Deus Salve a Rainha. escrita por Anabella Salvatore


Capítulo 15
Sonhos podem ser o espelho de desejos reais.




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O jantar não demorou muito tempo para ser servido. Logo, todos estavam reunidos. Afonso conversa com Amália sobre a visita da plebeia a sua família.

—Como foi seu dia, minha filha?

Catarina sorriu e Afonso prestou atenção.

—Foi calmo, descansei bastante.

—Não saiu do quarto?

—Não. -Disse calmamente.

—Soube que ouve  um incidente com alguns soldados.

—Sim. -Bebeu a agua. -Também ouvi falar, mas Dellano logo resolveu. 

—Dellano? -Questionou Afonso. 

—Sim, um dos soldados. 

Augusto olhou para Afonso. 

O jantar transcorreu calmamente, logo todos foram para seus quartos, Catarina se permitiu descansar verdadeiramente.

Afonso fechou os olhos. Por um momento tudo ficou em silencio, até que ele sentiu dedos acariciando seu rosto. Passavam pelo nariz, por sua boca, seus bochechas... Ouviu uma risada conhecida e sentiu um sorriso se formar em sua face. 

Você está acordado. -Disse uma voz risonha. 

Seus olhos se abriram, lentamente a figura de Catarina foi se formando, ela estava ali ao seu lado e carregava um belo sorriso. 

—Vamos, levante-se, estou te esperando... -Suas feições mudaram rapidamente e ele se preocupou, ela aparentava tristeza. -Por favor, não me deixe. 

Ela se levantou e saiu, o deixando. Ele se levantou, tentando correr. 

—VOLTE! ESTOU AQUI. -Gritou. 

Amália despertou com os gritos dele. 

—Afonso. -Chamou. -Acorde, meu amor. Vamos. -Ela o sacudiu. 

Ele suava.  Afonso, aos poucos foi abrindo os olhos, seu coração se encheu de esperanças... Catarina estaria ali, mas quando seus olhos focaram em outra pessoa, Amália, ele o sentiu partir-se. 

—Meu amor, você está bem? O que ouve, com o que sonhava?

Afonso não tinha palavras, ele gostaria de correr, sair dali o mais rápido que conseguisse. Não foi complicado fazer com que Amália acredita-se que fora apenas preocupações com o reino, logo a moça estava dormindo novamente. Afonso fingia, quando percebeu que ela cairá em sonho profundo, decidiu sair dali. Precisava respirar. 

A noite em Artena estava estrelado, o rei precisou colocar um casaco por causa do frio, mas logo estava olhando o jardim por uma grande janela. Foi quando avistou uma luz vinda de uma parte. Perto do labirinto, próximo a alguns bancos, alguém caminhava. 

Curioso, ele decidiu se certificar que o individuo não apresentava nenhum perigo. Voltou ao seu quarto, pegou sua espada e desceu. Silenciosamente caminhou até onde a luz estava. 

—Droga. -Disse a voz. A luz apagou. 

—Catarina? 

A princesa levantou a cabeça, confusa por ter alguém acordado naquele horário. 

—Afonso? O que faz aqui? 

—Eu... O que você faz aqui?

—Oras, eu perguntei primeiro! me responda! -Disse mandona. 

Afonso quase riu com a marra dela, mas se controlou. Respirou fundo, segurou o riso. 

—Eu vi uma luz, da janela e vim checar se não representava perigo. -Explicou. 

—Você o que? -Ela se aproximou dele. -Você é louco? E se representa-se perigo? E se fosse algum bandido ou assassino? Você é o rei de Montemor! Há pessoas que precisam de você! -Ela foi se aproximando e começou a desferir tapas no ombro dele. -Como pode ser tão irresponsável? 

Ela continuou dizendo e batendo, Afonso não prestava atenção em suas palavras, mas a sua aproximação o animava, e assustava. 

Até que ele segurou a mão dela. 

Ela o olhou assustada pelo ato repentino. 

—Então você também deve ser louca, já que estava aqui também. -Sussurrou próximo a ela. 

Eles estavam tão próximos, por causa do frio, podiam sentir o respirar. O calor emanava deles, por suas mãos passavam uma corrente elétrica, como se um fosse uma carga negativa e o outro uma positiva, eles se atraiam. 

Catarina o olhava com atenção, as marcas do rosto dele, seus olhos, sua boca. O mesmo era observado por Afonso. 

Ela o queria tanto quanto ele a queria

—Devo está louca mesmo. -Rebateu em sussurros. 

Ela mordeu, sem perceber, o lábio, ato que não foi ignorado pelo rei. 

—Acredito que estou tão louco quanto você. 

Ele se aproximou mais, estavam mais que próximos, sua mão soltou a mão dela e tocou o rosto com carinho, o braço de Afonso passou pela cintura dela. Os narizes se aproximaram, se tocaram, tão logo quanto suas bocas, devagar, lento. Como se fosse um cristal frágil. 

Deus! Era tão que que ele não sabia descrever. Não haviam palavras que pudessem expressar o quanto seu coração batia, ou um pequeno incêndio que se iniciava em sua alma. 

°

Afonso despertou com os raios de sol em seu rosto. Foi tudo apenas um sonhos, ele pensou irritado. 

O dia em Artena logo começou. O céu estava completamente azul, sem nuvens ou neblina. Um ótimo dia para cavalgar, ou, visitar um certo orfanato. Catarina acordou animada e essa animação só cresceu ao se deparar com o tempo. 

A princesa correu, elegantemente e com Lucíola ao seu lado, até o quarto de Lucrécia e Rodolfo. Se aproximou da porta  e bateu. 

JÁ VAI! -Lucrécia gritou. 

Catarina ouviu um resmungado de Rodolfo e riu. 

Lucrécia logo saiu do quarto, com sua capa verde, e algumas coisas dentro de uma bolsa. Elas partiram. 

Rodolfo e Augusto tinham combinado que, algumas vezes, iriam com elas só para admira-las e esquecer um pouco das tantas tarefas e obrigações que estavam sujeitos. Claro, sem que ambos soubessem. 

Rodolfo andava pelos corredores quando avistou Afonso, ele tentou passar despercebido, mas o irmão o viu. 

—Irmão. -Chamou. 

—Olá Afonso. -Disse cordialmente. -Amália. 

—Onde está vossa esposa? 

—Lucrécia saiu logo cedo com a princesa. Com licença, preciso procurara o rei, temos assuntos a tratar. 

Ele reverenciou e saiu dali. 

Amália sorriu. 

—Catarina deve está sendo cortejada. -Disse, do nada. 

Afonso imaginou diversas coisas, mas quando a imagem de Catarina com outro homem surgiu ele se sentiu ser possuído por uma estranha rainha... Não, não, era ódio. 

—Como? Você ouviu algo? Quem é? -Perguntou nervoso. 

Amália estranhou. 

—Afonso, o fato de Catarina está sendo cortejado pode vir ou está lhe incomodando? 

—Não! -Disse rapidamente. -Jamais. Eu... Acho que deveríamos ir ver onde eles irão. Pode ser algo relacionado a água... E... Isso é muito importante para Montemor. Temos que ser prestativos. 

Aquela não poderia ter sido uma desculpa pior. Nada seria. Amália ficou atenta, mas concordou com ele. 

E eles seguiram Rodolfo, que foi sozinho. 

°

Mirou e soltou a flecha, as crianças gritaram de animação, ela acertará. 

—ESTÃO TODOS PRONTOS? -Perguntou sorrindo. -Muito bem, ARQUEIROS, apontem suas flechas para o alvo. 

—É claro que é para o alvo. -Disse uma menininha, audaciosa, mas Catarina achou seu comentário divertido e riu. 

—Sim, Lucy, é claro que é para o alvo. -Disse carinhosamente. - Vamos lá, tentem. 

Eles soltaram as flechas. Alguns conseguiram acertar no campo, outros tiveram suas flechas em arvores, no chão e até, apenas uma, parou no bolo que os esperava. 

Catarina riu. As crianças ficaram envergonhadas, mas logo riram também. 

—O bolo foi flechado. -Disse um menininho rindo. 

—Sim, Alex, foi. -Concordou Lucy gargalhando. 

Era algo tão simples, mas os fazia tão feliz. 

—MUITO BEM, TODOS SENTEM-SE NA MESA, VAMOS COMER! -Anunciou sorrindo. 

Amália estava impressionada. Mas, logo passou a sentir uma pequena raiva ao ver o olhar admirado que Afonso detinha, um sorriso que ela não conhecia e se algum dia já tinha sido proferido para ela, ela não viu. Mas, para Catarina, aqueles sorrisos se tornavam frequentes. 

Todas as crianças correram, apenas Catarina ficou para trás, ela recolheu algumas flechas e guardava os arcos quando sentiu uma presença próxima a si. 

—Princesa Catarina. 

Era Lucy. 

—Olá mocinha, o que está fazendo aqui? Não está com fome. -A menina assentiu, concordando.- Então, vá comer. 

—Queria pedir desculpas a senhora. 

—Desculpas. -Estranhou. 

—Sim, o Caio me disse que eu fui grosso com a senhora. 

Catarina sorriu. 

—Você não foi muito simpática, mas não foi grossa. -Disse. -O que lhe incomoda? 

—Sinto falta da mamãe e do papai. -Disse com voz de choro. 

Catarina a abraçou. 

—Tudo bem sentir falta deles. 

—Queria eles comigo. -A criança deixou algumas lagrimas caírem. 

Catarina se segurou para não chorar, ela sabia o que tinha acontecido com os pais de Lucy. A algumas semanas caiu uma forte chuva e algumas arvores caíram, uma dessas arvores caiu em cima de uma pequena cabaninha, em uma das vilas. No dia seguinte, foram ver e encontraram um casal abraçado e uma criança embaixo deles, uma menininha. Era Lucy. Quando a casa caiu seus pais forram soterrados, mas, tentaram proteger a menina. Eles conseguiram. Após alguns dias ela não tinha mais ferimentos. 

—Eu não tive uma mãe comigo, Lucy. Fui criada por meu pai e seus criados, as vezes, algum amigo, ou alguma amiga, vinha me visitar e eu não me sentia tão sozinha. 

—Você sente falta dela?

Catarina suspirou. 

—Todos os dias. Mas, me escute. Você é forte! Muito forte, vai aprender a viver com a saudade e vai ser tão boa quanto sua mãe foi. 

—Sou muito pequena, não consigo nem acertar ao alvo. 

Catarina riu, mas ainda estava um pouco mexida com a lembrança da sua mãe. 

—Você irá aprender e se tornará uma grande arqueira. Será a melhor, mas só se quiser. Se você lutar, você consegue. Contudo. -Alertou. -Se você ficar sentada e resmungando continuará sendo como é. Faça a sua mudança, Lucy. 

A menina assentiu freneticamente. 

—Agora, vá comer. 

—E você? 

—Eu tenho que achar a lady Lucrécia e voltar para o castelo. 

Lucy riu. 

—A lady Lucrécia é engraçada. 

Catarina sorriu. 

—Sim, ela é muito especial. 

A menininha se despediu novamente e correu para a mesa que continha os lanches. 

Afonso engoliu em seco ao ver que, após a menina sair, Catarina desabou em lagrimas. Ela soluçava. Ele não prestou atenção se Amália, ou Augusto, ou quem quer que fosse estava ali. Suas pernas pareciam ter vida própria e o guiaram até ela. 

Catarina sentiu um par de braços a abraçar. Poderia ser qualquer um, mas ela sentia que não era. Sentia que era ele. Ele a apertou contra si. E ela chorou em seus braços, por muitos segundos. Só eram os dois ali. 

—Tudo bem, eu estou aqui. -Disse ele. 

—Afonso... 

—Sim. 

—Sinto tanta falta dela e... De todos. -Sua voz tremia. 

Ele a apertou mais, se possível. 

—Eu também, mas eles estão bem. Nunca irão nos deixar. 

—Me sinto só. -Confessou. 

—Não se sinta, eu estou aqui. Sempre. Para você e com você. Sempre. 

—Sempre. 

Ele a abraçou e fechou os olhos, só eram eles ali. Naquele momento, não existia mais ninguém. 

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A doce rainha descansava em paz. Alguns monarcas vieram prestar suas últimas homenagens a tão gentil monarca. Crisélia, Rodolfo e Afonso foram um dos primeiros a chegar. Os meninos estranharam a frieza da doce princesinha Catarina. Ela não chorava, não sorria. Não fazia nada.

Quando chegou a hora do sepultamento, todos saíram e ficaram apenas os grande amigos. Augusto beijou o rosto gelado do seu grande amor e a deixou. Crisélia se despediu com um carinho e, entre lagrimas, disse adeus. Os adultos saíram, ficaram apenas as crianças e uma dama de companhia.

Dois homens entraram, eles que iriam levar a rainha para o local.

Quando eles pegaram na mãe de Catarina a princesa pareceu ter despertado.

—SOLTE MINHA MÃE. NÃO! NÃO. -Ela chorava em desespero. Os homens não sabiam o que fazer. -SOLTEM-NA, O QUE ESTÃO FAZENDO? NÃO! MAMÃE.

Ela precisou ser segurada para que os homens levassem a rainha.

Afonso se aproximou, era apenas um garotinho. Ele abraçou Catarina e permitiu que ela chorasse.

—A mamãe... Ela não vai mais voltar, Afonso, traga de volta, prometo te deixar ganhar nos próximos jogos. Por favor, eu prometo ser boazinha. Eu quero minha mãe. Eu não quero ficar sozinha. -Chorou.

—Eu não vou te deixar.

—Você promete? -perguntou entre soluços.

—Sempre estarei contigo. Para sempre.

 

 

 


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