Amor Sem Medidas escrita por EllaRuffo


Capítulo 72
Capítulo 72




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Olá!

Dentro do quarto de Constância, Inês já vestia um pijama de Cassandra. 

Já era tarde da noite quando ela resolveu deixar a caneca de chá que tomava, junto de seu celular, à cima da escrivaninha de Constância e caminhou até a cama a olhando dormir.

Em um suspiro baixo, lembrou que já tinha atualizações de Diana sobre a situação que a tinha deixado no hospital. Sua filha mais velha estava sendo seu braço direito àquela noite.
Diana tinha já posse de seu carro, e sabia que Carlos Manuel deixaria o hospital apenas com ferimentos artificiais. Parecia então, tudo calmo outra vez, ou só parecia quando ela olhava na cama Constância dormindo tão serena e alheia da problemática que ela se encontrava.
A luz do quarto se fazia apenas pela janela aberta, assim Inês podia ver Constância bem.  Longe de qualquer perigo que á noite oferecia para jovens como ela.

Inês então caminhou até a janela e fechou um lado da cortina, escurecendo mais o quarto, andou de volta até a cama, visando o lado ausente do corpo de Constância e se deitou com ela. A cama grande aconchegou bem as duas, e Inês decidiu deitar de lado para assim tocar em Constância enquanto ela dormia. Senti-la perto, era bom, senti-la mansa era melhor ainda. Pois não sabia como seria ao vê-la acordada pela manhã, não depois de como ela lhe havia falado ao telefone.
Inês suspirou, alisando um braço da filha, seria difícil conciliar o sono com tantas coisas na mente, e ainda tinha Victoriano quase ao lado delas ali depois do que ele tinha ousado fazer.

Longe dali.

Diana estava fazendo o que não esperava. Dividida entre o que deveria fazer e o que não queria fazer, estava no apartamento de Carlos Manuel. Era literalmente sua babá, ou talvez uma enfermeira. O viu passar pela porta de mãos na barriga e se sentar no sofá como sentisse dor pelo corpo todo. E ela apostava que era exatamente aquilo, afinal ele tinha levado uma sussurra e ela tinha testemunhado o ato.

Ela o mirou ainda da porta, o viu fechar os olhos quando jogou a cabeça no encosto do sofá e relaxou. Ela tinha nas mãos uma sacolinha. Tinham passado em uma farmácia e comprado os remédios recomendados pelo médico.

Diana então caminhou até a mesinha no centro da sala, deixou a sacolinha nela e disse:

— Diana: Já estou indo.

Carlos Manuel a olhou. Em outra ocasião, ofereceria algo a ela, até pediria que ela ficasse mais tempo se precisasse, mas se Diana não fosse Diana e se àquela visita não fosse praticamente um desencargo de consciência dela como ele julgava que estava sendo para ela.

Ele não tinha documentos nenhum, dinheiro, nem carro, muito menos celular mais, para poder ter voltado para casa sozinho, assim, Diana se viu sem escolha de fazer aquele favor penoso a ele. Isso julgava. Além do mais estava ficando muito claro que não estavam se suportando. Assim então ele a respondeu:

—Carlos Manuel: Obrigado pela ajuda. Agora já pode ir de consciência limpa, Diana.

Ele se esforçou para pegar a sacolinha de remédios, e gemeu no movimento. Diana bufou e pegou a sacolinha primeiro, dizendo:

—Diana: Onde fica sua cozinha? Vou pegar água e te dar os primeiros remédios da noite.

Carlos Manuel ficou de pé, querendo se mostrar vigorado e disse: 

— Carlos Manuel: Não precisa disso. E você, precisa ir embora. Sabemos que não quer estar aqui, além do mais já é tarde também. É perigoso que dirija a essa hora.

Ele andou para pegar os remédios, conseguiu e foi até a cozinha.  Diana o seguiu olhando tudo com olhares curiosos.

Depois mirou ele de costa. Ele estava sujo ainda e em roupas rasgadas. Ela cruzou os braços e disse determinada:

— Diana: Vou fazer meu trabalho completo, vou deixá-lo deitado e medicado e depois ir.  Vá tomar um banho e tirar essas roupas!

Ela puxou de volta os remédios das mãos dele, enquanto ele já tinha um copo em sua outra mão.

Se rendendo ás ordens dela, Carlos Manuel esperou os comprimidos que teria que tomar, os tomou e depois disse, tão determinado quanto ela:

—Carlos Manuel: Vou fazer tudo rápido para que possa ir, e depois não nos veremos mais.

Ele caminhou até o quarto. Diana ficou parada no lugar, até ela mesma buscar um copo de água para si. Não demorou muito para ela ouvir a campainha tocando.  Estranhou o fato de parecer ser uma visita naquele horário da noite. Retirou então o celular do bolso, vendo que era mais de duas da manhã e foi atender.

Quando abriu a porta se surpreendeu quando viu Alejandro, mas não se surpreendeu mais do que ele quando a viu ali no apartamento de seu melhor amigo.

Ele então disse, já entrando:

—Alejandro: O que faz aqui Diana?

Ele a segurou pelo braço e procurou por Carlos Manuel, pelo apartamento.  Diana puxou rápido o braço sentindo a dor de seu aperto, e disse de cara feia:

—Diana: Não tenho que explicar o que faço aqui! E não me pegue mais assim, Alejandro!

Ela alisou o braço e Alejandro não sentiu alívio com sua resposta.  Se estava ali, era porque Carlos Manuel não o atendia e sabia que seu amigo era como as corujas, dormia sempre tarde enquanto vivia entre suas teses e análises de pacientes. Assim o buscou sem se importar com a hora, quando foi mais que incentivado por Loreto para que fizesse tal coisa.

E então encontrou para seu desagrado e confusão mental, Diana ali também.

Ele passou a mão na cabeça, viu então para piorar, Carlos Manuel aparecer de roupão de banho.

O anfitrião da casa olhou os dois em sua sala. Sentiu uma atmosfera diferente ali, e o olhar de Alejandro sob ele lhe queimar a pele. Ele então se pôs rígido, e disse agora mirando Diana que tinha a mão ainda no braço. 

— Carlos Manuel: Alguma coisa aconteceu aqui? Alejandro?

Ele olhou agora seu amigo. Alejandro o olhou, e o respondeu aborrecido:

—Alejandro: Eu que pergunto! O que aconteceu aqui? Minha namorada está aqui e você some de repente!

Diana bufou, trazendo a atenção deles e disse:

—Diana: Ei, eu não sou mais sua namorada, Alejandro! E que bom que apareceu!  Assim você cuida do seu amigo que já vou embora! Boa noite!

Virando as costas sem mais nem menos, ela saiu deixando os dois.

—Alejandro: Diana espere!

Quando viu a porta bater, Alejandro olhou Carlos Manuel.  Alejandro  tinha os lábios cerrados e a testa franzida.

Carlos Manuel não gostando da forma que estava sendo encarando, agora disse ele cansado e aborrecido:

—Carlos Manuel: Não é o que você está pensando, Alejandro.  Mas também não quero ter que explicar, tive um dia ruim. Pode ver isso em meu rosto, se ignorar essa desconfiança que traz em seu olhar.  Então por favor, vá embora e amanhã pela manhã conversaremos. 

Alejandro fechou as mãos em forma de punho e disse.

—Alejandro: Não temos mais uma amizade decente, desde que se meteu com a família de minha namorada. Sumiu hoje e eu sim como amigo seu, me preocupei e vim até aqui.  Meu pai também estava preocupado contigo, mas parece que adotou outra família, não é?

Carlos Manuel respirou fundo e disse em uma calma controlada. 

—Carlos Manuel: Não precisava se preocupar comigo,  nem você nem seu pai.  Eu tomei uma decisão essa noite. Não sei o que vim fazer aqui, buscar minhas raízes de onde eu vim não foi uma boa ideia.

Ele passou a mão nos cabelos úmidos se calando, e Alejandro fixou o olhar nele.

—Alejandro: O que quer dizer com isso?

Carlos Manuel andou agora levando a mão na barriga demonstrando desconforto, e disse:

—Carlos Manuel: Quero voltar para casa, onde tive uma família de verdade, e uma vida de verdade. Aqui sinto que usurpo algo e por isso estou destruindo tudo o que se aproxima de mim.

Pela manhã.

Inês abriu os olhos visualizando os de Constância. Olhos bem verdes e cristalinos a mirando em surpresa. 

—Inês: Bom dia, filha.

Inês então a tocou no rosto com amor, depois de falar. Constância piscou, e disse em tom de surpresa.

—Constância: Ficou à noite toda comigo? Dormiu aqui?

Inês assentiu, agora dedilhando os trilhos do cabelo da filha. Suspirou e propôs logo.

—Inês: Sim. E quero te fazer uma proposta, querida. Vamos até meu apartamento. Passe nem que seja uma noite comigo.

Constância se virou, ainda deitada, olhou o teto e repousou as mãos na barriga, pensativa com aquele convite. Sabia que a mãe esperava por aquela visita desde que havia se mudado, mas que orgulhosa estava  se negando ir.

Não aceitava a saída da mãe da casa, não aceitava ainda mais o motivo  dela. Com isso  se sentia amarga com tudo e com todos, ainda mais com ela. Com a própria mãe que fazia de um desconhecido o motivo  da desunião delas e daquela  separação.

Ficou assim então  em silêncio.  Estava  revoltada  sim, mas por outro lado aquele  convite  parecia tão tentador. Lembrou que antes mesmo de se mudar, à mãe já ensinuava aquele  desejo de passarem um tempo sozinhas.

Ela então perguntou em uma ansiedade que lhe causava  um frio na barriga.

—Constância: Seria somente nós duas lá?

Inês assentiu, também ansiosa e a respondeu. 

—Inês: Sim. Quero  que passe quantos  dias quiser comigo, para que entenda que deixei à  casa por questões que já sabe, mas que em nenhum  momento invalidam  meu amor por você Constância. Não quero que esse afastamento  continue entre nós.

Constância olhou  para o teto outra vez pensando na questão que a mais incomodava e que soou tão simples na voz de sua mãe.  Então  não houve uma resposta, a não ser uma ação, dela levantando  da cama em um pulo.

Inês fez o mesmo agora em agonia nítida no olhar.

Constância  parou à  frente da cama. Seus olhos brilhavam  em um brilho cristalino, quando  a respondeu.

—Constância: Por que fala como se fosse nada sua saída da casa? Como que se o verdadeiro  motivo não é  que pensa que Carlos Manuel,  o meu médico  é  seu filho?

O rosto dela ficou vermelho. Inês ficou de pé também e rebateu as palavras  dela.

—Inês: Não foi apenas por isso,  Constância! Seu pai e  eu estamos tendo problemas  e essa separação  foi inevitável! Deveria entender isso!

Constância  levou as mãos no ouvido.  Os tapou e disse.

—Constância: Não quero te ouvir! Fique lá com Carlos Manuel, com qualquer  outro que te lembre seu querido  Fernando, mamãe!

Ela andou indo em direção ao banheiro  do quarto.  Inês a seguiu já sentindo  lágrimas lhe descendo  aos olhos.

Invadiu  o banheiro  dela, e disse, quando a viu parada frente à pia.

—Inês: Por que só me ataca, me acusa e me  julga, Constância? Por que não é  capaz de ver todo esforço  o que estou fazendo há meses para mudar nossa relação? Eu fui te buscar,  fiquei com você, você foi minha escolha! Eu dirigi  pela cidade, depois de mais de vinte anos! Isso tudo  porque eu estava aflita e desejando  chegar onde você estivesse! Mas ainda assim me julga!

Constância  piscou, seu rosto  branco ficou mais vermelho e depois chorou.

Cruzou  os braços frente ao peito  em um ato  de defesa, e disse baixo. 

—Constância: Me deixa sozinha. Não estou sendo capaz de pensar agora.

Inês olhou  de lado custando  obedecer a ordem . Passou  uma mão no rosto, limpando as lágrimas  encontrada ali. Depois a mirou novamente,  e disse.

—Inês: Não vou cansar de dizer  que sinto muito  pelo que já fiz, mas não vou conseguir  consertar  tudo sozinha filha.  Não quero que voltemos ao que éramos. Tínhamos  um acordo, e...

Ela se calou  quando  Constância disse:

—Constância: A única que está quebrando  esse acordo é  a senhora com essa ideia que meu médico  é  seu filho perdido!

Inês soltou o ar pela boca, exausta.

—Inês: Não irei insistir mais para que entenda  que ele não foi o principal  motivo  que deixei à casa, filha. Vou deixar que pense  e que saiba que meu convite seguirá de pé. Eu te amo, meu amor.

Ela se aproximou  tentando  tocá-la, mas viu  Constância  desviar.  Inês baixou a mão e deixou o banheiro.

No mesmo momento  ouviu batidas  na porta, e foi até ela. Quando abriu a porta do quarto, e deu de cara com Victoriano.

Victoriano  parecia que já estava  há tempo de pé. Vestia suas roupas de trabalho,  tinha os cabelos penteados, ainda úmidos  e cheirava bem. Não parecia mais àquele  homem que viu ao pé da cama bebendo inconsolável. Agora a destruída era ela.

Ela então virou  o rosto quando  viu que ele a mirou atento.  E o ouviu  dizer.

—Victoriano: O que aconteceu? Por que chora Inês? Cadê nossa filha? Brigaram?

Ele tentou olhar por trás dela pra tentar visualizar  Constância, mas sem sucesso  voltou olha- lá. Apesar de ter limpado as lágrimas, seu olhar vermelho  denunciava que havia  chorado.  Assim então  em meio de tantas perguntas,  Inês apenas disse.

— Inês: Aconteceu  o de sempre, ainda mais depois que você sozinho contou a  ela o que em nossa intimidade te confidenciei,  enquanto  me iludia que teria sua compreensão.

Ela dessa vez o olhou com raiva no olhar e de rosto  vermelho. 

Victoriano  respirou  fundo. Sabia que tinha passado dos limites e se arrependido depois do que tinha feito, assim que cedeu aos pedidos das filhas de ambos.

Ele então  falou sereno, mas sério. 

— Victoriano: Eu estava  fora de mim ainda tentando  assimilar essa nossa separação, sei que cooperei  para que voltassem estarem assim, morenita. 

Ele tentou  tocá-la,  mas agora era ela que desviava de um toque  como a filha deles antes havia feito com ela.

—Inês: Agora é  tarde para lamentos, Victoriano.  Vou ao seu quarto,  preciso de roupas para ir embora.

Ela empinou o nariz depois  que falou, e se moveu.  No mesmo  instante  ela viu que Victoriano  a seguiria, ela então parou no lugar  e disse.

—Inês: Não se atreva me seguir, quero privacidade e que não ouse fazer o que fez pela noite!

Ela o olhou  feio. Victoriano  respirou  aborrecido.  Não aguentava  tanto  tempo  calado, quando  disse.

—Victoriano: Chamou nosso quarto  de meu quarto, e fala com desprezo do que eu muito  bem me lembro o que me deixou  fazer contigo,  Inês! Estamos sofrendo dessa forma porque escolheu fugir ao invés  de enfrentar o que estamos  passando!

Inês lembrou  da conversa  que tiveram no restaurante, observando  que mais uma vez ele se mostrava ressentido com a escolha dela.  Ela então  suspirou,  virou a cara enquanto  torcia os lábios de lado.

— Inês: Não vamos fazer desse momento  um momento  nosso.  Fique de olho em Constância  por mim, me avise se ela voltar a beber. Bom dia, Victoriano. 

Ela então  caminhou  à  dentro do corredor que estavam.

Victoriano  ficou  daquela vez parado,  a olhando  entrar no quarto  que dividiram  desde que tiveram a primeira noite de amor .

Diana saía do quarto dela quando topou com Victoriano ali parado.  Não havia  tido  uma noite nem boa e nem longa de sono. Estava  de mal-humor e quando  o pai se virou para ela, viu que não estava  sozinha  naquele  barco.

—Diana: Ouvi sua voz e da mamãe  no corredor.  O clima por aqui está um caos.

Ela cruzou  os braços depois que falou.

Victoriano  respirou  fundo. E depois disse.

—Victoriano: Já sabe de quem é  a culpa. É  daquele  rapaz que veio do nada e deixou sua mãe pior que estava. 

Diana ficou calada por um tempo e depois que meditou, disse:

—Diana: Ontem ela dirigiu.

Victoriano  olhou rápido  para ela. De olhos arregalados, ele perguntou.

—Victoriano: Ela quem? Inês? Sua mãe?

Diana revirou os olhos quando  disse.

—Diana: Sim papai, ela mesma.  Então  não acho que sua sanidade  está em jogo  como já vi  muitas vezes Santiago  sempre aqui, suas recusas de se juntar com a gente. Não estou feliz com a situação  que vejo  que estão e por Constância estar como está, mas minha mãe precisava desse tempo mesmo. 

Victoriano  bufou. Ver sua filha mais velha apoiando aquela  insensatez de divórcio, doía nele como um tiro no peito.  Assim então  ele disse.

—Victoriano: Pode ser que ela não esteja  mal, mas nunca vou aceitar essa ideia que ela colocou  na cabeça  sobre Carlos Manuel  ser o irmão de vocês. Isso não é  sano e nunca será!

Cassandra apareceu no corredor  deixando também  seu quarto.  Quando viu o pai e sua irmã mais velha ali, ela parou enquanto  sentia seu rosto  queimar . Lembrou  do que evidentemente  tinha interrompido  ao ver o pai delas ali.

Victoriano  não se importou tanto, desfez do clima  tenso que pairava  no ar,  e a cumprimentou.

—Victoriano: Bom dia, filha. Como está, querida?

Cassandra  deu de ombros  e disse.

—Cassandra: Bem, papai. Cadê Constância e minha mãe?

Ela desviou  o olhar agora para Diana, direcionando a pergunta  também  para ela .

Victoriano  apenas disse. 

—Victoriano: Constância  está no quarto,  a mãe de vocês  no quarto  que é nosso, mas que ela agora  está desprezando tanto como que se...

Ele se calou, fez um gesto negativo  com a cabeça  se censurando, respirou  fundo e disse manso.

—Victoriano: Vou tomar café na frente de vocês  e ir trabalhar em seguida. Verei  Constância  na volta. Amo vocês, minhas amazonas. 

Ele  sorriu agora  se chegando  mais perto  delas. Lhe beijou as testas  e desceu.

Na mesa do café, Bernarda  já estava  presente, e não porque  tinha fome. Ficou em suas mãos o dever de fazer com que a casa seguisse em ordem,  que os trabalhos domésticos fossem cumprido,  que as refeições  fossem  postas nas horas certas  e tudo  que vinha no posto de dona da casa. Assim fazia prontidão  para vistoriar  tudo de perto.

À  mesa farta de um café da manhã estava posta. Ela olhou  com orgulho  tudo  e depois enxotou  com a mão uma ajudante de  Adelaide  que nem mais se fazia presente sempre, desde que se dividiu  em estar com Inês. 

Bernarda  tinha certeza que Adelaide  tinha feito todos àqueles  anos o que o posto de Inês lhe cabia. E isso, porque sabia que a esposa  de seu enteado, sempre fora uma incapacitada  para cuidar  e zelar daquele lugar que nunca foi digna de estar .  Agora ela assim. Sempre tinha amado as terras  e tudo que tinha ao redor da fazenda  Santos,  até Fernando  ter a excelente ideia de entrega-las nas mãos do filho e sua esposa. 

Nunca superaria tal feito.  Lembrava como se fosse  aquele  dia mesmo que seus olhos bateram na raquítica Inês de 18 anos.

Ouviu  então  passos pesados  se aproximarem  à  sala de jantar  e sabia quem era.

—Bernarda: Bom dia, Victoriano.

  Victoriano  soltou  o ar pela boca que percebeu  que prendeu, e a respondeu  sem sorrir.

—Victoriano: Bom dia, Bernarda.  Inês está aqui e não sei se ela desce para o café, mas se o fizer, pelo amor de Deus, evitem trocar farpas.

Ele puxou  uma cadeira se sentando.

Bernarda  sorriu nervosamente,  sentiu suas pernas fraquejarem, mas se manteve firme graças ao fato  de ter perto sua bengala. 

—Bernarda: Então fizeram as pazes?

Ela então quis saber, enquanto  apertava  o topo de sua bengala.

Victoriano  deu um riso sarcástico,  e a respondeu  enquanto  se servia de café.

—Victoriano: Inês está preferindo  estar na companhia  de qualquer  um, menos de mim, Bernarda. Se ela está na casa é por conta de Constância. 

Bernarda  se sentou  interessada na conversa.

Quase 1h depois . Inês  ainda estava  na fazenda. Tomava  chá na cozinha,  evitando à  mesa do café da manhã.  Sabia  pelo som das vozes que suas 3 filhas estavam  à  mesa e na companhia de Bernarda, mas antes de estarem ali, haviam estado com ela, se cumprimentaram,  conversaram sobre Constância  e a evidente falta dela em mais um dia de aula.

Depois Inês se permitiu  estar sozinha na cozinha  para não se juntar à  mesa, e não porque suas filhas  estavam  nela.

Apesar que ao se ver sozinha e seu chá e bolo na mão, gostaria  de ao menos uma estivesse ali com ela. 

Adelaide atravessou a porta de serviço, com uma cesta na mão e legumes frescos dentro.  Emiliano  veio logo atrás,  comendo maçã, tirando  assim ela de seus devaneios.

—Inês: Bom dia.

Assim então ela os cumprimentou,  de caneca na mão  e roupas limpas.  Mirou seu afilhado  que no mesmo instante, recordou que ele havia dormindo na casa, e também  olhou à  senhora que parecia chegar agora naquele  momento  na fazenda.

—Adelaide: Quando  eu soube que estava  aqui não acreditei. E bom dia, menina.

Descobrindo  que Inês  estava ali por um peão que a levou à  feira, Adelaide disse  alegre demais.

Emiliano  que adentrou  mais à  cozinha,  respondeu  também  Inês.

—Emiliano: Bom dia madrinha.  E Constância?

Ele mordeu a maçã e se encostou numa mesa de madeira. Adelaide  pôs  a cesta à  cima dela.

—Inês: Está  tomando café com  às irmãs e a nova dona da casa.

Inês riu amarga depois de falar. Adelaide  respirou  fundo, em desagrado com a fala.

—Adelaide: Vai lá com elas, Emiliano.  Inês e eu temos que conversar. 

Emiliano  deu de ombros  e saiu. Inês  sabendo que poderia  ouvir algum sermão  de Adelaide, virou o rosto  dizendo:

—Inês : Se Victoriano  prefere Bernarda  aqui, ele que fique com ela.

Adelaide  revirou os olhos, dizendo. 

—Adelaide: Victoriano  não sabe nem o que comeu ontem, está fazendo  besteiras atrás de besteiras desde que você anunciou  que queria se separar dele. Deveria é pegar seu posto de volta nesta casa!

Inês  andou, deixando  a caneca na pia, e disse mergulhada em ressentimentos e orgulho.

—Inês:  Não irei fazer isso se claramente  não estou fazendo falta aqui!

Adelaide  retirando  os legumes  da cesta, disse.

—Adelaide: Não fale bobagens,  Inês!

Longe dali. Loreto bateu no rosto  de um de seus homens.

Encomendou  um trabalho  a ele, e no escritório  de sua empresa lançava a fúria sob seu subordinado.

—Loreto: Eu disse que colocasse qualquer moribundo  para atacar  Carlos Manuel,  mas não quando  ele estava prestes estar com Inês!

O homem  vestindo  social,  tinha os braços  à  frente do corpo, imóvel. E dessa forma, ele disse.

—X: Não tinha  como saber  onde ele iria aquele  momento, senhor. O serviço  só tinha  que ser feito no momento  conveniente!

Loreto  bufou se afastando. Tinha uma dívida  com Victoriano  que não conseguiu  cobra-lo como gostaria,  mas lavou sua alma quando  ele sabia que os espancamento  encomendado ao filho dele, era fruto de uma vingança,  uma vingança  que cobrava  olho por olho e dente por dente.

Alejandro  tinha sangue de seu sangue e tinha sido agredido por seu rival, era justo que ele fosse cobrar que o mesmo acontecesse com a pessoa que tinha o sangue dele.

—Loreto: Deveriam ter me avisado antes. Isso atrasou  meus planos!

Ele então  berrou mais uma vez.

Havia reunido algumas coisas que entregaria  à  Inês. Coisas que deixaria ela mais firme em suas suspeitas verdadeiras  e confiante que com ele teria seu tão desejado  filho.

Mas então, quando  havia ido encontrá-la, não teve sucesso e depois descobriu logo o porquê.

Ele assim dispensou seu subordinado,  deu a  volta em sua mesa e fez uma ligação.

Inês estava  dentro de um carro que um dos peões de Victoriano dirigia  e levava ela de volta para seu apartamento. 

Dentro dele seu celular tocou assustando-a.  Lembrou que o deixou em som ativo  desde que teve Constância  a ligando  bêbada, olhou então a tela do celular e suspirou  ao ler Loreto, esperava  ser outra pessoa  que assim que esteve dentro  do carro  tentou também  entrar em contato  com ele. Logo  lembrou mais uma vez que havia marcado  uma reunião  com ele. Era esse o nome que dava para àquele  convite dele estar em seu apartamento.

Ela  então  o atendeu chamando-o pelo nome, e logo depois Loreto  falou.

—Loreto: Inesita,  querida. Não  consegui  te encontrar  ontem ao ter ido em seu apartamento.

Ele se fez de  sonso sem transparecer que sabia o motivo  de sua ausência.

Inês  suspirou, olhando  a estrada  de terra.

—Inês: Tive um final de tarde difícil  e depois de noite, por isso não estive  presente em meu apartamento  e nem me passou pela cabeça em avisá-lo, Loreto,  desculpe.

Ela tocou a testa, Loreto  imaginou onde ela tinha passado à  noite e pensou em uma inevitável  reconciliação  entre ela e Victoriano, só não verbalizou seus ressentimentos  e sentimentos, quando disse.

—Loreto: Prometi  que ia ajudá-la. Tenho novidades, Inesita. Podemos fazer hoje o que não deu para fazermos ontem?

Inês sentiu seu coração  ansioso,  mas se dividiu no mesmo  momento  com seus pensamentos que  partiram para outro lado. Estava  em turbo de emoções. Existia na verdade  uma balança que de um lado havia Constância  e sua busca  incansável  por perdão e renovo, do outro sua outra busca  incansável  por respostas  e para reaver o que lhe haviam tirado.

Assim então não se sentia segura em tratar  da busca das origens  de Carlos Manuel  quando havia pedido para que sua filha passasse um tempo com ela. Ainda que esse tempo fosse horas. Horas que ela tinha certeza  que se Constância  aceitasse,  não gostaria de testemunhar tal conversa  que ela teria  com Loreto.

E era certo  que Constância  havia se negado aos berros, mas sua filha mais nova era tão inconstante  em suas emoções e decisões  quanto ela. No final, era evidente qual das filhas que havia saído de seu ventre, havia herdado  suas piores gêneses.

Assim então  ela o respondeu..

—Inês: Posso  confirmar depois um horário? Penso que irei receber  Constância. Não queira tratar desse assunto  com ela presente.

Mesmo não gostando da resposta,  Loreto disse.

—Loreto: Como quiser Inesita, me ligue.

Quando  estava  pronto para desligar,  Inês falou  rápido. 

—Inês: Sabe algo de Carlos  Manuel? O celular dele só dá na caixa postal.  Deve ter sido roubado...

Loreto  que estava  acomodado em sua sala, esticou as pernas à  cima da mesa, e começou  atualizá-la da maneira dele.

Victoriano  na Sanclat. Estava  em silêncio  na sala de reunião.  Um silêncio  gritante. Era mesmo  uma bomba relógio  que só precisaria de uma A para que ela fosse explodida, e quem o conhecia bem  sabia que era isso que passava por trás  de seu silêncio. Os sócios e até Diana o evitavam,  deixavam ele assistir  à  reunião  como antagonista  pois sabiam quando ele quisesse  falar algo  falaria ou berraria. 

Victoriano  estava em sua caixa  do marido  mais ciumento que já pisara  na terra. Estava ciente da ligação que Inês tinha recebido  em seu carro e com um de seus homens  o guiando, estava  ciente que ela não necessitou nem de nenhuma descrição, quando por várias vezes chamava Loreto  pelo nome  e havia dado entender  que ele estava subindo ao apartamento  dela quando queria.

Ele imaginou o que falavam, o que faziam sozinhos. Inês era a mulher de sua vida e ele havia sido  seu único  homem.  O único  a tocá-la, o único a fazer amor com ela e  faze-la dela mulher.  Mas se já não era assim? Se toda frieza e desprezo  dela, era por que estava amando  outro? Amando Loreto.  Justo  ele?

Loreto  havia conquistado  ela? Havia lhe tirado seu grande  amor, como antes ele mesmo havia feito com ele?

O que seria mais duro? Um amor tirado na juventude,  ou um amor que sobreviveu a muitas coisas e também viveu? Como superar  a perca de um amor tão grande e experiente  assim?

Ele piscou percebendo  que estava emotivo. O som ao fundo na reunião, era abafado  por sua dor e pensamentos, e de repente ele se levantou. Viu cabeças  se virando  para ele e bocas se mexendo, mas nada ele entendeu nem fez questão  também  de falar e justificar  sua saída.  Apenas se levantou  como rei daquele  lugar e despreocupado  com os negócios  e com o dinheiro  que jamais gastaria tudo em vida.

Assim saiu da sala, vendo meio  que tudo nebuloso.  Eram lágrimas ali querendo  descer. Lágrimas  que antecipava um sofrimento de abandono da mulher que amava. 

Estava se arrastando  até sua sala, sem saber direito  o que faria . Primeiro  necessitava sentir e depois pensar no que fazer em relação ao que sabia. Não era novidade que o infeliz  de Loreto  prometia ajuda a Inês,  Victoriano  era ciente do fato mas estava  tão cego com os ressentimentos  do motivo  da aproximação  de seu rival, que não havia dado valor suficiente  o que aquela  reaproximação  poderia significar. 

Ele chegou na porta da sala  dele, abriu  e então  quando  pensou que poderia se esconder  com  sua dor ali, viu Débora.  Débora era o nome dela e que custou decorar  ao menos até aquela  última semana que a tinha no posto  de sua secretária.  Um posto temporário  por tê-la  afastada por motivos de saúde.

Débora deixava uma encomenda  na mesa dele. Uma pasta de papel amarelo com remetente  e destinatário. 

Também  tinha um recado para ele, que assim que ouviu  ela disse.

—Débora: Teve um telefonema  da delegacia.  Avisei que o ligassem ao final da reunião  que seria previsto daqui  ah... uma hora.

Ela olhou bem seu relógio  de pulso  pra verificar o horário e ter certeza que não tinha confundido por ter Victoriano  já ali.

Victoriano  respirou  fundo. Não tinha cabeça  para nada aquele momento  e imaginava  quem o procurava, seria algum  agente ou o próprio  delegado, que pretendia  marcar outra  reunião agora com Inês presente, mas não  tinha cabeça para nada. Não naquele momento,  assim então  ele disse.

— Victoriano: Obrigado  pelo recado, mas se ele ligar  diga que amanhã  cedo comparecerei  à  delegacia. Hoje não estou para ninguém  mais, Débora.

Débora assentiu, o observou  ir até sua mesa e preenchendo  o lugar. Com discrição,  ela suspirou atraída  pelo homem de olhar triste e alheio ao que causava nela e que poderia  causar em qualquer  outra mulher.  Ouvia burburinhos  por toda  empresa de como a vida de seu patrão era, também  sabia por Adelaide  algumas informações  de primeira  mão, mais dela sempre vinham  elogios por idolatrar  o casamento  dos patrões. Agora na empresa? Era outra história. 

Inês nunca aparecia  ali. Era raro sua presença,  mas era bem  comentada entre os corredores,  o que sofreu, onde já esteve internada. Tantas coisas. Débora se imaginou  no lugar dela e pensou com determinação  que se fosse casada com o homem que via e dona de tudo aquilo,  faria questão de impor sua presença a todos, principalmente  a todas.

Carlos Manuel  comprava um celular  pela Internet,  quando  ouviu sua campainha tocar.

Ficaria por 7 dias sem ir à  clínica enquanto  se recuperava.  Nesse período pensaria  bem qual seria seu passo seguinte, que para se afastar da família que estava  virando sua sina, teria que deixar primeiramente  seu trabalho  tão desejado.

Desejado porque a clínica psiquiatra que Santiago era dono, não era qualquer  uma e ele não era qualquer  um também.

Largando  o notebook  que tinha em mãos,  ele caminhou até a porta e depois que abriu  ele disse:

—Carlos Manuel: Como...

Surpreso, ele não teve voz para seguir quando já viu Constância  entrando para dentro  do apartamento  dele.

— Constância: Fique longe  da minha mãe!

Carlos Manuel  passou a mão na cabeça quando se viu em mais uma exigência  semelhante  àquela. 

Ele então cruzou os braços  frente ao peito  e disse calmo.

—Carlos Manuel: Primeiramente, Constância,  como soube onde eu moro e como chegou até aqui?

Constância  deu de ombros, tinha ido primeiro  até a clínica  de Santiago  e feito uma cena dramática como uma das enfermeiras que por pena  concedeu  a ela o endereço do médico,  agora subir até  ali, aproveitou a distração do porteiro e a chegada de uma família grande de moradores que pegavam o elevador e se misturar entre eles .

Assim então ela disse.

—Constância: Eu fui esperta  e aqui estou, Carlos Manuel!

Ela depois de falar encarou alguns  hematomas no rosto  dele. Não estava  inchado  mas roxeado em alguns cantos. Ela quis então perguntar  se ele estava  bem, mas recolheu  o interesse, quando  não mais via ele como seu médico  e confidente e sim como uma ameaça.

Carlos  Manuel  que viu em seu olhar sua dureza cair, teve uma ideia rápida  que além de se ver sábio  como profissional de não ficar sozinha com ela fora de um consultório,  se rendia ao sentimento  de querer ajudá-la pois se via nela em sua fase mais difícil.

Assim  então,  ele andou até sua mesinha  na sala, pegoh cartões  jogados ali depois de terem levado sua carteira  e carro e disse.

—Carlos Manuel: Vamos dar uma volta . O dia parece lindo lá fora, e claramente precisamos  de alguma  cosia bela no dia de hoje, Constância. 

Constância não entendeu como em um só pedido estava  saindo com ele dali. Juntos caminharam em silêncio, enquanto  sentiam a brisa do vento  na pele, cabelos  e rosto. Assim pararam  numa sorveteira  bonita . Carlos Manuel  pediu uma mesa bem  à  vista  e no  ar livre.  Assim então, depois que pediram dois copos de milk-shake,  ele disse primeiro. 

—Carlos Manuel: Como tem passado Constância? Tirando a parte que também  está me odiando sem eu ter feito nada a todos  vocês.

Ele cruzou  os braços  se relaxando  na cadeira. 

Constância tomou um pouco do sorvete, depois  fez que não com o dedo e disse.

—Constância: Não. Você não irá fazer disso uma terapia.  Eu só quero  que cumpra o que eu disse!

Ela também  cruzou  os braços.  Carlos Manuel bebeu  também  de seu sorvete e disse depois. 

— Carlos Manuel: Só perguntei como está sendo seus dias, por que os meus estão sendo um inferno,  literalmente. Olhe para mim e constará isso.

Ele riu de sua própria  situação, Constância  então se rendeu à  curiosidade e disse.

—Constância: O que houve com você?

Ele deu ombros. 

—Carlos Manuel: Longa história.  Mas posso te garantir  que não sou essa ameaça  que pensa que sou nem pra você muito  menos para suas irmãs  e pai.

Constância  deu de ombros, quando disse.

—Constância: Você  sabe tudo  de mim e da minha família, mas não sei nada sobre você.

Carlos  Manuel  a olhou, e a respondeu  sério.

—Carlos Manuel: Meu trabalho sempre foi ouvi-la e não falar de mim Constância.

Constância  sorriu discretamente.

—Constância: Eu preciso  se ouvida, Carlos  Manuel.

Ela olhou o chão.

Carlos  Manuel respirou  fundo e disse.

—Carlos Manuel: Volte a fazer terapias, não é bom que deixe.

Ela ergueu  o olhar pra mira-lo, então  viu  no olhar de Carlos Manuel  a empatia de quem não seria capaz de julga-la. Assim então  começou a falar.

—Constância: Eu bebi muito  ontem  à  noite...

Já  era noite, de madrugada. Inês estava  sozinha  no apartamento. Era um silêncio e uma solidão  gritante com ligações sem respostas que ela esperava e ligações sem ela dar respostas esperadas.

Uma noite  silenciosa que trazia pensamentos, reflexões  e saudades.

O celular  vibrou  no colchão  da cama. Inês que estava  de pé, depois de sair da varanda e observar a cidade barulhenta  e nada de verde,  voltava para o quarto  visando  se deitar.

Quando viu a tela do celular  acender. Chegou  perto  e leu o nome . Seu coração  acelerou. Ela se abraçou, mas não por muito  tempo,  porque se viu atendendo  a ligação.

Ela atendeu sem dizer alô.  Mas do outro  lado da linha,  Victoriano  já sabia que tinha sido atendido, entendeu  que assim como ele, ela não dormia.

Era mais uma infernal  noite com eles longe  um do outro.

Ele então  falou  primeiro, quebrando  aquele  silêncio.

—Victoriano: Já é  tarde  morenita,  se ainda não dormiu é  porque  sofre do mesmo mal que eu. O mal do sofrimento  da distância  que agora estamos vivendo.

Ela suspirou,  ao mesmo que subia na cama para se deitar. Quando fez, ela se enfiou  abaixo  das cobertas e disse.

—Inês: Sofro de insônia  desde de sempre, por isso ainda não dormi, Victoriano. 

Victoriano  deu um sorriso de lábios  fechados. Ele andava de pijama na varanda do quarto  deles e tinha um copo de uísque  na mão. Bebericou  dele  antes de responde-la, e quando  fez ele disse.

—Victoriano: Mentira,  já dormiu como um bebê nos meus braços,  ainda mais quando fazíamos  amor uma, duas, três vezes na mesma noite. Dormia tão calma nos meus braços que não necessitava  de nada apenas de mim para adormecer, morenita.  E agora estou igual. Não durmo bem  desde que me deixou  sozinho aqui...

Inês fechou os olhos, se encolheu, primeiro apertando as pernas uma na outra no início  de suas palavras,  mas depois  ao final dela, apenas suspirou  sofrendo  do mesmo mal.

—Inês: Têm muitas coisas aí,  que lembram  a mim, aqui não tem nada seu Victoriano. Não tem nada seu para que eu sinta você perto...

Ela se calou. Victoriano  sorriu com aquela  confissão. Não era um riso feliz, era triste.  Sofriam  pela distância  e ainda assim seguiam  nela.

Assim então, ele se apoiando à  grade da varanda,  abraçado  pela brisa da noite, a respondeu.

—Victoriano: Ter tudo o que te pertence  aqui, me enche  mais de saudades morenita, é um lembrete  constante de que você  não está aqui. Mas sobre não ter nada meu aí, proponho algo, hum...

Inês suspirou  e disse  baixo.

—Inês: O que  me propõe?

Ele bebeu  o restinho  do uísque  e olhou a cama sem ela ali, mas no lugar sua última camisola usada naquela  cama. E então assim, ele disse.

—Victoriano: Pegue um travesseiro e o abrace.  O abrace firme, morenita  enquanto  pensa em nós.  Pense que é  eu ao seu lado. Aqui estou sem sono porque só penso em você antes de dormir, então se faz isso antes que durma também será como se estivéssemos  juntos.

Inês piscou e chorou, puxou o travesseiro que estava  ao lado como ele mesmo dizia  e disse chorosa.

—Inês: Eu sinto sua falta Victoriano.

Victoriano  se deitava sem largar o celular, esticou depois uma mão pegando a camisola dela e disse, ao entender que ela chorava.

—Victoriano: Eu só queria  ligar pra dizer que te amo, morenita e  não te fazer chorar. Vá dormir, meu amor. Sonhe com nós  dois em um lugar  bom, onde estamos felizes outra vez.

Inês fechou  os olhos, limpou  as lágrimas e disse.

—Inês: Quero que esse sonho se torne realidade,  Victoriano e não que seja uma ilusão de nossa mente...

Ele sorriu, fungou o pano  preto da camisola em rendas, cheirando-a.

Assim então  ele disse.

—Victoriano: Isso quer dizer  que ainda sou o único  no seu coração?

Inês assentiu  primeiramente  com a cabeça  e depois disse.

—Inês: Você será o único homem que amei e amarei, Victoriano.

Victoriano  sentiu o peito  em júbilo e pediu.

—Victoriano: Volta pra mim, morenita. Somos loucos um pelo outro,  essa separação  é  absurda,  é  um castigo  sem fundamento.

Inês se encolheu na cama, e o respondeu. 

—Inês: Precisamos  desse tempo Victoriano. Eu preciso  aprender viver sem você  por um tempo, precisamos consertar  muitas coisas e recuperar  o que nos tiraram. 

Victoriano  ficou calado. Sua mão livre passeou  no lado vazio  da cama.  Não  gostou  da reposta dela, era sofrimento  demais,  espera demais, mas se concentrou  em sua declaração  anterior.

—Victoriano: Se me ama e sempre amará assim  como é  comigo,  por que em momentos como esses não me convida  para estar contigo, hum? Eu te amo, você me ama, me chame para espantar suas noites de insônia assim como pode fazer com as minhas, morenita. 

Inês  ficou calada.  Seu coração  estava tão acelerado além de sentir  um gelo na barriga.  Um gelo gostoso  e bem antigo.  Era o gelo da paixão inicial de um romance.  A dúvida de ceder,  o medo com o desejo visível.  Isso tudo  já havia vivido com ele. 

Ela abraçou  o travesseiro com uma mão apertando  frente ao peito,  roçou  os lábios pensando  nele, pensando  que ali fosse seu rosto.  Mas não era, aquele  conselho  vindo dele de nada adiantava. Não tinha seu cheiro  ali, não  tinha seu calor.

Assim então ela sussurrou.

—Inês: Victoriano...

Victoriano soltou  o ar pela boca, prevendo uma despedida  e disse.

—Victoriano: Boa noite, morenita...

Ele foi interrompido pela voz dela.

—Inês: Vem... Vem aqui dormir comigo. 

 


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