Eu me sinto morta. Não como quando morri e percebi que meu coração não batia e que respirar era mais um hábito do que uma necessidade. Não. Daquela vez, apesar de ter sido estranho, ainda tinha vontade de fazer as coisas. Falar com o diabo, tentar anular meu contrato, gritar com o velho do saco… Apesar da morte eu tinha vontade de continuar em frente. Agora eu só… Não sei como explicar… Meio que não quero nada.  Quem diria que existe vazio maior do que aquele que se sente quando não tem corrente sanguínea.

Os papéis em minha mesa vão se multiplicando em uma velocidade alarmante, cada dia mais as pilhas aumentam em tamanho e quantidade e mesmo sabendo os tipos de castigo a que posso ser submetida por causa deles não consigo voltar ao trabalho. 

Ela morreu sorrindo. Sem me culpar por uma morte que obviamente era minha culpa. Sem implorar por piedade, descarregar palavras de ódio ou transmitir medo no olhar. Fez tudo que podia fazer para que matá-la se tornasse mais fácil e quando consegui foi-se tranquila, quase como se realmente não se importasse com sua vida tanto quanto se preocupava com o fato de estar me machucando.

E machucou. Nossa, como machucou. Sua forma de facilitar as coisas só as dificultou ainda mais porque agora, pensando em todo o cuidado que teve comigo, não consigo achar um único motivo que possa me fazer sentir melhor. Que possa fazer com que esse incômodo no coração se alivie. Que tire de mim essa sensação de que acabei com o resto de vida que tinha em mim. 

12 horas, 47 minutos e 12 segundos. Não é nada se comparado a uma vida e menos ainda se comparado a uma morte. Pouco demais para se apaixonar por alguém, mas ainda assim o suficiente para dar a certeza de que me apaixonaria se tivesse tido mais tempo. 

Por essa certeza que o “se” me traz sinto-me na obrigação de dizer uma primeira e última vez para você, não importa onde esteja, espero que consiga me ouvir. 

“Eu te amaria, Carol, se tivesse tido uma chance para isso.”