Amor Sem Medidas escrita por EllaRuffo


Capítulo 70
Capítulo 70




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O trânsito favoreceu a chegada de Victoriano e Inês. Assim que a caminhonete cruzou o portão, Inês suspirou inquieta no seu lugar. Victoriano pôde ouvir seu suspiro, não deixando passar despercebido. Assim tocando-a no joelho, ele disse.

—Victoriano: Aqui é o nosso lar, é o seu lugar Morenita.

Inês ficou calada. O que a afetava era saber que a separação que forçava acontecer entres eles, tampouco era de seu agrado. Doía pensar nos motivos que se viu exigindo um divórcio e ao mesmo tempo a revoltava.

Com ela puxando o joelho, foi o momento de Victoriano suspirar em forma de um bufo. De repente ela dava novamente os mesmos sinais que deu, quando estiveram pela manhã na casa de seus compadres. Victoriano sabia que teria que reconquistá-la, amansá-la, e finalmente trazer clarezas aos seus pensamentos perante aquele absurdo pedido de divórcio.

Desceram juntos do carro. As meninas que estavam presentes para o almoço, se surpreenderam quando viram os pais juntos.

Constância que os viu primeiro, na companhia de Bernarda, do terraço saiu gritando suas irmãs. Bernarda ficou imóvel enquanto observava a cena.

Inês parou quando sentiu que era observada. Olhou para cima, e descobriu de onde vinha os olhos que lhe causavam desconforto.

Bernarda a mirava da varanda. Tinha as mãos sobre às grades, e apertou as mãos nela. As duas se encararam. Victoriano tocou nas costas de Inês e buscou olhar onde ela olhava, e então disse.

—Victoriano: Eu não posso sozinho Inês. Sem você aqui, Bernarda é o que me resta como apoio para nossas filhas.

Ele tentou justificar o fato constatado que Bernarda seguia na fazenda. Sempre houve aquela comodidade entre ele e a viúva de seu pai. Bernarda sempre esteve presente quando Inês não esteve e nas horas ruins, sempre estava ali para ele. Victoriano apreciava sua presença de um jeito cômodo, apesar das contendas que prevaleciam mais fortes entre Inês e ela.

Inês apenas se afastou do toque dele. Aborrecida desviou também do olhar de Bernarda. Abriu a boca para rebater aquela questão, mas se calou quando viu suas três filhas indo de encontro deles. Elas sorriam, até Constância.

Diana chegou primeiro, dizendo.

—Diana: Eu sabia que logo estaria de volta, mamãe.

A mais velha abraçou Inês, deu depois espaço para Cassandra, e ainda no abraço com sua filha do meio, Inês respondeu Diana.

—Inês: Não é o que está pensando, filha. Eu não vim pra ficar, eu só...

Ela sentiu Victoriano abraçá-la pela cintura, e dizer interrompendo-a.

—Victoriano: Não vamos nos precipitar. A mãe de vocês está aqui para termos um almoço em família, hum.

Inês assentiu, aliviada com a forma que Victoriano havia falado. Constância que ficou quieta de um lado, murchando como uma bexiga depois da fala do pai, viu Inês chama-la com a mão e dizer.

—Inês: Não vai me dar um abraço, filha? Desejei falar a manhã toda com você, meu amor.

A mão de Inês ficou aberta, Constância olhou e depois se viu pegando a mão da mãe.

Segundos depois Victoriano se adiantou entrando na casa com duas de suas meninas para deixar Inês e Constância sozinhas.

Inês então guiou Constância até o pátio da fazenda. As duas sentaram em um banco. Uma do lado da outra e só assim as mãos se desgrudaram.

Inês suspirou, decidida a lutar para que não voltassem a o que eram. Por isso começou falando.

—Inês: Quando deixei a casa ontem, você foi a única que não se despediu, filha. Estou aflita desde então, temo que voltemos ao que fomos e não desejo isso.

Ela ficou de lado, tomou novamente a mão de sua menina, e reparou então que ela usava o anel que ela lhe havia presenteado.

Constância sentiu Inês tocar no anel e a viu sorrir. E então pediu.

—Constância: Volte para casa, mamãe. Se não quer que nada volte a estar como antes entre nós, volte. Não é justo que agora que começamos a estar mais juntas, deixe essa casa e que decida se separar do papai. Eu sei que Cassandra e Diana também não estão felizes com isso.

Inês suspirou depois de ter escutado tudo com atenção. Deixou de tocar na mão dela, para lhe mirar com mais seriedade. Acreditava que nenhuma de suas filhas de fato estivessem felizes com tal notícia, mas não faria o que Constância desejava e consequentemente suas duas outras filhas. O que passava entre ela e Victoriano, não tinha nada a ver com as filhas.

—Inês: Não posso fazer o que pede Constância, filha. Sei que é esse o maior desejo seu e de suas irmãs, mas não posso.

Ela falou sincera, e viu Constância se levantar de repente e perguntar.

—Constância: Por que não? Por que simplesmente não pode resolver as coisas com o papai, mas aqui? Não vê que sua decisão desestrutura toda nossa família, mamãe?

Inês se levantou também já aflita, e tentou se defender.

—Inês: Eu sei que isso não é fácil para vocês, principalmente para você filha. Mas não posso fazer da forma que pede, já disse. Seu pai e eu temos conflitos que só cabem a nós dois resolver.

Constância suspirou inconformada. Seu rosto ficou rosado ao mesmo tempo que seus olhos brilhavam em lágrimas, querendo deixá-los.

—Constância: Isso não é justo mamãe! O que vai fazer longe daqui? Irá viver eternamente com os pais de Emi? Ele também não aprova que seus padrinhos estejam se separando! Falei com ele!

Inês suspirou se aborrecendo. Não estava pedindo a aprovação de ninguém, e também não era uma inconsequente que viveria como um estorvo no meio da vida e casamento de seus compadres. Estava amparada financeiramente, não dependeria de ninguém se não quisesse, nem mesmo de Victoriano por ter frutos suficientes em seu nome, como ações na empresa que ela havia ganhado de presente dele mesmo. Eram frutos de seu direito e que nunca havia usufruído como deveria.

Assim então ela disse, não muito paciente como antes.

—Inês: Eu sei o que estou fazendo Constância! Lembre-se que eu sou a mãe aqui, não tomei uma decisão inconsequente e nem estou pedindo a aprovação de vocês. Foi necessário que isso acontecesse!

Constância virou o rosto, cruzando os braços. Não quis mais falar. Inês então se aproximou mais dela, ponderando agora na sua voz e voltou a dizer.

—Inês: Tenho planos de procurar um lugar para ficar só meu. Um apartamento ou uma casa, não sei. Você poderia ficar comigo quando quisesse, minha filha.

Constância sentiu seu coração acelerar. A ideia de ficar em um lugar que teria a mãe só para ela, apenas as duas, era tudo o que ela desejou nos dias que mais sentiu a indiferença dela. O que queria de Inês sempre fora mais atenção que sentiu que não teve igualmente suas irmãs. Sempre havia desejado que o buraco que via entre elas fosse preenchido, assim a oferta que Inês oferecia parecia tentadoramente conveniente.

Ainda assim revendo a situação que se encontravam, imaginava que a aproximação que seguiam tendo fosse ali, entre sua família unida. Por isso aceitar um divórcio entre os pais, estava fora de questão para Constância, além de parecer insano naquela altura do campeonato que se viam casados.

Constância então olhou Inês com um olhar de desconfiança. Se perguntou o quanto sua decisão era fruto de sua sanidade. Pois parecia apenas o contrário, era insano àquilo de divórcio.

Inês sentiu que era analisada. E sabia também que não escondia apenas a intimidade dela com Victoriano da filha deles, mas também a outra verdade que a influenciou em sua decisão. Fernando o irmão perdido que Constância tanto despreza sua existência, estava presente na família que antes havia sido. Inês como mãe queria voltar a busca-lo e desvendar o mistério que envolvia também Carlos Manuel. Com isso, era ciente que se revelasse essa verdade podia colocar tudo que vinha construindo até ali com Constância. De novo, temia que voltassem à estaca zero.

Então logo falou.

—Inês: Não precisa responder agora, filha. Só quero que saiba que será bem-vinda seja onde eu estiver, meu amor.

Ela tocou no rosto de Constância. Ficaram em silêncio apenas se olhando. Da porta, pronto para chama-las, Victoriano apareceu. Ficou imóvel olhando-as e suspirou.

Sabia que a repentina saída da casa, de Inês poderia tirar todo o progresso que vira naqueles meses passado entre as duas, e isso o aborrecia, o aborrecia pensar que Inês não sacrificaria apenas o casamento deles quando lhe pedia o divórcio, mas também sua relação com a mais nova das filhas deles. E tudo por quê? Ou melhor, por quem?

Estava seguro que sua falha como marido ao esconder dela algo que a feriu, poderia ser consertada, mas jamais conseguiria consertar uma obsessão a mais que Inês passou a nutrir por um rapaz qualquer. Carlos Manuel não era ninguém, não era Fernando, mas estava ali ameaçando sua família e a sanidade de sua amada esposa.

Bufando com raiva enquanto visualizava o rosto do rapaz, caminhou até elas.

—Victoriano: A mesa será posta. Vamos?

Ele disse em tom baixo, mas de olhos bem vidrados nas duas.

Elas assentiram se desfazendo daquele momento, e quando iam seguir, apenas Inês sentiu o toque de Victoriano no braço parando-a.

—Victoriano: Preciso falar contigo antes que entre Inês.

Ela olhou para mão dele e seu olhar. Tinha seriedade na fala e seus olhos a olhavam com intensidade. Ela então ficou enquanto a filha deles caminhava até a casa, deixando passar despercebido o momento.

Victoriano quando viu Constância entrar, suspirou e falou o que sentia.

— Victoriano: Tem que mudar de ideia essa tarde mesmo sobre sua saída de casa e seu absurdo pedido de divórcio, Inês. Olhe nossa filha, olhe como estavam nesse momento. É isso que abrirá mão Inês. Abrirá mão do que começaram a reconstruir, e por quê? Para quê? Ou melhor, por quem?

Inês virou o rosto ao mesmo tempo que cruzou os braços e torceu os lábios. Entendeu as indagações de Victoriano e no que ele queria chegar, na verdade, em quem.

Então, suspirou antes de responde-lo, o olhou e disse.

— Inês: Minha relação com Constância sempre estará nessa corda bamba, comigo vivendo aqui ou não, foram consequências de minhas próprias falhas, eu as reconheço Victoriano, por isso não pretendo mudar de ideia ainda que eu entenda onde queira chegar com suas insinuações.

Ele passou a mão na cabeça, depois levou ao rosto, alisando em agonia e a respondeu, aborrecido.

— Victoriano: Eu vou lutar para que mude de ideia e farei esse rapaz que está te tirando da gente, meu maior inimigo Inês!

Quando o ouviu, seus instintos a alertaram fazendo-a responde-lo rápido quando disse.

— Inês: Não se atreva a culpar Carlos Manuel por algo que tem a maior culpa aqui Victoriano! Foi você que me mentiu, feriu meus sentimentos e ainda não confia em mim, nem me estende a mão quando mais preciso!

Ele riu de lado se indignando com o que ouvira, e então a respondeu.

— Victoriano: Sempre estive aqui para você Inês, e sempre estarei, mas para esse absurdo não! Não conte comigo, não vou alimentar suas insanidades!

Inês tremeu. Sentiu seus olhos molharem em lágrimas e seu rosto se avermelhar, pois, sabia que segurava ali suas emoções mais intensas quando se viu mais uma vez sem o apoio de Victoriano e mais que isso, ele demonstrar o que pensava de sua capacidade mental. Algo que não deveria lhe doer mais por não parecer nada novo, mas doía.

Assim então abalada, ela o respondeu.

—Inês: Então é isso que segue pensando de mim, quando te peço ajuda, quando abro meu coração e revelo o que preciso. Me vê fora de mim, me vê como uma louca.

Victoriano se arrependeu segundos depois do que tinha verbalizado. Então rápido disse ao vê-la abalando-se.

— Victoriano: Me expressei mal morenita. Por Deus tenho as emoções à flor da pele, me deixou, nos deixou por algo que pode ser apenas fruto da sua dor, eu não consigo lidar bem com essa decisão. Eu não vou aceitar nunca.

Ele tentou tocá-la, mas sem sucesso por ela recuar-se dele, dizendo.

— Inês: Falou o que pensa e o que sente, mas não estou aqui para lhe implorar ajuda mais Victoriano. Fui persuadida pensei em nossas filhas e por isso estou aqui. Não se engane por que cada segundo que passa, vejo que nosso divórcio é mais um fato do que uma hipótese!

Ela foi andar decidida, ele a segurou rápido novamente e disse, quase que desesperado.

—Victoriano: Pare. Pare de dizer essas coisas e insinuar nosso fim. Eu te amo, você também me ama, Inês. Ainda me deseja também, senti isso quando nos beijamos no carro. Isso que faz com nós dois é um castigo desnecessário, é isso que penso!

Aflito, ele a beijou nos cabelos, segurando-a de costa para ele. Ele respirou ali nos cabelos dela e ela suspirou. Depois, Inês tomou fôlego, virou rápido para ele, levantou a cabeça para poder lhe mirar os olhos e disse.

—Inês: Um dia esse amor todo e esse desejo, podem simplesmente acabar Victoriano. Eu preciso mais do que isso. Apenas saiba que o que não pode me dar, está sendo oferecido por outro. Pense nisso.

Victoriano sentiu suas forças irem embora quando entendeu o que ela insinuou, quando lembranças de momentos antes de estarem ali lhe vieram à mente: Ela e Loreto abraçados.

Inês caminhou para dentro da casa. Fechou a porta atrás de si como se pudesse deixar Victoriano longe dela. Pensamento tolo quando ela se encontrava novamente na casa dele em menos de 24h.

Se sentiu tola, fraca e nas mãos dele e de todos. Era como se tivesse todo àquele tempo, dando volta e mais volta em um ciclo vicioso desde que sofrera seu grande trauma, o de ter um filho lhe tirado dos braços, lutando assim depois por uma melhora que nunca vinha, por mudança que nunca chegava. Saiu dali então abalada, sufocada e em crise.

Caminhou familiarizada com cada canto, subiu as escadas até onde queria e encontrou o quarto que deixara, em lágrimas na noite passada.

Abriu então desesperada e de mãos trêmulas, a gaveta que tinha seus remédios. Pegou algumas cartelas e saiu destacando comprimidos na palma da mão. Depois olhou ao redor. Não tinha mais uma jarra ali de água. Não tinha nem 24h que não estava na casa, e não tinha água fresca mais ali! Ela gemeu de raiva.

Raiva começou a tomar suas emoções, então fechou as mãos com os comprimidos e saiu do quarto.

Na sala de jantar esperavam por Inês.

Todos à mesa, até Victoriano já em seu lugar.

— Diana: Onde está a mamãe?

Diana foi a primeira perguntar por ela, enquanto ajeitava o guardanapo no colo.

Bernarda balançou o vinho branco que tomava numa taça, e disse.

— Bernarda: Deveriam ir atrás dela. Inês me preocupa tanto.

Inês chegou à sala no momento que Bernarda terminava de falar. Tinha em mãos um copo grosso com um líquido no copo na cor alaranjado. Victoriano reconheceu ser de uma de suas bebidas, assim que olhou.

Inês tinha os olhos bem vivos, um lado de seus cabelos estavam como se ela tivesse passado os dedos e jogados apenas para um lado. Tinha assim um jeito selvagem e ao mesmo amargo quando se via sem nenhum sorriso no rosto e acompanhada de álcool.

Assim então ela procurou seu lugar na mesa, o de sempre, se sentou e disse enquanto se acomodava.

— Inês: Guarde suas preocupações para você Bernarda, já estou aqui e surpreendida que não esteja no meu lugar à mesa. Está claro que está aqui apenas para tomar o lugar que me pertence.

— Constância: Mamãe.

Inês olhou para Constância, que parecia ter se incomodado com o que havia falado. Ela nada disse, apenas tomou mais um gole de sua bebida. Victoriano a olhou de lado, enquanto Bernarda a respondeu.

—Bernarda: Não sei de onde imagina tantas ideias equivocadas de mim, querida.

Inês riu ironicamente, e viu Adelaide aparecer entre eles acompanhada de duas moças.

Enquanto Cassandra temendo uma discussão, disse.

— Cassandra: Por favor, vamos ter um almoço em família em paz. Depois de ontem à noite parecia que esse momento não iria se repetir mais.

Concordando com ela, Diana disse.

— Diana: Cas, tem razão.

Adelaide que visualizou sua preferida entre a mesa, sorriu, foi até Inês, e cochichou enquanto deixava uma jarra de suco próximo a ela.

— Adelaide: Espero que tenha vindo para ficar menina.

Victoriano pegou a garrafa de vinho branco que tinha na mesa, começou a encher sua taça, enquanto dizia.

—Victoriano: Voltaremos a ter paz nessa casa quando o orgulho deixar de existir junto à teimosia.

Ele olhou para Inês direcionando sua indireta a ela. Inês passou o dedo indicador na borda de seu copo meio vazio, dizendo.

—Inês: O que o pai de vocês quer dizer, é que existe coisas que devem ser mudadas nesta casa, como em nosso casamento e até que não sejam, cenas como essas serão constantes.

Ela bebeu, e ouviu Victoriano respirar fundo. Passou apenas alguns minutos para que começassem a comer e apenas o som dos talheres se ouvirem entre eles.

Um tempo depois, Victoriano limpou a boca com o guardanapo, observando de lado Inês ser servida de vinho em uma taça. Ela bebeu dele. Depois encarou a filha do meio deles, limpou a boca também antes de falar.

— Inês: Cassandra, minha querida, também estou aqui porque estou precisando de sua ajuda. Contava então com um momento com você antes de ir.

Victoriano um deu bufo. A palavra ir o incomodou e não fez questão de não demonstrar. Cassandra se manifestou rápido quando disse.

— Cassandra: Como quiser mamãe, mas como Diana, eu pensei que sua presença aqui, era...

Ela não continuou quando Constância interrompeu dizendo.

— Constância: Não seja boba, Cas. Ela quer sua ajuda porque pensa em se mudar para um lugar só dela. Ela não pensa em voltar a viver com a gente.

Lembrando da conversa que tiveram, Constância revelou com certo despontamento. Tal revelação, fez o coração de Victoriano acelerar, e pegar as duas meninas mais velhas que acreditavam na volta de decisão da mãe, de surpresa.

Assim então Diana disse, enquanto Bernarda comia em silêncio.

—Diana: O que Constância diz é verdade, mamãe?

Inês assentiu, antes de responde-la.

— Inês: Sim, é. Não pretendo passar mais do que dias com Vicente e Diana Maria, quero um lugar só para mim.

Victoriano riu. Agora não aguentando guardar silêncio, vermelho a respondeu.

— Victoriano: Já tem um lugar seu Inês! Aqui é seu lugar, aqui é sua casa!

Ele se levantou aborrecido, ela também. As meninas fizeram o mesmo, e Diana disse quando viu os pais se olharem com raiva um do outro.

— Diana: Sente-se os dois! Não vamos brigar justo agora!

Os dois olharam a filha mais velha. Enquanto Inês pensou em se render por mira-la e de reflexo ver suas duas outras filhas aflitas. Mas Victoriano tendo outros objetivos, estufou o peito e disse.

— Victoriano: Diga a nossas filhas o real motivo que está nos deixando Inês! Diga a elas o que quer que eu faça e eu me nego e por isso quer viver longe para que tenha a liberdade de fazer o que quer!

Inês ficou vermelha de raiva, temeu, mas não se rendeu quando disse.

— Inês: Você está fora de si, Victoriano, irá se arrepender depois do que está fazendo!

Ele respirou fundo sabendo que eram vistos por suas filhas que esperavam respostas. Por isso seguiu cego, quando disse.

— Victoriano: Está claro que não poderei fazer com que volte atrás, então nossas filhas merecem transparência do maior motivo que te faz nos deixar!

— Constância: Mamãe, que motivo é esse?

Constância falou temendo a resposta como se algo avisasse que sairia mais abalada dela do que suas irmãs.

Inês baixou os olhos temendo feri-la.

— Inês: Filha, não queria contar assim o que também me afeta e me afasta do pai de vocês.

Diana que só sabia da vasectomia, questionou, mirando o pai.

— Diana: Papai, só me contou sobre sua viagem. O que tem mais nessa história?

Ele a olhou, Inês também, o que fez ela dizer.

— Inês: Então ele contou como me vê, e por isso fez uma maldita vasectomia pelas minhas costas!

Constância franziu a testa sem saber do que falavam.

— Constância: O que é vasectomia? Meu Deus, isso está tão confuso!

Victoriano a olhou sério e agora temoroso, e disse.

— Victoriano: Esse motivo irá incomoda-la filha. É melhor que se retire!

Constância ficou mais branca que o normal, Bernarda então entendendo o que se passava e por fim ligando os fatos da noite passada e a chegada de Inês com as malditas fotos, achou interessante dar a todos a resposta que Inês não dava.

— Bernarda: Está claro que isso tem a ver com nosso querido Fernando e o passado que aterroriza essa família...

Inês sentiu seu sangue correr mais intenso enquanto sua carne tremia. Sentia novamente o incômodo que sempre tinha quando Bernarda falava de Fernando. Era como que se ela não fosse digna de cita-lo ou simplesmente soava como que se ela apreciava o fato dele não estar todos àqueles anos entre eles.

Assim então ela esbravejou fora de si.

— Inês: Cala-se! Cala-se agora Bernarda!

Constância gritou mais alto que a mãe ali e disse.

— Constância: Não grite ela! Eu já sei o que está passando! Já entendi! Esse irmão que nunca vimos conseguiu enfim acabar com nossa família!

Inês a olhou de nervos à flor da pele, e a respondeu.

— Inês: Não sabe o que está falando, filha!

Victoriano passou entre elas quando viu as duas se achegarem mais perto uma da outra, passando entre as cadeiras da mesa.

Assim então ele disse firme.

— Victoriano: Fernando seu irmão verdadeiro não tem nada a ver com isso, digo isso para as três presentes!

Ele mirou as filhas ali, e depois seguiu.

— Victoriano: A mãe de vocês quer que eu reconheça um rapaz como filho, como nosso Fernando quando sei que ele não é! É por essa razão que ela quer deixar a casa e nosso casamento!

Agora ele olhou apenas Inês e ela o olhou de volta, com ódio no olhar.

— Inês: Não é isso que pedi! Eu não pedi isso, Victoriano!

Victoriano rápido na mesma intensidade de raiva que ela, contestou.

— Victoriano: Ficou obcecada por um desconhecido desde que o viu Inês! É isso o que quer sim!

Confusa e tão nervosa como os pais, Diana gritou querendo atenção para obter respostas.

— Diana: Por Deus, de quem estão falando?

Victoriano então a respondeu de uma vez.

—Victoriano: De Carlos Manuel! Àquele mesmo rapaz que esteve na festa de Constância!

Constância piscou mais de uma vez lidando com tantas informações, e disse.

— Constância: Meu médico?

Ela se sentou devagar, sentindo uma mão em seu ombro e que vinha de Bernarda.

Inês então disse mais branda que antes.

—Inês: Eu ia contar a vocês, mas não assim.

Ela olhou feio para Victoriano e voltou a falar firme.

—Inês: Acabou de assinar nosso divórcio, Victoriano!

Ela deixou a sala de jantar. Victoriano foi atrás. Correu atrás dela até que se viram ao meio da sala. A segurou nos braços, enquanto ela gritou e se sacudiu querendo ser solta.

— Inês: Me solte! Me solte Victoriano! Acabou de me colocar em uma situação difícil com Constância porque está de ego ferido! Eu estou te odiando tanto!

Ele a apegou mais firme de frente para ele e a gritou de volta, nervoso.

— Victoriano: Não existe nenhum ego dentro de mim quando estou te perdendo até para um desconhecido porque não consegue superar nosso maldito passado, Inês! Eu estou desesperado!

Ela se sacudiu com mais raiva. Estava furiosa e chorava sem notar. Assim então o respondeu fora de si.

— Inês: Eu perdi um filho, nosso filho e eu nunca vou superar a forma que isso aconteceu mesmo que haja 10 filhos entre nós, nunca vou superar ou aceitar a forma que perdi nosso Fernando! Nunca!

Ofegante quando terminou de grita-lo, Inês viu que suas meninas junto de Bernarda estavam junto com eles testemunhando tal cena.

Os dois ficaram em silêncio. Inês levantou a cabeça, mirando-as, Victoriano girou o corpo, colocando as mãos no bolso da calça. Ele suspirou, e disse em seguida.

—Victoriano: Acho que já ficou muito claro o que está se passando em nossa família.

Diana deu a volta, se sentando no sofá e levando as mãos nos cabelos, Cassandra fez o mesmo, enquanto Constância e Bernarda seguiram do mesmo modo em pé.

Com os olhares em cima de si, Inês disse arrependida.

— Inês: Estou certa que eu não deveria ter vindo.

Cassandra a olhou aflita, e tentou consola-la.

—Cassandra: Não diga isso mamãe.

Victoriano também resolveu falar, com ar de desanimo com uma tarde frustrada.

— Victoriano: Quero lembra- lá que ainda que não viesse, tínhamos outros planos para essa tarde Inês, mas sobre isso é melhor que sigamos nossa conversa no escritório.

Constância sem humor algum, quando viu que Victoriano gostaria de ter uma conversa particular entre Inês, depois de terem despejado tudo o que se passava aos berros.

— Constância: Por que não aqui? Já estamos sabendo de tudo mesmo. Por que esconder mais coisas?

Victoriano respirou fundo, já também não se importando mais em guardar nada.

— Victoriano: Se assim que quer assim será.

Bernarda alisou Constância nas costas, e disse.

— Bernarda: Diga de uma vez e deixamos esse caos, Victoriano. Venha aqui, minha querida.

Ela abraçou Constância, Inês a mirou nada feliz a cena e Victoriano seguiu.

— Victoriano: Inês tem seus planos e eu os meus, referente a todo esse calvário que ainda vivemos quando se trata de Fernando, do irmão de vocês. Portanto eu tomei uma decisão já revelada a ela que iniciaremos novas buscas para tentar encontra-lo, e era onde eu gostaria de ir antes que esse dia terminasse. Quero vamos a uma delegacia juntos, Inês.

Inês respirou fundo, tendo ele mirando-a. Tinha cruzado os braços. Não sabia se seria capaz de estar mais algumas horas sozinhas com Victoriano depois de tudo que tinha acontecido. Tinha também seus nervos abalados e lembrava que havia ingerido comprimidos com álcool. Não estava pronta para voltar a dar aquele passo tão importante naquele momento.

Assim então ela disse.

— Inês: Temo que eu não esteja em condições para fazer isso agora mesmo, Victoriano.

Victoriano a olhou com dureza, quando disse.

—Victoriano: Se não agora, quando Inês?

Depois que falou, Constância se manifestou.

— Constância: Ah, por Deus, já estou cheia desse assunto! Cheia! Cheia!

Ela deixou a sala. Saiu, toda vermelha e com raiva. Diferente de suas irmãs que recebiam a notícia das novas buscas por Fernando, como inevitável e preciso, Constância sentia revolta por ter seu irmão mais velho como seu calcanhar de Aquiles.

Depois de ver o que passou, cansada e sentindo sonolenta, Inês querendo deixar a casa de uma vez, olhou para uma das suas filhas e pediu.

—Inês: Eu gostaria que me levassem em...

Ela não seguiu falando, teve de repente um desequilíbrio e sentou depressa no sofá.

Diana foi a primeira chegar até ela, quando disse.

— Diana: Mamãe, mãezinha está tudo bem?

Inês assentiu agora tendo suas duas filhas perto. Victoriano passou a mão no rosto, agoniado quando a viu cambaleante. Sentiu Bernarda lhe tocar no ombro e cochichar algo, quando seus olhos foram para mãos de Inês. Ele seguiu o olhar dela e viu os dedos de Inês tremerem enquanto ela tocava a testa e a outra mão ia aos cabelos. Notou que ela estava em desequilíbrio emocional. Não era consequência da bebida que a viu tomando.

Ele então caminhou até o bar de bebida próximo a eles, necessitando ele de umas doses de álcool, quando disse.

— Victoriano: Levem a mãe de vocês para descansar. Assim ela não irá a lugar algum.

Inês não sentiu forças para responde-lo, via duas Diana em sua frente e sua língua pareceu enrolar. Havia ficado dopada no lugar errado e no momento errado.

Victoriano viu à noite cair, enquanto encarava a janela do escritório. Havia ligado para seus compadres avisando que Inês estava em boas mãos.

Naquele momento ela estava adormecida profundamente na cama deles. Percebeu então que ela havia tomado em algum momento os remédios que tinham na casa. Só eles a faria dormir daquela maneira.

Ele balançou o copo grosso de bebida na mão, refletindo as últimas horas que passaram. Todos na casa pareciam não estar emocionalmente bem, e ele principalmente.

Quando sentiu seu sangue esfriar, notou qual situação tinha posto Inês revelando na hora da raiva sua mais nova obsessão às filhas.

Ele apertou os olhos em pesar. Se queria que Inês mudasse de ideia, estava agindo errado. Mas agiria sempre no desespero quando o assunto fosse ela, sua ameaça de divórcio e sua saúde mental sempre em perigo.

Se levantou e deixou o copo vazio na mesa. Quando ouviu batidas na porta do escritório. Deixou que entrassem, e quem passava era Diana e Cassandra.

Ele suspirou antes de dizer.

— Victoriano: O que querem?

Diana se adiantou dizendo.

— Diana: Conversar. Conversar sobre tudo que houve aqui.

Victoriano se rendendo a elas, estendeu o braço em direção das duas cadeiras que estavam na frente da mesa, e disse.

— Victoriano: Sente-se as duas.

Ele deu a volta para na mesa e se sentou também na cadeira por trás dela.

—Victoriano: E então...

Diana começou falando.

— Diana: Cassandra e eu estamos convencidas que deve fazer tudo que o que nossa mãe quer se quiser que esse casamento resista a esse pedido divórcio, papai.

Ele olhou as duas calado, e Cassandra então acrescentou.

— Cassandra: Nunca os vimos brigar com tanta intensidade como estão. Vão acabar se odiando e o divórcio será inevitável, papai.

Victoriano riu de lado, sem um pingo de humor e disse.

— Victoriano: Eu nunca odiaria a mãe de vocês. Muito menos serei favorável a esse divórcio.

Diana discordou dele rapidamente, e acrescentou também.

— Diana: Ah, por favor papai. Estamos no século XXI ninguém é obrigado a estar casado com ninguém, além do mais, não estou tão convencida que vocês não chegarão a se odiar. Nós vimos e ouvimos muito bem o que aconteceu na sala de jantar e depois. Nossa mãe está com muita raiva.

Victoriano se levantou indignado quando disse.

— Victoriano: E eu também estou quando sigo vendo ela insistir nessa loucura de divórcio e que Carlos Manuel é nosso filho. É como que se eu e vocês não fossemos nada para ela. Nada!

Cassandra foi até ele e disse mansa.

— Cassandra: Papai, sabe que isso não é verdade, mas sabe mais ainda antes mesmo que nós duas soubéssemos a verdade, que o sequestro de nosso irmão, sempre foi a sombra dessa família. A mamãe tem razão quando diz que não consegue superar.

Ele a olhou de lágrimas nos olhos, e se rasgou evidenciando o que sentia às filhas.

— Victoriano: E acha que eu superei? Que superei a perca dele? Que me perdoei por não ter sido capaz de encontra-lo? Ainda sigo com esse vazio dentro mim, mas diferente da mãe de vocês eu me apego ao bonito que me restou, que são vocês, que é ela, o nosso amor, o meu amor de pai pelas filhas linda que tenho.

Diana olhou de lado, imaginando e comparando como os pais podiam ser diferentes referente a forças e sentimentos. E via então que Inês era a mais vulnerável entre eles, por existir um passado escuro na vida dela.

Assim então ela disse com pesa na voz.

— Diana: A mamãe desde que entendemos, ela sempre precisou de ajuda psicológica, papai. Ela sempre foi a mais vulnerável a tudo isso.

Ao ouvi-la, Victoriano passou a mão no rosto demonstrando sua angústia e disse.

— Victoriano: Sim. Sim, é certo. E isso sempre me assombra. Não me vejo longe dela nem ela longe de mim. Por isso acho um cúmulo também ela querer nos deixar. Morar só?

Diana deu um sorriso leve, tentando amenizar tudo e disse.

— Diana: Cassandra pode cuidar disso papai. Pode ver um lugar que ela more próximo a nós ou da empresa.

Ele a olhou com atenção, sem nada falar e trocou seu olhar com Cassandra quando viu que era vez dela.

— Cassandra: Sim papai. Também temos imóveis que possamos coloca-la.

Negando-se imaginar Inês em uma casa ou apartamento sem eles, ele disse.

— Victoriano: Não. Isso não soa bem. Viram como ela estava hoje? Àquilo foi uma crise, foi remédios! E isso em nossa presença, imagina longe!

Ele andou preocupado, e Diana o seguiu dizendo.

— Diana: Papai, nossa mãe já é bem crescida para...

Victoriano a cortou bruscamente dizendo.

— Victoriano: Não me venha com isso Diana quando só sabe o que permitido que soubesse, além de não ter vivido o que já vivemos! A mãe de vocês tem uma maldita herança familiar, e isso pode leva- lá de nós como foi com a mãe dela e o restante de sua família!

Diana encolheu os ombros, dizendo baixo.

— Diana: Disse que a vovó morreu em um incêndio.

Victoriano então disse.

— Victoriano: Um incêndio que ela provocou por ser esquizofrênica! É dessa doença que temo que um maldito dia venha despertar na mãe de vocês!

Cassandra fez sinal de negação, quando disse firme.

— Cassandra: Isso não vai acontecer!

Temoroso e sentindo que seu coração errava suas batidas, sufocando-o, ele disse mais baixo, mas sofrido.

— Victoriano: Não sabemos de nada. Nem sei se alguma de vocês também herdarão isso ou já herdaram.

Ele pensou em constância, suspirou e seguiu.

—Victoriano: Acontece que não vou ser capaz de viver em paz se Inês além de me deixar, viva sozinha como quer.

—Diana: Podemos montar uma força tarefa de segurança sem que ela saiba.

Diana disse rápido e teve a atenção dele, apresentando as ideias que tinha, e Cassandra garantiu.

— Cassandra: Ela precisa desse voto de confiança papai, e vocês precisam desse tempo.

Victoriano respirou fundo. Se viu sem escolhas pois sabia que suas filhas tinham razão e ninguém seguraria Inês na casa contra sua vontade. Assim então ele disse, já sofrendo.

— Victoriano: Eu não quero que ela me deixe. Eu a amo.

Ele levou as mãos espalmadas na mesa, e Diana lhe tocou no ombro dizendo baixo.

—Diana: Nós sabemos papai, é por ama-la que tem que deixá-la ir nem que seja por um tempo.

Cassandra apareceu do outro lado dele, tocando-o no ombro também e disse.

—Cassandra: Se deixa sem mais essas brigas e apenas focando nas buscas de nosso irmão, tudo pode se resolver mais rápido. Por favor papai, pense no melhor para vocês.  

 


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