Deus Salve a Rainha. escrita por Anabella Salvatore
Mais um dia começava em Montemor. Alguns monarcas já estavam de pé, outros ainda descansavam. No palácio que abrigava os príncipes e princesas os servos estavam bem dispostos observando-os treinar. Afonso acordou na hora do café, mas não encontrou ninguém na cama, onde deveria está Amália.
A plebeia observava, pela janela do corredor, a princesa Catarine e a princesa Beatriz duelando, com espadas. Catarina tinha seus cabelos presos em uma longa trança, assim como Beatriz e vestiam roupas de guerra. A princesa segurava a espada com firmeza, fazia movimentos precisos. Mesmo, sem admitir, silenciosamente, Amália torcia por Catarina.
Afonso logo estava vestido adequadamente e foi a procura de Amália. A encontrou no corredor principal, foi ao seu encontro, contudo. Antes que pudesse disser algo que chamasse a atenção da moça seu olhar se focou nas princesas. Agora elas riam. Catarina estava suada e seus cabelos já se desprendiam da trança. Ela estava tão bela, que nenhuma palavra o rei de Montemor conseguiu pronunciar, sendo assim, ele apenas ficou observando-a, com Amália a sua frente.
—Na próxima vencerei! - Declarou Catarina, animada.
—Veremos. -Disse Beatriz adentrando o castelo.
—Afonso? -Chamou Amália. -Estava aí a muito tempo?
Afonso piscou, confuso.
—Não. -Mentiu. -Acabei de chegar, o que olhava?
—Catarina e Beatriz estavam duelando. -Apontou para o jardim, agora vazio. -Foi um belo espetáculo.
—Imagino que sim, vamos comer? Desejo voltar logo ao castelo. -Ele ofereceu o braço a ela, que aceitou sorridente.
Eles foram até a sala de jantar, lá quase todos estavam reunidos.
—Bom dia. -Disse Henrique ao vê-los entrar.
—Bom dia, a todos.
Alguns assentiram, outros responderam-no, e outros apenas ignoraram. As ressentes atitudes de Afonso deixavam a desejar e muitos descordavam.
—Irá retornar a Montemor hoje? -Questionou Jade.
—Sim, iremos após o café.
—Podemos ir com vocês. —Disse Catarina, adentrando com Beatriz ao seu lado. -Também partiremos hoje.
—Bom dia, princesa. -Disse Júlio, galante.
—Bom dia, cavaleiro. -Revidou com ironia.
Catarina sentou-se ao lado do príncipe e de frente a Afonso, já Beatriz por azar (ou destino) sentou-se ao lado de Felipe.
—Devo ter feito algo muito certo para que o senhor tenha me concedido tamanha felicidade, bom dia, minha querida.
—Ou, devo ter feito algo muito terrível para receber tamanho castigo, bom dia Felipe, e eu não sou sua querida.
Catarina levou o guardanapo a boca para disfarçar o riso.
—Concordo com Felipe. -Disse Henrique. -Devemos ter feito algo muito bom para recebermos tamanha onde. O café está regado com as mais belas damas da Calia. Diga-me, Catarina, qual o seu segredo?
—São seus olhos, Henrique.
—Meus olhos, não, princesa. Todos concordam que a sua beleza não pode ou deve ser discutida, estou certo... Afonso? –Virou-se para o rei, rapidamente.
Todos os rostos se viraram para o rei.
—É claro, Henrique. -Disse envergonhado e surpreso.
Amália não gostou do elogiou, contudo, não disse nada, afinal, era apenas um elogio.
—Obrigada, Afonso. Tudo está preparado? -Mudou rapidamente de assunto.
—Sim, apenas alguns trouxeram bagagem. -Disse Ciro.
—Perfeito, partiremos com Afonso, certo?
Todos concordaram.
—Espere, onde estão Rodolfo e Lucrécia.
Ninguém sabia responder. Catarina olhou Afonso, risonha.
—Devem está dormindo, eles tiveram uma longa noite. -Todos sentiram o tom de malicia na voz de Afonso, sorriram.
ˠ
Eles montaram nos cavalos, sendo seguidos por duas carruagens, uma com o ouro de Catarina e a outra com as malas dos monarcas.
—O que fará com o ouro?
—Bom, metade dele já tem um destino certo. -Disse olhando Lucrécia, que sorriu. -A outra metade... Bom, vamos ver.
—Os cidadãos de Montemor ficariam satisfeitos com uma doação de vossa majestade. -Disse Amália, na cara de pau.
Alguns abaixaram a cabeça, sentindo a vergonha alheia.
—Acredito que eles ficariam mais satisfeitos se não precisassem de nenhuma doação. -Retrucou Ciro, antes de Catarina se pronunciar.
—De fato. -Concordou Catarina, olhando diretamente para Afonso.- Contudo, acredito que isso logo acontecerá. Amália, -Dirigiu-se a plebeia. – a realeza não age dessa maneira, se quer se tornar rainha, deve filtrar suas palavras e atos. Sobre a doação, irei pensar, afinal, não é só em Montemor que tem gente com fome.
—Em Artena é da mesma maneira. -Afirmou Amália.
Catarina sorriu, satisfeita com o que ela tinha dito.
—Vejo que não visita Artena a muito tempo, Amália. -Disse Rodolfo. -O reino não enfrenta mais esse problema.
—De fato, há noticias que Artena só prospera. -Disse Alexandra.
—A que atribui tamanha prosperidade?
—Sorte?
—Não, sorte não. Administração. Artena tem a sorte de ter pessoas competentes no poder. O Ministro do Povo ajudou bastante, também.
—Agradeço o elogio.
—Elogio? -Questionou Afonso. -Conhece esse homem, Rodolfo?
—Eu sou esse homem, Afonso.
—Você?
—Entendo sua surpresa. Serio, e não lhe julgo. Não sou mais seu irmãozinho, Afonso.
—Vamos apostar corrida! -Exclamou Jade.
—Vamos. -Disse já correndo.
—Ei! Isso é injustiça.
—Corra sua tola, ou irá perder. -Disse Júlio.
Eles correram deixando as carruagens para trás, Amália e Afonso.
ˠ
Todos andavam pela cidade, seguidos de guardas, alguns se comunicavam com o povo, outros apenas conversavam entre si. Catarina viu um grupo de crianças correndo e os seguiu. Afonso percebeu e a seguiu.
—Vamos logo, o rei e a plebeia estão vindo.
O menor carregava um balde de tinta vermelha, extraída de alguma planta.
—Tem certeza que vamos fazer isso?
—Sim, mamãe me disse que o reina irá morrer se a plebeia governar com o rei. -Disse, com uma falta sabedoria.
Catarina viu-os correr e deixar o menininho com o balde, O pequeno carregava com dificuldade o balde.
—Quer ajuda? -Perguntou.
O menino se virou assustado e quase derrubou a tinta, mas Catarina segurou.
—Não tenha medo.
—Você vai me castigar? -perguntou receoso.
—Você fez algo de errado? Eu acho que não, apenas iria fazer... Pode chamar seus outros amigos aqui, por favor. Prometo não fazer nada, pode ver e perceber que estou sozinha.
Ele assentiu tremulo.
Logo 5 crianças estavam na frente da princesa.
—Como são espertos, os cinco. Contudo, tenho uma lição a lhes ensinar: Nunca abandone um companheiro, nem o deixe sozinho. Imagina se ele derrubasse a tinta. -Disse sorrindo. Os meninos se acalmaram. -Vamos, iria ser apenas uma brincadeira, fiquem calmos. Vocês são crianças, não estou dizendo que é certo, mas é aceitável.
—A senhora não está com raiva?
—Eu? Eu não, mas devo aconselha-los. Vocês deveriam dar uma chance a mulher do rei, ela pode não ser de todo o mal.
—Mas, e se for?
—Dá uma chance não é sobre ter certeza de algo, é sobre acreditar em algo. Se vocês acreditam que pode dá certo, então pode, mas se vocês, nem ao menos tentam ver diferente, nunca verão. Se as coisas piorarem. Digam a seus pais que serão bem-vindos em Artena. Peguem. -Ela tirou algumas pulseiras do braço e o seu colar e lhes entregou. -Guardem isso e o proteja com sua fé.
Ela ouviu alguns guardas se aproximarem e se despediu das crianças.
—Cresçam e sejam fortes.
Eles assentiram e partiram. Afonso observou toda a cena. Curioso. Ele não sabia se ficava irritado com a atitude das crianças ou admirado pela atitude de Catarina.
A princesa voltou para onde os demais estavam e continuou a andar.
Amália estava andando alheia a tudo quando viu um menino carregar um bracelete, com uma pedra preciosa, uma esmeralda.
Amália segurou o menino pelo braço, com força.
—Onde conseguiu isso?
Todos olhavam a cena, o povo se mostrava inquieto.
—O que pensa que está fazendo?
Catarina viu a confusão e percebeu que os pais das demais crianças brigavam com as mesmas.
—Solte o menino. -Mandou. Amália não obedeceu. -Eu mandei solta-lo! Ele não roubou nada! É apenas uma criança. -Amália o soltou, contrariada. -Vamos.
Catarina o pegou pela mão e o levou até onde estavam os outros meninos e seus pais,
—Eles não roubaram nada. -Disse. -Eu lhes dei as joias como forma de agradecimento por me ajudarem em algo. Peço que não as tomem deles. Por favor. Se precisarem de ajuda, vão a Artena e ajuda será dada.
Assustados com a presença dela, eles assentiram. Ela se voltou a Amália e a segurou pelo braço, tal como ela fez com a criança.
—Dói? Incomoda? Não faça isso com uma criança, tenha decência.
—Catarina, solte-a. -mandou Afonso.
Sem soltar, ela o olhou. Ele pode perceber decepção no olhar dela.
—De fato, os meninos tinham razão. -A soltou. -As vezes nem a fé consegue esconder lacunas e erros.
Afonso engoliu em seco, mas foi até Amália e a amparou.
—Alguém pode me acompanhar de volta ao castelo?
Alguns monarcas assentiram e outros só arrumaram uma desculpa para fugir da presença humilhante de Afonso e Amália.
—Essa é a nossa futura rainha... —Alguns comentavam.
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