Vermelho Escuro escrita por Catiele Oliveira


Capítulo 11
11. Baixando a guarda




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Capítulo 11

Pov Bella.

 

Baixando a guarda

Três e sete da manhã. Foi essa hora que o celular de Isabella começou a tocar acordando Marie ao seu lado. Ela procurou pelo aparelho pela cama toda, mas o encontrou quase caindo ao chão no canto da filha. A menina resmungou algumas vezes até cobrir o rosto com a coberta.

— Volte a dormir, amor... — Ela murmurou antes de deixar o quarto.

O nome piscava no visor:

“Edward Cullen”.

Hoje era o aniversário dele. Alice havia dito há alguns dias, ela tentou ligar, mas o aparelho esteve desligado em todas as tentativas. Haveria um jantar na casa da mãe dele, mas fora cancelado em cima da hora.

— Edward? — Ela falou hesitante.

Alguma coisa teria acontecido, ele não ligaria para ela a essa hora a toa. Seu coração acelerou um pouco, primeiro pensou que fosse algo com o caso de James, para no fim temer que algo tivesse acontecido ao próprio Edward. O desespero que lhe abateu não era conhecido, foi o que mais a surpreendeu.

— Não, eu sou Jacob. Ele está aqui agora, completamente bêbado e querendo dirigir sozinho. Então estou ligando para que você venha busca-lo.

— Como assim? Aqui aonde? Bêbado? Não o deixe dirigir, por favor!

Bella retornou ao quarto rapidamente abrindo o guarda-roupa no escuro. Ela procurou por calças jeans e ouviu Marie reclamar novamente.

— É uma taverna na saída da cidade. Posso passar o endereço, mas precisamos fechar. Quando tempo você chega aqui, moça?

— Eu não sei, quinze, vinte minutos. Você pode falar o endereço, por favor?

Bella pegou sua bolsa antes de sair.

Colocou seu celular no autofalante procurando papel na bolsa e anotou o endereço que o homem falou. A voz era de poucos amigos e no fundo ela ouvia uma risada animada e alguns grunhidos abafados.

Vestiu sua calça após desligar. Prendeu os cabelos com um elástico que encontrou no banheiro e escovou os dentes rapidamente. Na saída bateu na porta de Alice, orando mentalmente para que Jasper não estivesse com a amiga essa noite. Quando abriu a porta sem obter respostas, acendeu a luz e visualizou Alice sozinha.

— O que houve? — A voz sonolenta da amiga questionou.

— Eu preciso dar uma saída. Voltarei antes de você ir para o trabalho.

— Bella, o que houve? — Alice, mais desperta, perguntou preocupada.

— Não foi nada demais. Até já.

Ela apagou a luz deixando a porta do quarto da amiga aberta caso Marie acordasse. Sabia que assim que Alice soubesse que horas eram, ligaria para ela sem parar. Bella colocou um casaco por cima da sua blusa do pijama, sem ter condições de procurar por uma blusa no escuro. Fechou o casaco e saiu de casa chamando um táxi.

Levou quase dez minutos para que Bella conseguisse um táxi. Seu telefone tocou novamente após ela indicar o endereço ao motorista.

— Estou a caminho. — Ela disse ao atender.

— Estamos fechando, infelizmente eu não vou poder esperar um pouco mais se você demorar. — Informou o homem, impaciente.

— Eu sei, são dez minutos! Eu já estou chegando.

— Me dê minha chave! — Ela ouviu alguém gritar, e sabia que ela Edward. A voz, porém, ela embolada e atravessada.

Bella temia que Edward pegasse suas chaves e dirigisse bêbado, o homem parecia ainda mais impaciente com os gritos de Edward que atravessam o celular de Bella e ela sabia que até seu motorista ouvia, pois acelerou.

— Você está ouvindo moça?

— Sim, eu estou chegando. — Ela disse.

Assim que desligou, Bella se perguntou o que tinha acontecido para Edward estar naquele estado.

— Se o senhor puder ir um pouco mais rápido... — Bella pediu ao motorista, que acelerou um pouco mais.

Quando ela parou no endereço indicado, viu Edward sendo amparado por uma mulher ruiva, enquanto gritava em desespero pedindo pelo seu celular e suas chaves. Ela viu também um homem fechando as portas do estabelecimento, enquanto gritava reclamando com a ruiva. Ela pagou a corrida do táxi e desceu rapidamente.

Bella atravessou a rua e foi notada pelo homem, provavelmente o dono do bar, ela pensou.

— Edward! — Ela o chamou, numa tentativa de acalmá-lo.

— Bella? Bella! — Ele a chamou.

A ruiva o soltou. Edward andou cambaleante até ela e se não fosse Bella segurá-lo, ele teria caído. Ela sentiu-o abraçando-a com força. Aquilo automaticamente surpreendeu e a cena a seguir fora ainda pior: Edward pesou em seu corpo e os dois acabaram ajoelhados no chão, enquanto ele chorava compulsivamente.

— Eu sou um bosta... — Ele dizia repetidamente, chorando nos ombros de Bella.

— Se acalme, por favor... Eu estou aqui. — Numa tentativa de acalmá-lo, ela balbuciou.

Ela olhou para o homem que lhe estendia um celular e chaves do carro. Era o iPhone de Edward e as chaves da sua BMW.  Ela segurou, sem dizer uma palavra. E viu o homem se afastar arrastando a ruiva.

— Por favor, Bella, por favor, não me deixe também... — Ele continuou chorando, segurando-a com força.

— Eu não vou. Mas precisamos ir...

Com a ajuda de Bella, Edward conseguiu se levantar. Atravessaram a rua onde o carro dele estava estacionado, Edward sentou no banco do carona e depois de colocar o cinto de segurança nele, mesmo contra a vontade do mesmo, Bella se sentou no banco do motorista.

Ela ligou o carro, observando-o ainda chorar no banco do carona.

— Qual é o seu endereço? — Ela perguntou, ligando o gps do carro de Edward.

— Eu não quero ir para casa. — Ele resmungou entre lágrimas.

— Edward... — Suspirou Bella. — Eu vou leva-lo para casa sim, você precisa de um banho e dormir um pouco.

— Você vai ficar comigo? — Ele perguntou ansioso.

Bella o encarou por alguns segundos. Ela não estava entendendo ao certo o que estava acontecendo. Esteve próxima dele no último mês, aliás, o único mês em que eles se conheciam. Mas não imaginava que a “relação” que eles tinham poderia chegar muito longe. Ele havia ajudado ela muitas vezes, havia tirado ela da cadeia e não havia nenhuma palavra que seria suficiente para agradecê-lo. Mas não imaginou que seria ela a pessoa para quem ele ligaria se estivesse bêbado e aparentemente destruído emocionalmente.

— Sim, eu vou ficar com você... — Ela garantiu.

Sendo assim, ele deu o endereço.

Bella não se surpreendeu quando viu que Edward morava na parte dos arranha-céus de Seattle. Ele era suficientemente rico para ter uma cobertura na parte rica e privilegiada. E ela sabia que da casa dele daria para ver o mar. Quando ela estacionou na vaga dele depois de uma longa burocracia com a portaria e todos os seguranças, Edward já tinha controlado seu choro.

Ajudando-o, andaram para o elevador. Foi ele que apertou o botão de seu andar. O último. Bella riu sozinha, concluindo suas teorias. Ele era mesmo um rapaz de coberturas. Ela descobriu que se tratava de um prédio por um apartamento por andar. Viu isso quando o elevador abriu em frente à porta de Edward.

Ela o viu digitar uma senha em um painel luminoso antes de dar a chave para ela abrir. Menino rico exibido, pensou.

Não foi o tamanho da sala de estar de Edward que chamou sua atenção. E sim a confusão de copos e garrafas quebradas pelo cômodo. Isso não pareceu incomodá-lo, porém.

— Lá em cima... Meu quarto... — Ele murmurou para ela, que assentiu.

Precisou muito esforço para praticamente arrastá-lo até o andar de cima. Que parecia ainda maior que o de baixo, diversos corredores com portas brancas e maçanetas douradas. Edward apontou para uma em especial, que era mais larga e alta. Ela girou a maçaneta para entrar.

— Okay, o banheiro deve ser por aqui. — Disse ela, indo para os fundos do enorme quarto e empurrando a porta. — O que te levou a beber tanto?

— Faço 28 hoje... — Ele sussurrou.

— Eu sei, eu liguei para você. — Disse ela.

Bella ajudou Edward a tirar o blazer. Ele ficou amparado contra a parede, desabotoando sua calça.

— Você consegue fazer isso sozinho? — Perguntou Bella.

Edward soltou uma risada e ela revirou seus olhos. Não sabia como ele conseguia ir de menino chorão para menino sedutor em tão pouco tempo. Aqui estava o velho Edward, pontuou, toda a fragilidade se dissipou quando os olhos dele flamejaram.

Delicadamente ele tocou os pulsos dela, quando abriu o botão de sua calça. Sensualmente Edward os levou até seus lábios e os beijou suavemente. Bella tremeu um pouco com o toque, mas não se afastou. Ela o viu levar a outra mão livre até seu rosto e acaricia-lo.

— Não consigo sozinho... — Ele sussurrou para ela.

Bella apertou seus olhos, tentando se lembrar do quanto ele estava bêbado.

— Certo... Eu ajudo você.

— Não. — Ele segurou o pulso dela quando a mesma fez menção de desabotoar os botões de sua camisa. — Quero falar uma coisa antes... — Balbuciou ele, dando uma risada.

— Você está muito bêbado agora...

— Eu quero você. — Edward a interrompeu. — Amanhã vou continuar querendo você... Porque eu te quero desde a primeira vez que eu te vi.

— Edward, por favor...

Bella tentou recuar, mas ao segurá-la, Edward acabou se desequilibrando e quase caindo.

— Bella... — Ele a puxou com força, a segurando pela cintura.

Edward aproximou seus lábios dela, mas tudo que Bella pôde sentir era o cheiro forte de bebida. Aliás, ele exalava bebida. Por todos os lados.

Bella se afastou abruptamente, deixando-o confuso. Ela começou a desfazer os botões da camisa dele, fazendo-o rir, como todo bêbado. Ela revirou os olhos quando puxou a calça dele. Tentou não olhá-lo com muito ímpeto, mas não pode evitar quando a luxuria foi tudo que viu. O físico de Edward, seu abdômen definido... Ele escondia muita coisa por trás de seus ternos caros. Ela não ousou tirar a cueca box que ele vestia. Empurrou ele, abrindo a porta de vidro da ducha. Abriu a mesma e tentou dosar a temperatura, enquanto Edward escorregava pelo mármore da parede e caia ao chão do boxer.

— Eu vou fazer um café. Fique aí até você achar que está melhor. Que o meio ambiente nos perdoe.

Sua cabeça estava confusa com tudo que Edward havia dito. Dizem que os bêbados falam a verdade, mas o fato dele só ter a coragem de dizer isso para ela bêbado também diz muita coisa.

Quando ela desceu, não demorou muito para encontrar a ampla cozinha daquele homem. O mármore preto no chão e nas paredes deixava tudo com um ar de superioridade e frieza que combinavam com ele. Aliás, a casa inteira tinha um toque impessoal e frio. Como se ninguém vivesse ali, fora a bagunça de vidro e álcool pelo chão da sala, tudo estava impecável e muito limpo.

Bella viu a cafeteira expressa daquele homem e suspirou. Procurou por uma caneca no armário e o potinho compacto do café. Quando ela encontrou, colocou no local indicado com a quantidade de água indicada e esperou que fizesse o trabalho.

Quando ela voltou com a caneca de café, encontrou Edward dormindo no banho. Teve que conter seu riso, aquilo seria muito cômico se não fosse trágico. Um homem aos vinte e oito anos recém-completos, tendo uma crise de meia idade e sozinho na noite de seu aniversário. Ao menos era isso que ela imaginava que ele estivesse. Afinal, quando chegou naquele bar, não encontrou ninguém com ele.

Ela deixou o copo no balcão de mármore da pia do banheiro. Abriu a porta fechando a água e procurou pela toalha dele, que estava pendura no suporte ao lado.

— Edward... — Bella o chamou, mexendo seus ombros.

Ele murmurou algo que ela não entendeu, mas não abriu seus olhos.

— Edward, você está dormindo sentado dentro do boxer. — O sacudiu novamente. Ele abriu os olhos, parecendo surpreso por vê-la ali. — Me ajude a te levantar, vamos.

Com um pouco de esforço – muito mais da parte dela – Edward se levantou. Ela ouviu ele xingar coisas que ela não entendeu muito bem. Acabou ficando toda molhada quando ele se amparou nela para ir ao quarto. Bella corou absurdamente quando Edward tirou sua cueca, atirando longe e pegando a toalha na mão dela para se enrolar.

Ele se sentou na beirada de sua cama, ela voltou para o banheiro e trouxe a caneca de café que fez para ele.

— Sem açúcar. — Ela disse.

Ele aceitou sem protestos, parecia melhor, mas um pouco aborrecido. Bella iria se afastar para arrumar alguma coisa para secar o banheiro, quando ele segurou-a pelos pulsos.

— Obrigado... — Edward sussurrou seriamente para ela.

— Não precisa agradecer... — Respondeu.

Era o mínimo que ela poderia fazer por ele, ainda era pouco comparado a tudo que ele fez por ela.

— Eu falei sério lá dentro... — Ele continuou, segurando sua mão. — Eu quero você.

— Você estava dormindo sentado durante o banho. Você está muito bêbado.

— Acredite em mim, Isabella, eu quero você. E eu vou tê-la.

Um arrepio seguiu pela coluna de Bella até sua nuca. Ela não teve nenhuma resposta para dar. Ele fixou seus olhos no dela quando bebeu mais um pouco do café antes de devolver a caneca para ela. Bella viu ele se deitar lentamente, sem tirar seus olhos dela. Aquele transe estava mexendo com muitas coisas dentro dela, coisas que ela pensou que nunca mais fosse sentir novamente.

— Você disse que iria ficar comigo. — Ele disse novamente.

— Eu vou... — Ela respondeu baixo.

Ela o cobriu com o edredom que estava nos pés da cama.

— Durma um pouco. Eu vou mandar uma mensagem para Alice...

Ele assentiu para ela, fechando os olhos.

Apagando a luz do banheiro, Bella fechou a porta. O céu estava vermelho e ainda estava escuro, se perguntou que horas eram quando fechou as pesadas cortinas do quarto, ignorando o ímpeto de abrir a porta da sacada e olhar melhor a vista da cidade de Seattle à noite. Ela o encarou mais uma vez antes de sair do quarto e fechar a porta devagar.

Desceu as escadas com pressa e encontrou sua bolsa que ela deixou no sofá da sala. Suspirou aliviada por não ter nenhuma mensagem de Alice. Deixou uma então:

“Aconteceu um imprevisto, aviso de manhã. Estarei aí antes das oito.”

Bella procurou as luzes da sala, mas não achou nenhum interruptor. Então procurando o controle para ligar a grande tela plana da sala, na mesinha de centro, encontrou um outro que parecia ser do ar-condicionado central. E um outro, ao lado, tinham várias lâmpadas indicando os botões.

— Céus... Até para acender a lâmpada tem um controle! — Falou sozinha, apertando os botões, descobrindo quais lâmpadas ele acendia. Foi assim que ela descobriu a varanda da sala.

Uau, Bella arfou quando abriu a porta dupla de vidro. A brisa gelada fez com que ela encolhesse um pouco. Mas ela estava incrivelmente enlouquecida com a vista deslumbrante da cidade. A baía de Elliot iluminada por pequenas lâmpadas por todo o entorno do porto.

Ela poderia viver sua vida toda encarando essa vista, não seria nenhum sacrifício. Imaginou como sua filha ficaria fascinada. Não podia deixar de lembrar, sua menina amava o mar e se pudesse andaria todos os dias até ele.

Fechando a porta, Bella se dedicou a limpar a bagunça que Edward havia feito. Foi difícil encontrar uma vassoura e pá, ela precisou andar pelo apartamento do homem acendendo as luzes em seu controle para luzes de gente rica, ela quase achava aquilo hilário. Essa era a vida que ela não desejava ter. Estava acostumada com o bom e velho interruptor e também com a casa pequena suficiente para achar qualquer coisa.

Retirou todos os vidros e passou pano pela sala de Edward com um esfregão que encontrou na área de serviço. Ainda bem que todos os materiais de limpeza estavam por ali, então não foi difícil encontrar um desinfetante também. Quando tudo estava perfeitamente limpo, o relógio indicava cinco da manhã.

Ela retornou ao quarto com seu celular na mão. Ficou hesitante em se sentar ou deitar ao lado de Edward. Então optou por ficar em uma poltrona no canto inferior do quarto. Ela acolheu seu corpo ali e deitou um pouco. Bella não percebeu o quão cansada estava até pegar no sono.

As sete e meia o celular de Bella despertou, mas Edward se quer se moveu na cama. Ela se levantou rapidamente, bocejando ainda. Alarmada, o encarou. Ele parecia dormir tão tranquilamente. Bella não resistiu ao desejo de chegar mais perto, tão pouco de tocar os cabelos dele... Apenas uma fresta de luz ultrapassava as cortinas, mas essa era suficiente para iluminar o quarto. Bella se distanciou antes que Edward acordasse. Respirando fundo, lembrou-se de tudo que ele falou. E um frio percorreu sua barriga.

Será que ele se lembraria?


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