Pacífico Caos escrita por Samantha, Magic Universal Feelings
Notas iniciais do capítulo
Boa leitura, e não se esqueçam de ler as notas finais!
De uns tempos para cá, é nítido que a tecnologia avançou para que pudéssemos otimizar nossas atividades e fazer muitas delas com conforto. Para alguns, isso foi de muita utilidade. Já uns outros tiveram dificuldade para se adaptar às novas tecnologias e começar a usá-la. Muitas vezes isso acontece porque, quando se é de uma outra geração, é difícil se acostumar com tudo isso.
Por outro lado, não é muito comum deixar de experimentar algo (como utilizar um celular, por exemplo) por puro medo de ser rastreado, sequestrado, estudado e, depois de se tornar inútil, morto.
Esse é o caso de muitos dos mutantes.
É o meu caso.
E, claramente, é o de Sapphire Walsh também. Na verdade, era a única coisa que passava por sua cabeça enquanto ela segurava o celular que acabara de ganhar de Fawn no fim daquela mesma tarde.
— Você tem certeza disso? – a mais velha perguntou, hesitante.
— É só um celular, não é uma bomba radioativa. – Archie riu.
— Relaxa, Saph. Você só vai usar se precisar falar comigo. – Fawn disse calmamente - É só mandar mensagem, como eu acabei de ensinar.
— Ai, meu Deus. A tela apagou. Como assim? Eu já quebrei ele? – Sapphire começou a sacudir o dispositivo eletrônico.
— Calma, sua maluca! A tela só está bloqueada. Deixa eu resolver isso. – Fawn riu, se aproximando para tocar no celular – Pronto. Tá vendo? Pra desbloquear de novo, é só deslizar o dedo pela tela.
— Ok, certo. – Sapphire disse, caminhando com Fawn e Archie até a saída do hospital – Você vai ficar bem em casa com o Archie?
— Mas é claro! Vamos estudar um pouco de História, fazer um lanche, até mesmo jogar algum jogo, quem sabe... – disse Fawn – Pode ficar despreocupada.
— Tudo bem então. Se cuidem, vejo vocês mais tarde. – Sapphire acenou para eles.
Archie colocou os esquisitos óculos de natação nos olhos, fazendo Fawn franzir o cenho.
— Pra quê isso, garoto?
— Não posso expor meus olhos ao sol. – ele deu de ombros. – Não depois de uns acidentes que causei por aí. Logo escurece e eu já posso tirar.
— Não seria melhor um óculos de sol?
— Se você comprar um pra mim, eu aceito. – ironizou Archie – Além do mais, esses foram feitos no laboratório especialmente para mim.
Fawn riu e revirou os olhos. Enquanto saíam do local, perceberam que alguém se aproximava deles. Um homem alto, forte, de cabelos negros perfeitamente alinhados, traços faciais agradáveis, olhos azuis e uma expressão curiosa no rosto. Hyde abriu um pequeno sorriso:
— Olá, Fawn. – e abaixou-se até ficar na mesma altura que Archie, mostrando uma expressão intrigada – Ora, ora, se não é o primo da doutora Walsh, usando um visual um tanto excêntrico. Como se chama?
— Primo...? – Archie franziu o cenho, olhando o homem com atenção. Tinha certeza que o conhecia de algum lugar. Contudo, tentou se recompor ao levar uma leve cotovelada de Fawn. – Ah, é... Sou o...
— Angus. - Fawn sorriu para o homem – Desculpe-nos por isso, senhor Scott, ele está um pouco cansado da viagem, sabe como é. Fuso horário e tal.
— Sem problemas. Sei como é, vim de Washington e demorou uns dias até que eu me acostumasse. – ele se levantou novamente.
Sapphire, que estava vendo tudo de uma distância um pouco maior, decidiu se aproximar com ambos os braços cruzados:
— Cortou o dedo de novo, senhor Scott?
— Não, está tudo certo com os meus dedos no momento. – ele sorriu – Vim aqui só para saber se não gostaria de jantar comigo.
— Hoje?
— É, agora, na verdade. Pelos velhos tempos, sabe. – Hyde disse com simplicidade – Para agradecer.
— Não sei se é uma boa ideia... – disse a moça com hesitação. – Eu nem estou com as roupas adequadas para isso.
— É uma ótima ideia! – Fawn disse animadamente – E para de graça, porque eu sei que você vai tirar a roupa de hippie brega por baixo do jaleco e colocar outra roupa de hippie brega no lugar, então não vai fazer diferença.
— Mas e o hospital? – Sapphire perguntou – Não deu a hora de fechar ainda.
— Você fala como se tivéssemos muitos clientes. – Fawn riu – Já está escurecendo, feche e vá se divertir. Sério. Eu passo por aqui mais tarde para ver se está tudo em ordem.
Sapphire olhou de Fawn para Hyde – ambos a encorajando com o olhar – e suspirou, se dando por vencida.
— Certo. Vou apenas apagar as luzes e fechar as portas e janelas.
— Eu te espero aqui. – Hyde disse, e enquanto Sapphire se virava para fechar o estabelecimento, ele apenas lançou um olhar agradecido para Fawn, que apenas acenou com a cabeça.
— Vamos. – a moça mais nova segurou a mão do menino e ambos começaram a se distanciar do hospital.
— Angus, sério? – ironizou Archie, quando eles estavam longe demais para serem ouvidos – É o melhor que você consegue inventar?
— Pelo menos eu não fiquei lá gaguejando sem falar nada. – Fawn revirou os olhos – O que deu em você? Falar demais não é tipo, uma coisa sua?
— É só que... Aquele homem me faz ter uma sensação esquisita. – Archie franziu o cenho.
— Como assim?
— Eu sinto que o conheço de algum lugar, mas não me lembro de onde... – o garoto não tinha certeza de suas memórias, então decidiu não tocar mais no assunto – Bom, esqueça. Eu não acho que vou me lembrar. Você é boa em História, Fawn?
— Não, mas vou ser. – Fawn abriu um sorriso amarelo, ajeitando as alças de sua mochila – Fique tranquilo.
Os dois caminharam alguns minutos até a casa de Sapphire. Fawn usou a chave para entrar e depois trancar a porta, caminhando até a cozinha e jogando a mochila em cima da mesa. Abriu-a e pegou um de seus livros de história. Archie chegou com seu estojo e caderno, se sentando em uma das cadeiras:
— E aí, o que vou aprender hoje?
— Hm... Primeira Guerra Mundial.
— Por quê? – perguntou o garoto.
— Porque essa eu sei explicar. Vamos lá. Vai anotando aí. – Fawn se sentou também, respirando fundo – Essa guerra durou de 1914 até 1918. Começou com o assassinato de um cara chamado Francisco Ferdinando...
— O príncipe do império austro-húngaro, quando ele fez uma visita a Sarajevo, na Bósnia e Herzegovina. – Archie completou.
— Olha, só alguém andou estudando... – Fawn elogiou.
— Esse monte de baboseiras? É, eu andei lendo sim. – Archie resmungou – Porque para passar nas provas da escola, eu preciso decorar a história de uma guerra que nem é totalmente verdadeira.
— Você sabe que...?
Archie a interrompeu:
— Que nessa época os mutantes maus lutaram contra os humanos e os venceram, e que depois as pessoas normais tiveram sua vingança? Sim. É só saber onde procurar os livros, sites e pessoas certas. Poucas pessoas sabem da verdade.
— E as vezes é melhor continuar assim, sabe. Nem todas as crianças entenderiam e levariam numa boa como você. – Fawn disse docemente.
— É porque as outras são normais. – ele disse.
— E daí? Normal é chato, você não concorda? – Fawn fez uma careta, e o pequeno Archie esboçou um sorriso enquanto concordava com a cabeça – Vamos estudar essa história chata de mentira só mais um pouco e estamos livres, ok?
Ele assentiu e Fawn virou uma página do livro:
— Então, aí esse animal do Francisco morreu, né... Daí descobriram que os criminosos eram de um grupo Sérvio chamado Mão Negra. Os austro-húngaros acharam que as medidas que a Sérvia tomou em relação a isso não foram o bastante. Então eles pensaram “O quê? Esse bando de nojentos vêm aqui, assassinam o príncipe e acham que vai ficar tudo bem? Até parece!”, e declararam guerra contra a Sérvia. Bom, pra mim essa história toda do Francisco nem foi o fator mais importante... Na verdade, foi o estopim para a guerra começar. Acho que esses países já estavam se estranhando faz tempo, sabe? Só procurando um motivo para sair na porrada. Daí os países começaram a criar alianças...
— A Tríplice Aliança e a Tríplice Entente.
— Isso mesmo! Mas isso a gente pode estudar mais a fundo amanhã, quando estudaremos mais a fundo os conflitos bélicos. Daí vai ser só um monte de “BOOOM POW POW POW, TÁTÁTÁTÁ, RECUAR, RECUAR, MORRAAAAAAM!” – Fawn disse, encenando as onomatopeias com emoção e arrancando risadas de Archie – Vamos jogar Uno?
— Só se for agora.
E os dois passaram o fim da tarde jogando Uno e outros jogos de tabuleiro. Já eram umas oito e meia quando começaram a assistir Jaws, do Steven Spielberg. Fawn estava extremamente concentrada no que assistia, de modo que, quando o tubarão se preparava para fazer uma nova vítima, Archie – que começara a mexer em seu celular do meio para o fim do filme – prendeu a respiração alto, levou um susto e deixou o aparelho cair, fazendo-a gritar.
— O que foi, cacete? – perguntou Fawn, se levantando.
Perturbado com o susto repentino, as mãos do garoto acidentalmente se acenderam com a mesma energia cintilante e quente que elas haviam visto no dia em que conheceram o menino. Ele tocou o sofá em um ato desastrado de desespero, e o móvel começou a pegar fogo.
— APAGA ISSO JÁ!
— SE EU CONSEGUISSE, JÁ TERIA APAGADO! – a raiva de Archie só fez crescer a forma de energia em suas mãos.
Seus olhos ganharam a mesma cor da energia que emanava de suas mãos. Raios começaram a sair das duas orbes violentamente, contudo, eram contidos pelos óculos de natação azuis. O garoto começou a gritar com mais intensidade.
Fawn correu até a lavanderia, onde sabia ter um extintor. Voltou o mais rápido que pôde e, sem pensar muito, usou-o no sofá e nas mãos de Archie. Felizmente, o incêndio foi contido. O garoto, que tremia de frio e tinha os lábios agora roxos, sentou-se no sofá - agora deteriorado e com cheiro de queimado – e abraçou os próprios joelhos.
Fawn colocou o extintor no chão e saiu da sala sem dizer nada. O garoto pensou em pegar sua mochila e simplesmente sair correndo dali, mas parecia que seus pés haviam sido congelados ali. Ele se sentia péssimo por ter causado o acidente – esse e tantos outros que já havia causado por onde passava. As pessoas que machucara... Aquilo nunca havia sido sua intenção. Ele queria controlar seus poderes, só não sabia como.
A garota voltou com uma toalha de banho nas mãos. Archie disse em tom baixo, olhando para o chão:
— M-me desculpa. Eu não queria fazer isso...
Sentiu a toalha ser colocada em seus ombros, envolvendo-o.
— Calma, Archie. Eu sei que não foi por querer.
— Eu não consigo controlar isso. Eu sinto tanta raiva... – o menino admitiu, tentando não chorar.
— Ei. – a garota se sentou no sofá também, segurando ambas as mãos do menininho – Está tudo bem. Eu, você, a Saph... Vamos todos descobrir isso juntos, ok? Vamos te ajudar.
O garoto sorriu em resposta, sentindo sua raiva sumir lentamente e sua feição se tornando mais serena. Fawn perguntou:
— O que é que te assustou tanto assim, afinal?
Como quem lembra de algo ruim, o garoto fez uma careta e pegou o celular do chão, virando a tela para Fawn:
— Eu me lembrei de onde conheço ele.
— Não pode ser... Tá falando sério? – Fawn arregalou os olhos e pegou o aparelho com as duas mãos – Precisamos avisar a Saph.
A garota deixou o celular em cima do sofá e foi buscar um casaco para sair. Archie baixou o olhar para tela, para ler mais uma vez a manchete da notícia online que ostentava a foto de Hyde Scott na capa, segurando uma medalha de ouro, e que lhe deixara tão preocupado:
Soldado americano é condecorado por superar número recorde de prisão de mutantes.
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E aí, o que acharam?
Será que a Sapphire tá encrencada?