Chiquititas - Revenge escrita por Geovanna Danforth


Capítulo 33
Ressentimentos




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Eu e Tiago tínhamos chegado à conclusão de que seria melhor se morássemos juntos, eu já tinha terminado meu período de serviços comunitários e minhas sessões com a psicóloga tinham diminuído de duas sessões por semana para apenas uma. Eu me sentia bem melhor, já podia ir à praia sem esconder minha identidade, e amava fazer isso. Tinha trazido algumas coisas pro apê de Tiago mas ainda estava decidindo o que fazer com o restante.

Além de toda essa mudança de ares ainda tive a sorte ou o azar de receber notícias de Maíze. Rangel havia me ligado e me dito que eles estariam de volta em alguns dias, ele já havia sondado toda a situação, sabia da prisão de Soraya e todo o resto apesar de o meu caso permanecer em sigilo com a polícia mas Rangel tinha contatos, ele não era qualquer um na cidade também.

A conversa que tive com ele dias atrás ainda rondava minha cabeça.

“_ Sei que você estava certa Laureen, mas preciso que entenda que assim como você, Maíze costuma ser um pouco incontrolável...

— Rangel, não me compare com essa garota, eu nunca me esconderia com um cara metido a salvador por causa do meu coração partido e pela ameaça de uma outra pessoa.

— A sua auto confiança me surpreende.

— Que bom, prova disso chegamos até aqui.

— Sim, eu sei, mas quando voltarmos, saiba que não vou poder controlar as ações dela como estou fazendo agora.

— E o que isso indica?

— Indica que ela vai fazer de tudo pra salvar Soraya, você sabe.

Respirei fundo e tentei escolher as palavras certas.

— Rangel, sei que você se preocupa com Maíze, e com certeza vai explicar pra ela as consequências do que ela pode vir a fazer, eu estou tentando ter uma vida normal agora, acertei minhas contas com a justiça; mas Soraya, ela não pagou nem um terço do que fez, então trata de dizer pra Maíze que se ela interromper esse processo, ela vai ser engolida junto, e eu sei que Soraya não vai fazer o mesmo por ela depois.”

As palavras que Rangel disse depois tinham o peso da verdade que ele não queria admitir, que as coisas poderiam acabar bem ruins pra sua amada. Mas eu já estava cansada daquilo, precisava seguir em frente, não aguentava mais o peso dos problemas de outros sobre mim.

Até Tiago estava meio estranho comigo a uns dias, enquanto organizávamos os preparativos do casamento e tudo mais, ele não parecia estar tão confortável. Suely havia oferecido uma área enorme que tinha na sua fazenda pra fazermos a celebração, seria algo simples com poucos amigos e eu concordei com a ideia. Adriana estava quase surtando como se ela mesma fosse casar.

Enquanto estávamos colocando a pipoca numa vasilha pra ir assistir um filme, Tiago acabou revelando um pouco do que estava pensando.

— E então, as sessões com a psicóloga estão ajudando? _ perguntou ele.

— Sim, estão sim. Ela me fez compreender o que aconteceu comigo e as consequências disso.

— Será que eu deveria ir também?

— Se você quiser, é claro que pode. Mas você não tem os mesmos problemas que eu, e também você lida com as coisas de uma forma diferente que eu, você é mais resistente.

— Eu acho o contrário... mas tudo bem. Você sente que está deixando essas coisas pra trás?

— Que coisas?

Sentamos no sofá e Tiago ligou a tv.

— Os seus conflitos, seu passado. _ disse ele.

— Não tem como Tiago, faz parte de mim, só tenho que aprender a lidar com eles e a seguir em frente.

— E Soraya?

O nome dela ainda me fazia estremecer.

— O que tem ela? _ perguntei.

— Não acha que tem que acertar as coisas com ela?

— Bem, eu não acho que preciso...

— Você sabe que precisa.

Tiago me encarou.

— Te peço isso porque amo você, então acho que antes de a gente casar você deveria resolver essa questão. _ disse ele.

Não falei mais nada. Peguei um punhado da pipoca enquanto Tiago escolhia o filme que íamos ver.

CH

Na manhã seguinte eu observava meu vômito na pia da cozinha, a mesma cozinha em que eu e Tiago tínhamos nos esfregado na noite passada, o projeto de batizar cada cômodo da casa com nossa dança corporal e roupas jogadas em qualquer lugar estava dando certo, mas eu havia amanhecido enjoada pela manhã, justamente na manhã em que eu havia decidido resolver uma questão.

Tiago já havia saído e eu ainda precisava decidir se ia ou não fazer o que estava pensando, mas por fim decidi escolher uma roupa decente já que pro lugar onde eu ia só permitiam entrar assim.

CH

A sala onde eu estava era sem graça assim como todo o prédio, uma lâmpada iluminava o lugar acima da mesa que estava à minha frente, eu segurava minha bolsa com força contra o meu colo enquanto tentava não sair correndo da cadeira onde estava sentada.

Por fim, a porta foi aberta, a porta da sala de visitas do presídio da cidade, e Soraya apareceu.

Ela caminhou até a cadeira do outro lado da mesa e sentou, sua roupa era de um tamanho maior que o adequado pro seu corpo, e seu cabelo que sempre vivia escovado e sem frizz agora estava maltratado. Por um momento pensei que aquela não era a mulher que eu vim encontrar, no entanto, ela olhou pra mim.

O mundo parou por uns segundos quando Soraya me olhou nos olhos e eu percebi que ela ainda estava ali, com todo seu rancor e assombro que me perseguiu desde que a conheci.

— De todas as pessoas que pensei que viriam, você não estava nem no último lugar da lista. _ a voz de Soraya saiu arrastada e pesada.

— E você tem uma lista? Sua autoconfiança é inabalável né, pensa que existe alguém que ainda se importa com você?

— O que veio fazer aqui? Quem te trouxe? Sua consciência?

— Não, meu carro mesmo.

Soraya me encarou.

— O que me trouxe aqui foi a devoção, _ continuei_ pelo homem que eu amo. Só precisava vir aqui e terminar o que comecei. Não vim matar você, essa não era minha intenção, mas as circunstancias acabaram levando uma coisa à outra, então apenas preciso te dizer que liberei o perdão. Não tenho mais ressentimentos.

— O quê? Perdão? Desde quando eu preciso do seu perdão garota?

— O perdão não é pra você Soraya, é pra mim. Eu só precisa vir aqui e te olhar uma última vez, e te dizer isso também, você precisa de paz muito mais que eu.

— Você está enganada Laurinha, acha que eu sou um monstro? Minha vida não era perfeita, tive que fazer certas coisas se quisesse chegar onde cheguei, e teria permanecido lá se você tivesse consciência do seu lugar.

— O meu lugar?

— Sim. Bem longe dessa cidade.

— O meu lugar é onde eu quero estar, e você não tem nada a ver com isso.

— Infelizmente... mas sabe o que eu acho engraçado, _ Soraya se inclinou sobre a mesa_ você vir aqui, com todo esse papinho de perdão e recomeço, tentando se livrar desse peso do passado, que no caso sou eu, como se todos os seus fantasmas fossem sumir de um dia para o outro, loirinha... digo por experiência própria que não vai se ver longe de mim tão cedo, se eu tenho fantasmas, você também tem, não percebeu o quanto somos parecidas? Se tiver alguma dúvida é só olhar em volta... veja bem onde estou e onde você está e depois veja quem é a verdadeira vilã da história.

CH

Eu ainda tremia quando cheguei em casa, já considerava o apartamento de Tiago como meu lar, havia ficado alguns minutos dentro do carro respirando fundo pra não correr o risco de sofrer algum acidente quando saísse da frente do presídio.

A voz de Soraya ainda ecoava na minha cabeça até que Tiago chegou e me olhou dos pés à cabeça, parada na cozinha com um copo de água na mão, encarando o nada.

— O que aconteceu?

Coloquei o copo na pia e suspirei.

— Onde você estava? _ perguntou ele de novo.

— Fui ver Soraya.

Tiago arqueou as sobrancelhas.

— E aí, como foi? _ disse ele se aproximando de mim.

Dei de ombros.

— Ela... parecia estar certa sobre algumas coisas.

— Sobre o que exatamente?

— Ela está presa Tiago, e eu estou aqui, eu cometi crimes também, ela também teve traumas como eu, talvez eu seja um ser humano pior que ela sabe, ela...

— Ei, ei.

Tiago segurou meu rosto com as mãos e me fez olhar pra ele.

— O que você está dizendo? Está se ouvindo? _ indagou ele.

Senti lágrimas surgirem em meus olhos.

— Eu não sou uma boa pessoa, você sabe disso. _ murmurei.

— Você é a mulher que eu amo. _ disse ele me puxando contra seu peito.

Me permiti chorar e o abracei com força.

— Você não é uma pessoa ruim, você foi vítima de Soraya, não deixe ela entrar na sua mente e manipular suas emoções, ela sempre faz isso, como acha que eu continuei mantendo contato com ela durante todos esses anos?

Tiago segurou meu queixo e levou meu olhar para seu rosto.

— Você foi machucada Laureen, _ continuou ele_ por isso tem todo esse peso com você, Soraya matou a própria mãe por pura vaidade, ela é uma psicopata, não se compare com ela, e saiba que eu te amo, mas você precisa se amar também, eu vou continuar aqui com você, até quando a minha existência se tornar impossível.


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