Vermelho Escuro escrita por Catiele Oliveira


Capítulo 4
4. Marie




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/762150/chapter/4

Capítulo 4

POV BELLA

Duas semanas depois

O frio em sua barriga estava subindo e descendo por sua garganta, isso se chamava ansiedade. Bella havia apresentado seu trabalho de conclusão de curso e estava nervosa com a decisão da banca que lhe daria sua sentença final. Havia sido um período tão longo até ali, se formar em Administração era seu sonho desde a escola e foi tão difícil conseguir conciliar aulas com trabalho e ao mesmo tempo se dedicar em ser mãe, cuidar de uma casa e até da sua outra filha, Alice. Ela viu sua amiga se formar mais cedo, mas se não fosse por Alice cuidar de Marie em seu tempo livre, Bella nunca teria conseguido sua própria chance de ter um diploma em mãos. E agora sua vida estava nas mãos dos professores que analisavam seu trabalho e julgavam seu empenho.

Exausta, essa palavra definia muito bem a mesma nesse momento. Em pensar que ela ainda tinha dezenas de coisas para fazer antes de ir para o trabalho.

Torcendo os dedos, Bella se colocou de pé quando foi chamada para retornar à sala onde sairia o veredito final sobre o momento mais decisivo de sua vida, estava se sentindo em um tribunal, prestes a receber sua sentença.

"Aprovada!" Foi o que ela ouviu quando se aproximou de seus professores. Houve um incessante momento de lágrimas, abraços e muito alívio.

Ao deixar a sala, Bella encontrou o próximo aluno que entraria na sala para sua apresentação.

— Ei, Bella-Bel, como foi? — A pergunta ansiosa viera acompanhada de um sorriso otimista.

— Eu passei!

O abraço que viera a seguir não havia surpreendido ela. Aquele era um dos poucos amigos que ela havia feito ao decorrer do curso, acontece que somente em sua adolescência fora aberta a amizades, quando era mais jovem tinha sido fácil socializar, sem filhos, na flor da idade e começando a ser o comentários entre os garotos. Sempre havia sido fácil circular entre todos os grupos na escola, ela era uma menina divertida e agradável. Mas tudo mudou...

— Parabéns, garotinha! Eu sabia que você iria conseguir! — Murmurou o homem após solta-la do abraço. — Ficou muito nervosa?

— Um pouco, mas depois você vai ver que é como em sala de aula, mas sem um grupo maior. Você vai conseguir, Paul.

— Obrigado Bella. — Ela afagou os ombros dele depois de ouvir o nome do rapaz ser chamado.

— Por nada... Ei, me mande mensagem quando souber o resultado, ok?

— Ok.

Ela sorriu confiante para ele e o observou entrar na sala. Queria poder ficar esperando para assistir a apresentação do amigo, mas sabia que ele entenderia que ela precisava ir.

Ao sair da universidade, Bella apertou seus braços contra o corpo ao sentir o sereno fino. Ela odiava o frio, principalmente porque essa era a época em que sua filha mais ficava gripada. Andou rapidamente para o ponto de ônibus, não poderia parar nem um minuto se quer ou todos os seus planos teriam que ser realojados. Ela arfou, agora teria mais tempo a tarde até que conseguisse agilizar seus documentos e encontrar um emprego... Mas tudo era um processo, teria paciência.

Já em casa, Bella separou as roupas que precisaria levar para a lavanderia e contou com a sua pequena ajudante para auxiliá-la nessa função.

— Como foi o seu dia na escola, amor? — Ela perguntou enquanto a filha lhe ajudava a separar as roupas da tia Alice pela cor.

— Hoje eu estudei a família do G, mamãe. Você quer ouvir?

Os olhinhos de Bella brilharam quando ela sorriu assentindo.

— GA GO GU. — A menininha dos olhos verdes brilhantes disse com orgulho, Bella fingiu surpresa ao ouvir.

— Ei, a senhorita é muito inteligente! Parabéns!

— Você sabe uma palavra da família do G, mamãe?

Bella fingiu pensar e sorriu levemente. Observou Marie colocar as roupas pretas separadas das brancas e das sobrancelhas, então as juntou dentro de seus respectivos cestos.

— Vejamos... Gato é da família do G.

— Gato e gatinho, mamãe? — Soltando uma risada ela assentiu do jeito curioso que a menina arqueava a sobrancelha. — Eu posso ter um gatinho?

— Acho que a tia Alice morreria! — Bella exclamou dando uma risada.

Marie franziu o cenho sem entender o motivo da risada exagerada da mãe, principalmente sem saber por que sua tia Alice morreria se ela tivesse um gatinho.

— Mamãe... — Bella sabia que ela estava prestes a implorar.

— Pensarei sobre isso, prometo. Mas por enquanto vamos levar essa roupa para levar e na volta podemos comprar um chocolate quente no Starbucks, que tal?

A menina sorriu alegremente e Bella também sorriu, sabendo como era fácil agradar sua filha e como ela conhecia muito bem a menininha que havia colocado no mundo.

— Pegue sei casaco, nós vamos sair agora.

A filha assentiu e Bella viu a menina correr para o quarto. Deixou o cesto de roupa organizado em cima do sofá e procurou pelo próprio casaco, que estava pendurado na cadeira de canto da sala. Ela suspirou colocando o mesmo. Bella pegou sua carteira em sua bolsa que esteve em cima do sofá e procurou pelas chaves.

— Já peguei o casaco, mamãe! — Marie gritou. — Nós podemos comprar chocolate para a tia Alice também?

— Podemos. — Disse Bella ao colocar o casaco na filha.

Seu celular apitou dentro de sua bolsa enquanto ela abotoava os botões do sobretudo cor de rosa que sua filha usava. Bella fechou os olhos com força e sua mão tremeu um pouco.

— Vamos, mamãe? — Chamou sua filha.

Ela assentiu, levantou-se e beijou a testa de sua filha. Sentiu uma vontade imensa de abraçar sua filha e protegê-la do mundo.

Caminhou dois passos e pegou seu celular dentro de sua bolsa, digitou sua senha para desbloquear o aparelho e ficou ainda mais apreensiva quando viu que era mais um e-mail. Bella respirou fundo quando clicou para abrir. Seus olhos sobressaltaram um pouco quando ela leu o conteúdo exibido ali:

Assunto: MINHA FILHA

De: jamesw@network

Já achei seu endereço, sua vadia. Já sei onde se esconde com a minha filha e eu já estou chegando até você. Pagará por todos esses anos e por ter saído assim carregando MINHA FILHA. Se prepare para o inferno.

Seus olhos lacrimejaram rapidamente, suas mãos continuaram tremendo. Ela não acreditava nisso, as últimas semanas estavam sendo as piores de sua vida e agora as ameaças estavam ficando piores e não importava o quanto ela mudava seu endereço de e-mail, ele sempre descobria. Ela sabia que em breve ele descobriria seu telefone também - novamente - como na última semana. Estava farta de toda aquela situação, farta do medo imenso que sentia até de sair na rua e farta da opressão que aquele homem a fazia sentir mesmo estando a quilômetros de distância.

Mudar de cidade.

Ela não aguentava mais se mudar sempre que se sentia assustada. O medo a fazia agir por impulso e tomar as piores decisões, foi Alice que decidiu que as duas deveriam permanecer em Seattle, depois de tantas mudanças, então retornaram ao endereço de início. Mas agora Bella não havia dito para sua amiga que seu ex-namorado e pai de sua filha, tinha achado novamente um jeito de atormenta-la. Ela sabia que aquilo não era por Marie, aquele homem nunca havia sido paternal. Ele nunca havia se importado com ela, nem com sua filha. Ele só queria puni-la por tê-lo deixado. Ele só queria a chance de bater um pouco mais nela e deixar com que ela se sinta um lixo no meio da sala.

— Mamãe! Eu quero chocolate quente! — Marie gritou, distraindo Bella.

Ela não tinha condições de responder sua filha naquele momento. Após seu nervosismo passar, ela ficou furiosa. Clicou no ícone de resposta e ali escreveu o que já vinha escrevendo nos e-mails anteriores, dessa vez Bella deixou uma entonação mais enfática para que James entendesse claramente que ela não estava brincando quando dizia que faria qualquer coisa para defender sua filha dele.

Não sentiria mais medo, decidiu.

— Vamos! — Finalmente respondeu para Marie.

Ela guardou de volta seu celular no bolso, caminhou firme para a porta, dando um sorriso confiante para a filha. Com as chaves em uma mão e o cesto no outro, ela abriu a porta para que as duas saíssem.

— Ande junto com a mamãe, Marie. — Pediu Bella.

As duas desceram pelo elevador e antes que a porta se abrisse, Bella segurou as mãos de Marie com firmeza. Andaram pelo hall de entrada do prédio que ela dividia um apartamento com Alice.

— Olá Billie! — Marie cumprimentou o porteiro alegremente.

Bella apreciava a simpatia de sua filha. Não importava quantas vezes a mesma passasse pela portaria, ela sempre cumprimentaria o porteiro com um sorriso e um sinal de joinha, que fora ensinado pelo mesmo.

— Olá Marie, você vai passear com sua mãe? — Billie a cumprimentou com o mesmo entusiasmo.

— Nós vamos tomar chocolate quente!

Ela adorava sair, Bella riu do jeitinho espalhafatoso que sua filha anunciava este fato e novamente se perguntou como alguém poderia não gostar de crianças... Isso trazia novamente a sua cabeça o pensamento de como alguém poderia não gostar de crianças. E claro, trouxe também o homem que havia dito isto vez ou outra para Alice: Edward Cullen.

— Arrasou, Marie! — Comemorou o porteiro. — Obedeça a sua mãe, garotinha. Eu vejo você na volta.

Bella sorriu agradecida a Billie e Marie acenou se despedindo.

As duas caminharam rapidamente pelo quarteirão até a lavanderia. Bella olhou para todos os lados com um pensamento paranoico de que pudesse estar sendo seguida por alguém, respirou aliviada quando empurrou as portas de vidros para entrarem na lavanderia. Ali, ela observou o local. Estava vazio, duas pessoas ocupavam máquinas no fundo. Mas Bella preferiu ficar com as do começo, perto da porta de saída para o caso de algum imprevisto indesejado.

— Posso colocar as moedas, mãe?

— Sim, Marie. — Disse Bella, suspirando.

Ela pegou as três primeiras máquinas. Entregou algumas moedas para a filha que segurou. Bella abriu colocando as roupas brancas. Adicionou um pouco de sabão e amaciante, e fez a programação, com as moedas que Marie colocou a máquina iniciou a função desejada. Repetiu o mesmo processo nas duas máquinas seguintes e apreciou quando a água enchia.

— Vamos tomar nosso chocolate enquanto lava? — Com um sorriso grandioso a menina assentiu.

— Eu posso ter chantilly extra? —- Questionou a filha.

Com as mãos dadas, Bella atravessou a rua com Marie, cruzando a outra esquina e ali estava a cafeteria preferida de Bella. Ela sorriu satisfeita quando percebeu que o local também estava vazio.

Encaminharam-se pela fila enquanto Marie tentava convencer a mãe de ter mais chantilly em seu chocolate e alguns biscoitos.

Bella fez o pedido de acordo com os desejos da menina e sentou-se para aguardar.

— Amanhã na escola vamos planejar feijões! — Marie contou animada, brincando com os guardanapos à mesa.

— Sério? Isso parece ser legal. Temos que separar seus feijões então.

— Sim. A senhorita Keys disse que podemos dar de presente a alguém quando brotar. Mamãe, o que é brotar?

Bella soltou uma risada encarando o rostinho curioso de sua filha. Ela era tão inteligente! Tinha a dicção perfeita para uma menininha de sua idade, raramente trocava alguma palavra ou não sabia pronuncia. E sempre que tinha uma dúvida era a primeira a perguntar.

— Quando o feijão começar a nascer. Isso é brotar, quando as raízes desabrochar em e então o pé de feijão crescer.

— Ah sim... — Murmurou a menininha. — E vai crescer igual do João?

João e o Pé de Feijão... Bella deu uma risada lembrando de um dos livros que ela mais gostava na infância, e que também lia para a filha. Recentemente as duas haviam visto o filme e a menininha contou alegremente para Alice sobre cada detalhe de como João era corajoso.

— Não tanto assim... Nem tão rápido. Isso demora querida...

Marie parecia desapontada com a resposta de sua mãe, mas isso logo passou quando seu chocolate quente chegou e mesmo com todos os alertas de sua mãe para ter cuidado porque realmente estava quente, a menina ansiosa não deu muita atenção e queimou sua língua no primeiro gole.

— Ai! — Ela exclamou num gemido.

— Eu disse...

A repreensão fez Marie assentir envergonhada. Bella apontou um guardanapo para que ela limpasse sua boca suja de chantilly e a menina riu.

Observou com divertimento enquanto sua filha tomava seu chocolate e comia seus cookies, parecia tão feliz e satisfeita com aquele pequeno gesto. Isso deixava o coração de Bella mais aliviado mesmo em meio há tantos problemas que surgiam ora ou outra para demonstrar a ela que sua vida não era tão perfeita como ela gostaria que fosse. Sua filha havia vindo em uma hora inesperada, mas nem por isso foi indesejada para ela e agora aquele esforço do começo estava valendo a pena.

Quando terminaram de comer e beber, as duas seguiram para a saída de mãos dadas e totalmente satisfeitas e aquecidas do frio que estava fazendo em Seattle.

Bella retornou a lavanderia feliz que suas roupas já estavam lavadas. Ela substituiu a função, entregando novamente moedas a Marie e levando-a para a secadora.

— Agora falta pouco! — Disse para a filha, colocando a roupa adequadamente para secar.

As duas se sentaram em uma cadeira disponível ali e Marie deitou sua cabeça no ombro da mãe. Bella ouviu seu telefone tocar em seu bolso e automaticamente seu corpo endureceu e Marie sentiu isso. Ela demorou um pouco para tirar o aparelho do bolso e suspirou aliviada quando viu Alice.

Era uma chamada de vídeo.

— Tia Alice! — Gritou Marie quando viu a foto de Alice na tela.

Bella atendeu.

— Oi tia! - Gritou a menininha. — Estou lavando roupa!

Alice riu quando viu a menina lhe mostrando a lavanderia.

— Sua mãe colocou você para lavar roupas? Isso é maldade! — Grunhiu Alice, Marie deu uma risadinha.

— Quem lavou foi à máquina tia. Eu só coloquei as moedas!

— Ah sim... Que boba eu sou. Eu já estou em casa! Queria falar com sua mãe, mas vocês me deixaram aqui sozinha.

Marie revirou os olhos batendo em sua testa.

— Vamos voltar já tia Alice. — Respondeu ela calmamente.

— Ei tia Alice, pare de ser carente. — Bella esticou o pescoço aparecendo no vídeo. Ela viu o sorriso bobo de sua amiga e sabia que algo tinha acontecido.

— Eu tenho novidades! — Alice disse como uma criancinha.

— Nós já vamos. Estamos esperando a roupa secar. Faça o jantar.

Bella viu Alice negar sorrindo levemente.

— Não vai dar não...

Algo realmente havia acontecido e pelo sorriso enorme no rosto de Alice, Bella sabia que era algo bom. Rapidamente ela se levantou para verificar suas roupas, precisava ir logo para casa e saber a novidade de Alice.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Vermelho Escuro" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.