Eu estava encharcada e provavelmente com muitos problemas. Como, explicaria à minha irmã os cabelos e roupas molhados?

Petúnia não ficaria nada feliz com isto, principalmente se eu contasse que peguei chuva pois decidira correr com um estranho que era o braço direito de nosso tio.

Entro o mais sorrateiramente possível e retiro os sapatos para não deixar marca no carpete.

Fecho os olhos quando derrubo sem querer uma decoração do Hall e o barulho ecoa pela casa.

— Lily, tenha cuidado! — Vem a voz de minha irmã das profundezas de seu quarto.

— Desculpe Tuney. — Peço colocando a pequena peça, que por algum milagre não quebrou, em seu devido lugar.

Torço para que ela não esteja onde poderia me ver antes de eu entrar no banho.

— Lily você está encharcada! — Exclama ela assustada me olhando com repressão. — Parece uma criança! Vá logo para o banho antes que molhe ainda mais a minha casa. — Fala me olhando com indignação por estar sujando sua casa perfeitamente limpa.

Reviro meus olhos não entendendo a porque minha doce irmã se tornou esse monstro, penso se isso era por sua suposta alma gêmea ter abandonado-a dias antes da festa de noivado.

Retiro minha roupa assim que chego ao banheiro e olho para meu corpo no espelho, meus cabelos pareciam cada vez mais sem cor e isso me assustava vendo que ele sempre fora tão colorido e chamativo.

Suspiro cansada entrando na banheira, eu vim para Londres encontrar tudo aquilo que Brighton parecia não poder me oferecer.

Sinto um sorriso escapar involuntariamente de meus lábios ao me lembrar de James, o mau-humorado confeiteiro que trabalha na cafeteria de meu tio.

Era engraçado em como ele usava o mau-humor para esconder sua delicadeza. Ele é uma pessoa gentil e me fez rir tantas vezes que durante nossas conversas as vezes eu me pegava pensando em como seria beijá-lo.

Eu sei que estou aqui para aprender o ofício e um dia poder cuidar da cafeteria para meu tio, mas eu não consigo tirar James Potter de minha cabeça.

Suspiro ao ver que já estava ali há tanto tempo que meus dedos estavam enrugados, saio da água morna e estremeço ao sentir o chão frio sob meus pés.

Com uma toalha enrolada em meus cabelos e um roupão no corpo sigo para meu quarto.

As duas primeiras semanas que se seguiram foram extremamente corridas e eu mal tive tempo para ir ao The Rocket Cafe, e em minhas breves visitas James estava tão atarefado que sequer nos falamos.

Porém eu finalmente consegui resolver todos os documentos da faculdade e agora poderia enfim, passar toda uma tarde perturbando-o. Entro contente na cafeteria, pois sabia que aquele não era um dia de folga dele.

Os deliciosos cheiros logo me invadem e com cautela passo pelo balcão do caixa e entro na cozinha. As cores me atingem de um jeito peculiar, pois eu tenho certeza que da última vez o bolo de chocolate não era assim tão marrom.

Logo vejo James e sinto meu coração acelerar e minhas mãos suam inesperadamente. Ele parece tão lindo assim tão concentrado, as sobrancelhas franzidas formando um vinco em sua testa, os lábios reprimindo um sorriso e olhos focados.

— Hey James! — Falo aproximando-me dele e ele me olha com repressão, mas seu sorriso denunciava que ele gostou de me ver.

— Oi Lily. — Responde com um leve olhar para meus cabelos soltos e volta seus olhos para o delicado doce que fazia. — Como vai a faculdade?

— Ah, eu tô me adaptando ainda, algumas meninas lá são muito cruéis. — Falo com os olhos fixos em suas mãos que moldavam a massa com uma precisão inacreditável.

— Logo você se acostuma, tenho certeza. — Ele fala parecendo não querer continuar a falar comigo. Sinto minha felicidade murchar e me apoio no balcão que estava vazio.

Fico o olhando formar delicadas flores com a massa para logo em seguida colocá-los em uma assadeira grande onde flores igualmente bonitas estavam.

— É uma encomenda? — Pergunto detestando o silêncio que se instalou entre nós, ele me olha rapidamente e confirma com um aceno. — Eu estou incomodando? Se quiser eu saio. — Ofereço tirando meu peso do balcão e ficando em pé. Minha postura reta e tensa, denuncia que eu não desejo sair, mas não consigo vê-lo tão seco comigo sem sentir-me uma completa imbecil.

— Desculpe Lily, eu apenas estou com muitas coisas na cabeça. — Ele responde parecendo notar meu nervosismo. Sorrio levemente, sentindo-me melhor, talvez fosse apenas um dia ruim para ele.

— Tudo bem. — Falo dispensando suas desculpas e o olho curiosa. — O que aconteceu?

— Um dos meus melhores amigos está com problemas na família e eu não sei como ajudá-lo. — Ele responde o rosto levemente contorcido em uma careta de tristeza que logo é substituída pela concentração.

— Ah, eu sinto muito Jam-. — Começo a falar enquanto pensava em uma forma para animá-lo, mas um homem extraordinariamente lindo entra e todos param para ver sua entrada.

Seus cabelos eram pretos e compridos levemente ondulados, seus olhos eram azuis, pelo menos era o que eu pensava de acordo com minha definição de azul. Ele estava com uma jaqueta de couro e o rosto possuia marcas de expressão de alguém que sorria excessivamente.

— Prongs! — Ele diz com uma voz alta e rouca, James o encara e vejo suas bochechas ficarem vermelhas rapidamente. O homem se aproxima de nós dois com um sorriso maroto e eu de repente eu me sinto envergonhada.

— Oi Sirius. — Cumprimentou James sem tirar os olhos do doce que fazia. Se por causa da demanda de concentração que ele precisava ou se para esconder o rosto vermelho, eu não poderia dizer.

— Não seja tão chato Prongs. — Reclama o moreno com um sorriso afetado e desistindo de James, ele me encara com um grande sorriso. — Olá, o que uma flor como você faz aqui perto do chato do James?

— Black, pare de flertar com ela. — Pede James levemente irritado e o tal Sirius ri escandalosamente chamando atenção de todos. — Me desculpe por Sirius, Lily, ele paquera todos ao seu redor.

— Está tudo bem James. — Falo tocando em seu braço com um sorriso em meu rosto. Ele sorri de volta e olha para o amigo que nós observava com um grande sorriso. — E James não é um chato.

— Oh, então você é a garota que James tanto fala. — Exclama ele parecendo tão feliz quanto uma criança no natal.

— Sirius, o que faz aqui afinal? — Pergunta James mudando de assunto parecendo constrangido com o que Sirius falara.

— Ah... — Ele fala parecendo desanimado e se encosta no balcão me encarando com um certo receio. — É o Moony, Jay. Ele está arrasado com isso. — Ele parecia tão triste que eu só conseguia pensar em abraçar ele e garantir que tudo ficaria bem.

— Sirius, eu sei que você quer conversar, mas eu não posso simplesmente parar meu trabalho agora. — Ele fala continuando a fazer o doce com sua tão conhecida delicadeza.

— Nem uma pequena pausa para o almoço? — Questiona o moreno com um biquinho infantil.

— Não Sirius, estamos cheios de encomendas hoje, eu não posso ir agora. — James responde com um olhar realmente culpado.

Eu olho entre os dois, sentindo-me indecisa. Quando acordei pela manhã, eu estava decidida a conversar com o James e ao menos conseguir seu número de celular.

Por fim, olho para o moreno que olhava para James como se pudesse se ajoelhar e implorar à James por atenção.

— Uh, eu não sei exatamente sobre o que é isso, mas eu estou atoa, então se quiser ajuda. — Falo me sentindo corar e desvio o olhar de James que me encarava surpreso.

— Ah, eu já gostei dela James. — Diz Sirius com um grande sorriso no rosto e pega em minha mão com um brilho maníaco no olhar. — Vamos ruivinha, vou deixar o chato do Prongs trabalhar.

— Tchau James! — Grito em meio de um riso para em seguida Sirius me puxar para fora da cozinha. Escuto James ri levemente e minha última visão dele foram seus olhos me encarando.

Andamos calmamente para o canto do café e ele para de rir, parecendo subitamente curioso.

— Então há quanto tempo conhece James? — Pergunta me olhando com seus brilhantes olhos.

— Há duas semanas, por quê? — Pergunto batucando os dedos na superfície da mesa, sentindo-me ansiosa.

— Hmm, James anda diferente, acho que foi você... — Comenta parecendo estar falando para si mesmo e não para mim. Ele para e me encara por longos segundos e seu rosto subitamente parece triste.

— O que há? — Pergunto com empatia, percebendo que era um assunto sério e ele suspira.

— Bem, esse nosso amigo, o Remus, ele é gay e nós começamos a namorar há algum tempo.... — Ele começa com a voz dolorida, seus olhos estavam marejados e eu estendo minha mão cobrindo a dele, mostrando meu apoio.

— Mas? — Questiono com um olhar curioso, mostrando que ele deveria terminar de contar a história.

— Mas só nossos amigos sabiam, não contamos para os pais dele. — Ele conta com um olhar pesaroso, como se fosse culpa dele. — E então, essa semana eu estava na casa dele, a gente estava se beijando e o pai dele chegou...

— Oh. — Falo já podendo imaginar o desfecho da história. — Ele não reagiu muito bem, certo? — Pergunto e Sirius assente e uma lágrima escorre de seus profundos olhos.

Levanto-me do banco sentando-me ao seu lado e o abraçando. Seco seu rosto com cuidado e afago seus cabelos. — Vai ficar tudo bem, não se preocupe.

— Remus está apavorado, o senhor John está furioso e disse que se ele não terminar comigo, ele não pisa mais lá. — Ele conta parecendo frustado, decepcionado e com muita raiva.

— Fique calmo Sirius. — Falo não tendo palavras para consolá-lo, ele me olha e deita a cabeça em meu ombro.

— Remus não tem para onde ir Lily. — Ele fala em tom sussurrante e levanta a cabeça me encarando. — O único lugar possível é meu apartamento, mas ele não quer ficar brigado com a família. — Ele responde e então começa a contar-me sobre as aventuras deles com James. – Então teve essa vez em que pintamos um pênis no rosto da ex-namorada do James, ele ficou sem falar com a gente por semanas...

— Vamos, eu quero conhecê-lo. — Falo em um tom animado, ainda com o rosto molhado por lágrimas de riso e Sirius se levanta parecendo contente e eu o arrasto para fora da cafeteria, pois mesmo animado ele parece tão lento. Remus parecia uma pessoa tão gentil que apenas em ouvir Sirius me dava vontade de conhecê-lo. — Eu vou conversar com ele, vamos.

— Lily, ele não vai querer aceitar ajuda. — Avisa Sirius me levando até uma moto cinza estacionada perto do café. Me surpreendo ao ver que o céu já estava ganhando traços de escuridão, Sirius me prendeu tanto nas histórias que não vi o tempo passar. — Ele é muito cabeça dura.

— Mande ele para sua casa. — Falo com determinação e ele sobe na moto, me entregando um capacete e colocando o outro. Disposta a ajudar o rapaz loiro de que ouvi histórias tão divertidas, alguém como eles não mereciam sofrer.

Ele corre pelas ruas de Londres e eu só consigo me sentir viva e alegre, tão alegre que minha vontade é de levantar os braços e gritar. E as luzes fazendo contraste com o entardecer só melhorava essa sensação.

Chegamos em prédio de aparência cara e ele abre o portão e estaciona a moto na garagem. Descemos da moto e eu o acompanho para o elevador.

Chegamos em apartamento grande no 5° andar e ele joga sua jaqueta, deixando me ver suas tatuagens que estavam no braço.

— Wow, aqui é muito bonito. — Exclamo observando a decoração de madeira escura e as paredes de cores mais claras.

— Obrigado, foi o Remus que decorou. — Ele fala parecendo orgulhoso do namorado. Ele pega o celular e manda uma breve mensagem de texto.

Olho para os quadros de super heróis e Doctor Who que estavam ali, assim como na grande coleção de video games e CD's.

— Ele disse que já estava vindo, então deve chegar em alguns minutos. — Avisa Sirius indo em direção do que eu imagino ser a cozinha. — Sinta se a vontade ruiva.

Sento-me em seu sofá de couro e pego em meu celular arrependida de não ter pego o número de James. Sirius volta com duas latinhas de refrigerante e se joga no sofá me entregando uma.

— Eu te contei da vez que o Remus pegou o James transando com uma menina na cama dele? – Pergunta o moreno me olhando com expectativa parecendo muito empolgado para contar aquela história em especial, nego rapidamente e abro meu refrigerante, prestando total atenção nele. – Bem ele ficou tão furioso, que decorou os horários e lugares que eles ficavam na escola e colocou uma espécie de gosma na cama dela do dormitório e foi tão nojento que eles ficaram meses sem conseguir se beijar e teve uma outra vez também que....

— Sirius! – Grita uma voz masculina parecendo brava.  Viro para trás instantaneamente e me deparo com um belo homem aparentemente alguns anos mais velho, de cabelos castanhos claros e olhos cor de chocolate, usava um suéter azul e uma calça preta.

— Oi meu amor! – Exclama Sirius feliz, levantando-se do sofá e indo até o recém chegado, beijando-o levemente em seus lábios e o arrastando até o sofá. Levanto-me sentindo a estranha necessidade de ficar de pé e sinto-me minúscula em relação aos dois. – Essa é Lily, a garota de quem James tanto fala.

 – Oh, finalmente temos o nome da menina que fez o Prongs corar. – Comenta ele com um sorriso e logo minha leve impressão de que ele era alguém calmo. – Remus Lupin, mas acho que esse idiota já falou, certo?

— Bem, sim. – Respondo chocada ao saber que James falara de mim para seus amigos. – Lily Evans.

— Sempre morou em Londres, Lily? – Pergunta ele sentando-se no sofá oposto ao que eu estava. Sirius vai até a cozinha e retorna com três garrafas de cerveja e me olha com repressão por não ter terminado a latinha de refrigerante.  

— Eu vou pedir James para trazer pizza, já volto. – Avisa Sirius e eu encaro Remus com um leve sorriso.

— Ah, eu sou de Brigthon na verdade. – Falo com um leve corar e ele move a cabeça suavemente para o lado parecendo ponderar.

 – Eu sou de Liverpool. – Ele conta como se fosse uma confissão forçando seu sotaque, seu tom me faz rir e é assim que Sirius nos encontra. Ele deita no colo do namorado e os dois começam a contar-me sobre James, os minutos se passaram e eu me via cada vez mais confortável em torno deles.  – Então, a Professora McGonagall ficou tão brava que eu e James pegamos cinco semanas de detenção....

— Sirus! Não acredito que você está contando essa história para Lily. – Reclama James da porta, me viro rapidamente e me deparo com seus cabelos bagunçados e os óculos tortos, em suas mãos estavam duas caixas de pizza e ele parecia deslumbrante.

A noite se passou entre muitas cervejas e conversas altas, eles foram extremamente simpáticos e me divertiram durante todo tempo. Quando deu onze da noite, James propôs que nós dividíssemos um táxi, vendo que morávamos perto.

Fui todo o trajeto com o rosto apoiado em seu ombro e sua cabeça sobre a minha, nós estávamos sonolentos e bêbados. Saio do carro tropeçando, o dinheiro previamente contado já estava na mão do motorista que parecia rir de nosso estado.

Chego em frente ao meu prédio cambaleando e apoiada em James, ele ri bobo quando meu cabelo passa por seu rosto e alega que faz cócegas.

O olho bobamente, seus cabelos estavam tão bonitos e seus olhos tão brilhantes. – James você quer sair comigo sábado? – Pergunto e no mesmo momento me sinto corar tão forte que mesmo não conseguindo ficar em pé sozinha de forma alinhada, percebo que falei demais.

— Claro! – Ele responde entusiasticamente e puxa seu celular com um sorriso e me entrega. – Aqui, anote seu número e eu chamo. – Ele pede com um sorriso de canto que minha visão bêbada via como extremamente sexy. Rapidamente anoto meu número em seu celular.

Ele pega o celular e me olha com cara de boba, nos abraçamos e eu subo com um sorriso feliz.

A semana se passa rapidamente e eu trocava constantemente mensagens com James, logo sábado chega e eu estava tão animada que não conseguia evitar de sair saltitando pela casa.

Nós marcamos de nos encontrar no cinema. Eu estava impecavelmente arrumada, usava uma saia vermelha e uma blusa branca com uma jaqueta curta. Esperei por um hora até James aparecer, parecendo estar cansado e nervoso.

— Me desculpe Lily, eu realmente sinto muito, aconteceu um imprevisto e eu não consegui chegar a tempo. – Ele fala com uma cara muito fofa, como se realmente sentisse muito, ele olha no relógio e me olha. – Wow, você está incrível.

— Obrigada James, você também está lindo. – Falo olhando para sua calça jeans lavada e a camisa preta. Tão simples e tão lindo. – A próxima sessão só vai começar daqui uma hora, quer ir comer? – Convido, já indo em direção a saída do cinema.

— Quer comer o que? – Ele pergunta com um sorriso, andando ao meu lado, seguimos para a praça de alimentação e escolhemos sushi.

Nosso prato demorou mais de meia hora para ser entregue e veio errado, não podíamos arriscar devolver e perder mais uma sessão do filme, então comemos o que nos fora oferecido.

Ao chegarmos ao cinema, conseguimos apenas as piores poltronas e um grupo de adolescentes que estavam atrás de nós, simplesmente não calava a boca.

James foi tentar me beijar e acabamos derrubando o refrigerante todo em nossas pernas e a pipoca estava salgada demais. Nosso primeiro encontro foi uma merda e mesmo assim eu o achava encantador.

— Desculpe Lily, não posso acreditar que isso aconteceu. – Ele fala enquanto andávamos pela calçada com sorvetes na mão. O olho com um sorriso, seus olhos pareciam dourados com a luz do sol e o sorvete estava uma delicia.

Tudo foi completamente errado, mas eu não mudaria nada.

— Não foi nada James. – Respondo com um leve sorriso, o olhando com admiração, por conseguir tornar perfeita uma coisa que parecia ser horrível.