Eu precisava de café, mas estava evitando a todo custo qualquer tipo de comida ou bebida, eu já havia usado a minha única roupa reserva quando aquele lindo estranho havia esbarrado em mim e caso algo semelhante acontecesse novamente eu estaria em sérios problemas.

Eu precisava desse emprego!

As contas já estavam se acumulando na minha mesa e a Queen Consolidation era a minha única salvação, eu sabia que poderia conseguir emprego em qualquer empresa que desejasse, mas eu havia hackeado todas as candidatas e me enojei ao ver que todos possuíam esquemas fraudulentos e coisas do tipo, eu tinha princípios e esses princípios não me deixavam trabalhar em um lugar assim.

Infelizmente os meus princípios também acabariam me fazendo passar fome!

A QC era a única empresa em que eu simplesmente não havia encontrado nada de ilegal e isso havia me deixado extremamente feliz, por isso aqui estava eu, sentada em uma sala enorme e totalmente clean esperando ser chamada para uma entrevista de emprego com o próprio Oliver Queen, CEO da companhia. Depois de pensar um pouco, percebi que apesar de saber tudo sobre a QC, eu simplesmente havia me esquecido de pesquisar sobre o homem que poderia ser meu futuro chefe.

Como ele deveria ser? Ranzinza? Amoroso? Gentil? Bonito?

—Felicity Smoak, o senhor Queen vai recebê-la agora! –Ergui o olhar rapidamente e encontrei uma mulher morena de sorriso gentil me esperando, eu precisei me segurar para não soltar um “Aleluia”, pois já estava esperando por horas à fio.

Me levantei rapidamente e caminhei em direção à ela, a mesma logo se pôs a me guiar pelos amplos corredores e quando paramos em frente a uma porta que eu julguei ser da sala de reuniões, ela se voltou pra mim e sussurrou em meu ouvido.

—O seu currículo é excelente, se você ignorar o jeito de ogro de Oliver, pode muito bem conseguir esse emprego!

Franzi o cenho em confusão e antes que eu sequer conseguisse pensar em algo para responder, fui empurrada levemente para dentro da sala somente para dar de cara com ninguém menos que o tal homem que havia esbarrado em mim mais cedo.

—Vejo que trocou de blusa, mais uma vez, sinto muito pelo nosso acidente! –O senhor Queen se colocou de pé e caminhou até mim, em seguida apertou minha mão e eu senti algo estranho em minha barriga, como se fossem as tais borboletas que todos dizem sentir, mas quem poderia me culpar? Eu estava diante de um verdadeiro deus grego, Oliver Queen era sem dúvida um dos homens mais bonitos que eu já havia visto em toda a minha vida.

—Obrigada Felicity, você também é muito bonita, se me permite dizer! –Eu me senti pegando fogo e automaticamente comecei a procurar um lugar para me esconder.

—Eu disse isso em voz alta, não disse? Ai meu Deus eu não tenho nenhum filtro e isso sempre me coloca nas situações mais constrangedoras, não que seja constrangedor te achar bonito, quer dizer, eu teria que ser cega pra não ver, mas isso não quer dizer que eu estou falando isso pra conseguir o emprego ou algo do tipo porque eu não faço esse tipo de coisa, não que eu esteja falando que o senhor faz esse tipo de coisa, mas... Eu vou me calar em 3,2,1! –Respirei fundo sentindo o meu rosto pegando fogo e me preparei para o tal jeito de ogro que a secretária dele havia me alertado, mas tudo o que vi quando levantei o olhar, foi o homem à minha frente se segurando para não rir.

Eu era patética e assim que chegasse em casa iria subir no apartamento da senhora Perbins e me jogar, ele ficava no oitava andar e eu iria morrer rapidinho!

—Por que não se senta senhorita Smoak? –Eu acenei de cabeça baixa e caminhei rapidamente para a cadeira que ele me indicava, optei por ficar em silêncio esperando ele falar, pois essa era a minha única garantia de que eu não abriria a minha maldita boca novamente. Eu tinha oitenta por cento de certeza de que já havia perdido essa chance de emprego, mas ao invés de ir embora chorando como uma garotinha, preferi ficar e manter a gota de dignidade que me restava.

—O seu currículo é simplesmente impecável e eu estou impressionado com as habilidades que você diz ter, mas eu preciso perguntar senhorita Smoak, porque eu não estou procurando mais do mesmo, pelo contrário, estou procurando algo inovador. Será que você é realmente tão boa quanto diz ser?

—Sou tão boa que hackeei o sistema da sua empresa em menos de cinco minutos, a propósito o seu firewall é um lixo! –Tapei a minha boca com a mão no mesmo momento, eu estava me sentindo extremamente insultada por ele ter desconfiado das minhas habilidades, mas eu realmente precisava ter dito que havia hackeado ele? Eu havia dito que tinha oitenta por cento de certeza de que não conseguiria o emprego? Esquece, eu tinha cem por cento de certeza.

Eu continuaria desempregada e provavelmente acabaria presa!

—Você hackeou o sistema da minha empresa? –Apesar da pose inabalável, era possível perceber que ele não estava somente surpreso, como também estava começando a ficar irritado e isso não era nada bom, eu já havia me entregado mesmo, agora o mínimo que eu poderia fazer era explicar a situação para pelo menos garantir que eu não terminasse atrás das grades.

—Sim, mas veja bem, eu não fiz isso porque sou uma psicopata ou algum tipo de mente criminosa que quer dominar o mundo, mas que no final nunca consegue porque sempre aparece alguém que vai impedir isso e salvar o planeta. –Ele arqueou as sobrancelhas de um jeito irritantemente lindo e eu engoli a seco. –A questão é, eu tenho fortes princípios morais sobre certos aspectos da vida e simplesmente não poderia trabalhar em uma empresa que tivesse qualquer tipo de esquema de corrupção ou falcatrua ou que prejudicasse os mais necessitados, por isso hackeei o sistema para me certificar de que a QC era um lugar adequado, mas eu juro que não fiz nada de errado, quer dizer, eu sei que o fato de hackear alguma coisa já é considerado errado, mas eu estou me referindo a outro tipo de errado.

—Bem, eu gosto de pensar que sou capaz de ver se alguém está mentindo pra mim e você me parece ser uma pessoa boa, apesar de tudo. Entendo os motivos que te levaram a fazer isso, embora não concorde com a sua atitude. –Abaixei a cabeça já me preparando para ser dispensada, eu sairia daqui e compraria um enorme pote de sorvete, em seguida iria pra minha casa e me afundaria em minha própria miséria, então no dia seguinte eu procuraria um outro emprego.  

—Mas eu preciso dizer que você é exatamente o que a empresa precisa porque mesmo sem perceber você fez os dois principais trabalhos que eu tinha em mente para o novo funcionário, testou a qualidade do nosso sistema de segurança e procurou ilegalidades que poderiam estar acontecendo bem debaixo do meu nariz.

Levantei a cabeça rapidamente e senti um resquício de esperança correndo por minhas veias. –E isso quer dizer que?

—Isso quer dizer senhorita Smoak que você provou ser o “algo diferente” que eu procurava e por isso você está contratada, isso é, caso você possa começar amanhã e caso possa me garantir que é capaz de melhorar o meu sistema de segurança. –Assenti efusivamente e sorri enquanto percebia o que estava acontecendo.

EU HAVIA CONSEGUIDO O EMPREGO!

—Posso começar amanhã o mais cedo possível e posso garantir que ninguém será capaz de burlar o seu sistema depois que eu colocar as mãos nele, senhor Queen.

Ele assentiu calmamente, mantendo a mesma postura que havia adotado desde o momento em que entrei na sala e se voltou para os papéis que estavam em cima da sua mesa.

—Muito bem, senhorita Smoak! Procure a Raissa amanhã bem cedo e ela vai te levar ao setor de TI, ela vai designar alguém para te dar todas as instruções necessárias. Agora, você está dispensada, boa noite!

Ele nem sequer levantou o olhar pra mim mais uma vez, apenas fez um gesto com a mão indicando que eu deveria sair, me levantei rapidamente e fiz o que me foi ordenado, afinal agora eu era funcionária daquele homem. Caminhei até a sala onde eu estava aguardando antes e dei de cara com a mulher que eu supus ser a tal Raissa arrumando suas coisas para ir embora.

—E então querida? –Ela tinha um sorriso gentil no rosto, mas um olhar astuto que fazia parecer que ela estava planejando algo.

—Ele me contratou e eu ainda não acredito nisso porque eu tenho quase certeza de que eu fui um desastre. Mas sabe, apesar de ele não ter sido nenhum cavalheiro do século XIX, o senhor Queen não foi um ogro como você disse que ele seria. –Ela franziu o cenho em surpresa, mas logo abriu um sorriso de menina no rosto e se aproximou de mim.

—Então isso prova que eu estava certa!

—Certa sobre o que? –Ela fez um gesto de desdém com a mão e rapidamente voltou a arrumar suas coisas.

—Nada demais, eu disse algo pro Oliver antes de te chamar pra entrar na sala dele e agora percebo o quanto eu estava certa. –Me aproximei dela sentindo a curiosidade aflorar em mim e arqueei a sobrancelha, esperando que ela me desse mais informações.

—Eu tenho certeza de que você está cansada e amanhã vai precisar estar em forma já que o seu dia vai ser cheio, então por que você não vai pra casa descansar?

Sorri em entendimento, eu estava sendo dispensada mais uma vez, mas estava tão feliz por ter conseguido o emprego que sequer me importei com isso.

—Tudo bem, até amanhã!

Ela acenou em despedida e eu caminhei para fora da empresa que agora seria o meu local de trabalho, eu ainda não entendia como, mas se o universo realmente me queria aqui, então eu estava mais do que feliz em ficar.

...

—Eu estou vendo as fotos do seu chefe na internet nesse exato momento e ele é simplesmente um pedaço de mau caminho meu Deus. Bebê, você precisa beijar esse homem ou beijo eu!

—Mãe, pelo amor de Deus! Eu tô quase chegando na empresa, tem como você parar com isso? Eu conheci o cara ontem e além do mais ele é o meu chefe, fora que ele não parece muito interessado nesse tipo de coisa.

—Mas bebê!—Bufei em frustração e revirei os olhos, se minha mãe não estivesse a quilômetros de distância, eu provavelmente a enforcaria nesse momento.

—Nada de mais Donna Smoak, você precisa parar de achar que eu preciso me jogar em cima de todo homem que eu conheço.—Foi a vez dela de bufar de frustração e eu me segurei para não rir baixinho, minha mãe realmente nunca mudaria.

—Tudo bem, mas um dia você ainda vai arrumar um namorado e nesse dia Las Vegas vai ser pequena pra minha alegria, mas agora eu vou te deixar trabalhar bebê, bom primeiro dia pra você!

Ela sequer deu a chance de eu me despedir, simplesmente desligou o telefone e me deixou falando sozinha, ri comigo mesma e estacionei o carro, em seguida peguei o elevador para o andar da presidência, pois era lá que Raissa estava e quando cheguei ao mesmo franzi o cenho ao perceber que ele estava vazio.

—Merda, eu não aguento mais isso!

Quer dizer, quase vazio.

Caminhei em direção à voz que eu logo supus ser do Senhor Queen e me deparei com ele bebendo o que parecia ser whisky enquanto encarava o teto aborrecido. Ele parecia tão chateado que eu simplesmente decidi dar meia volta e procurar pela secretária dele em outro lugar, mas com a sorte que eu tinha era óbvio que eu acabaria tropeçando.

Ele ergueu a cabeça em minha direção no mesmo momento e não pareceu nada feliz com a minha presença lá.

—O que está fazendo aqui senhorita Smoak? –Seu tom era ríspido, mas eu podia perceber que ele não estava com raiva, mas sim envergonhado.

—Desculpe senhor Queen, eu estava procurando a Raissa, o senhor disse que... –Ele se levantou bruscamente e caminhou em minha direção.

—Sim, eu sei o que eu disse e como você pode ver ela não está aqui, mas pode ir descendo pro setor de TI, vou encaminhar alguém pra te ajudar com tudo por lá, Raissa teve um pequeno imprevisto e não vai poder te acompanhar.

Eu me limitei a assentir em silêncio e virei às costas, queria sair dali o mais rapidamente possível, pois era nítido que ele estava nervoso. Talvez esse fosse o tal jeito de ogro que a mulher havia me alertado ontem.

Estava quase saindo pela porta quando escutei um suspiro que parecia chateado e de alguma forma aquilo me deixou tão incomodada que quando dei por mim, já havia dado meia volta e estava frente a frente com ele.

—Sabe senhor Queen, desde criança eu aprendi que a vida nos danifica, é impossível conter esse dano, mas eu também aprendi que podemos ser consertados, consertamos uns aos outros. Com licença!

Saí da sala rapidamente deixando um Oliver Queen embasbacado pra trás e me estapeei mentalmente, eu mal conhecia o homem e ele ainda por cima era o meu chefe, quem eu era pra poder aconselha-lo?

Acabei topando com alguém em meio a minha distração e o homem me ajudou quando viu que eu estava prestes a cair.

—Você está bem? –Ele parecia genuinamente preocupado e isso de alguma maneira me deixou confortável.

—Sim, é claro! Eu só estava distraída, a propósito sou Felicity Smoak. –Estendi a mão pra ele, que rapidamente devolveu o cumprimento com um sorriso no rosto.

—A nova funcionária do TI, não é? Eu sou John Diggle, motorista e amigo do seu chefe, pelo jeito que você saiu da sala dele, acho que já conheceu o lado do Oliver que amedronta os funcionários, não é mesmo?

—Ele não me amedrontou, na verdade, ele não me parecia muito bem! –Ele sorriu ainda mais em minha direção e arqueou a sobrancelha.

—Bem, eu tenho certeza de que ele logo vai melhorar, foi um prazer conhecer você Felicity!

Eu me limitei a acenar e comecei a caminhar em direção ao elevador, pensei tê-lo ouvido sussurrar algo como “A Raissa estava certa”, mas como a frase não fez o mínimo sentido pra mim, apenas sacudi a cabeça para espantar o pensamento e continuei andando.

Desci até o setor de TI e quando as portas de metal do elevador se abriram me deparei com um homem negro, com pelo menos vinte centímetros a mais que eu.

—Você deve ser Felicity Smoak, bem vinda! Eu sou o Curtis e vou te ajudar com tudo o que você precisar!

Eu assenti em concordância e comecei a segui-lo, mas enquanto tentava me concentrar nas palavras dele, tudo o que eu conseguia pensar era.

Por que Oliver Queen parecia tão aborrecido?