A Bela Fera escrita por HeyIvye


Capítulo 5
Burnin' inside


Notas iniciais do capítulo

Aqui o negócio esquentou viu. Acho que dá pra dar um calorzinho. kkkkk

Boa leitura meus anjos.



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“- Eu gostaria de ver suas rosas novamente. Falei baixinho, ainda fingindo estar concentrado na limpeza dos pratos. -Se você me permitir, é claro. Gostaria de vê-las. Podia sentir seu olhar queimando em mim e mesmo com seu silêncio me mantive firme. — E... Eu gostaria de ouvir o que tem a me dizer sobre elas.

Falei a última sentença já encontrando seu olhar intenso.

Por que acha que tenho qualquer coisa a dizer sobre elas a você? Disse ele, sério mas não parecendo bravo.

Dei de ombros, novamente desviando meu olhar para minhas mãos.

Bom, você disse antes que ela não são para estranhos tocarem. E talvez porque elas estavam presas em uma estufa no meio do jardim. Ou talvez porque tenha uma besta especialmente guardando as rosas.

— A fera não estava guardando apenas as rosas, e sim o jardim todo.

— Eu acho difícil acreditar nisso. Você fez questão de frisar que o problema havia sido arrancar as rosas antes. Sei que elas têm algo a mais para você. Seus olhos brilham quando fala delas.

O encarei novamente chegando mais perto.

Não precisa me mostrar ou falar nada, afinal a propriedade é sua e eu sou o forasteiro nela, só... não minta para mim sobre isso. Aliás não minta sobre nada, absolutamente odeio mentiras.

Seus olhos estavam absolutamente em branco enquanto me encarava e percebi o quão perto dele eu havia me trazido, inconscientemente. Perto o suficiente para que eu sentisse sua respiração quente em meu rosto.

Dei um passo para trás e tomei o prato seco de sua mão enquanto ele me encarava estático, o guardando dentro da cristaleira junto ao resto das louças.

Creio que já tenha dado para você perceber o quanto sou transparente. O que você vê na superfície é aquilo que eu sou, quer você goste ou não. Posso ser arrogante e convencido mas fui criado para ser assim ou seria pisado por um nobre qualquer no reino como minha mãe é. Sua obrigação de me falar sobre sua vida é zero, mas peço que se eu estiver atingindo qualquer limite você me fale diretamente e eu vou recuar. Mas não minta.

Porque você está agindo assim? Fala como se eu tivesse cometido o pior dos pecados.

Você está mentindo pra mim sobre algo importante. É importante pra você e faz da mentira algo significativo. Eu sou sensível com mentiras Taeyong.

Sim eu percebi, mas porquê?

— Porque...

Jungwoo parou, de repente se dando conta do que estava fazendo. Surtando novamente e quase falando sobre sua vida para um completo estranho. O silêncio que se seguiu a isso foi extenso e a conexão entre os olhares nunca interrompida.

Depois de alguns segundos, Jungwoo foi o primeiro a quebrar o contato entre os dois olhando em direção a porta como se quisesse fugir por ela. O silêncio foi então, rompido por Taeyong em seguida.

Amanhã.

Jungwoo se voltou para olhá-lo novamente.

Amanhã de manhã eu levarei você até às rosas.

Então virou as costas e saiu calmamente da cozinha.

—--***---

Nos encontramos no hall de entrada logo após o nascer do sol. Preocupei-me que a fera estaria solta lá fora. Quando expressei isso a Taeyong, ele me deu um olhar engraçado e falou que não me preocupasse com isso, que ela não estaria lá agora. Não me impediu que ficasse tenso e em alerta o caminho todo até lá.

Quando enfim chegamos ao jardim, novamente me vi embasbacado com a visão.

Como você consegue, sozinho, mantê-lo assim tão conservado?Falei.

Tenho uma grande quantidade de tempo para me dedicar a esse jardim. E o faço por amor. Cuidar de todas essas flores é meu único passatempo aqui. 

Ele tocou alguns ramos mais próximos a nós. Eram lindas. Cores rosas, laranjas e amarelas se mesclavam como o pôr-do-sol em torno das pétalas finas.

Continuamos por um caminho de pedras enquanto Taeyong me explicava que algumas flores possuíam histórias... E significados. Eu o olhei enquanto falava e pude ver o quanto tudo aquilo o maravilhava.Observei seu perfil enquanto me explicava sobre dedaleiras roxas e girassóis. Reparei no seu maxilar forte, seu queixo fino e seus lábios sempre rosados como se o mordesse constantemente. Suas sobrancelhas eram grossas, e endureciam seu olhar mesmo com traços delicados nos olhos, nariz e boca. Enquanto se mantinha falando, ele apontava e gesticulava com suas mãos e seus longos dedos finos e seu pomo de Adão saltava no pescoço largo.

Notei também que sua pele clara brilhava quando os raios solares ultrapassavam as folhas das árvores e o atingiam lhe dando uma aparência quase etérea. Engoli em seco e desviei o olhar quando paramos calmamente e sua expressão se tornou ainda mais suave. Havíamos chegado na estufa.

Taeyong retirou do seu bolso um molho de chaves e foi quando vi que havia um novo cadeado lá, substituindo o que eu havia quebrado anteriormente. Ele abriu a porta de vidro e sinalizou pra que eu entrasse primeiro. Passei por ele lentamente porém antes que completasse a ação, senti sua mão me segurar pelo braço, me parando. Levantei meu olhar até ele questionando-o silenciosamente. Mas ele não estava olhando pra mim, estava olhando para o meu ombro enfaixado. Segui o seu olhar e depois voltei a olhá-lo franzindo o cenho. Foi então, que me dei conta. Foi aqui que tudo começou.

Abri a boca para me desculpar mais uma vez, porém nesse momento ele soltou meu braço e passou por mim, adentrando primeiro na estufa. Decidi seguí-lo e ficar apenas observando enquanto se dirigiu até os regadores pendurados próximo a entrada e começou a molhar as rosas das mais próximas às mais distantes.

Você me pediu ontem que lhe falasse mais sobre as rosas... . Falou.

Assenti com a cabeça o incentivando a continuar.

Bem, houve um momento em minha vida que eu possuía tudo que o ouro e as pedras preciosas poderiam me garantir: criados, propriedades, poder e prestígio, amigos... Tudo. Mas eu era um bastardo arrogante, prepotente, amargo e irritadiço. Sorriu.Principalmente os dois últimos.

Ele ficou em silêncio por um momento como se organizasse as memórias em sua cabeça, contemplativo.

Tratava a todos mal, era rígido e sério. Você consegue imaginar?Perguntou-me.

Pensei por um segundo em uma resposta... e não, eu não o imaginava dessa forma. Sacudi a cabeça negativamente, com um sorriso.

— Sim, parece difícil de acreditar mas eu era a pior das pessoas em muitos sentidos.

Hesitou por alguns instantes. Eu imaginava o quão difícil deveria ser contar da sua solidão.

—... Até que um dia algo aconteceu ... e tudo que eu conhecia como vida se perdeu. Perdi todo o ouro, as propriedades e até os amigos me abandonaram.Eu virei o recluso que você conheceu recentemente. E por muitos anos alimentei uma constante raiva em mim de tudo e de todos. Foram anos sombrios e escuros.

Meu peito apertou com a expressão de pura tristeza que vi no seu rosto. Ele nunca parou de regar as pobres rosas enquanto falou sobre sua miséria para mim.

Cheguei até a ir embora do castelo na tentativa de resgatar o que ainda poderia existir de humanidade em mim. E foram incontáveis anos de ódio e dor, preso em mim mesmo e na desgraça que havia me trazido. Até que um dia, chegando a um vilarejo ao sul, a primeira casa com a qual me deparei foi a de uma família que possuía um belo jardim. Eu lembro-me de ver uma mulher regar com zelo e carinho cada uma das belas rosas que ela possuía. Tal beleza me fascinou. Uma noite, enquanto a família dormia, eu arranquei algumas rosas do jardim, uma de cada cor, e as levei de volta comigo para o Castelo e comecei a cultivá-las do mesmo modo que vi a moça fazer. E aquilo me acalmava e me mantinha centrado em meio ao ódio que escurecia meu coração.

Parou de regar as flores, e sinalizou para que nos sentássemos no banquinho de madeira próximo a ponte, do lado de fora da estufa. Esperou que estivéssemos acomodados até retornar a história.

Essas flores, o jardim como um todo representam a minha redenção, elas são um pedaço de minha alma. O lado em mim que eu não me ressinto.

Nossa. Uma história e tanto. Cá estou eu mais uma vez experimentando o amargo sabor da culpa. Eu de repente me vi querendo justificar meu comportamento a ele. Taeyong havia despido parte de sua alma a mim, eu precisava devolver o favor.

— Eu tenho ciência do quanto também já fiz mal a muitas pessoas.Falei, longe de encontrar seu olhar.

— Fiz muitas coisas dais quais não me orgulho. Já cheguei a me orgulhar delas na verdade, porque me achava melhor que todos os outros. Mas você— Virei-me para encará-lo – não entendo como, mas me ensinou tanto em tão pouco tempo que chego a me envergonhar daquilo que eu me tornei. Eu não sei se conseguiria viver tempo dependendo somente de mim e ainda conseguir manter o foco...

Taeyong balançou a cabeça em negação antes de me interromper.

Não me leve a tão alto posto Jungwoo, nem sempre eu mantive o foco. Eu o perdi muito, ainda o perco. Você teve uma amostra disso, não ficou assustado?

Sim, fiquei. Falei. – Mas olhe para você, olhe para as condições em que vive Taeyong.

Não há nada de tão impressionante em mim.

Sim, há sim. Afirmei veemente. Sustentei meu olhar no seu enquanto me aproximava de seu rosto, tão perto que nossas respirações se misturaram no ar frio.

— Há muito em você que me admira, por favor não tente me convencer do contrário.

Enquanto nos encarávamos, Taeyong levantou sua mão esquerda até o meu rosto. Seus dedos gelados passaram pela minha bochecha, orelha e depois de volta, seu polegar passeando levemente como o mais suave sussurro, pelos meus lábios inferiores. Eu estava paralisado no lugar, o medo enorme de quebrar aquele momento. Eu estava hipnotizado pela força que emanava de cada poro dele, Taeyong tinha uma presença de espírito imensa, que me abraçava, me envolvia primeiramente - como a mais leve brisa - então tudo ficava mais e mais intenso e rapidamente se transformava em um furacão.

Enquanto estávamos ali, ele me tocando daquela forma, eu queria me jogar de cabeça no olho daquele furacão, saber o que tinha por trás de toda aquela solidão, eu queria ser consumido e dizimado. Eu o queria. De todas as formas que eu pudesse ter. Como nunca quis a alguém antes.

Aproximei ainda mais meu rosto do seu. Eu precisava tanto prová-lo, saber como aqueles lábios vermelhos se sentiriam junto aos meus. Seu perfume de rosas enchendo minhas narinas quando fechei meus olhos. Eu iria beijá-lo, segurá-lo e nunca deixá-lo se afastar de mim. Nossos narizes se tocaram e meu peito explodiu de satisfação crua.

Mas eu nunca consegui encontrar seus lábios.

Ele estava se afastando de mim. Caminhando para longe enquanto permaneci estarrecido, perdido. Sua presença se afastando, a névoa quente que me encobria indo embora me deixando frio e vazio.

Chamei seu nome mas ele continuou indo para longe de mim, até que não pude mais vê-lo.

Coloquei minhas mãos no meu rosto, com os braços apoiados nos joelhos. Eu não sabia o que havia acontecido mas enquanto fiquei ali, por horas depois que ele saiu, decidi que ou iria tê-lo e sacaria minha curiosidade feroz ou iria embora e nunca mais olharia para trás. Eu não podia arriscar-me novamente. Não mais!


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Notas finais do capítulo

Quem não gosta de um fogo no Cabaré? Beijinhos e até o próximo cap.



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