Amor Sem Medidas escrita por EllaRuffo


Capítulo 69
Capítulo 69




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Inês desceu do carro e caminhou até seu alvo.

Alguns minutos depois, Santiago estava nervoso ao ser comunicado que Inês já estava na clínica.  De fato, ela havia cumprido o combinado que tiveram por uma ligação. Ela estava ali depois dele ter acreditado que jamais a veria outra vez.

Ele alisou o queixo lembrando do que Victoriano o tinha feito há alguns dias. A agressão que havia sofrido, ainda estava nítida em seu rosto, o que o fazia ficar mais recluso em sua sala por todos aqueles dias passados, entretanto nada mais importava. Inês estava ali e ele sabia o porquê. Ela queria esclarecimentos, queria um confronto e ele daria isso a ela, contanto que a tivesse por alguns minutos de frente a ele.

Batidas leves se ouviram na porta. Santiago saltou de sua mesa para atender. Quando abriu a porta, viu sua secretária e logo atrás Inês.  Ele suspirou. Ela tinha os cabelos negros soltos como sempre, usava batom e vestia preto. Estava simplesmente linda do seu modo.

—Santiago: Confesso que não acreditei muito que de fato viria, Inês.

Santiago então não aguentou e foi o primeiro a falar. Ele escancarou mais a porta, e Inês antes de dar uma última olhada na secretaria que os deixaria, encarou o interior do consultório de Santiago e foi direta.

—Inês: Passarei por essa porta apenas se ela seguir assim, caso contrário darei meia-volta Santiago. 

Ela o encarou depois de falar. O sorriso que escancarava no rosto do médico, se foi e em tom mais sério ele disse.

—Santiago: Será como quiser, Inês.  Não se preocupe, a porta seguirá aberta.

Inês suspirou e só depois entrou na sala. Santiago deixou a porta como estava, descansou uma mão no bolso de seu jaleco e a outra, apontou para a cadeira que estava à frente de sua mesa, e disse.

—Santiago: Sente-se, vou pedir que nos tragam um café, ou chá se preferir.

Inês girou corpo para olha-lo e o respondeu.

—Inês: Quero chá, por favor.

Santiago deu um curto sorriso, foi ao telefone posto na mesa, discou um número e depois verbalizou o que queria. 

Inês pôs a bolsa que trazia com ela, ao lado em uma cadeira, depois sentou e cruzou as pernas. Ela então visualizou Santiago ajeitando seu jaleco antes de sentar na cadeira à frente dela, e só então ela disparou.

—Inês: Por quê? Por que fez aquilo de me beijar, enquanto eu estava tão vulnerável? Por que violou sua conduta como médico e homem ao fazer o que fez com uma paciente,  mulher e que de outra maneira nunca teria tido a chance que teve, Santiago?

Santiago pigarreou pegando na gravata que tinha abaixo de seu pescoço.  Não esperava que começariam aquela conversa assim, entretanto, sabia que Inês não teve por si só sua chance de defesa, não tiveram a conversa que parecia que iam ter. No final, o confronto que ela havia ido buscar não se tratava apenas das ações ocultas do marido. Santiago  então inclinou-se  para lhe mirar bem nos olhos,  e decidiu não esconder mais o que trazia consigo por tantos anos.

—Santiago: Me apaixonei por você, Inês. Não consegui separar a relação que tivemos entre médico e paciente. Sei que errei e me arrependo profundamente do que fiz. Me perdoe.

Inês torceu os lábios de lado. Sua indignação pela ação de seu médico se mantinha e se matinha mais firme diante de sua confissão.  Havia perdido seu psiquiátrica, alguém que confiou seus anseios e bem-estar por ele não saber separar o que os uniam. Era ciente que precisava dele, também ciente que mesmo assim, tinha que se manter distante daqueles sentimentos que não aprovava e que foi sujo quando a abordou em uma maneira que não poderia se defender. Olhar a face de Santiago àquele momento, trazia em Inês mais alívio por perceber mais uma vez que Victoriano tinha feito a ele o que ele mesmo buscou. Contudo sentia apenas lástima com as consequências que resultaram as ações do médico.

—Inês: Suas desculpas vieram tarde.  Já não posso ser sua paciente, já não confio em você Santiago e não aplaudo seus sentimentos por mim, sempre soube que fui uma mulher casada e que amava meu marido, por essa razão me beijou desacordada pois sabia que de outro modo eu não iria corresponde-lo.

Ela viu Santiago assentir devagar com a cabeça depois de ouvi-la.  Analisou também o mover de seus dedos um no outro acima da mesa. Agora parecia que era ela ao analisando.

Santiago por sua vez depois de digerir o que ouviu, disse.

—Santiago: Eu a entendo e não estou pedindo para que volte em confiar em mim. Minha porta está aberta porque me teme e com razão, Inês. Entretanto, se pudesse reconsiderar  o fato de voltar a ser minha paciente, com algumas restrições é claro...

Inês negou rapidamente com a cabeça e se levantou, dizendo.

—Inês: Não. Não tenho o que reconsiderar, Santiago. Estou aqui também para que me entregue o laudo que entregou ao meu marido.  Sou ciente de minha condição e não quero me descuidar.  Portanto sei que com ele em mãos posso apresentar para outro médico.

Santiago se levantou também não gostando nada do que ouviu. 

—Santiago: Não pode fazer isso assim, Inês. Não sabe como o processo de adaptação pode ser custoso a você.

Bateram na porta. Inês e Santiago olharam para ela, e então a secretária entrou com duas canecas em uma bandeja. Ela pediu licença e depositou o que trazia na mesa.

Inês se afastou cruzando os braços. Tinha dentro de si uma indignação crescendo cada vez mais. Tinha muito ali para contar se sua visita não fosse para fechar um ciclo necessário. Gostaria de ter um pouco da confiança antes que tinha vindo de Santiago, gostaria de ter mais um pouco de sua sabedoria e seus ouvidos sempre atentos sem julgamentos. Isso era o que precisava.  Gostaria tanto de contá-lo sobre a situação qual estava.  A dúvida que trazia dentro de seu peito em relação às origens de Carlos Manuel, a separação dolorida de Victoriano, tudo que a cercava saindo do lugar, ela saindo de seu posto cômodo. 

Cansada, ela soltou o ar pela boca em um bufo, e mirou agora Santiago de costa para ela parecendo adoçar as bebidas quente que iam tomar.

—Santiago: Tome.

Santiago se virou depois oferecendo-a a caneca. Inês voltou próximo a ele e tomou ela. Ficaram então em silêncio enquanto cada um voltou ao seu lugar para se sentar. Degustaram da bebida. Até que Inês quebrou o silêncio.

—Inês: Quero que me dê o que deu a Victoriano. Quero saber como estou aos seus olhos e usar tais diagnósticos como já disse.

Santiago deixou a caneca na mesa, antes de responder. 

—Santiago: Antes de entregar o que quer, quero dizer que contestei o que Victoriano pretendia fazer. Acho que poderia e pode sim ser mais uma vez mãe se quiser. Mas melhor do que eu, deve saber como é o homem que se casou. Ele queria o laudo e de outra maneira não deixaria meu consultório.

Inês virou o rosto sentindo que sua ferida era tocada. Ficou em silêncio antes de mira-lo nos olhos outra vez e dizer.

—Inês: Já não importa mais se posso ou não, Victoriano decidiu isso por nós. Agora só quero mesmo para que eu possa cuidar de mim como eu acho que deve ser, e não como ele acha.

Ela tomou mais um gole do chá.

Santiago a viu se calar novamente, mas antes levar uma grande quantidade de ar ao peito, a conhecia bem e sabia que seu corpo entregava um peso muito grande sobre si. Como qualquer paciente que passava por análises, ela queria falar e queria ser ouvida. Ele então se prontificou em dar a ela seus ouvidos, instigando sua presença por mais tempo ali.

—Santiago: Acredito que está muito machucada pela ação dele e a entendo, Inês.  Mas não se precipite em agir cega pelo que sente agora, tudo isso tendem a passar.

Inês o olhou.  Deu um sorriso fraco e confessou.

—Inês: Pedi o divórcio para ele. Essa foi a decisão que tomei, mas não só por isso, Santiago existem mais coisas que corroem o meu peito e minha alma.  

Santiago sentiu o ar lhe faltar quando a ouviu.

Victoriano no trabalho não conseguia se concentrar em nada. Estava em meio de uma reunião de negócios, mas estava alheio a tudo que falavam. Em seus pensamentos seguia Inês e sua decisão inconsequente de um pedido de divórcio sem cabimento.  Por essa decisão naquele momento não sabia onde sequer ela estava. Apenas sabia que ela tinha de fato deixado a fazenda de seus compadres para ir a compromissos que ele não fazia ideia quais eram, mas suspeitava que um poderia se tratar do maior pivô da separação que estavam vivendo.

Pensava que o único jovem rapaz que poderia ser capaz de desprezar e até de odiar, seria o filho de Loreto que havia se tornado seu genro da noite para o dia, mas não, esse fato havia se tornado insignificante quando apenas Carlos Manuel havia se tornado a obsessão de Inês.

Ele bufou e alisou o rosto, esfregando as mãos. Diana que estava ao seu lado, lhe alisou em um braço. O olhou com o olhar de preocupação, e sussurrou.

—Diana: Vai tomar um ar papai, ou uma água, mas fora daqui. O senhor não me parece bem.

Victoriano olhou ao seu redor. Estava cercado de uma equipe qualificada e conscientes que se na sua ausência algum erro acontecesse o culpado prestaria contas, olhando então agora para sua filha mais velha que seria seus olhos e ouvidos ali e sem nenhuma necessidade de bajulação, beijou a mão dela e disse.

—Victoriano: Vou fazer o que me pede.

Ele então pigarreou, teve então olhares em direção dele e anunciou que deixaria a reunião.

Na clínica. 

Inês depois de já ter o que pediu em mãos, se preparava para deixar a sala de Santiago e guardando mais coisas para si do que gostaria.  Quando então se levantou, Santiago fez o mesmo lamentando sua ida e sua inegável despedida.

Inês olhou ao redor,  até que disse.

—Inês: Não quero ser mais sua paciente, mas quero que me permita voltar aqui quando eu precisar .

Santiago sorriu ainda que confuso e perguntou. 

—Santiago: Como assim?

Ela o olhou, e então disse.

—Inês: Carlos Manuel seu mais novo médico segue me despertando interesse, e como ele trabalha aqui, é um lugar que posso me aproximar dele caso eu precise, e para isso gostaria de sua permissão. 

Santiago a olhou em uma análise profunda.  Entendeu que algo a mais passava que ele não sabia, mas sabia muito bem que desde que soube do primeiro encontro dela com seu jovem médico ela o havia associado ao seu filho perdido. Algo então lhe dizia que ela seguia com tal ideia.  

E ele então rápido a respondeu.

—Santiago: As portas desse lugar sempre estarão abertas para você, Inês.

Inês se limitou em sorrir.  Ele tinha uma dívida com ela e seu passe livre ali era o mínimo que poderia dar a ela.

Ela então pegou a bolsa dela, o olhou mais uma vez e deixou o consultório dele. Santiago ficou sozinho parado de mãos aos bolsos do jaleco olhando a porta aberta por onde ela tinha passado. 

Caminhando, Inês parou diante de uma enfermeira, fez perguntas e depois desviou seu caminho de saída, e foi em direção ao jardim da clínica. Encontrou então seu alvo acompanhado de mais alguém. 

Loreto estava de frente para Carlos Manuel. Conversava com o jovem. Tocou então em um ombro dele dando leves toques que demonstravam algum apoio, quando Inês se aproximou de ambos surpreendendo-os.

—Inês: Bom dia ou boa tarde, não sei mais.

Sem saber quanto tempo havia gastado com Santiago, ela os cumprimentou. Seus olhos foram brilhosos para Carlos Manuel, que desviou rapidamente encarando Loreto. De uma forma silenciosa, passaram uma mensagem que conversaram antes dela estar ali, de assuntos que a levaram deixar o apartamento do jovem rapaz da maneira que tinha feito. 

Inês então se apressou dizendo.

—Inês: Precisamos conversar, Carlos Manuel. 

O jovem voltou a olhá-la. Sabia que precisavam de fato conversar e ainda queria respostas do porquê a senhora lhe havia levado duas fotos, ainda que seu subconsciente sabia da resposta, mas havia sido convencido que a melhor conversa, seria em não ter com ela. A melhor conversa seria se afastar e afastar Inês de si. Victoriano tivera razão quando pediu tal feito e agora Loreto em sua frente tratando do mesmo assunto o convenceu mais ainda.

Ele então tentou falar mantendo sua educação e a gentileza que sempre a havia tratado, dizendo. 

—Carlos Manuel: Senhora, devo dizer que o que houve em meu apartamento, como o deixou e o que levou de mim, me levou a crer que devemos nos afastar e que essa conversa que quer ter deve ser com seu marido ou com Santiago, e até com Loreto que parece se importar com a senhora, menos comigo. Eu sinto muito, mas isso é o que deve ser feito.

Depois de ouvi-lo, Inês segurou firme no braço dele. Lágrimas lhe vieram rápido nos olhos e um tremor também, enquanto ela encarava os olhos bonitos de um verde-claro, tão idênticos aos olhos do pai dele. Sim, Inês os encaravam agora com mais convicção e medo do que via. Assim então ela disse.

—Inês: Não. Não. Que besteiras está dizendo? Como assim irá se afastar e me afastar? Iremos conversar sim, e você tem que me ouvir, Carlos Manuel.  Tem que me ouvir!

Loreto interviu tocando no braço dela.

—Loreto: Inês, Inês. É melhor assim.

Inês puxou o braço, ignorou a existência de Loreto e sua fala.  Seus olhos estavam presos apenas em Carlos Manuel.  Em seu peito um coração batia desesperado, aflito.   Se até Carlos Manuel não parasse para ouvi-la, então ela não tinha nada, não tinha ninguém.

Ela então piscou e lágrimas caíram de seus olhos, e em meio delas, ela disse.

—Inês: Não faça isso filho. Vamos conversar, por favor. Eu necessito conversar com você. 

Lágrimas escorreram por suas bochechas. Carlos Manuel tocou na mão dela enquanto era fisgado por seu olhar.

—Loreto: Inês, ele não é seu filho. Vamos eu posso te ajudar.

Inês olhou com raiva Loreto.

—Inês: Cala-se Loreto. Não estou falando com você!

Ela voltou a olhar Carlos Manuel.  O jovem fez um sinal com mão para Loreto que fez o movimento de voltar a tocar em Inês. Depois suspirou, e meteu a mão em um bolso de seu jaleco, tirando seu celular, dizendo.

—Carlos Manuel: Aceito ter essa conversa. Mas não aqui e que seja apenas essa vez, senhora Inês. Tudo bem? Me passe seu número para que eu possa te ligar.

Inês assentiu rapidamente, mesmo convencida que não seria como ele queria. Que se ele fosse mesmo seu Fernando, não voltaria perde-lo de vista nunca mais. Depois então, enquanto limpava um lado do seu rosto ela disse.

—Inês: Eu não vou conseguir lembrar meu número agora, mas me dê o seu.

Ela abriu a bolsa e tirou o celular que raramente usava. No modo silencioso ele estava cheio de ligações e mensagens não vistas. Entregou assim o aparelho na mão do rapaz, Loreto encarou a ação. Depois Carlos Manuel apenas discou o número dele no celular de Inês, deixou que a ligação fosse concluída em dois chamados, desligou e devolveu a Inês dizendo. 

—Carlos Manuel: Pronto.  Dessa forma tem meu número em suas chamadas feitas e eu nas minhas chamadas recebidas. Vou salvar e fazer contato se não o fizer antes. Isso não pode seguir senhora. Sinto muito. 

Inês suspirou.  Queria falar tantas coisas a ele, mas deixou que ele se afastasse para não perder o que tinha ganhado. Aquele momento não era o que ela queria, mas era melhor que nada.

Depois ficando apenas ela e Loreto, ela se virou para ele, transparecendo raiva no olhar e disse.

—Inês: Não se meta mais nos meus assuntos, Loreto. Nos meus assuntos com Carlos Manuel! Ficou claro que falavam de mim.

Ela começou a caminhar, Loreto a puxou pelo braço parando-a, e disse nervoso. 

—Loreto: Eu só quero ajudar, Inês! Você ia perder o controle!

Inês riu ironicamente reconhecendo aquele tipo de ajuda que só a cansava e disse.

—Inês: Ajudar? Você, nem ninguém pode me ajudar ou simplesmente se dispõem a me ajudar de verdade.  Só me veem assim, como uma mulher sempre à beira do desequilíbrio e eu não preciso dessa ajuda, não preciso!

Ela puxou o braço e começou a andar mais uma vez. Com pressa tinha em uma mão os laudos que pediu para Santiago, tinha também sua bolsa em um braço, e andava assim, com o vento soprando seus cabelos e ignorando que Loreto seguia no seu pé.

Que acompanhando seus passos apressado, ele disse.

—Loreto: Fale o que precisa que eu posso te ajudar! Eu estou te oferecendo ajuda desde que regressei, Inês!

Ela parou. Se virou rapidamente para ele e parou por algum momento.  Levou ar ao peito e pensou no que precisava, e disse duvidando internamente que teria o que pedia dele.

—Inês: Eu quero que me ajude a chegar na verdade de quem é  Carlos Manuel, porque eu acho que ele é meu filho, mas não posso provar ainda!

Loreto ficou quieto. Tinha tudo em suas mãos que provaria facilmente a teoria de Inês, mas tinha a prova maior que corria nas veias dela e nas do jovem rapaz. Um exame de DNA e tudo viria à luz. Tão simples como o clarão do dia. E ele queria fazer parte desse clarão. Queria ser ele a conduzi-la na verdade eminente. 

Ele então disse convicto.

—Loreto: Eu posso dar isso a você! Posso começar a investigar e desenterrar tudo o que quiser saber de Carlos Manuel!

Inês se surpreendeu com a resposta rápida e firme de Loreto, e ela então falou de voz embargada.

—Inês: Faria isso mesmo?

Loreto sem duvidar reforçou. 

—Loreto: Claro, Inesita. 

Ele tomou os braços dela, alisou eles, depois desceu para mãos de dedos gelados e beijou uma.

Ela o mirou de olhos marejados e depois sentiu que foi abraçada.  No abraço Inês começou a chorar o abraçando também. Loreto se sentiu estranhamente vulnerável, sentiu que voltava ao passado quando tinha Inês aos seus braços outra vez.

Ele fechou os olhos apertando-a no abraço até que ouviu uma gutural voz que veio de algum lado.

—Victoriano: Solte ela, seu infeliz!

Victoriano chegava como uma bala. Rápido e vermelho a ponto de explodir, quando viu Inês se perdendo em uns braços que não eram os dele. Ver também os braços dela respondendo ao abraço recebido o consumiu.

Loreto se separou dela de sorriso no rosto, e então disse.

—Loreto: O que quer Santos, não vê que eu e Inês estávamos conversando!

Inês passou a frente de Loreto antes mesmo de Victoriano colar nele, com isso mirou os olhos de Victoriano que faiscavam ódio e ciúme e disse.

—Inês: Não se atreva a fazer isso aqui um ringue de boxer Victoriano!

Victoriano bufou vermelho, e ela limpou seus olhos chorosos. 

—Victoriano: O que fazia agarrada a esse, infeliz Inês?

Ele assim, não quis saber de não chegar perto do homem que lhe sorria com deboche. E Inês apenas o gritou.

—Inês: Não vou falar nada! Você que tem que falar o que faz aqui! Me seguiu? Mandou me seguir?

Ele passou a mão na cabeça, andou para um lado e Inês fez o mesmo.

—Victoriano: Você que não atende esse maldito celular, tive que procurar saber onde te levaram para encontrá-la!

Depois de falar ele foi rápido, agarrando Loreto pelo colarinho. Loreto se avermelhou e pegou com raiva no pulso de Victoriano.

—Loreto: Não se atreva me tocar Santos! Ainda temos uma dívida que não foi paga pelo que fez ao meu filho!

De longe os seguranças da clínica avistaram a confusão que se iniciava. Inês então pegou nos braços de ambos os homens e disse irritada.

—Inês: Se larguem! Não comecem! Victoriano, por favor!

Victoriano olhou para ela, e soltou Loreto justo quando os seguranças chegaram neles.

—Victoriano: Você voltará para nossa casa agora mesmo, eu não vou mais aceitar essa loucura que fez!

Inês deu as costas para Loreto o deixando de longe da conversa, e o rebateu com mais raiva.

—Inês: Não é loucura! É uma decisão que tomei consciente, Victoriano! Vamos nos separar!

Loreto se surpreendeu quando ouviu tão fatídica revelação.

Victoriano tomou Inês por um braço quando notou a expressão de felicidade no rosto de Loreto ao ouvi-la.  E um dos seguranças falou ao aparecer e reconhece-lo.

—X: O que faz aqui senhor? Está proibido de entrar nesse espaço por uma ordem judicial! Terá que que nos acompanhar até a saída!

Dois seguranças tentaram agarra-los.

—Victoriano: Não me toquem. Eu disse para não me tocarem!

 Victoriano se irritou com as mãos em cima dele, e Inês também se incomodou quando também disse.

—Inês: Não toquem nele! Já estamos indo!

Ela começou a andar na frente. Victoriano olhou Loreto antes de acompanhá-la. Viu o olhar de Loreto no andar de Inês. Ele então foi claro ao dizer. 

—Victoriano: Tire os olhos dela, tire os olhos de Inês porque só a terá por cima de meu cadáver, de meu cadáver Loreto!

Ele caminhou até ela. Foi rápido e viu ela parar ao lado do carro dele.

Ela tinha cruzado os braços. E então ele disse entre os dentes.

—Victoriano: Temos muito o que conversar, Inês!

Inês retrucou dizendo.

—Inês: Eu só quero agora ver Constância, me leve para casa de Diana Maria e Vicente, que tentarei contato com ela.

Victoriano riu sem vontade e a respondeu.

—Victoriano: Pode vê-la em nossa casa, portanto te levarei para ela!

Ele abriu com raiva o lado do carro para ela entrar, e Inês ironizou.

—Inês: Nossa casa? A casa que mantém Bernarda? A mulher que tanto deixo claro que me desagrada e a primeira coisa que faz é deixá-la nela?

Ela entrou no carro, Victoriano fez o mesmo nervoso e a respondeu depois de bater à porta, e ajeitar o cinto. 

—Victoriano: Adelaide é uma fofoqueira.  Sei que foi ela que disse que Bernarda está lá!  Depois diz que devo trazê-la de volta se ela não ajuda em nada!

Ele ligou o carro. 

—Inês: Não fale assim dela! O errado aqui é você, me pede para voltar quando na mesma manhã deixa quem eu mais odeio nessa vida em minha casa! Minha casa!

Victoriano parou o carro fazendo uma manobra barulhenta entre um acostamento e outro no meio do centro da cidade.  E então a respondeu nervoso, enquanto se soltava do cinto. 

—Victoriano: Sim Inês, sua casa! Sua casa que você deixou! Agora diga o que fazia  naquela maldita clínica depois de tudo que Santiago te fez e ainda por cima te encontro  com Loreto, outro maldito!

Inês bufou e tirou os papéis que trazia de mal jeito no colo e empurrou em direção  ao peito dele, aos berros.

— Inês: Fui fazer isso! Isso!

Victoriano pegou os papéis confuso, dizendo. 

—Victoriano: O que é isso?

Inês deu uma risada irônica e disse.

—Inês: Isso são os laudos que usou para alegar a minha incapacidade como mulher e mãe! Como não os reconhece?

Antes mesmo dela terminar de falar, Victoriano os havia reconhecido, então olhou para ela e disse mais brando. 

—Victoriano: Estou convencido que cometi um erro, Inês. Quando vai me perdoar? Eu sou humano!

Inês respirou fundo reconhecendo que ele começava a assumir seu erro sem fantasiá-lo de amor.

—Inês: Agora que começa me pedir perdão e reconhecer seu erro, depois de me diminuir como mulher,  me expondo como uma louca incapaz que não sou!

Victoriano se avermelhou outra vez e rebateu.

—Victoriano: Eu não fiz isso!

E ela retrucou vermelha como ele.

—Inês: Fez! Fez Victoriano!

Victoriano levou a mão na cabeça, balançou os papéis antes de jogá-los para os bancos traseiro do carro, e confessou.

—Victoriano: Se fiz foi cego pelo medo, medo de te perder Inês. Medo que uma gravidez  com a pressão que seria de ser nossa última tentativa te colocasse enferma como foi quando tivemos Constância!

Inês ficou calada por um momento.  Victoriano aproveitou o silêncio dela para tocá-la e dizer mais manso ainda.

—Victoriano: Eu não preciso de outro filho para me sentir mais pai do já que sou morenita. Sou feliz com nossas belas meninas e isso me basta.

Ele beijou o ombro dela. Subiu o rosto e fungou próximo os cabelos dela, sentindo o cheiro deles. Inês fechou os olhos, em sua mente veio Fernando, mas não via mais o Fernando bebê. Em sua mente já via o Fernando homem com um certo rosto e formato. Via Carlos Manuel.

Ela então falou baixo.

—Inês: Mas e nosso filho. E Fernando?

Victoriano se afastou, tocou no rosto dela a fez mirá-lo, e disse.

—Victoriano: Te liguei a manhã toda para também querer marcar contigo nossa ida à delegacia. Quero ir ainda hoje, mas contigo. Vamos dar entrada nas novas buscas e investigações juntos, morenita. 

Victoriano subiu beijos pelo pescoço de Inês até chegar ao rosto, uma mão dele soltou o cinto dela e a puxou para ele.  Inês se rendeu aos toques, aos beijos e suas palavras.  Queria mesmo que ele voltasse com as investigações e que ela soubesse de todos os detalhes.  Não seria contra e iria com ele onde fosse se o assunto fosse Fernando.

Se Fernando e Carlos Manuel fossem a mesma pessoa as novas investigações mostrariam, com isso toda ajuda seria bem-vinda até a de Loreto.  Se Victoriano não se prontificaria a investigar o rapaz, Loreto faria e ela tampouco rejeitaria uma ajuda que ela sozinha não saberia por onde começar. Ela então tocou no rosto dele e as bocas se encontraram com fome.

Victoriano sentiu o coração em júbilo e a apertou nos braços, aprofundando o beijo.  Seu corpo despertou cheio de desejo e sentiu que o de Inês também quando ela gemeu no beijo.  E já sem fôlego ele a soltou e sugeriu.

—Victoriano: Vamos para nossa casa, passamos um tempo em nossa cama, depois almoçamos e em seguida iremos à delegacia, hum? O que acha morenita?

Ele deu mais dois beijos nela, mas Inês, virou a cabeça, visivelmente abalada pelo desejo, mas consciente do que queria e por isso disse. 

—Inês: Não. Não quero seguir essa linha, Victoriano. Eu apenas vou na delegacia contigo. Sem passar por nossa cama.

Victoriano respirou fundo, se afastou e a questionou.

—Victoriano: Por que não? Por que isso, morenita? Está claro que nos amamos, que nos desejamos e que essa separação que impõe entre nós de nada vale.

Inês cruzou os braços enquanto tudo que aguentou e para ela chegou ao limite na relação que viviam, invadia sua mente e apertava seu coração machucado seu orgulho e lhe tirando sua dignidade de mulher. Que encarando Victoriano nos olhos ela voltou expressar seu sentimentos e as causas de estarem ali.

—Inês: Por que só consegue me ver como a mulher saudável que já estou quando me quer dessa maneira e eu não quero apenas ser merecedora do seu desejo dessa forma, Victoriano.  Eu sou mais que isso e você precisa enxergar e saber que não precisa tomar decisões por mim nem invalidar minha voz e minhas vontades para me amar.

Ela depois de falar, puxou o cinto voltando se ajeitar no banco do carro. E Victoriano disse, pegou na mão dela, segurou fazendo ela olhá-lo e disse.

—Victoriano: Está sendo injusta morenita. Injusta conosco. Mas vou aceitar essa condição se ao menos aceitar almoçar hoje em nossa casa. Já é a hora do almoço e podemos fazer isso com nossas meninas em casa. Por favor, hum? Você poderá ficar mais tempo com nossa Constância.   

Inês suspirou, e depois de pensar que poderia fazer daquele momento um momento de reajustes e não de guerra entre eles, decidiu.

—Inês: Está bem Victoriano, me leve para casa, quero aproveitar também e conversar com nossas filhas mais velhas, de preferência Cassandra, precisarei dela para algo.

Victoriano sorriu se ilusionando com aquela trégua que via e voltou a ligar o carro.


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