Deus Salve a Rainha. escrita por Anabella Salvatore


Capítulo 17
Feiticeira das águas.




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Amália não compreendia certos costumes. Sim, ela entendia que não fora criada como os demais habitantes daquele castelo, contudo, acredita que podia aprender (mesmo odiando com todas as suas forças todos os livros que as bibliotecas guardavam).

O que farei com poemas? —Resmungava com um livro em mãos. -Por que preciso entender sobre artes? Elas não servem para nada.—Ela resmungava. 

Desde que o dia começou e as pessoas começaram a transitar pelo castelo, Amália estava na biblioteca. Ela tentou ler poemas, mas, como visto, ela não admirava muito os versos e as estrofes. Passou para os filósofos, leu um pouco de Platão. 

Mundo das ideias? Que ideia absurda é essa?—Resmungou.

Ela não notou, mas havia outra pessoa ali, Demétrio o conselheiro do rei. Ele ouvia os comentários da moça e podia sentir seus ouvidos sangrarem. Sem que Amália notasse, afinal, ela estava mais ocupada resmungando, ele saiu. 

Andou um pouco pelos jardins e viu a princesa Catarina ao lado da Lady Lucrécia. Elas riam, a princesa tinha um livro em mãos. Ele se aproximou.

—É fantástico. 

—Então, eu sou apenas a sombra de quem sou? -Perguntou Lucrécia, confundindo Demétrio e fazendo Catarina rir. 

—Você é quem é enquanto está aqui, no mundo dos sentidos, no mundo das sombras. 

Lucrécia franziu a testa, confusa. 

Catarina riu e negou. 

—Imagine o quanto você é especial e as suas qualidades, elas só são uma sombra do quão gigantesca você é. 

—Gosto desse pensamento. -Comentou a princesa de Alcaluz, mas logo mudou a expressão. -Misericórdia, imagine o quão perfeita você é. 

Catarina gargalhou com o comentário, até mesmo o serio Demétrio sorriu divertido. 

Ele as deixou e voltou a andar e pensar se Amália realmente seria uma boa rainha. 

°

O rei Augusto, Afonso e Rodolfo passeavam pela cidade. Observavam as casas e as obras, assim como, a feira. Lá Afonso viu a família de Amália e acenou para eles, que retribuíram, mas permaneceram onde estavam. Rodolfo, orgulhoso, mostrou ao irmão seu local de trabalho. As pessoas gostavam no Monferato mais novo. 

—Meu Lorde. -Chamou um homem. -Essas senhoras pedem sua ajuda. 

Rodolfo assentiu e se virou para Augusto e Afonso, em um pedido mudo de desculpas. 

Afonso se surpreendeu.

—Vamos, Arthurito, vamos ver em que podemos ser uteis. 

Rodolfo se distanciou dos monarcas e seguiu para falar com as senhoras. 

—Isso sempre ocorre? -Questionou Afonso, surpreso. 

Augusto se virou e o olhou. 

—Isso? A que se refere, Afonso? 

—Me refiro a responsabilidade de Rodolfo, ele não arrumou nenhuma desculpa. Não fugiu das suas responsabilidades. Pelo contrario. 

Augusto sorriu. 

—Meu cara Afonso, vosso irmão já não é o mesmo. Ele adquiriu uma bela responsabilidade e tem grande apresso pelo cargo que desempenha em Artena. Tal como, o povo. 

Afonso assentiu, ainda surpreso. 

—Estou de volta, podemos seguir? -Perguntou Rodolfo, logo aparecendo. 

Ambos assentiram. Eles andaram pela cidade e, antes que a manhã chegasse ao fim, voltaram para o castelo. Rodolfo e Augusto foram para os seus aposentos, afim de tomar um banho, Afonso fez o mesmo. 

Foi um banho rápido, logo ele estava de volta aos corredores do castelo, indo para a sala de jantar. Quando chegou lá, percebeu que Amália sentava de um lado, assim como, Lucrécia e Catarina sentavam-se ao outro. A moça ruiva estava alheia a qualquer conversa dos outras, ela parecia mais concentrada em apreciar os talheres. 

—Afonso. -Disse Lucrécia, ao vê-lo. 

Amália levantou a cabeça rapidamente e abriu um grande sorriso. 

—Lucrécia, como está? -Disse, sentando-se ao lado da plebeia. 

—Estou muito bem, obrigada. Soube que estava andando a cavalo com Rodolfo e com o rei Augusto, como foi o passeio? 

Afonso suspirou, sentindo a mão de Amália tocar a sua. Tal ato não foi ignorado por Catarina. 

—Foi ótimo. Devo ressaltar que vosso reino está prosperando cada vez mais. 

—Meu amor, o reino de Catarina deve...

Lucrécia a interrompeu.

—Com licença, mas, se não me engano, Afonso calava comigo, não com Catarina ou com você. -Disse Lucrécia séria. Catarina abaixou a cabeça, para esconder o riso. A esposa de Rodolfo, logo abriu um sorriso. -Sim, Artena prospera. -Ficou seria novamente e virou-se para Amália. -É princesa Catarina, ou se desejar, vossa alteza! -Abriu novamente um grande sorriso. 

A princesa tentava controlar suas emoções, contudo, as rápidas mudanças de humor da Lady, a divertiam muito. Porém, antes que a risada escapasse, seu pai e Rodolfo apareceram. Ela apenas sorriu e os olhou. Após todos estarem acomodados, o almoço foi servido. 

—Como foi o seu dia, meu pai? 

—Muito agradável, Catarina. 

Ela sorriu. 

—Fico feliz que tenha se divertido. 

—E como foi o seu? 

Lucrécia e Catarina se olharam. 

—Esclarecedor. -Disse, olhando a Lady e trocando olhares cumplices. 

—E o seu, senhorita Amália? 

—Foi bom, majestade, passei o dia na biblioteca, entre poesias e filósofos. -Disse como se realmente tivesse entendido algo, ou melhor, como se tivesse gostado. Demétrio negou com a cabeça e decidiu testa-la. 

—Filósofos, senhorita? 

—Sim. -Respondeu sorridente. 

—Qual? 

—Li sobre outros, mas dei ênfase a Platão. 

—Platão? -Questionou Catarina animada. -Poderia nos agraciar com o mito da caverna? Adoraríamos ouvi-la. 

Amália engoliu em seco. O que ela iria dizer? Que não lembrava? Assumiria a mentira? 

—Mito da caverna? 

—Sim.

—Sinto muito, mas não recordo de nenhum mito da caverna. 

—Pode ser chamado de alegoria da caverna, minha querida. -Disse Lucrécia.  -Ou parábola da caverna, ou até mesmo, prisioneiros da caverna. 

Amália assentiu e os olhou transmitindo uma falsa confusão. O sorriso de Catarina foi morrendo. 

—Tudo bem, você deve ter pegado algum livro sobre outro assunto, que não citasse. 

Amália logo concordou, suspirando de forma contida, sentiu-se livre. 

Catarina voltou sua atenção para o prato, como se nada tivesse acontecido. Mas, Afonso e os demais sabiam que Amália não tinha lido nada sobre o antigo filosofo. A plebeia não sabia que tinha sido pega no flagra. Eles continuaram a comer.  

°

—Onde está Catarina? -Questionou Afonso, Augusto o olhou. Era estranho ele perguntar primeiro sobre a princesa e nem sequer questionar onde estava a sua "amada", que tinha saído.

Rodolfo e Lucrécia se olharam e sorriram. 

—A princesa pode ser um tanto quanto egoísta quando quer, ela está usufruindo do seu secreto lugar. -Respondeu Rodolfo, enigmático. 

—Onde minha filha se encontra? -Questionou Augusto, confuso. 

—Vossa filha parece guardar vários segredos. Ela está na cachoeira. 

Augusto assentiu e se levantou, sendo seguido por Demétrio. 

—Cachoeira? 

—Sim, fica ao norte do castelo. É um belo lugar. -Disse Rodolfo. 

—Sim, Catarina adora ir até lá. 

°

A propriedade onde se localizava o castelo possuía inúmeras beleza. O jardim, o labirinto, um belo campo e, na floresta, havia uma cachoeira. Catarina adorava ir até lá, sem guardas ou servas, apenas ela e a agua. Parecia egoísmo guardar tamanha beleza e prazer só para ela, mas, ainda assim, ela não se sentia mal. 

Seu corpo flutuava, seus braços se abriam e brincavam sobre a agua e suas roupas já estavam encharcadas. Ela se sentia tão à vontade que parecia está voando. 

Assim que o cavalo parou e Afonso ouviu o barulho das agua, seu coração acelerou. 

Ele desceu e, lentamente, observou a cachoeira. Logo, achou Catarina. 

Maldita feiticeira das aguas. -Sussurrou. 

Afonso passou a tarde ali, ele sorria quando ela ria de algo. Se preocupava quando ela mergulhava, mas, desejava ardentemente que fosse ele ali e que ela nadasse até ele. Desejava tê-lá em seus braços. Abraça-la, acariciar cada ponto da sua pele. Beija-la. 

Deus, tenho que sair daqui! Não posso fazer isso. Ele se repudiava. Maldição, como pode ser tão bela? E atraente? 

Quando os dedos de Catarina começaram a enrugar, ela pensou em sair imediatamente da agua, mas... Estava tão bom. Ela nadou até a borda e saiu dali, deitou-se em cima de algumas pedras e ficou ali por um tempo, o vento batia em si, os pássaros cantavam... Estava tão relaxante. 

Seria melhor se Afonso estivesse aqui, ele... Ele iria gostar... Ela se pegou imaginando, pela primeira vez, compartilhar o seu lugar com outro alguém. 

Mal ela poderia imaginar que ele estava. O rei tentava controlar as próprias pernas, tentava não ser guiado até ela. Catarina suspirou e se levantou, olhou ao redor e viu que seu cavalo estava deitado, decidiu que estava na hora de voltar, entretanto, antes se banharia novamente. 

—Prepare-se Thunder, logo voltaremos. -Disse ao cavalo, como se ele entendesse, o animal levantou-se. 

Afonso já não podia se controlar, então pegou o seu cavalo, que estava um pouco distante e saiu dali. Correu para longe da princesa. Ele não desejava voltar ao castelo, por isso ficou cavalgando. Estava tão focado em se distrair e esquecer a princesa de Artena, que não ouviu dos galopes do cavalo que se aproximava. 

ESTÁ PERDIDO?  -Questionou uma voz feminina.

Afonso engoliu em seco. 

Era Catarina. 

 

 


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