Amor Sem Medidas escrita por EllaRuffo


Capítulo 67
Capítulo 67




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Olá, eu acreditava que eu já não podia mais fazer muita coisa com minha escrita, mas com o capítulo anterior ficou mais que claro que posso ainda mexer com a estrutura de quem está me lendo. Eu fico muito feliz com isso, de verdade, não é qualquer pessoa que ao escrever consegue passar o que deseja.Agora vou me empenhar para encerrar os dias ruins por aqui, pois entendo vocês também! Se cuidem e boa semana!

 

 

 

 

 

Inês ofegou. Victoriano a olhava de braços agora cruzados frente ao peito. Respirava tão aceleradamente quanto ela. O silêncio que estavam, se fez apenas alguns segundos, quando Inês voltou a si ao pensar no que era mais importante para ela aquele momento e que não tinha mais em mãos.

Victoriano ainda parado onde estava, visualizou com mais atenção o que sua mulher trazia posto ao corpo. Uma camisa. Uma camisa que não era feminina e tampouco dele. Quando se moveu para confrontá-la mais perto, ela fez o mesmo, mas pronta para sair daquele lugar. Foi quando sentiu uma das mãos de Victoriano sobre seu braço esquerdo.

—Victoriano: Que blusa é essa que está vestindo, Inês?

Ele berrou alto sem larga-la. Seu olhar trocava entre a camisa de azul-claro e o rosto dela. Inês torceu os lábios de lado. Levava os cabelos revoltos, rosto vermelho e olhos chorosos. Seu corpo também doía pelo confronto com Bernarda, mas sentia que ainda tinha energia para lutar pelo que queria. E tinha certeza que faria aquilo sozinha.

Assim então ela berrou de volta.

—Inês: Me solte Victoriano! Já chega! Chega de me tocar! Chega de me pegar como se eu fosse sua propriedade!

Ela puxou o braço com força. Victoriano cego com o que pensava a trouxe para perto, agora segurando por seus dois braços. A pegou firme, e lhe mirando os olhos voltou a gritar.

—Victoriano: Me responda Inês! Essa blusa é de Loreto? Dormiu com ele? Me traiu com ele?

Fora de si Victoriano levou ar ao o peito depois de gritar. Houve um silêncio ensurdecedor entre os dois. O coração de Victoriano batia como um louco. Sentia sua pele formigando e um medo da resposta o matando lentamente.

Inês por sua vez abriu a boca, fechou depois virando o rosto de lado, depois puxou seu corpo. Victoriano deixou ela ir ainda impactado com que passava em sua mente. Depois viu Inês virando o rosto novamente para ele. Ela tinha os olhos de um verde intenso. Não chorava, mas estava vermelha e havia cerrado os dentes, e então sua próxima ação veio de surpresa. Ela havia golpeado Victoriano no rosto.

Victoriano a olhou horrorizado. E então enquanto ele levava a mão onde havia sido esbofeteado, ela chorou. Chorou ferida. Ferida por muitas coisas. Ferida por estar ali trancada com ele, e Bernarda solta em sua própria casa, ferida porque sabia o porquê daquilo, e agora era a esposa infiel aos olhos do homem que devia ouvi-la antes de mais nada.

—Inês: Não ouse mais mencionar que te trai! O que vê é uma blusa que precisei emprestada e não foi de Loreto e muito menos pelo motivo que pensa, Victoriano! Me coloque como a louca desse lugar, mas não como a que mente e trai como você fez comigo!

Ela nervosa começou desabotoar a blusa. Victoriano não deixando de olhá-la, tirou a mão do rosto, e a respondeu nervoso como ela.

—Victoriano: O que quer que eu pense, se some com meu maior inimigo e volta vestindo uma camisa dele! O quer que eu pense Inês!

Inês bufou, tirou a camisa de seu corpo, segurando-a depois e disse aos berros.

—Inês: Não é dele! Já disse! Essa camisa é, é de nosso Fernando!

Victoriano arregalou os olhos ao ouvi-la e respondeu quase sem respirar.

—Victoriano: Quê? Está louca Inês? O que diz é impossível, é, é insano!

Inês se afastou dele e levou a blusa a cama. Agora sentia que lágrimas lhe vinham aos olhos. Suas mãos tremiam e levou à frente do corpo, indo até Victoriano que a olhava chocado. A olhava como se tivesse criado duas cabeças nela. E ela sentia o julgamento em seu olhar, ainda assim, teria que tentar pois sabia que não conseguiria sem ele, chegar na verdade de que seus olhos viram.

—Inês: Não me olhe assim, só me escute, Victoriano. Me escute.

Ela se aproximou devagar chorando. Suas mãos com receio tocaram o peito dele, e ela se esforçou para mirá-lo aos olhos.

—Inês: Eu acho que encontrei nosso filho. Mas preciso de sua ajuda. De sua ajuda, Victoriano para comprovar.

Victoriano tinha o coração em pedaços. Sua máscara fria era apenas por fora. Tomou então as mãos dela, unindo com a deles e disse.

—Victoriano: Por Deus, Inês, não regrida. Não regrida.

Ele beijou as pontas dos dedos dela, agora adquirindo mais a paciência do cuidado que tinha por ela do que a fúria que tinha o tomado momentos antes. Inês chorou e respondeu.

—Inês: Eu não regredi Victoriano. Eu apenas encontrei fotos de nosso filho ainda criança, e quero mostra-las a você.

Ele a olhou nos olhos, parou de beijar as mãos dela. Agora nos olhos dele também tinha lágrimas. Lágrimas querendo deixá-los.

—Victoriano: A única foto que tínhamos dele, perdemos, morenita e eu te prometi voltar a procura-lo e irei fazer. Deixe isso comigo, deixe isso comigo...

Ele a puxou para um abraço. Era consciente mais uma vez que ela não tinha emocional suficiente para ir de frente com as novas buscas, que sua melhora como aparentava não era real, e que estava ali diante dele um novo precipício que se ela se jogasse nele, daquela vez a perderia.

Inês rapidamente saiu do abraço, gritando.

—Inês: Não! Não! Não! Eu não quero abraços! Eu não quero ficar de fora de nada! Me prometeu que me deixaria a par das investigações e agora mais que nunca eu quero saber de tudo, porque quero que investigue Carlos Manuel, Victoriano! É ele, é ele o nosso Fernando!

Ela andou levando as mãos nos cabelos e depois pegou a blusa novamente da cama.

—Inês: Essa blusa é dele! Me queimei e ele me emprestou, fui ao quarto dele e...

Ela terminou de falar quando Victoriano depois de limpar as lágrimas que tomaram seu rosto, rapidamente, gritou com ela entendendo tudo.

—Victoriano: Já basta Inês! Já basta! Eu deveria ter desconfiado que esse rapaz estava envolvido nessa história toda!

Ela bufou gritando-o também.

—Inês: Não grite comigo, Victoriano! Carlos Manuel é Fernando e podemos provar isso!

Victoriano riu mirando-a com raiva.

—Victoriano: Quem te disse isso, hum? Quem meteu isso em sua cabeça, Inês? Foi ele mesmo? Foi Carlos Manuel? Ou foi Loreto!

Ele riu cheio de ironia e deu a costas para ela, enquanto passava as mãos na cabeça e andava.

—Inês: Não foi nenhum dos dois! Não ouviu o que eu disse? Eu achei fotos quais me tiraram quando cheguei! Bernarda aquela maldita as pegou!

Ela olhou as mãos agora vazias. Victoriano a mirou e a respondeu indo até ela.

—Victoriano: Sempre Bernarda! Por que Inês? Hm? O que ela iria querer com essas supostas fotos? Que por sinal se elas existem não provam nada!

Inês arrumou os cabelos e limpou o rosto também, dizendo.

—Inês: Ela me odeia, sempre me odiou e de alguma forma a história de nosso filho a incomoda! E é claro que sei que essas fotos não provam nada, eu só queria que as visse e que juntos pudéssemos fazer algo...

Ela sentou na cama. Levou as mãos aos olhos e respirou cansada. Sentiu depois Victoriano se aproximar, ele se agachou à frente dela. Inês depois sentiu Victoriano levar as mãos abaixo do queixo dela, e dizer.

—Victoriano: Vamos descansar, hum. Vamos esquecer desse dia. Amanhã faremos como o prometido antes disso tudo acontecer. Vamos a uma delegacia e também iremos procurar um novo médico que possa te acompanhar. Uma mulher dessa vez.

Inês o olhou incrédula. Percebeu mais uma vez em suas palavras que sua luta de nada valia para ele. Era anulada mais uma vez e dada como incapacitada. Victoriano não se prontificava nem de propor buscar as fotos, não fazia perguntas, nada, ela apenas ela, tentava falar do que a tinha de coração aos pulos.

Ela então tirou a mão dele do queixo dela. Se levantou fazendo ele fazer o mesmo. Respirou fundo cheia de dor. Precisava do homem que amava, mas precisava que ele a enxergasse como a mulher capaz e dona de sua razão e vontade, mas o que tinha ali a deixava convencida que não teria. Não o teria para aquela luta que batalharia, nem para nenhuma futura porque estava sob eles uma sombra maior que o amor e o desejo que os unia.

Quando dos braços dela lhe tiraram Fernando, haviam também tirado dela toda sua vida de que poderia ter sido mais feliz ao lado do homem que amava e da família que formavam. Agora era o cristal de todos eles ali e sempre seria. Sempre seria então dada como enferma e seria anulada como estava sendo.

Ela então cruzou os braços de costa para Victoriano. Lágrimas não deixavam de cair de seus olhos. Ficou em silêncio o suficiente para assustar Victoriano que disse.

—Victoriano: Inês?

Ela então limpou um lado do rosto, se virou para ele e o mirou de olhos vermelhos.

—Inês: Eu quero o divórcio Victoriano.

Victoriano sentiu o bombear de seu coração duas vezes seguidas, quando disse.

—Victoriano: O quê?

Inês deu um sorriso triste enquanto mais lágrimas desciam dos seus olhos, e o respondeu.

—Inês: Você me ouviu bem. Eu não quero mais estar casada com você. Eu quero o divórcio.

Victoriano ficou em silêncio alguns segundos. Inês cobria seu busto que só tinha um sutiã. Tirou a blusa no calor do momento e agora que se rendia àquela briga em vão, queria se recolher, mas decidida que seguiria sozinha dali adiante.

Victoriano piscou. Sentiu o impacto da decisão tomada no olhar dela. Foi então que ele saiu de onde estava e tomou o rosto dela nas suas mãos, e disse desesperado.

—Victoriano: Por que morenita? Por quê? Não faça isso. Não me peça o divórcio.

A voz dele embargou. Quis beijá-la, mas Inês virou o rosto. Apenas queria ser livre e não ser mais anulada. O amava, mas aquele amor pesava. Pesava em ambos.

—Inês: Já pedi Victoriano. Vamos nos separar e essa será a única decisão minha que você não poderá intervir.

Ela se separou dele enquanto pensava no que ele tinha feito para não terem mais filhos.

—Victoriano: Eu não vou dar esse divórcio.

Ela ouviu então ele dizer com firmeza, pelas costas dela.

Victoriano a olhava sério, tinha levado as mãos ao bolso da calça enquanto a mirava e ela apenas sorriu, e disse.

—Inês: Você não pode escolher não me dar esse divórcio, a não ser que pensa em colocar minha sanidade a prova, o que não duvido que seria que capaz, mas até que faça isso, estarei longe Victoriano porque não poderá me manter aqui obrigada, ou seria cárcere privado.

Victoriano passou a frente dela quando a viu querer passar. E disse nervoso e cheio de pavor.

—Victoriano: Não me coloque a prova Inês. Está com raiva, por isso está falando essas coisas.

Ela o mirou erguendo a cabeça.

— Inês: Estou tomando a decisão mais dolorosa da minha vida, e ainda assim não acredita que eu posso toma-la conscientemente, Victoriano.

Ela fez que ia deixa-lo, ele a segurou por um braço depois o outro pousou em um lado do rosto dela. A olhou nos olhos e manso disse.

—Victoriano: Nos amamos morenita. Desde que te vi enlouqueci para tê-la, então me apaixonei e esse amor vou leva-lo até meu tumulo porque foi assim que jurei diante de um padre. Juramos juntos! E você quer me deixar...

Inês chorou dolorida com o que ouviu, o mirando nos olhos igualmente disse.

—Inês: Eu jurei, mas promessas também são quebradas, Victoriano. E olhe para nós, quer seguir em um casamento assim? Você quer?

Victoriano ficou nervoso agora se entregando ás lagrimas, e a respondeu tomando o rosto dela nas mãos.

—Victoriano: Eu quero seguir onde você esteja Inês! Eu quero seguir onde nosso amor possa estar, e ele tem que estar aqui, em nosso lar, com nossas meninas!

Inês moveu a cabeça em negação quando disse.

—Inês: Nossa vida não pode seguir assim! Nossas filhas também entram nessa história. Me trouxe ao quarto por cima dos ombros como se eu fosse uma louca, eu não quero mais isso, não quero!

Ela se afastou dele, em agonia e revolta. Victoriano de coração aos pulos apenas respondeu.

—Victoriano: Te surpreendemos atacando mais uma vez a viúva de meu pai! O que queria que eu fizesse Inês?

Ela se virou rapidamente para ele, e o apontando, ela disse.

—Inês: Que ficasse do meu lado antes de me ver mais uma vez como o problema de tudo, como o caos da família!

Victoriano retrucou dizendo.

—Victoriano: Eu não te vejo dessa forma, Inês!

Inês riu ironicamente.

—Inês: A não? Não me faça rir Victoriano!

Ela andou com raiva. Foi até o closet. Demorou nele e Victoriano foi até a varanda. Apoiou as mãos na grade de segurança, e depois apenas ouviu a porta do quarto bater. Inês tinha aberto ela e saído. E ele nada queria fazer, nada podia fazer. Inês havia lhe pedido o divórcio e ele não tinha defesa alguma a favor dele para que ela mudasse de ideia.

Inês desceu já vestida com uma blusa. Seus olhos procuravam as fotos que tinha deixado ao chão. Ficou nervosa apenas em ver que elas não estavam mais onde tinham ficado. Emiliano veio comendo um doce em um pote. O rapaz que havia dormido na casa, apenas aparecia ali aquele final de tarde. Tinha perdido todo o espetáculo familiar, mas já estava ciente do que tinha acontecido. Constância o tinha noticiado tudo.

Assim então ele parou no meio da sala, dizendo.

—Emiliano: Madrinha? Como está?

Ele a olhou desconfiado. Inês olhava debaixo dos móveis para ver se encontrava as fotos, quando o ouviu.

—Inês: Estou ótima.

Ela então respondeu, ficando de pé.

Emiliano então procurou ver alguém chegar, mas como não viu preferiu ficar perto da madrinha puxando conversa, quando se jogou no sofá.

—Emiliano: Meus pais estão vindo me buscar. Estou sem carro para ir.

Inês parou, agora ela desconfiada e disse.

—Inês: Você pode ir com algum capataz de seu padrinho, ou simplesmente pegar um carro da fazenda, filho.

Emiliano deu de ombros, como se não soubesse daquilo, mas apenas escondendo que os pais só queriam ir pessoalmente até ali por estarem preocupados com ela.

—Emiliano: É, mais estou querendo que eles venham.

Inês mais nada disse. O deixou ali e subiu as escadas. Ia a procura das filhas. Sabia que onde elas estariam Bernarda também estaria.

Ela então subiu chamando-as. Escutou vozes em um quarto de hóspede. Respirou fundo, e abriu. Viu então Bernarda dormindo e as 3 filhas com ela.

As meninas a olharam. Inês mirou a senhora. E Diana se adiantou dizendo.

—Diana: Mamãe, como está? E o papai, cadê ele?

Inês arqueou uma sobrancelha. Refletiu e pensou que não seria bom que começasse a gritar e fazer com que Bernarda entregasse onde estivesse suas fotos, assim, então ela deu um sorriso fingido e disse.

—Inês: Estou ótima. E já que estão aqui, quero que conversemos, lá embaixo, no escritório. O pai de vocês estará lá.

Ela então saiu do quarto, foi até o dela com Victoriano e notou que ele falava ao telefone. Entrou então devagar ao quarto e conseguiu ouvir o nome de Vicente.

Depois quando Victoriano viu que não estava mais sozinho, encerrou a chamada deixando o telefone na mesinha qual ficava, a olhou e disse.

— Victoriano: Está mais calma? Nossos compadres estão vindo.

Inês desconfiada de sua mansidão disse.

—Inês: Eu sei. Queria avisar que precisamos conversar com nossas filhas. E quero que essa conversa seja agora. Estaremos te esperando no seu escritório.

Victoriano sentiu o coração acelerar quando disse.

—Victoriano: Não entendo que conversa que teremos que ter com elas.

Inês riu sem vontade, quando o respondeu.

—Inês: Você sabe qual conversa que teremos, Victoriano.

Ele foi até ela, e disse.

—Victoriano: Tem que deixar esse dia passar, tem que deixar seus ressentimentos passarem Inês, e depois, depois volte a pensar se quer me deixar.

Inês fez um gesto em negação quando o ouviu, dizendo.

—Inês: Não tenho esse tempo. O que quero fazer não posso contar com você então não farei abaixo desse teto.

Victoriano bufou se alterando.

—Victoriano: Por Deus, Inês! Esse rapaz não é nosso filho!

Ele respirou fundo depois que falou, levou a mão ao rosto vermelho e disse, mais calmo.

—Victoriano: Já disse morenita, essa semana darei o que quer. Vou a delegacia, iniciaríamos novas investigações. Fernando vivo ou morto dessa vez irá aparecer.

Inês arregalou os olhos e disse.

—Inês: Vivo! Ele está vivo! Se não for Carlos Manuel, ainda assim eu sinto que ele está vivo!

Victoriano ficou vermelho.

—Victoriano: Essa sua obsessão que está acabando com nosso casamento Inês! Antes era apenas nosso filho perdido e agora vem esse Carlos Manuel se meter em nossas vidas! Mas se quer assim, assim será! Assim será!

Ele então deixou o quarto, furioso. Saiu deixando ela para trás. Inês suspirou abalada com o final das palavras dele, fechou os olhos e tomou uma decisão.

No escritório. As meninas já esperavam agora apenas pela mãe. Victoriano já estavam com elas. Ele bebia. Tinha servido um copo de conhaque enquanto era interrogado por suas meninas e ficara sabendo que elas tinham dado analgésicos para Bernarda e deixado ela dormir na casa. Ele não se importou por tê-la debaixo do mesmo teto que eles. Na verdade, estava com raiva das provocações de Inês. Estava com raiva de sua decisão, assim o consolava saber que ela também teria raiva por saber que a senhora ainda estava ali.

—Diana: Papai, não vai dizer o que vão falar? A mamãe está demorando demais.

Victoriano que havia ido encher um novo copo, se virou para sua filha mais velha e disse de mau-humor.

—Victoriano: Não. Vou deixar que ela diga o que quer falar, pois eu não tenho nada a falar. Nada!

Ele se sentou por trás de sua mesa. Cassandra estava de frente para ele, Constância no sofá e Diana o olhando em desconfiança. Até que por fim, Inês apareceu, vestida de uma troca de roupa limpa, cabelos arrumados e tinha um batom nos lábios. Um doce rosa que parecia debochar de Victoriano quando os mirou.

—Inês: Desculpem a demora.

Ela encostou a porta atrás de si. Depois suspirou tendo os olhares de todos acima dela, e então ela disse.

—Inês: Eu e o pai de vocês vamos nos divorciar, filhas. Tomamos essa decisão...

Victoriano ficou de pé depois de interromper Inês com um pigarro. E disse, indo se servir de mais bebida.

—Victoriano: Eu não tomei decisão nenhuma. Você tomou Inês, apenas você!

As meninas olharam rapidamente para Inês e então um turbilhão de perguntas aconteceram.

Inês então ficou agoniada quando uma das perguntas eram se Loreto era o pivô da separação anunciada.

—Inês: Iremos nos divorciar porque assim vai ser melhor. Não houve traição de nenhum dos lados, filhas!

Ela então reafirmou e depois trocou olhares com Victoriano que para ela tinha lhe traído, mas de outro modo.

Com aquele assunto, Victoriano apenas pensava como Loreto ficaria feliz com a notícia e como seu maior medo poderia se concretizar. Quando dessa vez visse Inês escolhe-lo.

Constância se manifestou chorosa, quando disse.

—Constância: Onde vão viver? Seguiremos na mesma casa?

Inês e Victoriano se olharam. De repente o medo se fez maior do que já sentia. Inês deixaria a fazenda? Ele deixaria? Ambos viveriam ali? Ele suspirou nervoso quando pensava que a terceira hipótese o favoreceria. Mas se ela escolhesse a primeira, ele não aceitaria. Deixaria o lugar, não importando que era o legado de sua família. Se não tivesse Inês naquelas terras tampouco ele gostaria de morar nelas. Não moraria em um lugar que tinha dado nele o nome mais carinhoso que poderia nomear a mulher que amava e estava certo que amaria por toda vida.

—Inês: Eu deixarei a casa e deixarei essa noite mesmo.

O som da voz de Inês foi que tirou Victoriano de seus devaneios. Ao anunciar sua segunda decisão ele se desesperou, passou pelas filhas sem mais copo na mão, e disse cara a cara com Inês.

—Victoriano: Que maldição de decisão é essa Inês? Você não vai deixar esse lugar, não vai!

Inês empinou o nariz ainda que por dentro se tremia em uma luta interna, á uma voz que a gritava para deixar tudo como estava.

—Inês: Essas terras são suas, nada é meu aqui, portanto quem deve sair daqui é eu Victoriano!

Cassandra ao ouvir os pais discutindo, virou o rosto para esconder os olhos chorosos, Diana se afastou indo até Constância que já chorava no canto do sofá.

—Victoriano: Está falando besteiras Inês, muitas besteiras desde que chegou! Essas terras também são suas! Sempre foi e sempre serão!

Enquanto seguiam discutindo, Constância tapou os ouvidos, e Cassandra conseguiu ver que Emiliano apareceu na porta. Assim o rapaz anunciou que as visitas haviam chegado.

Saíram todos em silêncio do escritório. Vicente já sabia da decisão de Inês, Victoriano o tinha contado na ligação, assim Diana Maria também sabia.

Os dois então olharam os compadres, se cumprimentaram, e se dividiram. Victoriano voltou ao escritório com Vicente, e Diana Maria subiu ao quarto com Inês.

No quarto, Inês surpreendeu Diana Maria quando viu uma mala média pronta ao pé da cama e uma bolsa de mão acima do colchão. Naquela noite, Inês pedia para dormir na casa dela e não ali.

—Inês: Victoriano não acredita em mim, não me deixa tomar decisões, as toma por mim, aceita essa maldita mulher em nossa casa. Ele também mentiu para mim, invalidou minha voz, me atestou como incapaz, me demonstrou que é assim que ele me vê e sempre verá. Eu já não posso mais, Diana Maria. Não posso.

No meio do quarto Inês começou a chorar depois de desabafar. Diana Maria a abraçou.

—Diana Maria: Eu sinto muito e a entendo. Eu não sei se eu teria essa mesma força, Inês.

Inês se afastou. Limpou o rosto banhado em lágrimas e disse.

—Inês: Eu o amo. Eu o amo e não queria ir, mas eu tenho que ir.

Ela voltou a chorar.

Victoriano deixou de beber quando Vicente viu ele tropeçar nos próprios pés. Seu compadre lhe tomou o copo e ficou entre as garrafas de bebidas.

—Victoriano: Ela vai me deixar. Vai ir embora, Vicente. Ela vai jogar assim mais 22 anos no lixo! No lixo!

Ele bateu na mesa depois de falar entre lágrimas. Vicente suspirou, pensava que ficaria igual se fosse ele no lugar de Victoriano. Foi então até o amigo, tocou no ombro dele e disse.

—Vicente: Calma. Eu sei que você pode reverter isso, Victoriano. Você é Victoriano Santos, sei que vai lutar por ela.

Victoriano andou, olhou para o teto e disse.

—Victoriano: Ele não se importa se eu vou lutar ou não, porque ela já desistiu de nós! E meu único erro, meu único erro foi amá-la demais! Amá-la demais!

Ele foi em direção das garrafas de bebidas. Vicente passou à frente delas outra vez, e disse.

—Vicente: Chega de beber, Victoriano!

Victoriano deu meia volta. Foi até a mesa, espalmou as palmas nela e disse.

—Victoriano: E se ela se apaixonar por outro? Se ela se apaixonar por Loreto? Esse é meu castigo por ter deixado a inveja tomar conta de mim quando a conheci. Deixei também que a luxuria falasse mais alto e então me apaixonei por ela!

Vicente foi rápido contestar aquela fala quando disse.

—Vicente: Você era muito jovem. Não se condene, Victoriano. Loreto também era jovem demais, ele amava ninguém, apenas o dinheiro que ele fazia de tudo para ter.

Victoriano se virou para ele, e disse.

—Victoriano: Tem razão, mas apenas em quem era Loreto, porque mesmo se fosse nos dias de hoje, eu voltaria rouba-la dele. Inês não foi feita para ter um homem como ele ao lado dela! Não foi!

Inês tomou um pouco da água que tinha ao lado de sua cama, depois pegou dois comprimidos e os tomou com mais água. Sentia que precisaria deles para dormir aquela noite longe de casa.

Quando então ela estava pronta para deixar o quarto, parou olhou ao redor. Sua mente dando voltas e trazendo imagens de tudo que já viveu ali. Ela então chorou mais uma vez.

Sentiu Diana Maria tocá-la no ombro. Quando então as duas ouviram Victoriano dizer da porta.

—Victoriano: Antes de ir, eu gostaria que conversássemos.

As duas mulheres olharam para ele, em seguida apenas Diana saiu do quarto.

Victoriano olhou para a mala dela. Pequena demais para quem estava indo embora definitivamente. Ele então suspirou se agarrando a um fio de esperança. Levou ar ao peito e disse.

—Victoriano: Não vá Inês. Eu imploro. Não vá morenita.

Inês chorou silenciosamente, viu também Victoriano começar a chorar e seu rosto branco e rosado transparecer lágrimas.

—Inês: Eu tenho que ir, Victoriano.

Victoriano se aproximou mais dela depois dela falar chorosa.

—Victoriano: Não tem que ir não, morenita. Não estou te expulsando de nosso lar nem de meu coração.

Ele a tocou, beijou a testa dela, enquanto ela tinha baixado a cabeça. Depois Inês levantou o olhar, para mirá-lo e disse.

—Inês: Eu também não estou te expulsando de meu coração Victoriano, eu só preciso ir antes que todo esse amor se torne em ódio em ambos os lados.

Ele limpou o rosto dela, arrumou os cabelos que lhe caíram nos olhos e disse choroso.

—Victoriano: Eu nunca seria capaz de odiá-la, Inês. Você fez tanto por mim, meu amor.

Inês apertou os olhos, chorando e o respondeu sem mirá-lo.

—Inês: Eu não te fiz nada, Victoriano.

Victoriano tomou o rosto dela com as mãos e a respondeu.

—Victoriano: Fez. Me deu tudo e me ensinou também. Me deu uma família, me deu meu filho tão desejado, pondo seu bem-estar em risco, me deu minhas filhas lindas, você me deu um verdadeiro lar. E me ensinou, me ensinou amar, me ensinou o que é resiliência e a não pensar só em mim. Eu era apenas um rapaz egocêntrico quando te conheci, morenita. Você não pode me abandonar assim.

Inês ficou em silêncio, quando ele tomou devagar os lábios dela. A beijou. A beijou lentamente. Os braços dele desceram e apertaram entre seu corpo com força e desespero. Era um beijo de rostos molhados, corações apertados e angustiados. E ele assim se encerrou.

Respiraram de testas coladas, Victoriano alisava Inês nos braços e ela então levou ar ao peito. Tomava coragem para seguir em frente em sua decisão. E então passou para o lado se separando dele, pegando a mala de rodinha e puxando-a.

—Inês: Sabe que precisamos disso, Victoriano.

Ela então disse se distanciando dele e indo até a porta.

Victoriano então deu um passo quando disse.

—Victoriano: E se você estiver grávida? O que vai fazer?

Inês parou, e sem olhá-lo ela disse.

—Inês: Eu não estou. Não é assim que funciona, Victoriano.

Victoriano levou as mãos aos bolsos da calça.

—Victoriano: Não vou desistir de nosso amor como vejo que está fazendo.

Ela o olhou por cima do ombro, nada mais disse e saiu do quarto.

Inês desceu ao lado de Diana Maria, quando chegaram até a sala, apenas Cassandra e Diana estavam presentes. Inês suspirou triste sem ver sua terceira menina, e vendo também a tristeza delas em seus olhares. Depois ambas foram com elas até fora da casa. O carro de Vicente esperava as duas. Inês tinha planos de ao menos passar aquela noite na casa de seus compadres. Depois partiria para um hotel e pensaria onde gostaria de viver. Uma casinha, ou um apartamento pequeno, ela não se importava muito, apesar de ser dona de patrimônios graças à Victoriano por presenteá-la com ações da empresa e com alguns imóveis em seu nome.

Ela parou então no meio do caminho. Victoriano estava ali na varanda do quarto deles. Estava olhando todos ali embaixo, em especial ela. Os olhares então se cruzaram, e só quebraram a ligação quando Cassandra apareceu com algo na mão. Inês olhou e viu que eram as duas fotos que haviam ficado ao chão.

Cassandra então sorrindo ainda que triste, disse.

—Cassandra: Isso te pertence. Não sei quem é mãe, mas tenho a absoluta certeza que é seu.

Inês tocou a boca com uma mão, chorou arrepiada, e depois levou a mão no rosto dela.

—Inês: Meu amor. Se cuide, querida e quando eu estiver em um lugar só meu, quero que me visite. Eu te amo filha.

Diana apareceu ao lado, e as três se abraçaram e logo depois, Vicente na companhia de Emiliano e as duas mulheres comadres, deixou a fazenda. 

 


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