda a solidão que transmitia em seu olhar.

Taeyong percebeu que o outro havia se calado e o olhou com curiosidade. Estavam ambos deitados na toalha, com os cotovelos apoiados no chão e, com o susto do que viu na expressão de Jungwoo, ele tentou se levantar.

Mas o que não esperava era que, em um ímpeto, fosse empurrado de volta ao chão por um Jungwoo muito determinado. Ele rapidamente se encontrou deitado com o outro sentado em cima dele, os joelhos em cada lado de seu corpo, e as mãos em cima de seus pulsos, o prendiam no lugar.

Jungwoo olhou para ele com um brilho em seus olhos. Entrelaçou seus dedos e Taeyong perdeu todas as forças para afastá-lo. Estava perdido.

Eles ficaram assim, encarando um ao outro, por alguns segundos até que Jungwoo começou a aproximar seus rostos. Devagar, como se tivessem todo o tempo do mundo, chegou mais e mais perto. Não iria desistir dessa vez. Sabia que o outro queria isso tanto quanto ele. Chegaram novamente ao ponto onde suas respirações misturavam-se, seus olhares já não poderiam manter-se unidos. Taeyong olhou em desespero para ao boca do outro e no momento que seus lábios iriam se unir no mais doce beijo, ele virou o rosto e Jungwoo atingiu sua bochecha no lugar.

Ele tentou de novo pescar sua boca mais duas vezes após isso, sem sucesso. Frustrado, Jungwoo libertou uma das mãos de Taeyong para segurar seu queixo.

— Porquê? – Falei. - Hein? PORQUÊ TAEYONG? Pare de ser quente em um momento e gelado no outro. Fale comigo.

Taeyong manteve-se com o olhar firme em Jungwoo.

— Não fique só aí, me olhando com raiva. Eu exijo uma resposta.

— Você exige coisas demais. – Falou.

— Oh, acredite em mim, eu não venho exigindo nada de você que não fosse mínimo.

— Você não entenderia.

Jungwoo soltou o queixo de Taeyong e, saindo de cima dele se jogando no espaço ao lado. Passava as mãos nervosamente pelo rosto.

— Me diga! Eu não tenho como entender algo do qual não possuo conhecimento a respeito. Por favor Taeyong, tudo o que eu quero é entender.

— Eu... eu não posso... Arg! – Taeyong se levantou e começou a andar de um lado para o outro.

— Eu não posso. Não posso fazê-lo entender.

Jungwoo também se levantou. Taeyong entrou em pânico ao ver a lágrima descendo pelo rosto do outro, que a limpou rapidamente.

— Não pode ... ou não quer?

Ao se ver sem respostas mais uma vez, Jungwoo pegou seus sapatos do chão, desamarrou o cavalo e subiu nele. Taeyong tentou impedí-lo.

— Espere, não vá. Você pode se perder na volta.

Jungwoo bateu em sua mão, a raiva subindo ainda mais rápido a sua cabeça. Ele gritou um xingamento para Taeyong e apertou as rédeas do cavalo, disparando pela floresta. Voltaria para casa hoje mesmo!

—------ *** --------

Após alguns minutos de cavalgada, Jungwoo avistou o castelo. Quando chegou as baias, pôde ouvir uma movimentação em frente ao mesmo. Vozes altas e relinchar de vários cavalos. Saiu correndo pelo lado dos grandes muros em direção as vozes. Tal qual foi sua surpresa ao encontrar seu pai, Haechan e alguns dos melhores guardas do castelo postados a porta da frente. O primeiro a avistá-lo fora seu irmão. Haechan correu até ele, o abraçando fortemente.

— Irmão, oh graças aos deuses você está vivo e bem.

Jungwoo franziu o cenho na recepção exagerada.

— Sim eu estou bem. – Dirigiu-se então a seu pai. – Pai, o que estão fazendo aqui? Como me encontraram.

Seu pai, que descera do cavalo enquanto Jungwoo falava com seu irmão, correu até ele olocando ambas as mãos em seu rosto.

— Meu filho, não há tempo para explicações. Precisamos sair daqui AGORA.

— O quê? Não entendo porque estão todos tão assustados. Aconteceu algo com mamãe?

Seu pai negou veemente com a cabeça.

— Não não, filho. Eu concordei com a sua viagem mas entrei em pânico quando me mandou aquela carta dias atrás dizendo que estaria vindo para cá. Você não pode ficar aqui, esse lugar é amaldiçoado.

— Pai...

Jungwoo interrompeu-se quando a expressão de seu pai se tornou ainda mais assustada. Haechan ofegou alto e todos apontaram para algo atrás de mim. Taeyong vinha caminhando, sua expressão um pouco cansada. “Mas o que diabos, eu vim cavalgando rápido no cavalo, como diabos ele chegou logo depois de mim a pé”.

— É ele. É ELE, É ELE.... – Meu pai começou a gritar e os guardas se colocaram rapidamente entre eu, ele e meu irmão nos separando de Taeyong.

— Pai, o que está acontecendo.

Olhei para Taeyong e sua expressão devastada me fez dar um passo em direção a ele, sendo parado por Haechan.

— Irmão, não. Aquele homem é amaldiçoado assim como o castelo.

— O quê? – Falei.

— NÃO! – Taeyong gritou e os guardas se armaram com arcos e flechas apontados a ele.

— Esperem, não façam isso. Por que estão apontando a arma para ele? – Virou-se então para seu irmão. – O que diabos está acontecendo Haechan? Que tamanho absurdo é esse que me fala? Mande-os abaixar as armas agora mesmo!

— JUNGWOO, POR FAVOR ME ESCUTE. – Meu pai falou. – Esse, esse SER aí nem humano é. Ele foi amaldiçoado filho. Ele se transforma em uma besta horrenda e sem controles que ataca o que vê pela frente.

Jungwoo franziu ainda mais o cenho. Seu primeiro instinto foi duvidar de seu pai, mas aí então lembrou-se de quando foi atacado no jardim, de como Taeyong sempre teve certeza que a Fera não estava solta fora do castelo, e o adicional: ele chegou aqui “a pé” quase que ao mesmo tempo que Jungwoo, a cavalo.  

Virei-me devagar em direção ao homem com quem passou os últimos dias.

A expressão angustiada no rosto de Taeyong acrescentou ainda mais peso nas costas de Jungwoo.

— Taeyong... por favor – Falei em tom de súplica, meus olhos enchendo de lágrimas – Por favor, me diga que eles estão mentindo.

Minutos se passaram e nada foi dito. Taeyong se manteve olhando para o chão, as mãos apertadas fortemente ao seu lado. O choro de Jungwoo se aprofundou a medida que o tempo passava.

— ME RESPOND...

— SIM! – A resposta veio em cima da sua.

O soluço que Jungwoo deu foi alto.

— Saiam da minha propriedade.

Seu pai tentou falar algo mas foi interrompido com um rugido alto. Seu rosto de repente adquirindo formas estranhas, seus olhos foram ficando vermelhos e suas unhas crescendo de forma sobre-humana. Os guardas e seu pai e irmão assustaram-se e começaram a se afastar, puxando forte Jungwoo pelo braço. Ele estava congelado no lugar, vendo Taeyong transformar-se na fera que o atacou antes.

— SAIAM. DA MINHA. PROPRIEDADE. AGORAAA.

Jungwoo assustou-se e deixou-se ser levado até o cavalo. Subiram nele e galoparam rapidamente para longe. Olhando uma última vez para trás viu, o que antes era um belo homem, transformado em uma fera terrível socando as portas do castelo e fechando-as atrás de si. Atravessaram o portal espinhoso por uma entrada, provavelmente cortada por eles para passagem, deixando mais e mais o grande castelo para trás. Jungwoo chorou todo  caminho de volta.


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Notas finais do capítulo

Toda vez que eu leio esse cap eu fico com peninha do personagem aqui. Pq o bichinho sofre viu... Espero de coração que tenham e até o próximo e derradeiro capitulo ^^



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