Dusk Till Dawn escrita por dracromalfoy


Capítulo 15
Capítulo Quinze


Notas iniciais do capítulo

Hello hello.
Mais um atualização, espero de verdade que gostem! Esse capítulo deu um pouquinho de trabalho, porque eu ficava toda hora dizendo para mim mesma "as pessoas estão lendo essa fanfic por causa de jily!!!" mas é uma parte MUITO importante da história e que vai definir algumas coisas principalmente para o próximo capítulo e para os próximos anos da vida dos personagens.

Não se esqueçam de deixar um comentário me dizendo o que estão achando, POR FAVOR.
Abraços.



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DUSK TILL DAWN

Capítulo XV

JAMES POTTER – 2 ANOS DEPOIS.

— James Potter! — Emmeline gritou novamente, aparecendo no meio de ­dezenas de caixas de papelão e com o cabelo bagunçado. Suas bochechas estavam muito vermelhas e seus olhos impacientes. — Você quer fazer o favor de me ajudar aqui?

Entrei novamente no apartamento deixando outra caixa ao lado da porta. Fechei-a com um dos pés e parei para respirar calmamente devido ao esforço.

— Eu estava terminando de pegar as caixas! Aquele ajudante inútil desapareceu. O porteiro disse que ele foi ao mercadinho e depois não o viu mais. — Emmeline revirou os olhos e me passou uma caixa cheia de roupas. — O que é isso?

— Roupas. — Respondeu impaciente. — O que está esperando? Escute, separei as caixas por cômodo, essas aí à sua direita têm as nossas roupas, alguns cosméticos, sapatos, roupa de cama e aquele monte de papel que você insistiu em trazer. — Ela arqueou uma sobrancelha e crispou os lábios. — Ali tem as coisas de cozinha, vou arrumar depois. Nessa caixa aí tem roupas, como eu disse, vá colocando tudo lá no quarto, o marceneiro terminou de montar a cama e o guarda-roupa.

— Certo, já vou fazer isso. Onde está o Sirius?

Emmeline apanhou o meu celular na mesinha que estava parcialmente montada no canto da sala e mexeu rapidamente, os olhos estreitando-se pela tela.

— Ele disse que já está chegando. Mais uns quinze quilômetros. Ah, James, você está pisando em cima de alguma coisa!

— Desculpa, eu não vi. Vou levando essas caixas para o quarto, tá bom? — Eu beijei sua bochecha e ela revirou os olhos, mas após beijá-la novamente, já estava sorrindo. — Não fique tão nervosa, temos tempo pra arrumar tudo. Volto a trabalhar só daqui quinze dias, vou organizar tudo, ok?

Emmeline soltou um pano aleatório que estava em suas mãos e segurou meu rosto, beijando-me.

— Não gosto de bagunça, por isso fico nervosa. Mas vou me controlar. Agora, por favor, pare de enrolar e comece e arrumar aquele quarto.

Eu ri da sua expressão e comecei a trabalhar. Depois de quase dois anos ao seu lado, eu já havia me acostumado com a maioria das suas manias.

Se eu fosse fazer uma linha do tempo do meu relacionamento com Emmeline, ficaria perdido logo no começo, porque fizemos uma longa caminhada até finalmente nos acertarmos. Eu não poderia começar sem mencionar o fato de que sempre tive consciência de que fui um grande babaca no começo e, precisei recompensar Emmeline por eu ter sido lento e inconclusivo com minhas intenções.

Começando do início, dois anos antes, eu estava ansioso e pensando no que aconteceria comigo e com Lily, pensando sobre o que poderíamos conversar e como poderíamos nos resolver – mesmo que fosse impossível ficarmos juntos. Pensei em tudo que eu gostaria de falar para ela, queria que, no final, tivéssemos uma conversa franca sobre tudo que acontecera nos meses que havíamos passado separados. Porém, era inútil e sem nenhum propósito tentar aquela conversa. Meus sentimentos por ela ultrapassavam a barreira de amizade, eu a amava intensamente e sabia que cutucar aquela ferida toda vez só iria fazer com que nos machucássemos constantemente.

Foi mais ou menos no meio da madrugada que tomei a minha decisão e disse a mim mesmo que não voltaria atrás, independente do que acontecesse ou de como doesse fazer aquilo. Tomei aquela decisão porque era insuportavelmente dolorido vê-la me evitando de todas as formas, vendo como ela ficava desconfortável com minha presença.  Eu sabia que não era nada pessoal comigo, sabia o motivo daquilo. Eu soube porque quando ela chegou, Hestia Jones ficou pulando de alegria ao vê-la. Sirius não conseguia para de sorrir, Remus parecia radiante. Até mesmo outros colegas que não tinham muito contato com Lily ficaram extasiados e felizes ao vê-la.

Menos Emmeline.

E Emmeline não estava infeliz ou com raiva – Emmeline adorava Lily, com todo o coração. A questão era que ela estava desconfortável e eu sabia o motivo. Então eu fiquei me sentindo ainda pior, por ter estragado tudo, por ter feito Lily sofrer quando ela deveria estar feliz e aproveitando sua vida, por ter me envolvido com Emmeline ao ponto dela não conseguir encarar sua melhor amiga, por ter ido na casa de Lily e a colocado nessa situação.

Por mais que a culpa não fosse só minha, ainda assim eu me culpava. Por isso, eu decidi que era hora de colocar um ponto final naquilo tudo. Dali algumas semanas eu iria voltar para a Argentina, Lily para os Estados Unidos e, assim, nós dois poderíamos seguir em frente, de uma forma ou de outra.

A questão com Emmeline demorou a se resolver. Após minha conversa com Lily, eu não queria saber de mais nada. Fiquei recluso, afastado e pensando somente em mim mesmo. Sabia que aquilo poderia estar machucando Emme, mas sabia também que não queria fingir, não queria forçar um relacionamento que não era recíproco. Voltamos para a Argentina juntos e, quando eu menos pude esperar, após alguns meses, estávamos juntos. Foi de repente, eu não havia planejado nada daquilo, não havia pretendido ter algo com Emmeline, mas foi inevitável. Estávamos sempre juntos, fazíamos tudo juntos.

Ela começou a faculdade e eu estava trabalhando duro com Sirius na galeria, fazendo a parte financeira. Dali alguns meses, Hestia e Remus se mudaram para uma casa do outro lado da cidade, para terem mais privacidade, Sirius passava quase 18 horas por dia dentro do seu próprio quarto trabalhando na sua arte, saía vez ou outra para ir ao banheiro e buscar mais comida para sua toca. Havia sobrado nós dois.

Demorou um pouco até que eu parasse de pensar em Lily a todo segundo, até que eu não ficasse mal ou sofrendo pelos cantos sempre que me lembrava dela e do seu olhar triste me vendo ir embora, mas quando aconteceu, eu já estava planejando me mudar com Emmeline.

Nós alugamos um apartamento ali perto, para que ficasse mais fácil de eu ir trabalhar e a sua faculdade também não era longe da galeria. O que eu estava ganhando trabalhando com Sirius era suficiente para que eu pagasse pelo apartamento e tivesse uma vida confortável. Compramos os móveis, reformamos o apartamento de forma que ficasse mais a nossa cara.

Se me perguntassem, eu não saberia dizer se eu a amava, naquela época. Eu tinha um carinho enorme por ela, isso era inegável. Gostava de passar o tempo ao lado dela, gostava da sua companhia, das nossas conversas, das nossas noites e de nossas confidências. Não saberia dizer se aquilo se encaixava como amor. Sabia que não era a mesma coisa que havia sido com Lily, sabia que eu ainda pensava em Lily – embora não mais com mágoa, dor ou saudade, pensava nos nossos momentos bons com muito carinho –, mas eu estava feliz com Emmeline. Se era ou não amor, parecia ser suficiente.

Ficamos alguns meses por ali e a vida estava boa, calma e do jeito que deveria ser. A galeria estava faturando muito mais do que havíamos pensado que seria possível, o nome de Sirius estava em todos os lugares, as pessoas brigavam por uma entrada nas exposições e nos leilões. Ele começava a fazer nome na America do Norte e pretendia expandir os negócios para a Europa, começando pelo Reino Unido muito em breve.

 Porém, meses depois, meu pai sofrera um ataque cardíaco sem precedentes e falecera. Eu não poderia – e não iria – deixar que minha mãe passasse pelo luto sozinha. Dessa forma, ficou decidido que eu iria voltar para Hogsmeade e trabalhar na nova galeria que iríamos abrir em Londres, Emmeline iria finalizar seus estudos por lá também.

E lá estávamos arrumando a bagunça no nosso novo apartamento no centro da pequena e pacata Hogsmeade.

Ouvi batidas frenéticas na porta e voltei para a sala, ouvindo Emmeline resmungar.

— Quer parar de bater desse jeito na porta, Black? — Ela abriu exasperada enquanto eu aparecia na sala, vendo Sirius entrando com um sorriso no rosto. — Mal chegamos e os vizinhos já vão começar a falar.

— Então coloquem uma campainha, oras. — Sirius resmungou, passando por Emmeline e tropeçando numa caixa. — E ai, Prongs?

— E ai, onde está o Remus?

— Ele não vem, aconteceu alguma coisa com a Hestia.

Emmeline se sobressaltou.

— O que aconteceu com a Hestia? Eles não vêm aqui pra casa ou não vem pra Hogsmeade?

— Hogsmeade. Estão em Madrid, desembarcaram e não pegaram o voo para Londres. — Sirius explicou. — Droga, não deveria ser eu a dar essa notícia. Parece que a Hestia está grávida.

— Quê! — Emmeline largou o que estava fazendo. — O que quer dizer com “parece que está grávida”? Ela fez o exame?

— Eu não sei, Vance. Estava esperando o Remus e ela para irmos até o aeroporto em Buenos Aires, mas eles estavam atrasados. Liguei para ele e ele disse para eu ir na frente que logo me alcançariam. Nosso voo já estava sendo chamado e nada de aparecerem. Liguei novamente e disseram que iriam pegar o voo para Madrid, que seria dali há duas horas, e depois pegariam um para Londres, porque não iriam chegar há tempo no aeroporto para embarcarmos juntos. Bem, cheguei aqui e Remus mandou mensagem que tiveram que correr para o Hospital em Madrid porque Hestia não estava passando bem. Ele tinha acabado de descobrir que ela estava desconfiada de que estava grávida há quinze dias e não comentara nada com ele.

— Você estava sabendo disso, Emmeline? — Questionei. As duas eram muito próximas e estavam sempre juntas.

— Não fazia ideia.

— De qualquer modo, ele ficou de dar notícias assim que possível. Estava uma pilha de nervos.

— Imagino que sim. Meu Deus, a Hestia grávida? — Emmeline se sentou numa das caixas e sorriu contidamente. — Parece irreal, não é mesmo? Ela deve estar surtando, também, está bem no meio da faculdade, iria se formar daqui dois anos.

— Por que iria? — Sirius arqueou uma sobrancelha e sentou-se também, recebendo um olhar de Emmeline que o fez levantar-se novamente. — Ela ainda vai se formar, acredito. Quer dizer, talvez tenha que parar por alguns meses, mas de resto...

— Sim, Sirius, mas mesmo assim é uma grande responsabilidade, não é? Cuidar de uma criança. — Emmeline parecia aflita, mexendo as mãos de forma nervosa. — Ela provavelmente vai querer ficar perto da família. Com certeza os Jones vão querê-la por perto e não do outro lado do mundo.

— Nós ainda não temos nenhuma confirmação, Emme. Talvez seja um alarme falso. E mesmo que não seja... Bem, acho que esse não é o momento para pensar nisso, não é? Vamos torcer para que esteja tudo bem com ela.

— Sim, você está certo. Escute, Black, aproveite que você está aqui e nos ajude com essa bagunça.

O apartamento ainda estava completamente bagunçado por volta das onze da noite, quando Emmeline e eu decidimos que devíamos parar, porém, pelo menos nosso quarto já estava mais ou menos em ordem. Sirius nos ajudou bastante, ofereceu seu apartamento para que jantássemos, mas resolvemos pedir alguma coisa mais rápida para comermos e depois dormir.

Eu já estava deitado, esperando Emmeline sair do banho para se juntar a mim e dormirmos. Quando ela apareceu no quarto com seu pijama rosa, parecia pensativa e até mesmo um pouco aflita.

— O que foi? — Questionei. — Você está estranha.

— Estou pensando em Hestia, ainda não tivemos notícias dela. O celular está desligado, tentei falar agora pouco.

— Já está tarde, Emmeline. Acho que se fosse algo grave, Remus teria ligado avisando. Provavelmente amanhã cedo teremos notícias.

Ela pareceu considerar minha resposta, pois apagou a luz e foi deitar-se ao meu lado, ainda com uma expressão esquisita no rosto.

— Você tem vontade de ter filhos? — Perguntou.

A pergunta me pegou de surpresa, porque nunca havíamos tocado nesse assunto. A questão era que sim, eu sempre quisera ter filhos, era minha maior vontade, ser pai. Havia pensado sobre isso diversas vezes com Lily e, muitas dessas vezes, acabávamos rindo ao pensar em nomes estranhos para crianças. Era divertido pensar sobre aquilo, mas também incluíamos esse assunto sempre que fazíamos planos para o futuro.

Eu não havia pensado sobre isso desde então, não havia pensado nisso com Emmeline, até porque ela nunca havia tocado no assunto ou comentado sobre isso. Eu nem mesmo sabia se ela tinha esse desejo de ser mãe que a Lily sempre tivera.

— Sim. — Respondi, sendo sincero. — E você?

Emmeline sentou-se de frente para mim, encarando-me.

— Sério?

— Sim. Por que a surpresa?

Ela deu de ombros e deitou-se com a cabeça no meu peito.

— Só que nunca falamos sobre isso.

— Acha que é o melhor momento para falarmos disso? Para pensarmos nisso?

— Por que não? — Ela estava me olhando daquela forma apaixonada, sonhadora e tinha um sorriso nos lábios. — Eu não posso dizer que sempre sonhei ser mãe, mas eu me pego pensando nisso às vezes. Eu gostaria de ter uma família, James. Uma família de verdade. Eu quero ser uma mãe diferente do que a minha foi pra mim e gostaria que meu filho tivesse um pai melhor do que eu tive. Acho que você seria um bom pai, James.

— Tudo bem, eu entendo. De verdade, Emme, entendo o que você diz. E acho lindo, mas acho que é cedo para pensar sobre isso. Você está na faculdade, vai começar numa nova turma no próximo semestre, nós acabamos de nos mudar de volta para cá, ainda... ainda...

— Ainda não somos casados? — Completou. — Case-se comigo, James.

— O-o que?

— James, estive do seu lado esse tempo todo, não estive? E você esteve do meu. Você esteve aqui, estamos juntos há quase dois anos e quantas brigas tivemos?

— Emme...

— Não estou pedindo para que comecemos a tentar um bebê agora — Ela riu. —, ou que você me peça em casamento agora. Estou pedindo para você considerar, e, se você considerar, saiba que a resposta será sim.

No dia seguinte, recebemos a confirmação de que Hestia estava mesmo grávida e, embora o choque no começo tenha sido grande, ela parecia muito feliz, assim como Remus. Emmeline, no entanto, estava duas vezes mais. A confirmação da gravidez de Hestia apenas fez com que Emme quisesse ainda mais dar o próximo passo na nossa relação que estava indo relativamente bem. Discutimos diversas vezes o assunto e ela estava relutante. Queria se casar, queria ter filhos e disse-me que faria de tudo por uma família.

E foi assim que Emmeline e eu acabamos nos arrastando num casamento pelos próximos oito anos.

LILY EVANS – 3 ANOS DEPOIS.

 

Eu estava sentada na bancada da cozinha de Amos Diggory vestindo uma de suas camisetas, enquanto o assistia fritando ovos e bacon para nosso café da manhã. Quase quatro anos morando nos Estados Unidos e eu já estava habituada à sua dieta. Estava tocando uma música horrivelmente chata na sala e eu ria da forma como ele cantava de forma desafinada e sem saber totalmente todas as palavras da letra.

— Para com isso, Amos! — Eu ri, curvando-me para frente enquanto ele cantava mais alto. — Isso é tortura, por favor. Nossa, eu te odeio.

Ele soltou a escumadeira e puxou minha cintura, quase me derrubando, mas segurando-me com força e rindo enquanto eu gritava.

— Odeia? Você é uma mentirosa, Evans.

— Você é um péssimo cantor. — Eu disse rindo, enquanto ele beijava minhas bochechas. — Amos, você vai deixar tudo queimar!

Ele voltou para o fogão e o resultado eram dois ovos queimados e o bacon quase passando do ponto. Ele bufou rendido e desligou tudo.

— Está feliz agora? — Questionou ele segurando a risada. — Não temos café da manhã.

— É um péssimo cozinheiro e um péssimo cantor. Não sei por que estamos juntos. — Amos jogou os ovos na lixeira rindo e me ofereceu um pedaço de bacon. O cheiro, pelo menos, estava ótimo. — Vamos pedir alguma coisa.

— Vamos, pegue o meu celular ali, por favor. Vai querer o que?

— Qualquer coisa. Tenho que estar no escritório às nove horas. — Entreguei o celular a Amos pulei para o outro lado da bancada, deitando-me no sofá. — Queria poder ficar aqui para sempre.

— Você pode, já conversamos sobre isso. — Disse Amos. Fiquei em silêncio, porque sabia do que ele estava falando, mas não sabia exatamente como responder. — Porém está relutante em me levar a sério.

— Eu te levo muito a sério, Amos.

Ele jogou o celular em minha direção e eu o peguei, olhando para o cardápio do aplicativo de entregas. Amos havia escolhido o que iria querer, então encarei o celular para evitar contato com ele, também.

Há meses vínhamos tendo aquela conversa. Estávamos namorando há quase três anos, eu passava mais da metade do meu dia entre o estágio e a faculdade, à noite, eu dormia com Amos na sua casa. Eram poucos os dias em que eu ia para a minha, geralmente, apenas quando Marlene estava por lá – já que ela estava praticamente morando com sua noiva, chamada Mary. Devido a isso, Amos vinha dizendo sempre que eu deveria me mudar logo para a casa dele, que isso era o que iria acontecer cedo ou tarde.

Eu concordava, é claro, porque sabia que aquilo era verdade. Nós dois tínhamos um relacionamento estável, eu gostava muito dele e ele também gostava muito de mim, nos divertíamos juntos e passávamos um tempo agradável na companhia um do outro.

O único motivo pelo qual eu ainda não havia arrumado minhas coisas e mudado para sua casa, era medo.

— Eu só acho que é muito cedo — Continuei —, acho que deveríamos esperar mais um pouco. Eu ainda estou na faculdade, sou uma mera estagiária.

Entreguei-lhe novamente o celular, finalizando o pedido.

— É uma estagiária agora, mas não vai ser pra sempre. De qualquer forma, é só uma sugestão que eu realmente gostaria que você pensasse a respeito. Quer dizer, o que nós estamos realmente esperando? Terminar faculdade, depois conseguir um emprego, depois mudar para um emprego melhor, depois outro, e outro, e outro. Parece cansativo, não é?

— A questão não é só arrumar um emprego e sim... Olha, Amos, não sei! Eu tenho medo. Medo de dar errado, de ser uma maravilha enquanto estamos pensando sobre isso, mas um pesadelo na realidade. E se eu não estiver pronta para isso?

— Então você será livre para arrumar suas coisas e ir embora. Lily, a intenção não é te prender aqui, não é te tomar a sua liberdade. É construirmos algo juntos. Não é isso que você quer?

— Sim.

— É o que eu quero também.

Amos me beijou suavemente e eu me permiti fechar os olhos por alguns minutos e pensar a respeito do que ele dissera, realmente pensar sobre aquilo, imaginar como seria. Parecia impossível dar errado, eu amava Amos. Pensar sobre amá-lo me fazia questionar diversos aspectos e me fazia, também, mudar minha opinião sobre algumas coisas.

Eu não amava Amos da mesma forma como amara James e disso eu tinha absoluta certeza. Tudo o que eu tivera com James me deixara absorta num sentimentos que não parecia real, eu era completamente apaixonada e fissurada por ele. Meus pensamentos viviam envoltos nele, nos seus toques, na sua voz, nele por inteiro.

Com Amos era diferente, ele era meu melhor amigo. Toda nossa história até ali poderia ser comprimida e baseada numa grande amizade, e eu o amava por isso. Porém, junto disso, tinha sexo, porque fora assim que tudo começara. Era para ser uma amizade, depois se tornou uma amizade colorida, até o momento em que estávamos os dois dormindo juntos na mesma casa, mesmo quarto, mesma cama.

Eu me perguntava o que aquilo tudo significada. Eu estava apaixonada por Amos? Não. Eu o amava? Muito.

Aquelas duas perguntas embaralhavam a minha mente e me deixavam muita confusa.

Mas, tinha uma coisa que eu havia aprendido desde muito cedo com minha mãe: Um relacionamento não se sustentava sozinho, ele precisava de pilares para sustentá-lo e, ao contrário do que muita gente poderia pensar, o amor seria apenas um desses pilares, mas existiam muitos outros que eram necessários para que um relacionamento durasse. Podendo faltar um ou outro – até porque nem tudo era perfeito – era necessário que houvesse uma base significativamente importe para sustentar esse relacionamento. Amos e eu parecíamos ter aquilo.

— Vou pensar a respeito, Amos, eu prometo. Eu fico feliz de saber que você pensa num futuro para nós dois, porque eu também penso. Eu acho que pode dar certo.

 Ele voltou a me beijar e parecia realmente feliz e satisfeito com a minha resposta.

Cheguei em casa por volta das sete da noite, pois passara a tarde no escritório de Advocacia que estava estagiando. Comprei algumas coisas para fazer a janta, mas duvidada muito que Marlene estaria em casa. Após se formar da faculdade, ela estava ainda mais ocupada que antes trabalhando numa clínica veterinária no centro da cidade e, o tempo que tinha sobrando, passava com Mary – sua noiva.

Destranquei a porta e, ao contrário do que eu pensava, Marlene estava deitada no sofá com uma camiseta de pijama enorme e com um pote de Nutella entre as pernas.

— Achei que não estaria em casa — comentei, carregando as sacolas para dentro do apartamento. Levei tudo para a cozinha e, como não obtive nem mesmo um “oi” de Marlene, retornei para a sala. — O que foi?

— Nada. — Ela disse simplesmente, colocando outra colherada de chocolate na boca. — Pensei que você não fosse vir pra casa.

— Resolvi dar uma passada. Você e Mary estão bem?

— Estamos. Eu só estou cansada, não é nada com a Mary. — Marlene sentou-se no canto do sofá e deu batidinhas para eu me sentar também. — Eu vim para cá porque acho que não estamos passando muito tempo juntas, mas só depois me dei conta de que talvez fosse para a casa do Amos. Não quis ligar atrapalhando.

— Tem razão. Que sorte que passei do mercado, então. Vamos cozinhar alguma coisa. — Marlene em encarou preguiçosamente. — Ou podemos pedir comida e deixamos a janta para outro dia.

— Bem melhor.

Fui até a cozinha novamente e guardei as compras, quando voltei, Marlene estava ligando o rádio e tinha trocado de roupa.

Ele me chamou para morar lá. — Contei, sem pensar muito a respeito.

Marlene arqueou uma sobrancelha num gesto de confusão e depois relaxou, provavelmente entendo a respeito do “ele”.

— De novo?

— Como assim de novo?

— Ele já tinha chamado antes, não tinha? — Questionou. Dei de ombros e me sentei no sofá. Ela me entregou seu celular com o aplicativo de pedidos aberto e eu ri diante daquilo, lembrando-me de Amos. — Eu acho que seja uma boa ideia.

— Acha mesmo?

— Sim, Lily. Faz todo sentido. — Ela me olhou atentamente. — Vocês estão juntos já tem um tempo. E, bem, eu também estou pensando em sair daqui, sabe?

— E pretendia me contar isso?

— É claro. Olhe, eu e Mary estamos muito felizes juntas, eu passo a maior parte do tempo com ela e, antes, eu achava que você passava tanto tempo com Amos pra não ficar aqui sozinha, mas agora sei que vocês estão realmente bem e que combinam muito. Por isso acho que é perfeitamente compreensível que ele esteja te pedindo isso e imagino que você esteja considerando. Você se forma daqui a dois anos, não é? Está na hora de começar a fazer planos.

— Os meus planos não precisam necessariamente incluir um relacionamento, Marlene.

— Eu sei disso, Lily! Mas você já está num relacionamento, então quando estiver fazendo planos, é bom se lembrar disso.

— O que isso quer dizer?

Marlene respirou fundo.

— Só estou dizendo que sei o quanto você planeja tudo que faz mil vezes antes de realmente fazer, e que já que você provavelmente já está planejando seu futuro e tudo que virá depois que se formar, seria bom pensar a respeito do seu relacionamento com Amos.

— Acha que vou abandoná-lo como fiz com James?

Eu não saberia dizer de onde surgiu aquilo, o motivo de eu ter pensado em James ou imaginar que Marlene estava falando sobre ele, e por isso me repreendi assim que as palavras saíram da minha boca.

— Eu não disse isso. — Respondeu me olhando com uma cara esquisita. — Enfim, é sua decisão. Se quiser morar com Amos, tem meu total apoio, se não quiser, também vou te apoiar. Já decidiu o que vamos comer?

Eu tinha perdido totalmente a fome. Sabia que Marlene não fazia por mal e eu morava com ela a tempo suficiente para conhecê-la bem, mas não conseguia engolir algumas coisas, como por exemplo, como ela era extremamente protetora em relação a Amos, como se eu fosse quebrá-lo de alguma forma.

— Pode escolher. Eu vou tomar um banho.

Liguei o chuveiro e fiquei por quase quinze minutos apenas pensando, um turbilhão de pensamentos rodeando minha mente exigindo minha atenção. Eu não tinha motivos para surtar daquele jeito, para colocar pessoas do passado em discussões do presente.

Eu não podia voltar para o passado, eu estava feliz. Estava fazendo um estágio satisfatório, minhas notas eram altas, eu já teria uma ótima carta de recomendação assim que me formasse.

E eu tinha Amos, que era atencioso, amoroso, carinhoso, inteligente, altruísta, tinha um bom coração e caráter. O que mais eu poderia pedir?

Eu não poderia pedir mais nada, eu não precisava de mais nada. E Marlene tinha razão, mesmo que eu odiasse ouvir a voz da razão às vezes. Eu tinha 21 anos, logo iria me formar, iria construir a minha vida. Era pegar ou largar e eu não cometeria o mesmo erro duas vezes.

Terminei meu banho, troquei de roupa e fui até a sala. Marlene disse alguma coisa sobre ter pedido comida japonesa, mas eu não dei atenção.

— Vou me casar com Amos.

Marlene ficou meio sem reação a princípio.

— Lily, você não precisa ser radical só porque eu disse que...

— Não é por você, mas você tem razão. É o que faz sentido. É o que eu quero.

— Tudo bem então. Aposto que Amos vai ficar muito feliz com isso, Lily. Espero que esteja pensando na sua felicidade também.

— Estou. Eu estou feliz.

Comemos a comida que Marlene pediu e não tocamos mais no assunto. Conversei com Amos sobre morarmos juntos e sobre nos casarmos. Como eu previ, ele ficou feliz e muito animado.

E assim aconteceu. Nós nos casamos durante as férias de verão em Nova York – onde seus pais moravam – minha mãe se apaixonou por ele e ficou ainda mais feliz do que eu conseguiria imaginar. Acabei minha faculdade dois anos depois, comecei a trabalhar num escritório de Advocacia, mas ainda não era o que eu queria.

Alguns meses após minha formatura, nós nos mudamos para Nova York, Amos estava montando uma micro empresa na sua área e eu iria abrir meu próprio escritório. Marlene e Mary se mudaram também, trabalhavam juntas num hospital veterinário e adotaram um menininho chamado Henry.

Vivemos anos realmente felizes, mas, como eu já deveria prever, nem mesmo toda a felicidade do mundo dura para sempre.


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Notas finais do capítulo

Comentem, plss
Bjs e até a próxima att



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