Amor Sem Medidas escrita por EllaRuffo


Capítulo 71
Capítulo 71




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Olá meus amores, o capítulo está enormeeeee.

Demorou apenas três dias para que Inês tivesse seu lugar tão desejado. O que pareceu uma eternidade com feridas sendo cutucadas, quando se viu deixando a fazenda outra vez, mas dessa vez, levando mais de seus pertences consigo e tudo que fosse precisar em seu novo lar.

Um apartamento no centro da cidade, apenas duas quadras depois da Sanclat, foi onde Cassandra e Diana a instalaram. No 4° andar de um condomínio de prédios, cercado de segurança e conforto.

Alguns extintores de incêndio e um alarme contra incêndio, foram colocados em pontos estratégicos pelo apartamento. Ar-condicionado de última geração, grades de segurança na janela, e mais de uma cópia da chave junto de uma instalação de câmera, foram reforços exigidos por Victoriano em segredo às filhas. Tudo para garantir que Inês ficasse bem e segura, longe da fazenda, ainda que lhe doesse sua partida desde que ela havia deixado definitivamente o lar deles.

Agora completavam dez dias daquela separação. Inês em seu novo lar, despertava ouvindo barulhos vindo de fora do quarto. Sabia quem era que estava com ela, e sorriu, mas de início não tendo esse estado de ânimo com sua quase moradora junto dela.

Adelaide fazia café na cozinha. Estava combinado que ela passaria ao menos duas noites na semana no apartamento com Inês. A senhora não só quis fazer o que Victoriano pareceu implorar, como sentia que morreria de saudade de Inês se não pudesse vê-la.

—Adelaide: Bom dia.

Ela então disse, passando de bule na mão e indo até a mesa do café delas, quando viu Inês aparecer.

Inês passou uma mão nos cabelos. Vestia uma camisola rosa-bebê e um robe curto e aberto, por cima dela. Ela fechou depois dando um laço, e respondeu Adelaide, ainda sonolenta.

—Inês: Bom dia, Nana. Não a ouvi quando chegou.

Ela sentou à mesa, onde a senhora já sentava também. Tinha bolo e frutas para elas. Inês pegou o mamão fatiado primeiro, e ouviu Adelaide responde-la.

—Adelaide: Victoriano me deixou cedinho aqui e foi trabalhar, por isso não ouviu quando cheguei.

Inês a olhou, tentou não perguntar, mas em vão se viu verbalizando.

—Inês: Como ele está?

A senhora suspirou. Não agradava nada a ela ver os dois separados. Testemunhara àquele amor que os uniam, desde muito jovens quando iniciou. Assim então ela disse.

—Adelaide: Ele não anda bem não. Se faz de forte, mas eu e as meninas sabemos como ele está sem você todos esses dias.

Inês deu de ombros. Bernarda seguia na casa, e ele seguia não querendo se aproximar de Carlos Manuel nem que fosse por curiosidade, e ainda não conseguia perdoa-lo por seus atos recentes que pesaram mais na sua decisão em deixa-lo, ainda que há um dia haviam ido juntos em uma delegacia especialista em sequestros e reaberto o caso do sequestro de Fernando, assim, desenterrando toda as investigações passadas, não conseguia fingir que não tinha motivos que sobrassem para justificar sua saída de casa. Ainda que sofresse também, não podia negar que sua decisão era a única coisa sensata que restou.

Assim então, ela disse convencendo a si mesma.

—Inês: Ele segue com os planos dele e eu com os meus. Estamos melhores assim.

Adelaide a encarou duvidando que ela estava tão em paz como quis soar suas palavras. E disse, pegando um pedaço de bolo de cenoura e cobertura de chocolate.

— Adelaide: Suas olheiras estão mais evidentes essa manhã. Penso que os dois estão sofrendo e isso me deixa triste.

Inês trocou o café pelo chá, quando a ouviu e sem olhá-la, ela disse, revelando toda as causas de sua insônia não só a que se via assunto.

—Inês: Hoje marquei com Carlos Manuel um chá da tarde aqui mesmo, e à noite Loreto prometeu me visitar com novidades sobre nossa investigação, Constância não vem me visitar desde que mudei, enquanto ás suas irmãs, passaram toda a noite comigo, indo embora por volta da meia-noite. Está tudo difícil não só por me ver nessa separação, Nana, eu confesso, por isso não pude dormir bem, nem com remédios.

Ela bebeu o chá à beira de um colapso interno com tudo que tinha em mente. Ao mesmo tempo que buscava soluções para seus conflitos, eles pareciam brotar como ervas daninhas. Quando focava na busca de Fernando e no mistério que rondava a vida de Carlos Manuel, tinha sua relação com Constância abalada cada dia mais, e a ausência de Victoriano em sua vida à consumindo aos poucos, ainda que não verbalizasse tanto.

Sentia falta dele e desde que estava naquele novo endereço, sentia ao menos em um momento de seu dia, uma urgência de correr dali e ir até ele e fingir que nada daquilo era real, que tudo estava bem, apenas para voltar a ter dele sua presença que tanto lhe fazia falta ainda mais quando se deitava em sua nova cama, fria e espaçosa demais.

Adelaide tirou ela dos pensamentos, quando a respondeu.

— Adelaide: A nova médica que está indo, não te receitou nada mais forte para que dormisse?

Inês negou com a cabeça, ao se lembrar que estava apenas na primeira semana de novas consultas com uma médica nova. Uma médica psiquiatra já senhora que parecia saber muito bem o que fazia, quando a receitou poucos remédios, além de recomendar chás naturais e leitura de bons livros, em momentos antes que fosse dormir.

Inês havia se surpreendido, mas aceitado o novo tratamento, pois estava certa que apesar dos limites que lhe foram impostos antes e ela aceitado todos, não descuidaria de sua saúde mental, o que fazia diferente era que daquela vez estava tomando as rédeas de sua própria vida.

Assim então ela respondeu Adelaide.

— Inês: Ela me deu outras opções, além dos remédios. Minha nova médica não quer me receitar nada forte ainda, ela quer me conhecer melhor e estudar meu caso. Para isso, ela tem em mãos meu laudo que Santiago ofereceu de brinde ao Victoriano.

Ela torceu os lábios ainda ressentida com o feito do marido, depois de falar. E Adelaide a respondeu depois de notar que apreciava aquele novo tratamento e a nova psiquiátrica de Inês.

—Adelaide: Essa médica parece muito ética. Diferente de Santiago. Ele nunca me caiu bem.

Inês suspirou, pensativa. Não sabia mais nada de Santiago desde da manhã que tinha deixado sua clínica. Depois, respondeu a senhora, dizendo.

—Inês: Não vamos nos gloriar tanto, necessitarei de acompanhamento médico à vida toda. Sou ciente disso e não deixa de me incomodar.

Adelaide buscou a mão dela para tocar, e quando sentiu, a afagou enquanto a olhava.

—Adelaide: Todos nós deveríamos contar com profissionais como esses à vida toda, Inês. Viver não é uma tarefa fácil. Estou orgulhosa de você.

Adelaide havia sido sincera. Apesar de estar triste em ver a família separada, e as olheiras de preocupações em Inês, via ela parecer respirar mais aliviada. Na verdade, Inês respirava a liberdade de sua vida que tinha entregado nas mãos de outros, ainda que esses outros a amassem.

Na Sanclat

Victoriano estava em sua sala tentando trabalhar. Largou de repente inúmeros papéis ao meio da mesa e andou pela sala. Desapertou a gravata agoniado, e tentou conter a vontade de pegar seu aparelho celular e conectar em um app que tinha nele, instalado imagens de uma câmera que dava imagens da sala de Inês. Apenas uma que ele se obrigou a obedecer suas filhas que não permitiram que ele tornasse o apartamento da mãe delas, em um reality show, onde ele teria em mãos um pay-per-view de imagens apenas dela em todo apartamento.

Sentia que estava pagando por todos seus pecados com aquela distância imposta por ela. Morria por tê-la, morria por uma volta com ela, por uma conversa, por uma noite, por algo que fosse e que tivesse dela alguns segundos de atenção. Recordava que a última vez que passaram algumas horas juntos, havia sido quando estiveram na delegacia.

Agora, Inês parecia fazer questão que aquela separação seguisse firme quando ela o evitava ou o tratava como um estranho. Era certo que tinham parado de gritar um com outro, mas a troco de quê? O silêncio era pior que qualquer briga.

Ele passou a mão na cabeça mais uma vez se arrependendo de ter cedido à conversa de suas filhas e ter facilitado a ida de Inês. Ela estava a duas quadras de distância dele, mas só quando ele estava trabalhando, quando voltava para casa era quase 1h de distância pelo trânsito e por ter que sair de uma zona rural para entrar na urbana para chegar nela.

Mas era isso ou um divórcio que não tinha sido ainda legalizado nenhum pedido. O que fazia-o ilusionar que de fato àquele tempo ainda que odiasse, estava acalmando as coisas entre ele e Inês.

Ele voltou a andar novamente. As coisas tinham que se acalmar, mas não demais. Não poderia deixar de fazer falta a Inês, ela tinha que seguir amando-o como ele a seguia amando e com mais desespero que antes.

Não dormia bem, sentindo falta dela no quarto. Os dez dias passados pareciam já meses eternos que dormia só, que não a ouvia no quarto, que não sentia seu cheiro e que nem faziam amor. Podia recordar a última vez que havia a tocado sóbrio, e o desesperava por pensar que não voltaria mais fazer. Não era seu corpo pedindo sexo, era todo seu ser clamando só por ela, sentindo falta dela. Ainda tinha o fato de saber que Loreto estava sempre á espreita, cercando-a. Não tinha paz um segundo sequer sem ela.

Sua garganta pediu por bebida. Algo que se viu nos últimos dias bebendo mais. O álcool passou a ser seu calmante, seu anestesio.

Ele olhou a hora do seu relógio. Ainda era 9h da manhã. As 24 horas dos dias pareciam estar mais longas, ou ele estava enlouquecendo ao se ver em intermináveis manhãs, tardes e noites.

Cansado de andar pela sala, pegou seu paletó jogado na cadeira por trás de sua mesa, o colocou e deixou a sala.

Inês resolveu sair para andar mais uma vez em sua nova vizinhança barulhenta e movimentada por pessoas e carros, diferentemente de onde passara mais de duas décadas da sua vida, cercada pela natureza e poucas casas. Agora vivendo no meio do centro da cidade custava se adaptar e conhecer tudo que estava próximo ao condomínio de prédios que morava.

Andava vestindo social e uma bolsinha na mão, enquanto pensava e ao mesmo tempo olhava tudo, com os olhos curiosos e atentos, até que parou de frente a uma casa. Não era bem uma casa, ela encarou e leu o nome na placa que citava uma instituição de acolhimento de menores em situação de vulnerabilidade. Olhou o portão de grades de um só lado aberto e viu um papel colado. Era um aviso de emprego. Inês parou lendo que precisavam de uma cozinheira certamente para cozinhar para as crianças.

Ela então cruzou os braços indecisa se entrava no lugar e se candidatava para vaga. Sabia cozinhar apesar de se sentir enferrujada, e agora que morava só, estava voltando aos antigos hábitos de ter que lidar com a cozinha e isso porque havia escolhido, aceitando ter apenas Adelaide nas duas vezes da semana como o combinado. Além do mais, não era só o cozinhar que tinha lhe chamado atenção, queria ser útil e via ali uma grande oportunidade para ser.

Atravessando o portão, todos perceberam a mulher bem elegante entrando no requinto. Uma jovem ajudante imaginou que estava diante de uma mais nova doadora do lugar. Afinal a ajuda que davam para os jovens da região, não vinha de um governo, mas sim de liga de pessoas interessadas em fazer o bem com doações diárias ao abrigo.

A jovem parou diante de Inês, que olhou crianças e adolescente em um refeitório improvisado um pouco distante de onde ela parou.

—X: Bom dia. Posso ajudá-la?

Inês sorriu, assentindo e disse.

—Inês: Bom dia, eu vim pela vaga de cozinheira.

A jovem a olhou incrédula quando a ouviu, depois de se recuperar, dirigiu Inês até a diretora do lugar.

Agora Inês estava diante de uma mulher de 61 anos que usava óculos e tinha os cabelos grisalhos.

A senhora de nome Lúcia Valdez, teve a mesma reação da jovem de sua equipe quando ouviu Inês. Assim então, ela disse mais uma vez.

—Lúcia: Não posso aceitá-la em nossa equipe como quer. Seu perfil não é feito para o cargo que quer, muito menos temos dinheiro para o salário que deve desejar aqui, senhora Huerta.

Inês olhava a sala que foi levada. Tinha uma mesa para diretora, conteúdos lúdicos e didáticos nas paredes e em estantes, como livros e brinquedos.

Ela estava de pé, se sentindo eufórica demais para ficar sentada, e quando ouviu mais uma vez a diretora daquele espaço, ela a olhou dizendo.

—Inês: Eu não quero dinheiro. Trabalharei sem esperar nada em troca, e estou disposta a contribuir com o lugar se me colocarem como a cozinheira desse lindo projeto. A decisão é sua, senhora Valdez.

A senhora precisou sentar para tentar colocar os pensamentos no lugar o com o que tinha escutado.

Na fazenda.

Bernarda estava sentada de lado em um cavalo, enquanto ele era puxado pelas rédeas por Zacarias. Estava entre o verde da fazenda, longe dos muros que cercava a casa principal e mais próximos da natureza.

Era estratégico se verem ali. Bernarda pediu por Zacarias naquela cavalgada e ele não pôde se negar pois agora ela ocupava o posto da patroa do lugar.

Assim, ele disse descontente.

—Zacarias: O que quer de mim? Não me chamou aqui atoa.

A mulher deu um sorriso de lábios fechados, quando disse.

—Bernarda: Eu não quero perder o que ando reconquistando. Preciso de sua ajuda.

Ele parou, olhou a senhora enquanto o sol já começava a arder sua pele de peão e mais velha que antes fora, riu e disse.

—Zacarias: Já não tenho mais idade para o que penso que me pedirá.

Ele cuspiu no chão depois de falar e voltou a puxar a corda do cavalo fazendo ele andar com Bernarda em cima dele.

Bernarda torceu os lábios. Loreto, como ela havia pensado tinha suas próprias cartas na manga desde que tinha guardado para si a verdadeira identidade de Fernando e seu paradeiro. Por isso ela sabia que um dia acordaria e saberia que Inês teria o tão desejado filho nos braços. Com essa verdade eminente, não podia permitir que acontecesse assim tão fácil. Teria que dar um jeito no traidor ou em Inês; não importando como só precisando que um deles saísse de seu caminho.

Assim então ela disse.

—Bernarda: Se me ajuda terá o que jamais pensou em ter. Verá tanto dinheiro que seus olhos jamais viram.

Zacarias parou e a olhou pensativo.

Inês voltava para casa feliz. Não tinha o sim da diretora, mas teve a promessa de uma ligação com a resposta. Assim Inês deixou seu número novo residencial com a mulher e de seu celular.

Enquanto caminhava e já estava na calçada que ficava de frente do apartamento que morava, reconheceu pelas costas alguém que a esperava. Ela seguiu até ele e o som de seus sapatos, fez com que Victoriano se virasse e desse de cara com ela.

Ele respirou fundo quando a viu. Seu rosto iluminado e de olhos bem vivos junto do vento do dia que lhe batia nos cabelos, a deixava encantadora, tanto na beleza física como no que ela parecia trazer dentro de si que parecia ser vontade de viver.

Ele então enfiou as mãos no bolso da calça quando seu desejo era puxa-la para um beijo e lhe dar um forte abraço. Que se reprimindo ele disse.

—Victoriano: Olá. Queria saber se está disposta a almoçar comigo essa tarde, morenita.

Inês olhou o chão quando a intensidade do olhar dele, parecia que iria desestrutura-la e quando voltou a olhá-lo, mexeu em um lado do cabelo para arrumá-los da bagunça do vento.

—Inês: Poderia ter me ligado e feito esse convite, Victoriano.

Victoriano suspirou odiando o espaço que tinha entre eles e a frieza na resposta dela. Então ele a respondeu.

—Victoriano: Você não me atenderia.

Agora foi Inês que suspirou. Passaram a se comunicar pelas filhas. Como se elas fossem um telefone sem fio que passavam recados. Inês preferia assim quando tentava seguir firme em sua decisão.

Não se pode estar em contato sempre com quem se ama, se esse amor no momento só machuca. Ambos estavam se machucando, e ela se sentia a mais ferida ali.

Assim então ela disse.

—Inês: Estamos separados, não temos muito o que falar depois de nossas decisões já tomadas, Victoriano.

Outra respirada profunda foi escutada vindo do homem na conversa. Victoriano olhou o carro dele do outro da calçada, e a respondeu tentando não perder o controle que mantinha.

—Victoriano: Aceite meu convite, porque penso que apesar de sua decisão em me deixar, temos sim muito o que tratar, e sempre teremos morenita. Temos filhos juntos, não se desligará de mim mesmo que queira.

Inês deu um sorriso de lado, olhando para onde ela olhava que era o carro e disse ao voltar mira-lo.

—Inês: Nossas filhas são já adultas e que podem se dirigir a mim quando precisarem, Victoriano.

Victoriano diminuiu a distância entre eles, e a encarando disse de tom mais sério.

—Victoriano: Quero falar de Constância e de Fernando. Ela me preocupa, enquanto Fernando, recebi uma ligação do delegado responsável do caso, ele quer nos ver, parece que nos oferecerão um recurso tecnológico que facilitará o reconhecimento de nosso filho na idade que já está. Eu não queria conversar sobre isso aqui em uma calçada, a não ser que me chame para subir.

Depois de ter sido direto, ele olhou para o prédio ao lado deles. Inês não pensou nem um segundo mais ao ouvi-lo, quando já se via aceitando seu convite.

Dentro do carro, ela se agarrou no cinto ansiosa e desejando adiantar aquele dialogo durante o caminho. Assim então ela disse.

—Inês: Conte-me mais, Victoriano. Como será isso? Como poderão nos mostrar como já está nosso filho? E Constância? Ela não me visita e não me atende.

Ela olhou aflita a janela do carro, na espera de respostas. Sentiu depois Victoriano tocá-la na perna enquanto já saia com ela dali.

—Victoriano: Muita coisa mudou desde da década de noventa, Inês, a tecnologia está do nosso lado. Só precisamos de uma foto de nosso menino para facilitar as coisas.

Inês sentiu mais aflita ainda quando lembrou que não tinha tal foto, e então disse rápido.

—Inês: A única foto que tivemos dele, desapareceu!

Ela falou quase chorando e Victoriano, parado em um sinal vermelho a mirou e disse.

—Victoriano: Eu sei desse fato, mas temos dele bebê, será mais complicado, mas tentaremos recordar também daquela que tivemos dela já mais velho, além do mais, temos Cassandra, quando ela nasceu se parecia muito com Fernando bebê. Pode ser que agora já adulto a recorde também!

Inês uniu as mãos de frente ao lábio. Ao mesmo tempo que se enchia de fé, se revoltava. Se não tinha mais a foto de seu menino já criança, não era por sua culpa e já tinha acusado a culpada e ele feito nada.

Assim então, ela baixou a mão e moveu a perna, tirando o toque de Victoriano dela. Ele respirou fundo colocando as duas mãos no volante e disse, mudando para o segundo assunto.

—Victoriano: Constância está saindo muito pela noite, está chegando tarde em casa e acredito que essa noite ela tenha chegado bêbada. Também deixou de ir ás terapias desde que descobriu a inconveniente história que envolve seu médico e nossa separação.

Inês arregalou os olhos quando o ouviu. Constância e o álcool não eram uma combinação boa quando ela se sentia ferida e revoltada. Assim então ela disse cheia de preocupação.

— Inês: Temos que fazer alguma coisa, Victoriano e logo!

Victoriano assentiu rápido, dizendo.

— Victoriano: E iremos fazer, começando em convencê-la a vê-la e voltar às terapias como antes.

Inês suspiro. No final das contas suas preocupações referentes a sua filha mais nova, eram válidas.

Com pesar no coração, Inês deixou o carro ao lado de Victoriano.

Ele entrou com ela no restaurante pegando automaticamente em sua mão, entraram assim, como um casal que não estavam vivendo em casas separadas.

Quando então estavam já acomodados em sua mesa, Victoriano disse depois de passar o olho no menu de entradas.

— Victoriano: Sinto sua falta, Inês. Sinto muito sua falta, por essa razão também que fui te procurar, morenita.

Ele buscou a mão dela por cima da mesa. Inês sentiu sua pele na dela, se deixou apreciar o momento para depois puxar devagar a mão e dizer.

—Inês: É uma pena que desde que pedi nosso divórcio, você só tenha agido de uma maneira que me fizeram ter certeza que essa separação nossa foi inevitável, Victoriano.

Ela juntou as mãos no colo, ouvindo ele respirar fundo e depois se mover inquieto no lugar.

—Victoriano: Sei que agi nos últimos dias de maneiras que me puseram a esse castigo que é não a ter ao meu lado como antes Inês, mas deve também assumir que sua decisão me pegou desprevenido e os motivos dela ainda mais. Estive fora de mim!

Depois de se abrir, ela deu um sorriso de lábios fechados, depois rebateu as justificativas dele.

— Inês: Você me magoou Victoriano, com sua mentira primeiramente, depois as razões dela e em seguida, tudo que fez depois quando me abri com você. Você me virou às costas.

Victoriano respirou fundo, ressentindo-se das palavras dela. E então a respondeu.

—Victoriano: E você o que me fez? Me pediu esse divórcio, me deixou na primeira crise que julgou que tivemos. Você me deixou quando eu não fiz isso em nenhum momento contigo Inês! Passamos por situações dolorosas, e eu fiquei em nosso casamento, e você? Hum?

Inês ficou calada. Parte sua queria rebater suas palavras, enquanto outra parte sentia que ele tinha razão e por isso não sabia como defender suas dores quando era nítido que ele tinha as dele também. Inês era ciente o quanto havia falhado e essas falhas também poderia ter o jogado nos braços de outras mulheres. De mulheres mais saudáveis que ela, por exemplo.

Victoriano tinha pegado a carta de menu outra vez, quando ela por fim resolveu dizer algo.

—Inês: Está claro que falhamos, eu mais do que você Victoriano. Errei com nossa família, com você, comigo mesma. Essa nossa separação se torna inevitável quando pensamos muito nos motivos dela...

Ela torceu o lábio com desgosto depois de falar. Victoriano sem tirar os olhos dela, chamou com um aceno o garçom, e disse depois.

—Victoriano: Vou fazer nosso pedido de uma vez.

Ela assentiu aliviada que ambos ocupariam as bocas e não falariam tanto de seus erros matrimoniais.

1 hora depois no restaurante, Victoriano e Inês já estavam entrando na parte da sobremesa enquanto falavam dos filhos. Foi quando se calaram, que Victoriano soltou uma pérola que andou segurando.

—Victoriano: Segue vendo Loreto?

Inês tomou um pouco de água gelada quando o viu levar o doce gelado que comia na boca, aparentemente a ocupando para não falar mais.

Ela suspirou, limpou os lábios depois e disse.

—Inês: Não escondi que ele me ofereceu ajuda, a ajuda que você me negou.

Victoriano limpou os lábios também, e disse descontente.

—Victoriano: Apresentei minhas razões. Prefiro seguir nas buscas que elas sim nos levarão a uma verdade e não em uma ilusão, Inês. Mas deveria tomar cuidado com ele. Loreto pode te enganar para conseguir o que quer.

Inês ficou vermelha sentindo raiva do que ouviu, e o respondeu firme.

— Inês: Já não imploro sua ajuda, então não tire de mim mais uma carta que quero joga-la para descobrir o que for preciso para encontrar nosso filho, Victoriano. Além do mais, Loreto não me pede nada em troca. Fala por ciúmes, como sempre.

Victoriano riu sem vontade, sim com ciúmes e raiva, mas tomou um pouco do uísque que havia pedido, e a respondeu.

—Victoriano: Já entendi que não posso te impedir na sua insistência de alimentar falsas ilusões, mas não me faça acreditar que Loreto não espera algo em troca Inês, por que ele já deixou muito claro que a quer!

Ela empinou o nariz. O único contato que teve com Loreto depois que deixou a fazenda, havia sido por telefone. Usou o número que ele lhe havia passado no cartão para aceitar sua ajuda oferecida, e nada mais. Não houve encontros, exceto ao que teriam aquela noite.

Ainda assim uma inquietação se pôs a tomá-la em pensar que Victoriano tinha razão. Mas não querendo transparecer, ela disse.

—Inês: Nós três fazemos parte de um passado Victoriano, Loreto só está fazendo por consideração a ele.

Victoriano riu, riu um pouco alto, o que a fez ficar mais vermelha que antes. Rápido ele chamou mais uma vez o garçom e disse a ela.

—Victoriano: Deveria se ouvir, morenita. Nem você acredita nisso que me acaba de dizer. Loreto têm fortes motivos para nos guardar rancores ao invés de consideração, principalmente de mim.

Ele pediu mais um copo de uísque quando viu o garçom já ao seu lado. Inês segurou sua resposta enquanto não se viam sozinhos. E então, disse depois com raiva na voz.

—Inês: Fomos três jovens imaturos! Ele me deixou e eu me apaixonei por você. Não cometemos um crime para que ele nos odiasse tanto. E deveria parar de beber, está dirigindo Victoriano!

Victoriano a olhou sério, depois recebeu na mão outro copo de bebida.

—Victoriano: Quando ver que tenho razão, irá me dizer ou ao menos, assim espero que o faça e que não me esconda ou pior...

Ele bebeu sem conseguir terminar sua frase. Inês por sua vez entendeu o que ele quis dizer, e rebateu.

—Inês: Eu sei me cuidar Victoriano, não se preocupe também pelo que não soube completar. Eu ainda te amo.

Victoriano deixou o copo na mesa. A olhou firme e então disse.

—Victoriano: Se ainda me ama, pare com isso, Inês. Pare com essa ideia de querer o divórcio, de forçar essa separação. Vamos voltar querida.

Ele buscou a mão dela. Agarrou ela com suas duas mãos e as beijou, deixando de lado sua raiva e ciúmes.

Inês suspirou nervosa. Sentia seu coração aos pulos e de uma maneira que deixava ela com o mesmo sentimento que sentia naquela adaptação à ausência dele, de fingir que nada passava para só voltar a tê-lo junto dela outra vez.

Mas sabendo o impossível que seria uma volta sem antes consertar o que os separavam, ela disse.

—Inês: Não posso Victoriano. Precisamos desse momento, eu preciso desse momento. Eu preciso aprender a cuidar de mim também.

Ele soltou a mão dela. E ela seguiu.

— Inês: Nos casamos quando eu fiquei totalmente sozinha, e desde então você foi meu mundo, Victoriano. Você cuidou de mim, teve minha vida e minhas vontades em suas mãos, e eu deixei que isso acontecesse.

Ela sentiu lágrimas vindo aos olhos, enquanto Victoriano entendia que ela parecia melhor sem ele.

Victoriano a deixou à frente do prédio, sentindo mais falta dela do que antes quando foi buscá-la, sentindo mais dolorido por aquela separação do que antes. Não brigaram por um triz, mas as verdades duras vindas de ambos, parecia que os distanciavam mais.

Assim então viu ela descer do carro e ele ficar ali por mais alguns minutos, se rendendo a dor que sentia escondendo de testemunhas suas lágrimas de amor.

Quando Inês chegou dentro de seu apartamento e o silêncio a recebeu, começou a chorar, levada pela angústia de sua separação e estar naquele lugar sozinha. Sem o cheiro familiar de lar, sem sua família, sem a natureza ao seu redor, sem seu amor.

Se arrastou então naquele lugar sem mais ânimo, e decidiu tomar um banho para chorar mais debaixo do chuveiro.

Quando saiu do banho, lembrou que sofrer por amor não era apenas o que consumia, seu lado mãe também lhe exigia vontade de seguir lutando para não se entregar.

Enrolada no roupão, ligou para Constância. Fez mais de uma vez e viu suas chamadas sem recusadas, escreveu mensagens mais uma vez na esperança de ser respondida, depois lembrou que Victoriano não havia deixado claro quando voltariam à delegacia para realizar o que fosse preciso para que conseguissem com êxito no que ofereciam. Mandou assim uma mensagem para ele também. Depois na sua mão, seu celular tocou assustando-a.

O número de Carlos Manuel apareceu na tela e então lembrou do que haviam combinado ainda naquela tarde.

Ela então tratou de se recuperar, e não ver Adelaide ainda na casa, se vestiu e foi à cozinha preparar algo para receber a sua visita, que pensou seriamente em lhes servir apenas chá, pois era o que pensava o que precisariam.

Carlos Manuel deixava o trabalho na clinica, e dirigia ao novo endereço de Inês. Temeroso e sentido culpado com tudo que descobriu o que tinha acontecido na vida dela, desejava apenas por um fim naquela situação.

Sabia que Constância já não queria vê-lo, e poderia jurar que o fato de Inês ter fotos dele e associa-lo ao irmão mais velho que ela tanto odiava, teria sido a gota d'água para ela dar fim às terapias. O que causava no jovem rapaz apenas o sentimento de culpa.

Sabendo também que Inês estava separando-se, além de ter Constância sofrendo e Victoriano depois de muito confronta-lo também exigindo sua distância que não tinha acatado, não tinha como não se sentir o causador dos recentes males da família Santos.

Ele dirigia como se um peso estivesse em suas costas. Como que se tivesse ele adotado uma família qual se preocupava com todos e se culpava por vê-los sofrer. Primeiro se compadeceu pela dor da senhora e seu jeito gentil de trata-lo, deixando que dentro de si viesse um sentimento cuidado com ela, depois o mesmo passara com sua filha tornando-se sua paciente, fazendo-o conhecer mais de suas dores e seus familiares, agora pensava muito no homem da família, o pai e marido. O mesmo que lhe pegou pelo colarinho ameaçando-o soca-lo.

Carlos Manuel sorriu confuso, pensando que talvez fosse a vez dele de recorrer outra vez a ajudas psicológicas, pois parecia que se via tão só ao ponto se envolver sentimentalmente com pessoas que não tinha nenhum laço. Agora, pensava que faltava apenas tomar as dores das duas que faltavam e eram membras da família que ele sentia que teria que se afastar para o bem de todos.

Colocar os pingos nos I e tentar aconselhar à senhora que deixou seu lar, seja por qual motivo fosse e que lhe temia ser o maior motivo, a lutar por sua família.

Quando o GPS mostrou que chegava ao lugar indicado. Ele parou.

Desceu do carro decidido, e não notou que outro parava atrás do dele.

Enfiou então as mãos no bolso da calça e começou a caminhar por uma calçada, quando segundos depois se viu sendo jogado no chão.

Não demorou muito para entender que estava sendo assaltado, mas não antes de perceber que seria feito de saco de boxer por três homens experientes em bater e saquear.

Inês havia deixado o prédio na agonia da espera por Carlos Manuel, quando avistou a cena dele estendido no chão e sendo chutado por dois homens, enquanto o que restava, se mantinha de olho na rua.

Ela não teve muita coerência quando se viu correndo e gritando para que parassem. Ao vê-la, os homens recuaram abandonando Carlos Manuel no chão, levando com eles a carteira e chave do carro.

Quando Inês chegou próximo a Carlos Manuel, estava ofegante e em lágrimas. Testemunhando a mãe correndo quando chegava, Diana a seguiu e pôde ver os criminosos deixando o local com dois carros. Um deles era o de Carlos Manuel, sem ela saber.

Quando nervosa chegou próximo a mãe e percebeu o que acontecia, gritou por ajuda e logo em seguida pessoas se aproximaram das suas para ajuda-las.

O dia tinha se tornado noite quando Inês se viu na espera de notícias, enquanto estava em um hospital ao lado de Diana, com Carlos Manuel sendo atendido na emergência depois do assalto que havia sofrido.

Inês se lembrava do rosto bonito de Carlos Manuel estar sagrando e ferido, e de sua blusa um lado rasgado e a cor branca ter se misturado com o vermelho do sangue dele.

Ainda que o tivesse levado consciente ao hospital, a preocupava seu quadro. Temia pela saúde do rapaz que lhe comovia a alma, a desestruturava e ainda era cercado de mistério que o ligava seu verdadeiro filho.

Ela se levanto buscando ar pela boca, e sentiu a mão de Diana em seu ombro.

Estava ali em apoio a mãe e sua consciência referente ao Carlos Manuel, e só. Se não houvesse outra razão, Diana sentia que já a tinha levado daquele hospital e deixado àquele desconhecido onde estava. Nutrindo desafeto também por Carlos Manuel, Diana passou culpa-lo pelas ilusões que sabia que sua mãe tinha o associando com seu irmão verdadeiro.

— Diana: Se acalme, mamãe. Tudo vai ficar bem. Carlos Manuel veio respirando e é isso que importa.

Inês a olhou com lágrimas nos olhos, abriu a boca para responde-la, mas não pôde quando sentiu seu celular vibrar no bolso.

Por um milagre teve a intuição de atender a ligação no primeiro toque, quando ouviu Constância lhe dizer.

— Constância: Eu te odeio! Te odeio tanto! Me trocou outra vez por Fernando! Prefere ele! Ele!

Inês sentiu seu coração errar as batidas ao ouvi-la. Constância chorava e havia falado gritando, enquanto ao mesmo tempo Inês pôde ouvir por trás da ligação um som de uma alta música.

Inês apenas lembrou do que Victoriano havia falado. Não se importou então com as declarações de desafeto, apenas passou a existir dentro de si apenas o desejo de resgata-la seja lá onde ela estivesse.

Assim então nervosa, ela perguntou.

—Inês: Constância filha, onde você está? Onde está dessa maneira?

Diana se pôs atenta quando ouviu a mãe e a viu também mudar de postura.

Inês voltou a perguntar mais aflita e mais alto, quando em troca da voz da filha, ouviu a voz de Emiliano.

—Emiliano: Madrinha. Constância está bêbada, está ameaçando fazer coisas e dizer coisas!

Emiliano gritou nervoso. Estava na companhia de Constância apenas para cuida-la àquela noite, quando a viu aceitar o convite do inconveniente de seu namorado para estar em mais uma balada, onde ele sabia que ela voltaria outra vez embriagada para casa.

Inês quando sentiu um leve alívio ao ouvir a voz de seu afilhado, disse rápido.

—Inês: me diga onde estão que irei até vocês imediatamente, Emiliano!

Diana arregalou os olhos quando ouviu Inês falar firme, e não houve muito tempo de diálogo entre elas, quando ela se viu de babá de Carlos Manuel ainda mantido no hospital e entregando as chaves de seu carro na mão de Inês.

Inês só sentiu a realidade bater que dirigiria um carro sozinha depois de tanto tempo e andaria pela cidade nele, quando colocou o cinto e rodou a chave ligando o motor suave do carro.

Se olhou no retrovisor e viu-se um pouco transtornada para quem iria pegar no volante de um carro. Também não trazia documentos consigo, nem uma habilitação, apenas um celular onde tinha o percurso que deveria seguir até Constância.

Tinha feito também uma escolha em ser ela ir atrás de Constância e não Diana, nem mesmo Cassandra quando Diana se ofereceu a ir se comunicarem com a irmã. Inês apenas escolheu a filha que mais precisava de si, escolheu desesperada de amor e medo, consciente que Constância era sua primeira escolha naquela noite.

Sua escolha era apenas uma e iria ao socorro da filha que a mais a necessitava naquele momento, ainda que deixava uma parte de seu coração com as duas pessoas que ficaram no hospital. Constância queria ela, se estava se embriagando, era seu pedido silencioso pela mãe que tanto a deixou de lado.

Convicta em socorre-la, Inês em um choro lhe deixando a garganta, saiu com o carro.

No hospital. Meia-hora depois, Diana entrou em uma sala de exames que Carlos Manuel estava pronto para deixa-la.

Sentado em uma maca ele tentava abotoar a blusa rasgada e manchada. Tinha levado uma facada de raspão na barriga, precisando apenas de um curativo, enquanto as dores pelo corpo e principalmente costelas e rosto, nos exames revelaram que não haviam fraturas, resolvendo-se assim com analgésicos e antibióticos que precisaria tomar.

Diana que estava com raiva de estar ali, desviou o olhar do pedaço que revelou da pele dele, evitando a compaixão ou coisa pior, quando disse.

— Diana: Já sei que não irá morrer.

Carlos Manuel a olhou, se levantou da cama devagar e disse, analisando a forma que ela falara.

—Carlos Manuel: Parece que isso te desagrada.

Ele botou a mão em um lado da barriga notando-se todo dolorido.

Diana tinha cruzado os braços, entrou mais no quarto, e ignorando o que ele disse, falou.

—Diana: Estou sem carro, sem dinheiro também porque deixei minha bolsa ser levada com minha mãe, que pegou meu carro, você não tem nada aqui que sei, então ficaremos no hospital até vermos uma maneira que me faça me livrar de você, e, antes que eu me esqueça, tem um policial lá fora querendo vê-lo.

Não houve tempo de contestar nada, Carlos Manuel viu Diana deixa-lo sem mais nem menos.

Ele então se sentiu um tolo. Se via pela segunda vez em um hospital e que os motivos que o trazia ali sempre estava ligado àquela família. Primeiro havia levado um tiro de raspão, agora era uma facada de raspão depois de um assalto, que olhe só, havia sido assaltado quando visitaria a mãe de sua simpática e empática socorrista.

Com raiva da situação que se encontrava, e mais ainda de Diana, ele saiu do quarto que estava. Saiu mancando, com esparadrapos na testa e barriga machucada. Se apressou sem se importar como estava, quando se viu já de mãos em cima de Diana.

Puxou ela pelo braço fazendo-a parar no corredor do hospital, e disse vermelho de raiva e dores.

—Carlos Manuel: Olha aqui Diana, não vou tolerar que volte me tratar como fez. Cadê sua educação? Eu nunca te fiz nada!

Diana o olhou com raiva, puxou o braço e disse.

—Diana: Não me toque! Você me fez sim, e segue fazendo! Você chegou do nad e desestrutura minha mãe assim! Saia da vida dela agora!

Ela tocou com o indicador o peito dele dando a ordem.

Carlos Manuel olhou aquele desaforo incrédulo. Pegou então na mão dela, segurando-a e disse firme e de olhos brilhando.

— Carlos Manuel: Saiam vocês da minha vida! Isso está ficando estranho!

Ele soltou a mão dela. Diana riu nervosa e disse.

— Diana: Isso eu concordo! Está estranho! E você ainda iria na casa da minha mãe que sei! Por que, hein? Qual é seu interesse?

Ela se aproximou dele. Quase colaram os peitos. Diana então olhou ao redor, Carlos Manuel também. Estavam sendo assistidos. Então Carlos Manuel resolveu se controlar, e dá-la uma resposta firme e decisiva.

— Carlos Manuel: Vou embora daqui e me afastar de vocês antes que da próxima vez, eu chegue aqui sem vida!

Ele saiu vermelho, decidido e mesmo que mancasse pisava duro no chão.

Diana então o olhou incrédula, mas logo depois o viu sendo parado pelo policial que antes o avisou que estava à espera dele, para esclarecimentos de seu assalto.

Inês tinha encontrado Constância não muito longe do hospital. A boate qual estava era conhecida e sua placa visível por toda a rua, quando era toda azul e ainda com luzes que piscavam.

Inês avistou Emiliano a espera dela, enquanto apoiava Constância em um dos seus braços.

Aflita, Inês desceu do carro com pressa, trocou duas palavras com Emiliano e tirou Constância dos braços dele levando-a para os seus.

Constância mal podia formar uma frase quando a viu, e Inês nem esperou que ela despejasse suas mágoas para conferir quão embriagada estava, apenas a carregou com a ajuda de Emiliano.

No carro, ela escolheu ficar atrás com Constância exigindo que Emiliano dirigisse, depois de o ter notado sóbrio.

Deixou então Constância deitada de um modo que a cabeça dela ficou em seu colo, e ela pôde lhe acariciar os cabelos enquanto chorava silenciosamente o caminho todo.

Quando chegou à fazenda, já tarde da noite, Emiliano foi obrigado a passar a noite na casa. Aos berros Inês decidiu que ele era tão inconsequente quanto Constância, por em seu ver, ambos não serem criados para levar à noite em boates e começar a fazer aquilo ao atingir a maioridade.

Victoriano quando ouviu alguém passar pela porta, saiu de copo na mão de seu escritório.

Poderia ter sido capaz de deixa-lo cair no chão quando viu Inês passar pela porta na companhia da filha e afilhado deles, só não deixou sua bebida cair, quando a segurou firme ao notar que a gravidade da situação lhe exigiria a frieza que pensava que o álcool lhe trairia.

Inês subiu ao quarto de Constância na ajuda de Emiliano, enquanto pedia para ele que em seguida procurasse por Cassandra na casa. Enquanto Victoriano para ela não era uma opção quando o viu ficar petrificado ao ver eles chegarem.

Quando cruzou a porta do quarto de Constância, quis ficar só com ela. Era o momento de ser a que obtinha sua racionalidade intacta ali, e aparentemente, a sobriedade também. Assim deixou Constância por um momento na cama, não deixando de se culpar e chorar e foi até o banheiro, ligar o chuveiro para lhe preparar um banho.

Depois voltou até Constância que pareceu que tinha adormecido. Inês a olhou. Lhe tocou no rosto, e ela abriu os olhos vermelhos.

—Inês: Você não vai se destruir assim, filha. Eu não vou permitir.

Inês percebeu sua voz chorosa e engoliu o choro, quando começou a despir Constância para o banho.

Depois de um trabalho cansativo, ela conseguiu colocar Constância debaixo do chuveiro, e não demorou muito para se ver tomando banho com ela.

Inês afagava os cabelos molhados da filha, sustentava de frente o peso dela enquanto água em abundância caía sob elas.

Não sabia mais quanto tempo havia ficado agarrada em Constância, mas começou a notar que o banho estava fazendo efeito, quando começou sentir que ela já se sustentava de pé sozinha.

Inês lhe arrumou os cabelos caindo em seu rosto e encharcados de água, mirou-a com amor, e disse.

—Inês: Não beba mais assim, meu amor. Por favor, não faça mais isso.

Constância mirou a mãe, e então a abraçou firme enquanto chorava. Encostou a cabeça em seu peito quase nu, por apenas ter um sutiã lhe cobrindo os seios, e ficou ali mais um tempo, chorando agarrada a ela como uma menina que teve febre no meio da noite e a mãe a levou ao banho.

Cassandra esperou a saída das duas do banheiro com toalhas limpas. E junto de Inês colocou Constância na cama.

Inês já tinha uma toalha enrolada no corpo e outra na cabeça, olhava ao lado de Cassandra, Constância dormir, vestida em um pijama leve que as duas a vestiram e coberta bem aconchegada ao meio da cama.

Inês se ouviu suspirar, Cassandra a puxou pelos ombros, afagando-a e ela se ouviu dizer.

—Inês: Desde quando ela está chegando assim em casa, filha?

Ela quis saber, Cassandra então a respondeu.

—Cassandra: Têm três noites mamãe. Constância nunca foi de beber assim. Tudo que está acontecendo, está mexendo muito com ela.

Inês se separou da filha, sentou na beira da cama, tocando em Constância e disse.

—Inês: Eu tenho muita culpa disso. Tenho medo que essas três noites se tornem rotina.

Ela se ouviu dizer, cheia de culpa e dor. Cassandra se aproximou e disse.

—Cassandra: Não fale assim, mamãe. Ainda podemos intervir, há tempo.

Inês acariciou os cabelos, de Constância, se levantou depois, e disse.

—Inês: Eu quero passar a noite com ela, mas preciso de roupas. Talvez também um chá, e analgésico para Constância quando acordar. Sei que acordará mal.

Ela cruzou os braços olhando-a. Cassandra se prontificou em ir fazer o chá e buscar remédios, e Inês ficou um tempo no quarto apenas para garantir que de fato Constância dormia tranquila. Sentou um pouco ainda como estava na poltrona que havia no quarto, e pegou o celular. Tinha mensagens de Diana que pedia o carro e atualizava sobre o estado de Carlos Manuel.

Inês então sabia que não poderia mais se manter no quarto ainda que estava decidida dormir ao lado de Constância, tinha que fazer com que Diana deixasse o hospital.

Saiu então do quarto dela, devagar. Precisava pegar roupas no único lugar que saberia que teria, antes de pedir que levassem o carro de sua filha. Assim então caminhou no corredor iluminado, não vendo ninguém, muito menos Bernarda. Parou em frente ao quarto que dividiu com Victoriano e girou o trinco da porta.

Estava tudo escuro, breu. Entrou na primeira parte do quarto, andou mais ainda no escuro e só quando chegou onde ficava a cama, que a varanda aberta iluminou o quarto e ela pôde ver melhor.

Ao pé da cama, sentado no chão estava Victoriano. Ele tinha a cabeça encostada no colchão, apoiada ali, enquanto tinha as pernas estiradas, apreciando a noite e levando a brisa dela. Inês andou mais querendo ter certeza do que via. Victoriano tinha um copo grosso de bebida na mão direita. Ele levou aos lábios, e depois disse surpreendendo.

—Victoriano: Cassandra disse que passaria por aqui, disse também que Constância já está bem e dorme.

Inês suspirou, andou e parou de frente para ele. Victoriano olhou para ela ali, lhe tapando a visão da noite, mas no momento não tendo outra imagem melhor que ele quisesse contemplar, a não ser ela ali.

Ela assim então disse.

—Inês: Vou passar a noite com ela.

Ela cruzou os braços frente ao peito. Victoriano bebeu, dando um sorrisinho de lado, e disse.

—Victoriano: Passe quantas noites quiser com ela.

Ele passeou o olhar no corpo dela. E depois jogou mais a cabeça para trás e fechou os olhos. Fechou os olhos como que se com aquele feito a fizesse desaparecer dali.

Inês percebeu então que ele também estava bêbado. Seu corpo ficou tenso, por vê-lo se entregar a bebida ao invés de naquele momento ter podido estar ao lado dela, conversar e cuidar da filha deles juntos. Mas não. Ele esteve bebendo também. Assim então ela disse.

—Inês: Tem que parar de beber também, Victoriano. Constância ainda é tempo de intervimos. Com você não, já bebia antes e me parece que está pior agora.

Ele a o ouviu, de propósito abriu os olhos e buscou seu copo, deu um sorrisinho e disse.

—Victoriano: Vamos cuidar de Constância, enquanto a mim, não finja se importar, Inês.

Ele bebeu e ela bufou indo mais próximo dele. Ficou em pé no meio das pernas dele, baixou o corpo apenas para lhe puxar o copo da mão, e disse brava.

—Inês: Não seja tolo, Victoriano! Isso aqui não é a solução para nossos problemas!

Ela lançou o copo longe, Victoriano a olhou com raiva e a respondeu.

—Victoriano: Por que fez isso, Inês?

Ela cruzou os braços estufando o peito sem sair de sua posição, e disse.

—Inês: Se quer que Constância pare de beber, terá que fazer o mesmo!

A ponta da toalha roçou o rosto de Victoriano, sem ela notar, ele então baixou o olhar para o pano branco e pernas lisas abaixo dela.

Ele então respirou pesadamente, e sua resposta foi imediata quando ele a puxou para ele pela cintura. Suas mãos, lhe tocaram no bumbum e coxas, e depois subiu lhe subindo a toalha.

Inês se viu caindo, sobre ele. Assustada pelo ato, não se equilibrou, não teve ação, quando a tolha-la foi tirada e seu sexo foi em direção do rosto de Victoriano.

Ele foi rápido, sabendo o que queria e o que devia fazer. Inês sentiu que era seu alimento quando sua boca a beijou entre as pernas. Ela fechou os olhos, apoiando-se com os cotovelos na cama atrás dele, e se viu em uma batalha entre o sim e o não. O sim de se render, o não de sair correndo dali e fugir de sua boca e mãos famintas.

Victoriano se levantou com ela. Estava ofegante, sentiu o cheiro dela e seu gosto, em um momento de abstinência e sofrimento, melhor do que o álcool que tinha em mãos, era tê-la ali.

Inês se viu na cama, na cama grande, nua, com a toalha de seus cabelos lhe deixando também. Estava a mercê, refém do seu desejo e amor.

Viu Victoriano se debruçar em cima de si, sua cabeça com cabelos grisalhos descer, e voltar a estar entre suas pernas. Não esperava terminar aquela noite assim, não esperava aquele ataque à sua sanidade, e precisava lutar. Lutar pelo não imediato antes que fosse tarde.

—Inês: Victoriano!

Ela o gritou, levando a mão nos cabelos dele. Segurou-o e se moveu para deixa-lo, mas então Victoriano a sugou bem no seu ponto fraco. Ele gemeu degustando-a, e ela amoleceu as pernas, o corpo, virou o rosto dela, jogou a perna em um de seus ombros e se entregou.

Não demorou muito para que gozasse. E ela fez aos berros e se esperneando na cama. Victoriano frouxou as mãos dela, subiu os beijos e lhe atacou os lábios, pondo-se em cima dela. Sua mão lhe cobriu o sexo, penetrando-a com um dedo, e ouviu ela gemer no beijo.

Seguiram se beijando, ele duro de desejo, ela explodindo de tesão, até que a voz de Cassandra vindo do outro lado do quarto, trouxe a razão a um deles.

Inês empurrou com pressa Victoriano. Desnorteada ela escorregou da cama, até cair do outro lado. Com cabelos revoltos, quase sem ar ela ficou de pé ignorando a queda.

—Inês: Filha, eu, eu já vou!

A voz saiu nervosa, apressada.

Victoriano já estava de pé, também desnorteado, com o equilíbrio duvidoso e visão turva pelo desejo.

Inês puxou rápido a toalha que ficou ao meio da cama, e saiu com ela correndo dali. Victoriano foi atrás dela cambaleante, em desvantagem deixando-a rápido passar pela porta.

Cassandra que tinha duas canecas de chá nas mãos andava para ir ao quarto de Constância, já sabendo o que tinha feito. Constrangida e querendo sumir, ela ouviu Inês chamá-la. Ela parou um pouco relutante, quando girou o corpo, viu Inês novamente de toalha, mas os cabelos revoltos, olhos vivos demais e ofegante. Não houve palavras entre elas, Cassandra entregou a caneca, ao mesmo tempo que via logo atrás o pai parado na porta do quarto. Ele tinha a expressão séria, e parecia respirar agitadamente e sabia que se não deixava o posto que estava, era por ela ali.

—Cassandra: Eu nunca na vida quero falar sobre isso.

Cassandra falou rápido e se virou, andou um pouco e abriu a porta do quarto de Constância, Inês passou não querendo conversar também, apenas se viu dizer baixo, tomando a total consciência como tinha sido tola ao ter ido brincar com o perigo sem precisar fazê-lo.

—Inês: Preciso que me empreste roupas para dormir, querida. 

 


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