A Bela Fera escrita por HeyIvye
Notas iniciais do capítulo
Aqui o negócio esquentou viu. Acho que dá pra dar um calorzinho. kkkkk
Boa leitura meus anjos.
“- Eu gostaria de ver suas rosas novamente. Falei baixinho, ainda fingindo estar concentrado na limpeza dos pratos. -Se você me permitir, é claro. Gostaria de vê-las. Podia sentir seu olhar queimando em mim e mesmo com seu silêncio me mantive firme. — E... Eu gostaria de ouvir o que tem a me dizer sobre elas.”
Falei a última sentença já encontrando seu olhar intenso.
— Por que acha que tenho qualquer coisa a dizer sobre elas a você? Disse ele, sério mas não parecendo bravo.
Dei de ombros, novamente desviando meu olhar para minhas mãos.
— Bom, você disse antes que ela não são para estranhos tocarem. E talvez porque elas estavam presas em uma estufa no meio do jardim. Ou talvez porque tenha uma besta especialmente guardando as rosas.
— A fera não estava guardando apenas as rosas, e sim o jardim todo.
— Eu acho difícil acreditar nisso. Você fez questão de frisar que o problema havia sido arrancar as rosas antes. Sei que elas têm algo a mais para você. Seus olhos brilham quando fala delas.
O encarei novamente chegando mais perto.
— Não precisa me mostrar ou falar nada, afinal a propriedade é sua e eu sou o forasteiro nela, só... não minta para mim sobre isso. Aliás não minta sobre nada, absolutamente odeio mentiras.
Seus olhos estavam absolutamente em branco enquanto me encarava e percebi o quão perto dele eu havia me trazido, inconscientemente. Perto o suficiente para que eu sentisse sua respiração quente em meu rosto.
Dei um passo para trás e tomei o prato seco de sua mão enquanto ele me encarava estático, o guardando dentro da cristaleira junto ao resto das louças.
— Creio que já tenha dado para você perceber o quanto sou transparente. O que você vê na superfície é aquilo que eu sou, quer você goste ou não. Posso ser arrogante e convencido mas fui criado para ser assim ou seria pisado por um nobre qualquer no reino como minha mãe é. Sua obrigação de me falar sobre sua vida é zero, mas peço que se eu estiver atingindo qualquer limite você me fale diretamente e eu vou recuar. Mas não minta.
— Porque você está agindo assim? Fala como se eu tivesse cometido o pior dos pecados.
— Você está mentindo pra mim sobre algo importante. É importante pra você e faz da mentira algo significativo. Eu sou sensível com mentiras Taeyong.
— Sim eu percebi, mas porquê?
— Porque...
Jungwoo parou, de repente se dando conta do que estava fazendo. Surtando novamente e quase falando sobre sua vida para um completo estranho. O silêncio que se seguiu a isso foi extenso e a conexão entre os olhares nunca interrompida.
Depois de alguns segundos, Jungwoo foi o primeiro a quebrar o contato entre os dois olhando em direção a porta como se quisesse fugir por ela. O silêncio foi então, rompido por Taeyong em seguida.
— Amanhã.
Jungwoo se voltou para olhá-lo novamente.
— Amanhã de manhã eu levarei você até às rosas.
Então virou as costas e saiu calmamente da cozinha.
—--***---
Nos encontramos no hall de entrada logo após o nascer do sol. Preocupei-me que a fera estaria solta lá fora. Quando expressei isso a Taeyong, ele me deu um olhar engraçado e falou que não me preocupasse com isso, que ela não estaria lá agora. Não me impediu que ficasse tenso e em alerta o caminho todo até lá.
Quando enfim chegamos ao jardim, novamente me vi embasbacado com a visão.
— Como você consegue, sozinho, mantê-lo assim tão conservado?Falei.
—Tenho uma grande quantidade de tempo para me dedicar a esse jardim. E o faço por amor. Cuidar de todas essas flores é meu único passatempo aqui.
Ele tocou alguns ramos mais próximos a nós. Eram lindas. Cores rosas, laranjas e amarelas se mesclavam como o pôr-do-sol em torno das pétalas finas.
Continuamos por um caminho de pedras enquanto Taeyong me explicava que algumas flores possuíam histórias... E significados. Eu o olhei enquanto falava e pude ver o quanto tudo aquilo o maravilhava.Observei seu perfil enquanto me explicava sobre dedaleiras roxas e girassóis. Reparei no seu maxilar forte, seu queixo fino e seus lábios sempre rosados como se o mordesse constantemente. Suas sobrancelhas eram grossas, e endureciam seu olhar mesmo com traços delicados nos olhos, nariz e boca. Enquanto se mantinha falando, ele apontava e gesticulava com suas mãos e seus longos dedos finos e seu pomo de Adão saltava no pescoço largo.
Notei também que sua pele clara brilhava quando os raios solares ultrapassavam as folhas das árvores e o atingiam lhe dando uma aparência quase etérea. Engoli em seco e desviei o olhar quando paramos calmamente e sua expressão se tornou ainda mais suave. Havíamos chegado na estufa.
Taeyong retirou do seu bolso um molho de chaves e foi quando vi que havia um novo cadeado lá, substituindo o que eu havia quebrado anteriormente. Ele abriu a porta de vidro e sinalizou pra que eu entrasse primeiro. Passei por ele lentamente porém antes que completasse a ação, senti sua mão me segurar pelo braço, me parando. Levantei meu olhar até ele questionando-o silenciosamente. Mas ele não estava olhando pra mim, estava olhando para o meu ombro enfaixado. Segui o seu olhar e depois voltei a olhá-lo franzindo o cenho. Foi então, que me dei conta. Foi aqui que tudo começou.
Abri a boca para me desculpar mais uma vez, porém nesse momento ele soltou meu braço e passou por mim, adentrando primeiro na estufa. Decidi seguí-lo e ficar apenas observando enquanto se dirigiu até os regadores pendurados próximo a entrada e começou a molhar as rosas das mais próximas às mais distantes.
— Você me pediu ontem que lhe falasse mais sobre as rosas... . Falou.
Assenti com a cabeça o incentivando a continuar.
— Bem, houve um momento em minha vida que eu possuía tudo que o ouro e as pedras preciosas poderiam me garantir: criados, propriedades, poder e prestígio, amigos... Tudo. Mas eu era um bastardo arrogante, prepotente, amargo e irritadiço. Sorriu.Principalmente os dois últimos.
Ele ficou em silêncio por um momento como se organizasse as memórias em sua cabeça, contemplativo.
— Tratava a todos mal, era rígido e sério. Você consegue imaginar?Perguntou-me.
Pensei por um segundo em uma resposta... e não, eu não o imaginava dessa forma. Sacudi a cabeça negativamente, com um sorriso.
— Sim, parece difícil de acreditar mas eu era a pior das pessoas em muitos sentidos.
Hesitou por alguns instantes. Eu imaginava o quão difícil deveria ser contar da sua solidão.
—... Até que um dia algo aconteceu ... e tudo que eu conhecia como vida se perdeu. Perdi todo o ouro, as propriedades e até os amigos me abandonaram.Eu virei o recluso que você conheceu recentemente. E por muitos anos alimentei uma constante raiva em mim de tudo e de todos. Foram anos sombrios e escuros.
Meu peito apertou com a expressão de pura tristeza que vi no seu rosto. Ele nunca parou de regar as pobres rosas enquanto falou sobre sua miséria para mim.
— Cheguei até a ir embora do castelo na tentativa de resgatar o que ainda poderia existir de humanidade em mim. E foram incontáveis anos de ódio e dor, preso em mim mesmo e na desgraça que havia me trazido. Até que um dia, chegando a um vilarejo ao sul, a primeira casa com a qual me deparei foi a de uma família que possuía um belo jardim. Eu lembro-me de ver uma mulher regar com zelo e carinho cada uma das belas rosas que ela possuía. Tal beleza me fascinou. Uma noite, enquanto a família dormia, eu arranquei algumas rosas do jardim, uma de cada cor, e as levei de volta comigo para o Castelo e comecei a cultivá-las do mesmo modo que vi a moça fazer. E aquilo me acalmava e me mantinha centrado em meio ao ódio que escurecia meu coração.
Parou de regar as flores, e sinalizou para que nos sentássemos no banquinho de madeira próximo a ponte, do lado de fora da estufa. Esperou que estivéssemos acomodados até retornar a história.
— Essas flores, o jardim como um todo representam a minha redenção, elas são um pedaço de minha alma. O lado em mim que eu não me ressinto.
Nossa. Uma história e tanto. Cá estou eu mais uma vez experimentando o amargo sabor da culpa. Eu de repente me vi querendo justificar meu comportamento a ele. Taeyong havia despido parte de sua alma a mim, eu precisava devolver o favor.
— Eu tenho ciência do quanto também já fiz mal a muitas pessoas.Falei, longe de encontrar seu olhar.
— Fiz muitas coisas dais quais não me orgulho. Já cheguei a me orgulhar delas na verdade, porque me achava melhor que todos os outros. Mas você— Virei-me para encará-lo – não entendo como, mas me ensinou tanto em tão pouco tempo que chego a me envergonhar daquilo que eu me tornei. Eu não sei se conseguiria viver tempo dependendo somente de mim e ainda conseguir manter o foco...
Taeyong balançou a cabeça em negação antes de me interromper.
— Não me leve a tão alto posto Jungwoo, nem sempre eu mantive o foco. Eu o perdi muito, ainda o perco. Você teve uma amostra disso, não ficou assustado?
— Sim, fiquei. Falei. – Mas olhe para você, olhe para as condições em que vive Taeyong.
— Não há nada de tão impressionante em mim.
— Sim, há sim. Afirmei veemente. Sustentei meu olhar no seu enquanto me aproximava de seu rosto, tão perto que nossas respirações se misturaram no ar frio.
— Há muito em você que me admira, por favor não tente me convencer do contrário.
Enquanto nos encarávamos, Taeyong levantou sua mão esquerda até o meu rosto. Seus dedos gelados passaram pela minha bochecha, orelha e depois de volta, seu polegar passeando levemente como o mais suave sussurro, pelos meus lábios inferiores. Eu estava paralisado no lugar, o medo enorme de quebrar aquele momento. Eu estava hipnotizado pela força que emanava de cada poro dele, Taeyong tinha uma presença de espírito imensa, que me abraçava, me envolvia primeiramente - como a mais leve brisa - então tudo ficava mais e mais intenso e rapidamente se transformava em um furacão.
Enquanto estávamos ali, ele me tocando daquela forma, eu queria me jogar de cabeça no olho daquele furacão, saber o que tinha por trás de toda aquela solidão, eu queria ser consumido e dizimado. Eu o queria. De todas as formas que eu pudesse ter. Como nunca quis a alguém antes.
Aproximei ainda mais meu rosto do seu. Eu precisava tanto prová-lo, saber como aqueles lábios vermelhos se sentiriam junto aos meus. Seu perfume de rosas enchendo minhas narinas quando fechei meus olhos. Eu iria beijá-lo, segurá-lo e nunca deixá-lo se afastar de mim. Nossos narizes se tocaram e meu peito explodiu de satisfação crua.
Mas eu nunca consegui encontrar seus lábios.
Ele estava se afastando de mim. Caminhando para longe enquanto permaneci estarrecido, perdido. Sua presença se afastando, a névoa quente que me encobria indo embora me deixando frio e vazio.
Chamei seu nome mas ele continuou indo para longe de mim, até que não pude mais vê-lo.
Coloquei minhas mãos no meu rosto, com os braços apoiados nos joelhos. Eu não sabia o que havia acontecido mas enquanto fiquei ali, por horas depois que ele saiu, decidi que ou iria tê-lo e sacaria minha curiosidade feroz ou iria embora e nunca mais olharia para trás. Eu não podia arriscar-me novamente. Não mais!
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Quem não gosta de um fogo no Cabaré? Beijinhos e até o próximo cap.