Amor Sem Medidas escrita por EllaRuffo


Capítulo 66
Capítulo 66




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Olá meninas, eu demorei muito para postar esse capítulo por vários fatores e em especial um deles foi que passei por um bloqueio criativo :,( agora aproveitei que ele me largou em uma madrugada que não preciso acordar cedo e escrevi! Bjs e até o próximo...


Inês tinha plena consciência que naquele momento Victoriano já estaria insano procurando por ela. Insano por que ela sabia que seus homens já o teriam informado com quem ela havia deixado à fazenda tão cedo.

Ela suspirou sabendo também que em seu regresso teria que lidar com às consequências de seus atos e não apenas àquele qual se encontrava.

Loreto estacionou o carro diante de um prédio residencial, no mesmo momento que Inês discretamente levava à mão ao ventre. Claro que não teria um bebê ali, mas e se depois sim? E se por ter agido tão impulsivamente levada pelos ressentimentos e a raiva que sentia, realmente engravidasse?

Quase que Inês gemeu aflita, mas recolheu sua angústia ao ver ao lado de fora do carro, Loreto escancarando a porta de seu lado para que ela descesse. Nem tinha até então se dado conta que ele descera do carro.

—Loreto: Irá gostar de passar algumas horas com nosso querido Carlos Manuel, Inês.

Loreto disse oferecendo-a um largo sorriso e uma mão para que ela a tomasse. Inês a pegou, saltando do carro no segundo seguinte, e olhou então mais atenta o prédio atrás de Loreto.

Havia gostado da ideia de estar ali gostou mais, do que pensar em sua volta urgente e precisa para casa. No final das contas estava procurando um escape de tudo que vivia, Loreto dava esse escape que era mais do que bem-vindo.

Carlos Manuel se surpreendeu ao saber daquela visita repentina de Loreto ainda mais acompanhado por Inês. Não sabia que eram tão íntimos assim, mesmo que já conhecia o passado que os uniu uma vez. O que explicava o desprezo que Victoriano tinha por Alejandro e seu namoro com sua filha mais velha.

Carlos Manuel havia feito café e se alegrou que um dia antes, sua diarista tivesse passado por seu apartamento feito uma limpeza e deliciosas sobremesas deixando-as prontas na geladeira de um jovem solteiro que vivia só. Assim, teria o que servir às visitas sem antes avisadas.

Não demorou muito para a campainha tocar. Sabendo quem era, Carlos Manuel foi abrir a porta. Loreto então apareceu primeiro e Inês logo atrás.

—Carlos Manuel: Senhor Loreto. Bom dia.

Ele cumprimentou o homem que ele respeitava quase como um pai e também nutria mais que um respeito, por esse homem ter sido um amigo íntimo de seu pai adotivo. Assim sorriram e bateram as mãos, depois se uniram em um rápido abraço que foi desfeito com leves palmadas em ambos ombros.

Depois que se separaram, Loreto trouxe Inês mais para à vista de seu anfitrião, puxando-a pela cintura. Sua ação foi tão rápida que quando Inês sentiu suas mãos em volta de seu corpo, já estava à frente de Carlos Manuel e Loreto tinha deixado de tocá-la. E então ela o ouviu dizer.

—Loreto: Inês precisa de distração, e eu a trouxe aqui.

Carlos Manuel olhou Inês nos olhos. Lembrou logo de como foi a última vez que se viram. Lembrou da noite passada e em como a deixou na companhia de um marido fora de si, e pensou que algo depois que ele havia deixado a festa poderia ter passado entre eles. Algo que trouxesse a senhora necessidade de estar ali, assim como Loreto dizia.

Ele cruzou agora o olhar com Loreto e depois voltou a olhar Inês e disse.

—Carlos Manuel: Seja bem-vinda, senhora Inês. Espero que se sinta à vontade em nossa companhia.

Ele pegou na mão dela e logo depois se beijaram no rosto. Carlos Manuel então deu espaço agora para suas visitas entrarem.

E Inês por fim falou.

—Inês: Desculpe filho por virmos sem avisar. Quando Loreto propôs que viéssemos, eu não pude resistir.

Ela deu um sorriso curto. Carlos Manuel retribuiu, já andando com eles em direção a sala, dizendo.

—Carlos Manuel: É sempre bom vê-la senhora. Fico feliz que estejam aqui. Vamos nos sentar.

Ele estendeu a mão para o canto que se via a sala de estar do apartamento.

Os móveis eram tudo de cores neutras, as paredes também e uma bonita mesinha de vidro ao centro da sala ficava entre dois sofás, e uma poltrona e ao centro da mesinha, se via um vaso com duas flores amarelas destacando-se no ambiente.

Inês se sentou primeiro, Loreto logo tomou o assento ao lado dela e Carlos Manuel sentou à frente dos dois no segundo sofá livre.

Inês uniu as mãos uma na outra entrelaçando os dedos nervosamente. Olhou Carlos Manuel cruzar uma perna passando a cima da outra e depois levar a mão no queixo, ficando assim a observá-la. Sua posição deu mais idade para ele e seu olhar uma expressão já conhecida. O que trouxe em sua mente a imagem de Victoriano.

Ela sacudiu a cabeça. Pensar nele a fazia recordar como tinha deixado a casa que viviam. E não era como se tivesse abandonado seu lar, nem suas filhas muito menos seu casamento, mas sentia um estranho sentimento de afastamento deles.

—Carlos Manuel: Como a senhora está? Espero que não tenha tido muitos problemas depois que deixamos a festa. Falo sobre Alejandro e eu.

A voz de Carlos Manuel quebrou o silêncio entre os três. Loreto se moveu inquieto ao lembrar de Alejandro e seu nariz vermelho, quanto Inês suspirou e depois disse.

— Inês: Eu estou bem. Bom, nada que não podemos resolver sem uma conversa a qual sugeri á Loreto.

Ela olhou Loreto que olhou Carlos Manuel. Ele não concordava com o fato de seu filho carregar uma marca feita por seu rival e inimigo da vida e até dos negócios, e olhar para o primogênito dele e não ver nada que pudesse igualar ao feito em seu filho. Sem que pudesse ser visto, Loreto fechou uma de suas mãos formando um punho.

Na fazenda

A manhã tenebrosa começava a fazer-se tarde. Victoriano havia cansado de esperar por Inês e sua volta não clara e incerta, por isso decidia que deixaria a casa e dirigiria pela cidade a procura de sua mulher e de Loreto. Estava pronto para tudo quando bateu a porta de seu escritório com chaves do carro no bolso e carteira, e quando deu alguns passos com a cara de quem seguia em um dia de cão, visualizou Bernarda parada com sua bengala ao lado e que a apontou para ele assim que o viu.

—Bernarda: Aonde pensa que vai, Victoriano Santos? Pode entrar novamente nesse escritório que iremos conversar!

Victoriano riu de lado. Não precisou mais de um neurônio para entender que a viúva de seu pai estava ali por que suas filhas a tinham buscado. Mas não precisava dela, não precisava de ninguém em seu caminho. Apenas acabar com o que estava acontecendo. Acabar com qualquer que fosse o plano de Loreto que claramente o usava naquele momento que seu casamento com Inês estava fragilizado, e até acabar com o plano dela de sua inconsequente vingança que o tinha fora de si, e ainda mais, quando pensava que dali a nove meses poderiam colher frutos de suas ações.

Assim então ele bufou, não se importando com a senhora que apontava para ele a bengala como se fosse uma arma, e disse nervoso.

—Victoriano: Saia da minha frente, Bernarda! Não sei o que minhas filhas pensaram ao traze-la, mas foi em vão! Nada pode ajudar aqui!

Ele bufou mais uma vez depois de falar. Bernarda então se apoiou novamente em sua bengala e caminhou até ele de passos firmes e determinada, dizendo.

— Bernarda: Sei que esteve bebendo e não está pensando com a razão. Já disse que vamos conversar, não irá fazer o que Inês fez. Assim teremos dois inconsequentes nesta casa!

Victoriano cruzou os braços, depois levou uma mão na cabeça, dizendo.

—Victoriano: Não sabe o que ela fez nem o por quê! Além do mais, já existe gente demais entre nosso dilema, Bernarda. Eu e ela nos resolveremos assim que eu encontrar onde inferno Loreto a meteu!

Agora quem riu foi Bernarda. Estava certa que aquele cenário de caos que via que Inês havia criado sozinha, favorecia demais seus planos. Assim então ela disse.

—Bernarda: Aí que se engana meu querido, posso imaginar o que aconteceu depois de suas filhas me atualizarem, além do mais, sei o que fez quando inventou sua recente viagem. Me confidenciou, Victoriano a verdade dela. Inês descobriu, não foi?

Houve um silêncio entre eles. Victoriano então respirou fundo e Bernarda apenas disse.

—Bernarda: Foi o que eu pensei. Agora entre, precisamos conversar e alertar Santiago o médico dela, para que fique atento. A pobre Inês precisará de nossa ajuda para aceitar essa sua decisão!

Victoriano seguiu sem fala quando seu coração se apertou. Quando ouviu Diana Maria o culpa-lo de testemunhar Inês fora de si, respondeu certo que lidaria com as consequências de sua decisão, mas já não sabia se ao certo saberia mesmo lidar. Ver Inês em crises novamente não era o que ele pretendia, muito menos ter que recorrer ao assediador covarde de Santiago para cuidá-la. Ele não! Ele nunca mais chegaria tão perto de sua Inês!

Os dois entraram juntos no escritório. Bernarda bateu a porta atrás de si enquanto Victoriano foi em direção às bebidas. Se ouviu batidas das garrafas e o copo usado para o novo drink que ele beberia, e ao som dele, Victoriano disse de tom rude.

—Victoriano: Seja o que for que aconteça na volta de Inês, Santiago não pisa mais nesta casa nem toca nela, Bernarda. Quero que isso fique claro de uma vez!

Ele se virou de rosto vermelho e copo na mão. A culpa o corroía tão intensa quanto o ciúme e o ódio que sentia desde que abriu os olhos naquela manhã.

Bernarda bufou ao ouvi-lo, mas firme o respondeu logo depois.

—Bernarda: Devemos ser sensatos, Victoriano. Se ama Inês como diz, deve se preparar para o que virá e precisaremos de Santiago! Não há outro médico que lidará tão bem com essa situação quanto ele!

Victoriano caminhou, bateu na mesa com o copo já vazio e disse.

—Victoriano: Se Inês de fato precisar de ajuda, eu mesmo procurarei ela, Bernarda. Não insista. Além do mais não estou tão certo de sua recaída. Não com o que ela fez antes de deixar a casa essa manhã!

Ele bufou depois de falar. Seu olhar fixou em um ponto no escritório, levando-o à imagens passadas pela madrugada. Inês estava sobre ele sabendo muito bem o que fazia e com qual intenção. Ele suspirou dividido entre uma raiva e o desejo de lembrar de sua ousadia e seu corpo domando-o tão facilmente abaixo do seu.

Como poderia depois de mais de vinte anos de casamento ela seduzi-lo a ponto de faze-lo esquecer de seus propósitos? O álcool nada tinha a ver com sua vulnerabilidade. Não. Inês tinha. Victoriano sabia que bastava ela perto para deixa-lo rendido, perdido, seja de desejo ou de desespero.

Inês deixou os homens na sala, quando pediu o telefone de Carlos Manuel para fazer uma ligação.

O telefone de linha fixa estava em sua mão, e Inês discada à caminho da varanda do apartamento em busca de privacidade um número que sabia de cor.

Dois toques foram suficientes para ela ouvir a voz de Constância no outro lado da linha.

—Constância: Mamãe onde está? Papai está louco a sua procura!

Depois de ouvir breve a voz da mãe, Constância falou, e logo atrás dela juntou suas irmãs mais velhas falando juntas a procura da resposta da mesma pergunta. Inês pôde ouvir o mesmo burburinho entre as três.

—Inês: Filha, eu estou, estou...

O telefone foi arrancado da mão da mais nova, e Diana em posse dele, disse.

—Diana: Por Deus Mamãe, diga onde está que iremos buscá-la! Papai sabe que saiu com o pai de Alejandro.

Inês empinou o nariz com a frase final. Sentiu um gostinho de glória que vinha em sua boca por saber que Victoriano de alguma forma estava sentido sua ida com Loreto. Ela havia se sentido inferior, diante da condição que ele como marido a colocara, agora ele poderia sentir apenas a raiva que ela sabia que lhe estava causando.

Assim, de peito cheio de coragem, ela respondeu Diana.

—Inês: Eu logo estarei em casa querida. Liguei apenas para que não estejam preocupadas.

Diana bufou quando agora o telefone foi tirado da mão dela por Cassandra.

—Cassandra: Mamãe por favor, volte logo para casa. O papai está incontrolável.

Inês suspirou quando disse.

—Inês: Estou visitando uma pessoa querida, mas logo estarei com vocês e eu e seu pai resolveremos nossas pendências, filha, querida.

Cassandra suspirou quando disse.

—Cassandra: O que ele fez para que fizesse isso, mamãe? A senhora está bem?

Inês deu um curto sorriso. Cassandra apenas ela lhe perguntava aquilo. Ela então disse.

—Inês: Eu estou bem querida. Apenas precisando estar longe algumas horas, não se preocupe por nada mais. Diga isso às suas irmãs também...

Inês não teve resposta quando novamente o telefone foi tirado da mão com que ela falava. Agora quem havia tomado rudemente o aparelho havia sido Victoriano que foi chamado por Constância.

Assim então ele apenas disse de voz grossa e rosto vermelho.

—Victoriano: Já chega dessa brincadeira Inês! Diga logo onde está que irei buscá-la! E diga agora mesmo!

Inês levou ar ao peito. Sentiu logo a adrenalina tomar seu corpo, palavras lhe vindo à garganta e sua pele arrepiar-se.  Não estava mais triste como esteve na noite que havia passado qual Victoriano lhe havia confessado suas mentiras. Assim então ela tomada pela raiva que a levou até ali, o respondeu.

—Inês: Não direi, e para você bastará saber que estou bem e voltarei para casa quando eu quiser, Victoriano!

Ele riu . Riu sem vontade e olhou com raiva suas meninas que demoraram tanto para informarem que era Inês ao telefone. Depois saiu. Andou de passos largos de volta para o escritório cruzando com Bernarda e em seguida expulsando ela do ambiente. Ele então bateu a porta atrás de  si e bradou.

—Victoriano: Sei o que está fazendo, sei o que fez essa noite Inês! Sei que está levada pelos  ressentimentos mas de nada vai adiantar se seguir nisso! Então me diga de uma vez onde você está e onde esse infeliz de Loreto a levou!

Ele bufou depois de falar. Inês se colocou firme apesar de testemunhar mesmo apenas o ouvindo que deixara Victoriano mais furioso do que imaginava.  

—Inês: Sabe o que fez para que eu fizesse isso! Mentiu para mim e me deu um laudo de louca quando fez uma maldita cirurgia sem me consultar antes!

Victoriano riu mais vez. Levou a mão aos cabelos acinzentados e a respondeu.

—Victoriano: O que fez pode custar sua sanidade, por que não entende isso Inês? Deixou que eu, que eu...

Ele não conseguiu falar, levou a mão em agonia nos botões que havia na gola de sua camisa, e os abriu. Inês tocou os cabelos enquanto um riso irônico brincava em seu lábio. Onde estava, uma brisa batia em seu corpo e rosto. Carlos Manuel morava no 6° andar do prédio. Alto o suficiente para ela ter a visão da vizinhança toda.

Enquanto o vento arrebatava seus cabelos, ela o respondeu em frustração.

—Inês: Está mais preocupado com isso do que onde estou e como estou Victoriano... um filho te amedronta mais que saber que ainda sigo ferida pelo que me fez e que por isso busquei o único escape que tive a minha disposição!

Ela aumentou a voz ao final. Victoriano então respondeu rápido e no mesmo tom.

—Victoriano:  Buscou consolo nos braços de meu inimigo Inês? É isso que quer dizer? E não tire palavras de minha boca. Eu me preocupo contigo mais do que imagina e mais do que possa entender, mulher!

Ele esmurrou algo. E ela o respondeu.

—Inês: Sim! Sim busquei, mas não esse consolo que diz! Estou na companhia de Loreto que está me fazendo bem  e não só dele para sua informação!

Victoriano parou diante de sua estante de livros, e intrigado a questionou.

—Victoriano: Quem mais está com você Inês? Quem mais?!

Ela abriu a boca, mas logo fechou, e sem anunciar ela desligou a ligação.

Ficou pensativa com as escolhas que estava fazendo, quando ainda de telefone na mão, ela ouviu um pigarrear atrás de si.

Inês virou para trás. Da porta da varanda ela viu Carlos Manuel a olhando. O rapaz a ouviu gritar mais de uma vez, quando não pôde mais esperar e foi verificar o que acontecia.

—Carlos Manuel: Está tudo bem? Loreto teve que sair. Ele me disse para ficarmos a espera dele.

Inês tocou a bochecha onde havia descido uma lágrima solitária. Pensou então no abuso que estava submetendo àqueles homens que um já tinha ido cumprir algum dever que não era com ela nem para cumprir seus caprichos revoltos.

Assim então ela disse, decidida.

— Inês: Eu preciso ir. Se não se importar usarei seu telefone novamente para que me busquem. Já não quero enche-los com meus problemas.

Carlos Manuel estendeu uma mão em direção ao telefone, e disse.

—Carlos Manuel: Vou fazer um chá para nós, e depois eu mesmo faço essa ligação ou te levo caso Loreto não apareça antes, hum.

Inês olhou a mão dele. Carlos Manuel notou a reluta em seu olhar, até que ela não durou muito e ela então lhe entregou o aparelho, e juntos saíram dali.

Não demorou muito para que os dois estivessem na cozinha. Inês sentou na cadeira do balcão. Observou a decoração moderna mas ao mesmo tempo simples, algo também solitário demais. Pouca cor alegre, pouca coisa que indicava um lar. Carlos Manuel era mesmo sozinho. Ela observou que nada tinha de foto por ali, e não lembrava que tinha visto alguma na sala. Nenhuma foto de sua família adotiva, nem de sua infância, adolescência, o que fosse, tinha nada que pudesse mostrar mais de sua intimidade. Apenas sabia mais dele por poder lembrar da conversa que tiveram.

—Carlos Manuel:  O que a senhora está pensando?

A voz de Carlos Manuel tirou Inês de seus devaneios.  Ele já servia duas caneca com água quente, depois botou um sache em cada.

E Inês então foi sincera ao falar.

—Inês: Na sua história.  Me entristece saber que a vida te tirou também a segunda família que poderia ter.

Carlos Manuel se sentou à frente dela, mexeu na sua caneca e sache misturando-o na água e disse.

—Carlos Manuel: Fui feliz enquanto os tive ao meu lado, acredite senhora.

Inês olhou logo para um dos pulsos dele. Não chamava aquilo de felicidade. Carlos Manuel também olhou quando disse.

—Carlos Manuel: Isso foi marcas de quem eu fui antes deles e que refletiram em minha pior fase, mas superei senhora. Hoje posso oferecer ajuda à quem já passou o passa pelo mesmo. Nada dessa vida parece ser de fato, por caso.

Inês deu um sorriso de lado quando disse.

—Inês: Não vejo sentido nessa frase quando penso no  porquê a vida permitiria que me tirassem um filho e, com isso, me deixasse à beira da loucura ferindo minhas filhas  e traumatizando meu marido que teme até hoje que eu me perca nela outra vez.

Ela depois bebeu de seu chá. Depois Carlos Manuel a questionou.

—Carlos Manuel: Há quantos anos que a senhora é paciente de Santiago?

Inês suspirou agora deixando a caneca de lado.

—Inês: Há muitos anos. Mas como percebeu, não sou mais, já que não me vê mais na clínica.

 Carlos Manuel assentiu calado. De repente o som do celular dele tocou alto.  Ele então se levantou para procurar o aparelho pelo apartamento. Inês então ficou sozinha e seu dedo indicador começou a passar pela borda da caneca.

Até que de repente ela acabou derrubando o liquido nela. Ainda quente Inês saltou da cadeira. Parte do líquido foi ao chão outra nela, o que a fez manchar sua blusa e arder sua pele por baixo dela.

Rápido Inês pegou um guardanapo que viu Carlos Manuel usa-lo ao manusear o bule.

Começou a se limpar com pressa quando Carlos Manuel apareceu e viu o que acontecia.

A blusa dela molhada bem na barriga fez ele olhar preocupado e dizer.

—Carlos Manuel: Está tudo bem?

Inês assentiu rapidamente. Estava constrangida. Quando Carlos Manuel percebeu, lhe ofereceu privacidade em seu quarto e uma blusa limpa junto com uma pomada. Levou apenas alguns minutos para ele deixar tudo posto a disposição dela.  

Agora Inês invadia a privacidade do quarto do rapaz onde o ar era outro. Era mais intimo mais ele e mais dele.

Na cama havia uma blusa masculina branca que Inês a colocou depois de colocar um pouco de pomada em frente ao seu ventre. Ajeitando a blusa não muito maior que ela como ficaria ela usando uma de Victoriano, ela abotoava e terminava de enfiá-la dentro da calça, quando seus olhos curiosos não deixava de olhar uma mesinha com quadros de  fotos.

Andando em seguida até a mesa, ela parou diante dela. Olhou para trás antes de escolher o que tomar ali. Tinha um computador desligado, post-its espalhados com anotações e dois quadros. Ela pegou um. Viu duas pessoas. Um homem e um mulher. Encarando-os ela deduziu que seria os pais adotivos de Carlos Manuel. Não tinha semelhança alguma com eles. Ambos tinham olhos escuros cabelos também, mas também não significava tanto quando ela havia gerado filhas loiras. Ela sorriu sabendo que não só tinha gerado as filhas desse modo.

Deixando o quadro número 1 de lado, pegou o outro. Tirou da mesa e levou mais perto de sua visão. Agora na foto existia 3 pessoas. Os mesmos adultos da primeira foto e ele. Sim Carlos Manuel ainda criança. Inês andou devagar até a cama de casal.

Seus olhos visualizava a criança de aparente 10 anos. O menino branco de olhos verdes e cabelos de um loiro, lhe lembrava outra semelhante foto. Mas não. A foto que a fazia lembrar não pertencia ao rapaz que estava há alguns metros distante dela.

Inês tocou no rosto do menino. Ele sorria e o coração dela acelerava.

Houve batidas na porta o que fez Inês se assustar e derrubar o quadro ao chão.

—Carlos Manuel: Tudo bem aí dentro, senhora Inês?

Ela então viu ao chão o vidro do quadro quebrado e a foto quase saindo dele.

Ela então se desesperou enquanto gritava que estava tudo bem e usaria o banheiro que seus olhos visualizaram na parede diante dela.

Depois começou juntar os cacos do chão.  Se furou deixando o sangue dela pingar entre eles. Inês então levou o dedo indicador à boca, depois pegou a foto e o quadro chutando os cacos agora com a ponta da bota que usava para baixo da cama.

Não tinha tempo para raciocinar direito quando resolveu que sairia daquele quarto não só com aquela foto, mas com algo mais que pudesse ser comparado quando estivesse longe dali e podendo respirar melhor e pensar no que seus olhos viram.

Assim rumou para escrivaninha de Carlos Manuel. Com pressa, seus olhos buscaram por álbuns de fotos.

Sentia que àquela chance que tinha era de uma em um milhão.  Sentia ainda mais que se já não estava enlouquecendo, ficaria, pois tinha visto o rosto de seu Fernando criança naquela fotografia que carregava em suas mãos trêmulas.  

Carlos Manuel do outro lado da porta olhou seu relógio de pulso mais uma vez. Se preocupava em saber que Inês já levava 25 minutos em seu quarto desde que a havia chamado.

A campainha tocou e ele correu para abrir.

Loreto entrou com pressa dizendo.

—Loreto: Cadê ela?

Carlos Manuel agoniado disse.

—Carlos Manuel: No meu quarto. Eu não quis invadir com ela nele... Ela me deixa nervoso e eu não entendo por quê!

Carlos Manuel passou a mão na cabeça. Enquanto seguia o caminho que havia escolhido, não temia enfrentar pessoas que se tornariam seus pacientes ou frutos de seus análises acadêmicos, mas com Inês sentia que pisava em ovos, que um passo em falso poderia feri-lá, sentia então inseguro ainda que desejasse protege-la e não o contrário. Não temia ela. Começava a temer o que ela poderia causa-lo.

Com isso ligou para Loreto se apressar onde fosse que ele havia ido. E ali estava o homem, depois de estar com Alejandro.

Loreto não pensou mais quando o ouviu e seguiu onde conhecia o caminho.

Quando foi abrir a porta. Inês abriu no mesmo tempo. Seu rosto tinha lágrimas por todo ele, e quando ela viu Loreto, o abraçou implorando.

—Inês: Me leva embora Loreto. Por Deus, me tira daqui!

Não demorou muito para que Loreto testemunhasse pela primeira vez vestígios do que ele e Bernarda haviam causado nela. Assim ele fez o que ela pediu.

Minutos depois ele prendia ela no cinto do carro, e passou outro lado para dirigi-lo.

Inês então arrancou de dentro da camisa duas fotos que tinha em sua posse. Havia conseguido outra de Carlos Manuel adolescente. Buscou com agonia uma que ele fosse ainda menor ainda mais menor do que a foto que ela também tinha em posse mas com os pais adotivos dele, mas não havia encontrado. Mas por hora aquelas bastaram para lhe abalar o emocional, mexer com toda sua estrutura e a fazer decidir que investigaria a vida daquele jovem. Faria essa investigação junto com as buscas que reiniciaram para encontrar Fernando. E então a semelhança de ambos e a que seu coração dizia seria revelada se era real ou apenas uma ilusão.

Quando Loreto viu o que ela tinha em mãos, ele berrou enquanto já dirigia entrando no meio do trânsito.

—Loreto: O que é isso Inês? O que è isso que tem em mãos?

Inês abraçou as fotos para protegê-las de todo mal e apenas disse, querendo apenas compartilhar suas suspeitas e decisões com uma só pessoa.

—Inês: Só dirija. Por favor, Loreto! Eu preciso estar com meu marido!

Loreto desejou jogar o carro num precipício, onde mataria a ambos, e então Victoriano não veria mais Inês e ele não sofreria mais por não ser nunca a primeira escolha dela pois morreriam juntos. Um final épico para um amor não correspondido.

Ele então acelerou o carro e a gritou.

—Loreto: Pegou fotos de Carlos Manuel! Por que Inês? Não deveria fazer isso!

Ele olhou de lado voltando rápido olhar a direção. Inês não olhava para ele. Seus cabelos cobriam boa parte de seu rosto  e nada mais importava para ela, a não ser o que tinha em mãos e estar novamente em casa e diante de Victoriano.

Como era a vida quando via que ainda naquela manhã o que mais queria era estar longe de casa e longe de seu marido mentiroso. Agora seu coração buscava ansioso por ele.

Loreto apertou o volante e dirigiu muito rápido. Na sua ausência se conectou com Bernarda, a colocou a parte de que Inês estava com ele e soube aquele momento que não parecia tão errado ao vê-la segurando em suas mãos  verdade, que o que Bernarda sempre dizia tinha que ocorrer. Teriam que intervir para que a verdade não viesse à tona.

Se sentiu um imbecil quando em frente à fazenda Inês desceu do carro e não olhou para trás quando passou quase correndo pelo portão.

Ainda em seu carro Loreto então escreveu uma mensagem.

Bernarda se prontificou em seguida de andar o mais rápido possível para receber Inês.

Ela apressou-se a passar pela porta, quando ao abrir Inês entrou logo.

Quando as duas se viram pararam uma olhando para outra. Inês ainda que em abalo, visíveis lágrimas e rosto vermelho, levantou ele apertando entre o peito o que trazia nas mãos escondendo seus tesouros de sua inimiga de morte.

—Inês : O que faz aqui? O que faz em minha casa!

Ela então a berrou. Bernarda sabendo que Loreto em mensagens exigiu que tirasse dela o que ela tinha em mãos, berrou de volta.

—Bernarda: O que tem aí? O que esconde sua desgraçada!

Bernarda rapidamente tentou pegar, arriscando tudo, arriscando a ser pega temendo apenas um risco maior: o risco da verdade.

Inês se sentindo ameaçada, segurou as fotos com uma mão apenas e a outra esbofeteou a mulher mais velha.

—Inês: Você não vai me tirar também essas fotos, não vai Bernarda!

Bernarda arregalou os olhos quando ouviu o que era ali nas mãos de Inês. Quando então deu por si, Inês corria em direção às escadas.

Ela então correu atrás esquecendo seu apoio para andar. Alcançou então Inês quando a puxou por seus cabelos soltos. Inês que voltou dois degraus para trás se virou nervosa e dolorida onde Bernarda tocara. Seu rosto então se transformou de desesperada para furiosa, quando se voltou para senhora e então a agarrou nos cabelos também. As duas em segundos chegaram ao chão, agarradas e foi quando ouviram gritos.

Victoriano que havia sido forçado a se alimentar com a presença das filhas, apareceu junto delas quando começaram ouvir a gritaria da briga que agora testemunhavam.

As mãos de Inês golpeavam os lados do corpo de Bernarda e quando mais uma vez uma ia lhe acertar a cara, fortes braços a tomaram pela cintura e ela foi tirada de cima dela.

Ela outra vez era pega em cima da viúva de seu falecido sogro.

Bernarda se curvou em posição fetal no chão enquanto gemia de dor . Sentia queimação no rosto e braços onde tapas e unhadas de Inês lhe acertaram .

Inês sentia sangue na boca, resultado de uma cotovelada que havia levado enquanto sua nuca ainda ardia pelo puxão de cabelo que havia levado. Mas nada se comparava ao desespero agora que voltava a sentir quando notou que não carregava mais as fotos que antes tinha nas mãos, e ainda estava presa o que lhe causava terror. Estava presa por Victoriano que a agarrava ofegante pela cintura.  O que fez ela rosnar e se sacudir para ser solta.

—Victoriano: Já Basta! Já basta Inês!

Victoriano então gritou com ela e ela tentou olha-lo. Se sacudiu mais uma vez, mas ele não fez menção de solta-la apenas a pegou mais firme.

E ela então gritou.

—Inês: Me solte! Me solte Victoriano!

Ela visualizou duas de suas filhas levantando Bernarda enquanto uma tinha os olhos arregalados e chorosos. Eram olhos que Inês já conheciam.

Constância se abraçou e se afastou querendo ficar longe de toda aquela bagunça. Nem havia dado 24h da noite que havia sido tão feliz e a protagonista de algo, e então testemunhava sua mãe em crise. Porque era tal cena que revia mais uma vez.  

Victoriano que não soltou Inês começou arrasta-la, enquanto dizia.

—Victoriano: Cuidem de Bernarda, que eu cuidarei da mãe de vocês! E já sabem se o que fazer se eu precisar! Já sabem!

Inês entendeu o que poderia passar em seguida. Ela então tocou nos braços de Victoriano . Quis ser solta, então tentou bater nele, unha-lo mas tudo em vão. Foi então que viu as fotos jogadas ao piso e ignoradas por todos . Assim então ela disse.

—Inês: Minhas fotos! Minhas fotos Victoriano! Me solte! Me solte!

Ela se revoltou mais. E de repente seus pés foram tirado do chão. Victoriano a jogou por cima dos ombros, começou então sob protestos dela subir às escadas . Inês berrava, chorava e o agredia até se ver no andar mais alto da casa e em seguida sendo largada no meio do quarto que dormiam.

Victoriano fechou a porta com chave. Ele estava vermelho, cansado pelo trajeto, nervoso, ofegante e aflito. Olhou Inês e o que seus olhos viam refletia nele sentimentos de culpa, revolta, angústia e impotência.

Voltavam para um ciclo vicioso. Mas aquilo não era o de menos. Era apenas mais uma coisa que lidariam no quarto. Independente da capacidade de Inês para enfrenta-lo na conversa que teriam, ele queria tê-la. Iriam mais que conversar, ele sabia. Iriam discutir e colocar àquele quarto abaixo de qualquer maneira.

 


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