Deus Salve a Rainha. escrita por Anabella Salvatore


Capítulo 8
Tinta vermelha.




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Mais um dia começava em Montemor. Alguns monarcas já estavam de pé, outros ainda descansavam. No palácio que abrigava os príncipes e princesas os servos estavam bem dispostos observando-os treinar. Afonso acordou na hora do café, mas não encontrou ninguém na cama, onde deveria está Amália.

A plebeia observava, pela janela do corredor, a princesa Catarine e a princesa Beatriz duelando, com espadas. Catarina tinha seus cabelos presos em uma longa trança, assim como Beatriz e vestiam roupas de guerra. A princesa segurava a espada com firmeza, fazia movimentos precisos. Mesmo, sem admitir, silenciosamente, Amália torcia por Catarina.

Afonso logo estava vestido adequadamente e foi a procura de Amália. A encontrou no corredor principal, foi ao seu encontro, contudo. Antes que pudesse disser algo que chamasse a atenção da moça seu olhar se focou nas princesas. Agora elas riam. Catarina estava suada e seus cabelos já se desprendiam da trança. Ela estava tão bela, que nenhuma palavra o rei de Montemor conseguiu pronunciar, sendo assim, ele apenas ficou observando-a, com Amália a sua frente.

Na próxima vencerei! - Declarou Catarina, animada. 

—Veremos. -Disse Beatriz adentrando o castelo.

—Afonso? -Chamou Amália. -Estava aí a muito tempo?

Afonso piscou, confuso.

—Não. -Mentiu. -Acabei de chegar, o que olhava?

—Catarina e Beatriz estavam duelando. -Apontou para o jardim, agora vazio. -Foi um belo espetáculo.

—Imagino que sim, vamos comer? Desejo voltar logo ao castelo. -Ele ofereceu o braço a ela, que aceitou sorridente.

Eles foram até a sala de jantar, lá quase todos estavam reunidos.

—Bom dia. -Disse Henrique ao vê-los entrar.

—Bom dia, a todos.

Alguns assentiram, outros responderam-no, e outros apenas ignoraram. As ressentes atitudes de Afonso deixavam a desejar e muitos descordavam.

—Irá retornar a Montemor hoje? -Questionou Jade.

—Sim, iremos após o café.

Podemos ir com vocês. —Disse Catarina, adentrando com Beatriz ao seu lado. -Também partiremos hoje.

—Bom dia, princesa. -Disse Júlio, galante.

—Bom dia, cavaleiro. -Revidou com ironia.

Catarina sentou-se ao lado do príncipe e de frente a Afonso, já Beatriz por azar (ou destino) sentou-se ao lado de Felipe.

—Devo ter feito algo muito certo para que o senhor tenha me concedido tamanha felicidade, bom dia, minha querida.

—Ou, devo ter feito algo muito terrível para receber tamanho castigo, bom dia Felipe, e eu não sou sua querida.

Catarina levou o guardanapo a boca para disfarçar o riso.

—Concordo com Felipe. -Disse Henrique. -Devemos ter feito algo muito bom para recebermos tamanha onde. O café está regado com as mais belas damas da Calia. Diga-me, Catarina, qual o seu segredo?

—São seus olhos, Henrique.

—Meus olhos, não, princesa. Todos concordam que a sua beleza não pode ou deve ser discutida, estou certo... Afonso? –Virou-se para o rei, rapidamente.

Todos os rostos se viraram para o rei.

—É claro, Henrique. -Disse envergonhado e surpreso.

Amália não gostou do elogiou, contudo, não disse nada, afinal, era apenas um elogio.

—Obrigada, Afonso. Tudo está preparado? -Mudou rapidamente de assunto.

—Sim, apenas alguns trouxeram bagagem. -Disse Ciro.

—Perfeito, partiremos com Afonso, certo?

Todos concordaram.

—Espere, onde estão Rodolfo e Lucrécia.

Ninguém sabia responder. Catarina olhou Afonso, risonha.

—Devem está dormindo, eles tiveram uma longa noite. -Todos sentiram o tom de malicia na voz de Afonso, sorriram.

ˠ

Eles montaram nos cavalos, sendo seguidos por duas carruagens, uma com o ouro de Catarina e a outra com as malas dos monarcas.

—O que fará com o ouro?

—Bom, metade dele já tem um destino certo. -Disse olhando Lucrécia, que sorriu. -A outra metade... Bom, vamos ver.

—Os cidadãos de Montemor ficariam satisfeitos com uma doação de vossa majestade. -Disse Amália, na cara de pau.

Alguns abaixaram a cabeça, sentindo a vergonha alheia.

—Acredito que eles ficariam mais satisfeitos se não precisassem de nenhuma doação. -Retrucou Ciro, antes de Catarina se pronunciar.

—De fato. -Concordou Catarina, olhando diretamente para Afonso.- Contudo, acredito que isso logo acontecerá. Amália, -Dirigiu-se a plebeia. – a realeza não age dessa maneira, se quer se tornar rainha, deve filtrar suas palavras e atos. Sobre a doação, irei pensar, afinal, não é só em Montemor que tem gente com fome.

—Em Artena é da mesma maneira. -Afirmou Amália.

Catarina sorriu, satisfeita com o que ela tinha dito.

—Vejo que não visita Artena a muito tempo, Amália. -Disse Rodolfo. -O reino não enfrenta mais esse problema.

—De fato, há noticias que Artena só prospera. -Disse Alexandra.

—A que atribui tamanha prosperidade?

—Sorte?

—Não, sorte não. Administração. Artena tem a sorte de ter pessoas competentes no poder. O Ministro do Povo ajudou bastante, também.

—Agradeço o elogio.

—Elogio? -Questionou Afonso. -Conhece esse homem, Rodolfo?

—Eu sou esse homem, Afonso.

—Você?

—Entendo sua surpresa. Serio, e não lhe julgo. Não sou mais seu irmãozinho, Afonso.

—Vamos apostar corrida! -Exclamou Jade.

—Vamos. -Disse já correndo.

—Ei! Isso é injustiça.

—Corra sua tola, ou irá perder. -Disse Júlio.

Eles correram deixando as carruagens para trás, Amália e Afonso.

ˠ

Todos andavam pela cidade, seguidos de guardas, alguns se comunicavam com o povo, outros apenas conversavam entre si. Catarina viu um grupo de crianças correndo e os seguiu. Afonso percebeu e a seguiu.

—Vamos logo, o rei e a plebeia estão vindo.

O menor carregava um balde de tinta vermelha, extraída de alguma planta.

—Tem certeza que vamos fazer isso?

—Sim, mamãe me disse que o reina irá morrer se a plebeia governar com o rei. -Disse, com uma falta sabedoria.

Catarina viu-os correr e deixar o menininho com o balde, O pequeno carregava com dificuldade o balde.

—Quer ajuda? -Perguntou.

O menino se virou assustado e quase derrubou a tinta, mas Catarina segurou.

—Não tenha medo.

—Você vai me castigar? -perguntou receoso.

—Você fez algo de errado? Eu acho que não, apenas iria fazer... Pode chamar seus outros amigos aqui, por favor. Prometo não fazer nada, pode ver e perceber que estou sozinha.

Ele assentiu tremulo.

Logo 5 crianças estavam na frente da princesa.

—Como são espertos, os cinco. Contudo, tenho uma lição a lhes ensinar: Nunca abandone um companheiro, nem o deixe sozinho. Imagina se ele derrubasse a tinta. -Disse sorrindo. Os meninos se acalmaram. -Vamos, iria ser apenas uma brincadeira, fiquem calmos. Vocês são crianças, não estou dizendo que é certo, mas é aceitável.

—A senhora não está com raiva?

—Eu? Eu não, mas devo aconselha-los. Vocês deveriam dar uma chance a mulher do rei, ela pode não ser de todo o mal.

—Mas, e se for?

—Dá uma chance não é sobre ter certeza de algo, é sobre acreditar em algo. Se vocês acreditam que pode dá certo, então pode, mas se vocês, nem ao menos tentam ver diferente, nunca verão. Se as coisas piorarem. Digam a seus pais que serão bem-vindos em Artena. Peguem. -Ela tirou algumas pulseiras do braço e o seu colar e lhes entregou. -Guardem isso e o proteja com sua fé.

Ela ouviu alguns guardas se aproximarem e se despediu das crianças.

—Cresçam e sejam fortes.

Eles assentiram e partiram. Afonso observou toda a cena. Curioso. Ele não sabia se ficava irritado com a atitude das crianças ou admirado pela atitude de Catarina.

A princesa voltou para onde os demais estavam e continuou a andar.

Amália estava andando alheia a tudo quando viu um menino carregar um bracelete, com uma pedra preciosa, uma esmeralda.

Amália segurou o menino pelo braço, com força.

—Onde conseguiu isso?

Todos olhavam a cena, o povo se mostrava inquieto.

—O que pensa que está fazendo?

Catarina viu a confusão e percebeu que os pais das demais crianças brigavam com as mesmas.

—Solte o menino. -Mandou. Amália não obedeceu. -Eu mandei solta-lo! Ele não roubou nada! É apenas uma criança. -Amália o soltou, contrariada. -Vamos.

Catarina o pegou pela mão e o levou até onde estavam os outros meninos e seus pais,

—Eles não roubaram nada. -Disse. -Eu lhes dei as joias como forma de agradecimento por me ajudarem em algo. Peço que não as tomem deles. Por favor. Se precisarem de ajuda, vão a Artena e ajuda será dada.

Assustados com a presença dela, eles assentiram. Ela se voltou a Amália e a segurou pelo braço, tal como ela fez com a criança.

—Dói? Incomoda? Não faça isso com uma criança, tenha decência.

—Catarina, solte-a. -mandou Afonso.

Sem soltar, ela o olhou. Ele pode perceber decepção no olhar dela.

—De fato, os meninos tinham razão. -A soltou. -As vezes nem a fé consegue esconder lacunas e erros.

Afonso engoliu em seco, mas foi até Amália e a amparou.

—Alguém pode me acompanhar de volta ao castelo?

Alguns monarcas assentiram e outros só arrumaram uma desculpa para fugir da presença humilhante de Afonso e Amália. 

—Essa é a nossa futura rainha... —Alguns comentavam.

 

 

 

 


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