Nunca é tarde... escrita por Tah Madeira


Capítulo 3
Segredos.


Notas iniciais do capítulo

Desculpe pelo longo relato, mas não podia ser de outra forma.



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— Casada?? —Aurélio a olha sem entender — Como assim Julieta? —ela consegue se soltar dos braços dele e ganha um pouco de distância, vira de costas novamente —Não, olhe para mim, diga o que tem de dizer olhando em meus olhos— Aurélio coloca uma mão sobre o ombro dela que repele, mas se vira de frente a ele.

— Meu marido não está morto e sim aos cuidados de pessoas de confiança. —está olhando para Aurélio, mas não em seus olhos, se o fizer perde a coragem, a pouca que tem.

— Não entendo, Osório vivo?? — ele percebe que ela se mantém firme para não chorar, mas não pode deixar de fazer as perguntas que estão em sua cabeça — Ele está doente? Porque veste preto então? Sob os cuidados de quem? Porque?? —ele se aproxima, ela dá um passo atrás.
— Não chegue perto, por favor — ela balança a cabeça, não sabe se para afugentar as lembranças ou as lágrimas que querem cair.
—Então por favor explique— ele senta, pensando que assim em ajudar ela a se abrir.

—Sim, só não se fique perto e nem faça perguntas, senão perco a coragem.—ela dobra os braços na frente do corpo, sentiu frio, mas nem vento fazia, sabia que era do medo por ter de reviver as memórias mais sombrias de sua vida. — Para contar o que precisa saber tenho que voltar, e isso dói —a voz engasgou ele levantou, Julieta faz sinal Aurélio volta a sentar com o olhar preocupado, sabia que não estava sendo fácil para ela.
— Deixa isso para lá Julieta, não precisa me contar mais nada…
— Ele abusou de mim— ela o corta e o cala, Aurélio arregala os olhos e fica paralisado quando ela continua a falar — Eu era apenas uma menina, muito mais nova que ele, e você sabe Osório podia quase ser meu pai, nossas famílias eram amigas ainda mais após a morte de minha mãe, eu cresci próxima a ele a sua mulher que era muito doente e não podiam ter filhos, ela via em mim a filha que nunca teve, e eu a tinha como uma mãe, assim eu sentia, — as lágrimas molham o rosto dela, começou e não podia mais parar, vai até a roseira próxima e toca. — Eu gostava muito dela também, foi com ela que aprendi a gostar das rosas, ela dizia que eu parecia uma, delicada mas com pequenos espinhos, apesar de menina, eu tinha treze anos, ela dizia que eu já tinha umas ideias pouco convencionais para as meninas da minha idade, eu era como Elisabeta é hoje —ela volta a olhar para Aurélio, ele permanece quieto, mas atento a cada gesto ou palavra dela— Antes dela morrer tinha pedido para eu enquanto puder cuidasse das rosas dela, assim eu fiz, eu gostava de ir lá e cultivar com o mesmo carinho que aprendi, Osório nunca enquanto a esposa viva fez ou disse algo que eu pudesse tomar como perigo, não sabia o monstro que ele era, nunca vi nada suspeito, mesmo convivendo um tempo com eles, mas o que eu menina naquela época poderia ver? Mas após a morte de sua esposa ele se isolou, começou a beber mais e mais, nas poucas vezes que eu o via, ele sempre me tratou bem, como sempre tinha feito, passou dois anos, eu continuava a fazer as visitas ao jardim, era a única coisa naquela casa que não tinha mudado que ainda parecia viver, as empregadas não paravam, ninguém dizia o porquê, a casa diziam estar parecendo um mausoléu, pois ele não permitia mais abrir as janelas, nunca mais entrei lá. Mas uma tarde enquanto eu cuidava das rosas, veio uma tempestade do nada, não tinha outro lugar para mim ir se não a mansão, realmente tudo estava diferente, entrei e chamei por alguém mas ninguém apareceu, quando eu já estava para sair e ficar na varanda, eu ouvi a voz dele vindo do alto da escada, chamou por mim e voltei, ele desceu as escadas, me viu molhada e disse para ir até o escritório que a lareira estava acesa, que ele ia pedir um chá para mim. Fiz o que ele pediu e fiquei esperando, morrendo de frio ele mesmo me trouxe o chá, não suspeitei de nada, nem quando o gosto estava diferente, nem quando eu comecei a ficar com a vista desfocada, ele conversava comigo como sempre, a voz dele vinha de longe, pedindo para não deixar de tomar o chá para que pudesse me aquecer, até me trouxe umas toalhas para me secar, nem rejeitei quando ele soltou meus cabelos e secou, eu tomava a chá e lentamente perdia os sentidos, via as coisa mas não tinha poder do meu corpo, nem conseguia articular as palavras, acabei o chá e a custo me levantei, só não tombei no chão porque ele me segurou, e foi tudo tão rápido, tão rápido, tão dolorido... — ela sente as pernas fraquejarem, Aurélio sabe que ela vai protestar, mas se aproxima mesmo assim e a segura a tempo, a reação dela foi algo que ele jamais viu, Julieta se debateu e bateu nele com uma raiva, e gritava coisas sem sentido — Me solta, me deixa, não me toque, você é um monstro, um monstro —Aurélio teve de usar de toda a força que tinha e sentou com ela no chão, e tentava em vão fazê-la parar de se debater, ela continuou a gritar.— Sai de cima de mim Osório.. Sai… sai— foi quando ela disse isso que Aurélio percebeu que ela reviva o dia que contava.
—Julieta sou eu, Aurélio, por favor você vai se machucar— ele fala ao ouvido dela —Sou eu, por favor meu amor me ouve, é Aurélio… — ele repete várias e várias vezes, sente ela ir parando os movimentos dos braços, mas continua a chorar, Aurélio fica com ela em seus braços. Passam um tempo parados assim sem nenhum movimento ou palavras.
— Eu senti a violência dele, mas nada eu consegui fazer, ele me levou ao sofá e me tomou a força…—então Julieta continua o seu relato.
— Não precisa continuar — Aurélio pede.
— Eu preciso —ela senta afastada dele ainda de costas — Senti uma dor terrível, gritei inúmeras vezes, sei que sim, pedi socorro, mas ninguém veio, depois eu soube o porquê, Osório fez o que fez e tão rápido quanto começou parou, mas tive a sensação de durar horas aquilo tudo, me deixou lá e saiu como se nada tivesse acontecido, nem uma palavra, nem um olhar, nada, eu me senti um nada, eu não conseguia me mexer, não sei quanto tempo passou até que consegui me ajeitar e cambaleando deixei a mansão, fui embora achando que já tinha passado pelo pior, doce ilusão, não consegui falar com meu pai, com ninguém sobre o que aconteceu, meu pai viajava, quando ele voltou a vergonha era grande demais, me calei, nunca mais voltei lá, mas eu descobri que aquela violência trouxe consequências maiores, eu estava grávida, meu pai quem percebeu e vi um homem desconhecido ao me questionar com quem eu havia me deitado, para quem eu tinha me entregado, eu a custo contei exatamente o que aconteceu, ele não acreditou em mim e foi falar com Osório que mentiu, disse que eu quem o seduziu, eu neguei, mas foi em vão ele disse que para não deixar a minha família ser alvo de falatório iria se casar comigo, mas que meu pai deveria entregar a ele as poucas terras que tinha e assim ele o fez, eu não podia fazer nada, fui usada e trocada como uma mercadoria. Eu não sei qual dos dois foi pior. — novamente as lágrimas vencem e ela chora, Aurélio também chora ao ouvir tão relato, pensa em fazer um carinho em suas contas, mas acha que não fará bem a ela e fica em silêncio. —Meu inferno começou ali após o casamento, não tive mais contato com meu pai que viajou em seguida ao casamento, soube que ele morreu anos depois, Osório se mostrou pior que eu pensava, as empregadas não paravam por medo dele, que não só as violentava como algumas ele as torturava e ninguém fazia nada tinham medo dele, nem a gravidez me poupou de seus caprichos, seus tapas, sua violência cada vez maior, ele parecia ter uma raiva que brotava do nada e só quando causava dor era que passava, eram poucas as noites em que não me obrigava a deitar com ele, só quando ficou impossível por causa da barriga, aí quem sofria eram as empregadas, um dois meses antes do bebê nascer ele quis se mudar, me levou para um lugar onde não havia nada além do mato, eu só podia contar com uma empregada que me era fiel, um médico ele trazia para me ver, tinha machucados que não fugiam do olhar dele, que sempre questionava o que acontecia, eu mentia, não por vergonha mas por medo, ele era um bom médico, ela sabia o que se passava, mas o que iria fazer? Certa vez Osório disse que eu me insinuava para o médico, foi terrível ele não me bateu, mas torturou a empregada na minha frente, logo após o nascimento de Camilo, ele acalmou, achei que iríamos sair daquele mato, mas Osório viu o quanto podia fazer suas vontades lá e ninguém saber, assim como levar quem quisesse a mansão. Camilo era um bebê calmo, mas sofria de cólicas terríveis, em uma noite de bebedeira Osório foi para cima dele, eu em um ato de apenas proteger o bebê avancei para cima dele com um vaso que tinha o fundo bem pesado, sem pensar bati na cabeça dele que caiu imóvel no chão, sangue correu formando uma poça, gritei e a empregada apareceu, ficou tão parada quanto Osório, mas o choro de Camilo me despertou, e fiz o que precisava ser feito, mandei ela chamar um médico antes que fosse tarde, não conseguia chegar perto dele, peguei Camilo e subi para o quarto, não sei quanto tempo passou, só embalava o bebê, o médico foi até mim, disse que ele não estava morto, mas muito ferido, chorei não sei se de alívio ou medo, menti dizendo que tinha sido um invasor o médico disse que precisava cuidar ele em um lugar apropriado, que o que tinha feito era a pouco, que manteria a descrição. Assim ele fez, o médico contou que ele ao acordar tinha regredindo, não falava, olhava para o teto, tinha perdido os movimentos dos braços e pernas, que a pancada tinha feito um estrago, seu lado direito caído, ninguém reconheceu Osório, nem eu mesma quando o vi, para quem perguntava inventei que ele tinha viajado, quando o quadro dele estabilizou o mudei para bem longe, dei um nome falso, o que o dinheiro não faz, e voltei para a cidade dizendo que ele tinha morrido em um navio que tinha afundado por aqueles dias, a empregada foi a única testemunha e cúmplice, mas ela sofreu tanto quanto eu, o médico nunca mais o vi. — ela volta a olhar para Aurélio, leva a mão ao rosto dele e diferente da vez que o visitou na pensão, ela consegue tocar em seu rosto— Por isso que não posso me casar com você.


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Notas finais do capítulo

Se tiver ruim.... Escrevi rapidinho e nem revisei...



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