Dusk Till Dawn escrita por dracromalfoy


Capítulo 17
Capítulo Dezessete


Notas iniciais do capítulo

HELLO HELLO
Seguinte, eu gostei muito desse capítulo, de verdade. Mesmo ele não sendo focado em jily, eu sofri muito escrevendo e gostei muito do resultado, espero que vocês também gostem.
Segundo, eu sei que isso aqui é uma fanfic jily e que vcs não estão recebendo isso kkkkkkk mas eu prometo que vou recompensar vocês muito em breve, OVERDOSE DE JAMES E LILY logo mais

Sem mais, me desculpem qualquer erro, eu revisei várias vezes, mas sempre passa alguma coisa :(
Quero agradecer minha melhor amiga Maria Julia (que não vai ler, mas mesmo assim) por me ajudar nas crises quando fico insegura em relação a essa história que eu amo, amo você.

Por favor, comentem e beijinhos



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DUSK TILL DAWN

Capítulo XVII

Eu disse a mim mesma que aquilo não significava que Amos iria morrer, mas eu também sabia que significava que ele poderia. O médico ficou quase uma hora conversando conosco, falando sobre o tratamento e que iria começar tudo o mais rápido possível. Disse também que a doença estava num estágio avançado, assim como ele imaginou que estivesse devido aos sangramentos, mas que iríamos lutar contra ela da forma que conseguíssemos. Eu quase ri, para ser sincera. Chegava a ser engraçado pensar em palavras de conforto e esperança nessas situações.

Eu ainda estava sem reação, entreouvindo uma coisa ou outra. Sentia-me horrível, pois eu deveria estar sendo forte, deveria estar prestando atenção e tomando providências, enquanto Amos deveria estar absorvendo tudo que estava acontecendo. Porém, acontecia exatamente o contrário. Amos estava ouvindo tudo com muita atenção, fazendo perguntas e segurando minha mão, apertando mais forte vez ou outra. Eu não percebi que havia começado a chorar em determinado momento, mas eu me mantinha em silêncio, apenas deixando as lágrimas caírem sem fazer nenhum barulho, sem abrir a boca. Minha garganta doía e eu tentava engolir o choro, de todas as formas que conseguia. A última vez que estivera de frente com a morte, meu pai estava numa cama de hospital sem poder me olhar uma última vez. Eu não queria aquilo de novo, não queria ver Amos ir, não queria vê-lo sofrer.

Quando saímos da sala, eu disse a Amos que precisava ir ao banheiro e que o encontraria no carro, não estava mais chorando, mas minha voz estava baixa, sentia que se eu falasse muito, iria desabar.

E eu desabei.

Assim que entrei no banheiro, senti meu corpo ceder, eu tremia, chorava e soluçava, como se algo dentro de mim estivesse se partindo ao meio e eu não fosse capaz de lidar com a dor. Abracei meu corpo tentando encontrar qualquer conforto, mas quanto mais eu me apertava, mais doía. Toda a tensão de semanas acumuladas estava me sufocando, cada vez mais.

Talvez eu tenha passado quinze minutos ali dentro, mas quando parei de chorar, lavei meu rosto e tentei agir com a maior neutralidade possível, sabia que meus olhos estavam vermelhos, mas não podia fazer nada a respeito daquilo.

Por que eu estava tão desesperada diante daquilo, mesmo sabendo que ainda tinha esperanças? A resposta era simples. Não tinha muita esperança, isso foi o que eu captei assim que o médico começou a falar. A doença de Amos estava avançada, não tinha como negar, ele disse diversas vezes que tivemos sorte de não termos esperado mais tempo, pois aí sim não teria nada a ser feito. Sorte, novamente eu queria rir. Que sorte tínhamos naquilo? Quando ele começou a falar sobre o tratamento, sobre a quimioterapia e os efeitos dela, eu estremeci novamente. Amos não merecia nada daquilo. Amos não merecia nada além de felicidade, saúde, conforto, amor. Ele não merecia estar doente, não merecia.

Eu queria dizer aquilo para ele.

— Eu sinto muito. — Consegui dizer, já dentro do carro. Estávamos parados ainda no estacionamento. Amos apenas olhava para frente. — Sinto muito mesmo, meu amor. Deus, como eu queria poder mudar isso...

— Está tudo bem, Lily. — Suspirou, fechando os olhos por um momento e me encarando. — Está tudo bem.

Eu comecei a chorar novamente. Odiava aquilo, me sentia fraca e inútil. Amos estava doente, eu deveria reconfortá-lo, não o contrário.

— Me desculpe, Amos. Droga, me desculpe por chorar tanto.

Amos me abraçou tão forte que eu poderia quebrar. Ele precisava daquele abraço, precisava de mim e eu estava chorando. Fiz o máximo de esforço possível para secar minhas lágrimas no momento que senti seu peito tremer.

Ele estava chorando.

As semanas se passaram rapidamente, nos primeiros dias após o resultado, eu chorei como nunca. Lá pelo quinto dia, eu simplesmente me recompus, como se não houvesse mais lágrimas dentro de mim. Eu entendia o que aquilo significava, Amos precisava de mim ao seu lado, e assim eu o fiz.

A quimioterapia começou e eu reservava o dia todo a ele. Marlene e Mary disseram que estavam a postos para ajudar no que precisasse e acompanhá-lo caso fosse necessário em algum dia que eu estivesse muito ocupada pelo trabalho, eu agradeci verdadeiramente, mas sabia que não iria chegar a pedir.

O médico havia dito que os dois primeiros meses seriam difíceis, Amos iria começar já com doses altas de medicamentos devido ao rápido avanço da doença.

Eu mudei meu escritório e passei a trabalhar em casa, sabia o quanto Amos odiava isso, mas eu sabia também o quanto era necessário. A pior parte para ele – no começo, quando ainda não tinha efeitos colaterais da quimioterapia e ainda vivia como se fosse completamente saudável –, era ver a vida das pessoas a sua volta se flexibilizando para encaixar naquela nova realidade.

O número de clientes com quem eu trabalhava diminuiu drasticamente já no primeiro mês, mas foi uma escolha minha. Eu não conseguia mais atender tanto quanto antes, participar de audiências todos os dias e pegar casos complexos. Amos provavelmente nunca soube desse fato.

Era uma segunda-feira, Amos e eu estávamos caminhando próximos à propriedade, de mãos dadas. Conversávamos sobre coisas banais e aleatórias enquanto andávamos devagar, em passos lentos. Era outono, as árvores agitavam suas folhas devido ao vento sutil e estas caíam ferozmente no chão, cobrindo-o com as cores quentes. Ainda tínhamos sol e por isso fazíamos aquela caminhada. Caminhar juntos pela manhã tornou-se um hábito que aos poucos fomos aderindo. Aqueles momentos significavam muito para mim, como se nos trouxesse à normalidade que tanto sentia falta, que tanto prezava e de que Amos tanto se apegava.

No dia anterior, Amos havia tido uma sessão de quimioterapia. Toda vez após as sessões, ele ficava abatido, cansado, passava muito mal por dois ou três dias, mas naquele dia em específico ele parecia bem e confortável.

— Você está linda hoje — disse Amos, sorrindo para mim. Era de doer o coração a forma como ele estava pálido, com os olhos fundos e com bolsas embaixo dos olhos. Mas ainda assim era maravilhoso. Eu amava olhá-lo. —, assim como todos os dias.

Ele me beijou e massageou as sardas das minhas bochechas.

— Pensei que não fosse dizer hoje. — Brinquei. Amos sempre dizia aquilo. — Estou pensando no que vamos comer hoje, tem alguma sugestão?

Ele pensou por um momento.

— Aquele frango frito com molho de queijo. — Ele parecia entusiasmado, seus olhos adquiriram uma cor brilhante diferente daquele cinza usual. — É provavelmente a melhor receita que você sabe fazer.

— Excelente. Vou fazê-la para você. Vamos dar uma passada no mercado, então.

Seguimos até um minimercado que tinha ali por perto e compramos algumas coisas, mas não muitas, pois estávamos sem o carro. Amos me ajudou a carregar as sacolas na volta. Passamos na floricultura e ele me comprou um buquê para enfeitar nossa mesa.

Já em casa, preparamos juntos o almoço. Eu estava muito feliz e percebia o quanto Amos também estava. Cozinhávamos conversando e rindo, realmente nos divertindo no processo. Enquanto cortava fatias de queijo gorgonzola, Amos temperava o frango, pois apesar da receita ser minha, o seu tempero era muito melhor que o meu. Lavei morangos e amoras para fazer suco e, enquanto fritávamos o frango e esperávamos o molho esfriar, limpávamos a pia e preparávamos a mesa. Coloquei água num vaso de cristal – presente de casamento da avó de Amos, que falecera alguns anos antes – e coloquei as flores no centro da mesa.

Almoçamos ouvindo as músicas favoritas de Amos, ele pegou um CD aleatório da sua coleção e colocou no rádio. Eu não me lembrava de um dia tão maravilhoso quanto aquele. Limpamos juntos a cozinha e arrumamos tudo. Eu disse a Amos que ele deveria se sentar e que eu poderia limpar tudo, mas ele não me deu ouvidos e disse que iria me ajudar, com muito prazer. Fizemos amor na sala, ainda ouvindo seu CD que eu realmente não gostava muito. Depois fomos para o quarto. Passamos a tarde toda na cama, deitamos juntos, conversando, falando sobre tudo e, por vezes, falando sobre nada. Dormimos e depois levantamos para o jantar, comemos o que sobrara do almoço e fizemos amor de novo. Eu me sentia amada, queria que Amos se sentisse também, queria que aquele dia durasse para sempre.

Fomos dormir cedo naquela noite, mas acabou que não dormimos nada. Por volta das nove da noite, Amos acordou vomitando, mal conseguiu chegar ao banheiro, sujando a cama e boa parte do chão. Levantei-me rapidamente e ajudei-o a chegar até o banheiro. Fiquei ao seu lado enquanto ele vomitava e chorava. Meu coração doía, mas eu não tinha outra reação que não fosse apoiar-me nela até que estivesse terminado.

— Me desculpe, Lily, me desculpe. — Amos lavou o rosto e chorou com a cabeça apoiada no vidro. — A bagunça que fiz, me desculpe.

— Deixe de bobeira, Amos. — Eu fui até ele e fechei a torneira, ajudando-o a tirar a roupa. — Tome um banho gelado, vou arrumar tudo, ok? Fique calmo. Está sentindo alguma coisa?

— Estou com dor, tudo dói. Minha cabeça está girando.

Fiquei com Amos no banheiro e o ajudei a tomar banho. Fomos para quarto de hóspedes e eu o coloquei na cama junto de uma toalha.

— Vou limpar o quarto, ok? Qualquer coisa me chame. Promete?

Ele maneou a cabeça, acabara de tomar banho e estava suando.

Peguei os produtos de limpeza e comecei a limpar o quarto. Quando terminei, já passava da meia noite. Amos dormia no outro quarto, um sono pesado como se nada daquilo tivesse acontecido. Deitei-me ao seu lado após tomar um banho e me aninhei ali, sentindo ainda aquela dor no peito por vê-lo sofrer daquele jeito. Desejei ser capaz de tomar um pouquinho da sua dor para mim, dividi-la entre nós dois para que não fosse tão excruciante.

Não dormi nada naquela noite, quando Amos acordou no outro dia, eu apenas fingi que estava dormindo e, alguns minutos depois, fingi que estava acordando após uma longa noite de sono.

A sua doença evoluía rapidamente e não houvera um momento de transição exato entre um estágio e outro. Tudo acontecia rapidamente e não tínhamos tempo de nos acostumar. Em um dia, eu estava trabalhando abaixo do esperado para cuidar de Amos; no outro, eu já não estava mais trabalhando. Felizmente, tínhamos esse privilégio, eu podia fazer essa escolha sem medo de passar fome, já que tínhamos dinheiro para aquilo. Eu passava o tempo todo cuidando de Amos e, vez ou outra, me trancava no escritório para cuidar das nossas finanças – nessas ocasiões, Amos achava que eu estava trabalhando e eu nunca me dei ao trabalho de desmentir. Sabia que ele iria odiar saber que minha vida estava parando por causa da sua e, justamente por saber disso, que eu não lhe dizia a verdade. Não iria deixar meu marido de lado por causa da minha carreira.

Os pais de Amos se fizeram muito presente, todos os dias sua mãe ia até nossa casa visitá-lo, por vezes fazia ensopado para ele e trazia presentes. Seu pai também passava por lá para dar notícias da sua empresa, já que ele tinha tomado o controle “temporariamente” e precisava repassar todas as informações para Amos – essa era a maneira da qual ele sentia que estava realmente presente na sua própria corporação, mesmo que não pudesse atuar nela.

Marlene e Mary foram cruciais naquele momento. Vez ou outra levavam Henry para brincar com o padrinho, o que sempre deixava o dia de Amos muito melhores. Nós fazíamos um almoço e comíamos juntos, conversávamos sobre coisas que não envolvessem a doença de Amos e tentávamos nos divertir – para diverti-lo, também.

Numa noite particularmente difícil, Amos dormiu no hospital. Naquele dia eu me desesperei, achei que nunca mais iria vê-lo, eu não podia entrar no seu quarto e queria desesperadamente vê-lo uma última. Talvez tenha sido uma das poucas vezes que eu realmente chorei após aquela primeira semana. Marlene passou a noite toda acordada comigo, dormimos no pequeno sofá do hospital esperando por notícias que nunca vinham. Quando ele finalmente pôde ir para casa, ela passou a semana toda ao meu lado e entrevistamos dezenas de enfermeiras para ficar ali conosco. Decidimos que seria sensato ter um profissional sempre por perto.

Meses depois, a única coisa que sabíamos era que Amos estava piorando cada dia mais. Sua doença avançava incontrolavelmente e numa consulta tivemos a comprovação de que as células cancerígenas no corpo de Amos estavam resistindo fortemente à quimioterapia enquanto as células sadias eram destruídas.

Nós já sabíamos o que aquilo significava, mas nenhum de nós falou nada.

— Você deveria ir embora e me deixar com a enfermeira — disse Amos certa noite, enquanto eu o alimentava com um ensopado que sua mãe trouxera mais cedo. —, deveria estar viajando, conhecendo o mundo, aproveitando a sua vida.

— Tenho 27 anos, Amos — disse eu de forma ríspida, pois odiava aquela conversa. — Já aproveitei a minha vida.

Amos riu.

Ao saber que nossos recursos para salvar sua vida estavam se esgotando, Amos decidiu que iria me convencer a deixá-lo. Dizia que eu não deveria desperdiçar minha vida ao lado dele, que logo morreria. Aquela conversa acabava comigo, porque eu não queria acreditar naquele destino cruel e também porque não queria deixá-lo, afinal. Não o abandonaria de forma alguma.

— 27 anos ainda é muito nova, Lily. Você fala como se estivesse com 50. Não está. — Amos recusou a próxima colherada veementemente, então eu coloquei o prato de lado e o encarei. Sabia que quando aquele assunto começava, ele queria ser ouvido com atenção. — Você não sai mais de casa.

— É claro que eu saio de casa!

— Você sai de casa para ir ao médico comigo, ou para ir ao mercado, farmácia. Não sai de casa para si mesma. Quando foi a última vez que saiu para fazer compras para si mesma? Quando foi a última vez que foi ao cabeleireiro, que fez as unhas?

— É com esse tipo de coisa que você acha que devo me preocupar?

— Quando foi a última vez que você foi numa palestra, que você deu uma palestra? Que você impediu que um inocente fosse preso injustamente? — Amos respirou fundo e eu não tinha o que responder. Não havia resposta para aquilo. — Amo você. Admiro você. Sou grato por tudo que fez e tem feito, mas não posso assisti-la desistir da sua vida por mim.

— Não estou desistindo da minha vida. — Eu disse convicta, mas talvez minha voz tenha me traído. Eu estava novamente com aquela dor no fundo da garganta, lutando contra as lágrimas. — Minha vida é você.

Amos ficou calado por alguns minutos. Nenhum de nós dois tínhamos nada a acrescentar àquilo. Eu peguei o ensopado e fui para a cozinha lavar tudo. Quando voltei para o quarto, ele estava exatamente do mesmo jeito, exceto pelos olhos, que estavam marejados.

Troquei de roupa e me deitei ao seu lado. Seu cabelo estava ralo, não tinha mais aquela barba que eu adorava. Seus olhos pareciam sem vida, seus lábios rachados e pálidos. Era como me deitar ao lado de outro homem. Ele me abraçou e me aconchegou entre seus braços, segurando-me pela cintura.

— Você está mais magra.

— Sempre fui muito magra.

— Mas está mais. Você emagreceu. — Disse. Sua voz estava baixinha, perto do meu ouvido. — Estou doente e sem muita energia, mas ainda reparo em você. É claro que você continua linda, como sempre foi. — Eu tentei sorrir, mas estava chorando, tentando secar as lágrimas sem que Amos notasse. Ele notou, mas não disse nada, apenas me abraçou mais forte. — Você ainda me ama, Lily?

— É claro que te amo, Amos. Que pergunta é essa?

— Sou seu melhor amigo, Lily. Sei que me ama, que sofre comigo, que sofre por mim. Mas o que quero saber é: Ainda me ama como seu marido? Mesmo eu não sendo mais o homem que era?

Virei-me de frente para ele, apoiando-me em um braço e encarando-o.

— É claro que amo. Nunca vou deixar de amar. Ainda é o mesmo homem. — Amos suspirou fundo e me puxou novamente para seus braços, abraçando-me com a pouca força que ainda tinha.

— Sou um homem de sorte por ter você.

Não respondi nada e Amos adormeceu.

No dia que Amos Diggory faleceu, eu já sabia que iria perdê-lo. Aconteceu dez meses depois de a doença ser descoberta.

Ele ficou duas semanas internado e toda vez que eu o visitava, conseguia sentir que o fim estava próximo. Passei cada segundo que pude ao seu lado. Lemos vários livros juntos, eu lia alto para que ele ouvisse e, às vezes, quando não estava muito cansado ou dopado de medicação, ele também lia algumas páginas.

Levei dezenas de fotos de Henry e o deixava conversar com o afilhado por vários minutos no meu celular. Marlene e Mary o visitavam todos os dias, o que era bom, pois aquilo o alegrava muito.

Era uma sexta-feira de verão, eu estava em casa junto com Marlene separando algumas roupas para ir novamente para o hospital, não sabia mais desde que horas estava chorando.

Marlene me ajudou a remontar minha mala pequena e separamos mais três livros. Quando cheguei ao ápice da minha exaustão, sentei-me na ponta da cama e desabei. Chorava de soluçar, cobrindo meu rosto com as mãos e desejando que aquela dor passasse. Marlene me abraçou forte e me deixou chorar em seu ombro. Desejei, também, que ela nada falasse. Não havia mais nada para ser dito. Nós duas sabíamos disso. Eu a agradeci mentalmente por ser tão forte e por me apoiar, ela era a melhor amiga de Amos e também estava sofrendo, mas mesmo assim estava ali para me amparar.

Após alguns minutos, eu me levantei e fui lavar o rosto, não podia ficar perdendo tempo chorando em casa, tinha que estar com Amos o máximo que conseguisse. Marlene me levou até o hospital, ficamos alguns minutos com Amos juntas, mas logo ela disse que iria buscar um café e nos deixou sozinhos. Os pais de Amos também estavam do lado de fora, saíram assim que eu cheguei.

— Acabei de tomar um remédio para dor, provavelmente vou adormecer daqui a pouco. — Disse Amos, sua voz estava baixa e rouca.

— Tudo bem, ficarei aqui com você.

— Não. — Ele tossiu. — Eu quero conversar com você antes de adormecer. Preciso me certificar de que você vai estar bem, que você vai ficar bem quando eu me for.

— Pare com isso, Amos. Por Deus...

— Lily. — A forma como ele pronunciou meu nome fez com que eu me calasse. — Você se lembra de James Potter?

— Sim, eu me lembro. — Eu quase engasguei. É claro que eu me lembrava de James Potter, mas não entendia o propósito daquela pergunta. Nunca mais falamos dele.

Amos sorriu.

— É claro que se lembra, acho que ninguém consegue esquecer o primeiro amor, não é verdade? Mas o que quero dizer é: você se lembra de como achava que nunca mais seria capaz de amar novamente?

Eu me lembrava. Antes de Amos e eu começarmos a namorar, eu disse a ele que James ainda era muito presente na minha vida e nos meus pensamentos, e que achava injusto namorá-lo diante aquelas circunstâncias.

— Mas você amou. — Continuou. — Você me amou, me fez o homem mais feliz do mundo nesses anos. Achou que não seria capaz de amar depois de ter seu coração partido, mas ainda assim se apaixonou. Você tem um coração enorme, Lily Evans. Acho que nunca conheci alguém que tivesse tanto amor dentro de si.

— Vou te amar para sempre. — Eu disse. Nesse momento, eu já não tinha forças para segurar as lágrimas.

— Sim, sei que vai. Assim como sei que você nunca deixou de amar seu ex-namorado, sei que nunca vai deixar de me amar, ou me esquecer. Sei disso porque te conheço muito bem. — Ele sorriu brevemente, apertando minha mão. — Mas o que quero te dizer, é que apesar de saber que você ainda vai me amar daqui dois, cinco, dez anos, eu quero que você se permita amar novamente outra pessoa. Quero que você seja feliz quando eu não estiver mais aqui.

— Como você pode me pedir isso, Amos? E-eu... Eu n-não...

— Hoje talvez você me ache louco de dizer isso, Lily, mas eu acho que daqui um tempo, vai ser necessário que você se lembre disso. Que você se permita viver, se se apaixonar, se aventurar. Existe uma vida toda pela frente, preciso que saiba que quero que você goste de vivê-la. — Fechei os olhos e ajoelhei-me ao lado dele, pousando minha cabeça em suas mãos. — Me promete isso? Prometa que vai fazer isso, Lily. Que vai ser feliz, que vai se dedicar a sua carreira, que vai realizar os seus sonhos.

— Prometo, eu prometo. — Eu disse entre lágrimas e soluços.

Parecia irreal estar ali, pensando em como seria minha vida depois que ele morresse. Anos ao seu lado, pensar em uma vida sem ele era como imaginar-se num livro de fantasia que você sabia que nunca iria acontecer na vida real. Eu não conseguia me imaginar sem ele. Assim como, anos atrás, eu não me imaginava sem James. Entretanto, as duas situações eram completamente diferentes e incomparáveis; James estava vivo e bem, provavelmente feliz e vivendo sua vida da forma como bem entendesse.

Amos morreu naquela noite, enquanto eu cochilava. O restante foi um borrão, eu não me lembrava de ser levada dali, não me lembrava de olhá-lo uma última vez. Lembrava-me, apenas, de ser tomada por enfermeiras, tomar um calmante e ver tudo escurecer em seguida.

Sua mãe teve ataques de pânico e foi internada, eu queria cuidar dela, mas não conseguia me manter de pé. Marlene cuidou de tudo para que minha mãe fosse até mim o mais rápido possível. Também foi Marlene quem cuidou do funeral, do enterro e quem recepcionou todos os amigos e entes queridos no velório. Eu não fui ao velório e não o vi sendo enterrado. Fiquei com minha mãe na minha casa e de Amos, sendo dopada com medicações para não entrar em total desespero. O pai de Amos me visitou e disse que eu deveria ir me despedir, mas eu disse a ele que havia me despedido dele em vida e que era essa memória que eu queria manter comigo.

Passei semanas em casa sendo cuidada pela minha mãe, que me obrigava a tomar banho, ter cuidados básicos de higiene e me alimentar. Marlene me visitava todos os dias e revezava com minha mãe quem iria dormir comigo à noite. Eu não tinha forças para dizer a elas que queria ficar sozinha, então as deixava ficar.

Semanas depois, quando as pessoas – amigos, parentes mais distantes, conhecidos – já voltavam à normalidade, eu tinha muitas coisas para fazer, mas não queria fazer nenhuma. Descobri que Amos tinha deixado todo seu patrimônio para mim, sua empresa, seus bens no geral e uma poupança com mais dinheiro do que eu ganharia a vida toda. Assim que soube, chorei ainda mais. Não queria nada daquilo, gostaria de poder queimar tudo e esperar que das cinzas surgisse meu Amos belo e saudável. Mais uma vez, quem cuidava de tudo era Marlene. Eu devia minha vida a ela, por aturar tudo, por lidar com tudo e, além disso, ainda ficar ao meu lado sempre.

Eu tranquei o quarto que costumava ser meu e de Amos e escondi a chave pela casa, não suportava dormir ali sabendo que ele nunca mais dormiria ao meu lado.

Dois meses depois, minha mãe arrumou todas minhas coisas e disse que iríamos voltar para o Reino Unido, que ela não deixaria que eu definhasse ali sozinha. Marlene, Mary e Henry foram conosco até o aeroporto para se despedir.

— Vou sentir sua falta, Lily — disse Marlene, ainda me abraçando. — Vou sentir sua falta todos os dias, mas acho que é o melhor nesse momento. Ficar perto da sua mãe, longe daqui. Ah, meu Deus, eu amo tanto você.

— Eu amo você também, Lene. — Eu a apertei mais forte. — Obrigada por tudo, por cuidar de tudo. Eu sei o quanto você o amava e — voltei a chorar e quanto mais chorava, mais a apertava. —, e eu sei que você está sofrendo tanto quanto eu, obrigada por ser forte.

Ela me soltou e me olhou nos olhos, abraçando-me novamente em seguida. Henry chorou quando se despediu de mim e eu prometi visitá-lo e ligar sempre. Mary me abraçou e desejou que eu fosse feliz – ela não parecia esperançosa de me ver novamente e pensei que talvez estivesse até aliviada que teria sua esposa só para si, mas eu não disse nada, apenas a abracei a agradeci todo o apoio.

Eu não sabia como seria minha vida dali pra frente. Não sabia se eu voltaria a ser advogada, não sabia se voltaria para Nova York. Eu não tinha nenhuma perspectiva de vida, mas eu tinha uma promessa com Amos e o primeiro passo para seguir em frente era ter minha mãe do meu lado para me ajudar a superar o luto de perder meu marido, assim como ela perdera o dela tantos anos antes.

&

O luto me consumiu por meses, eu parecia morta por dentro, como se nunca mais fosse ser capaz de sorrir, de rir, de tombar a cabeça para trás e gargalhar até a barriga doer. Pensei que nunca mais seria capaz de sentar nos sofá e sentir prazer em ver um filme comendo porcaria, de ler um livro e ansiar para saber o que aconteceria com os personagens, de ir até um restaurante e se deliciar com as mais diversas comidas que, aos serem preparadas em casa não pareciam chegar aos pés.

O pai de Amos me ligara várias vezes para me passar as novidades da empresa – que até então era minha –, mas eu dissera que não tinha interesse e que confiava nele para cuidar de tudo. Disse também que assim que tivesse condições, iria passar o comando todo para ele, porque não tinha interesse em administrá-la. A mãe, pelo contrário, me ligava para saber se eu estava bem, mas conforme os meses se passaram, eu não recebi mais nenhuma ligação.

Marlene me ligava todos os dias para saber como eu estava, me distraía falando sobre as bagunças de Henry e eu me divertia minimamente quando ele falava comigo pelo celular, enrolando as palavras e dizendo que tinha saudades.

Até que um dia, minha mãe ficou doente. Pegou uma gripe que a derrubou. Não era nada sério e ela estava muito bem, mas muito indisposta. Naquela situação, eu não tinha abertura de ficar deitada numa cama chorando pela vida ter sido tão injusta comigo. Foi então que eu tomei a iniciativa de cuidar de tudo para ela. Eu limpava a casa, comprava as coisas que precisava e cozinhava todos os dias. Quando ela se recuperou totalmente, continuei fazendo tudo com a ajuda dela. O dinheiro que eu tinha e recebia mensalmente dos lucros da empresa de Amos era suficiente para nós duas, então ela parou de trabalhar depois de eu insistir muito. Nós passávamos o dia todo cozinhando – fazíamos pães, bolos, doces diversos e às vezes nos aventurávamos em receitas elaboradas que víamos na TV. Como erámos apenas nós duas, dávamos muitas das coisas para vizinhos.

Eu sabia que minha mãe amava cozinhar e que não iria nunca querer ficar parada em casa apenas cozinhando para nós duas. Por isso, comprei uma loja no centro de Hogsmeade, mais precisamente, montamos uma padaria pequena que, de início, não sabíamos se ia para frente. Eu a ajudava a preparar as receitas e contratamos uma jovem para ficar no caixa.

Estar de volta a Hogsmeade me trouxe de volta os ânimos, eu não estava feliz, ainda sofria a perda de meu marido, mas eu recuperava, aos poucos e lentamente, a disposição necessária para continuar a viver.

 


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