Capuz Vermelho Especiais escrita por L R Rodrigues


Capítulo 5
Deuses e Monstros (Parte 5)


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Diante de um servo de Sekhmet, em um dos muitos corredores da escola, no primeiro andar, Áker emanava uma austeridade em sua expressão, além de uma autoconfiança, em teoria, inabalável.

O assecla da deusa usava como vassalo um caçador de porte bastante atlético, rosto quadrado e olhos e cabelo castanhos bem penteado para um lado. Vestia um figurino comum para indivíduos do tipo: Colete marrom de tecido, camisa branca com mangas, calças sociais e botas.

O corredor possuía armários colegiais de cor cinza inconcluídos e portas-duplas de entrada e saída, além de extintores de incêndio posicionados em alguns pontos.

— Eu ainda estou tentando entender como chegamos a esse ponto. - disse Áker, desapontado. - Quando deixamos a cumplicidade se perder com o tempo tão facilmente?

— Não cabe a mim responder. - redarguiu o outro, mantendo a sisudez. - Nosso inimigo venceu por sua causa, Áker. Esteve na retaguarda enquanto seus seguidores débeis se perguntavam vários porquês e realizavam o serviço pesado. Você... - apontou o indicador esquerdo para o arauto. -.. abalou com a honra do império. Estamos aqui para conserta-la.

— Me removendo da equação? - perguntou o arauto.

— Que outra escolha temos? - retrucou o soldado, dando alguns passos adiante. - Só para sua informação, não viemos a mandado de nossa rainha, mas sim de Lorde Yuga! Eles nos enviou até aqui para puni-lo severamente pelos danos que causou!

— Eu protesto! - bradou Áker, claramente insatisfeito. - Sei que posso ter ferido a confiança de meu soberano, mas tenho o total direito de me manifestar em defesa.

— Esse direito foi revogado. - salientou o soldado, arqueando as sobrancelhas. - Fomos justamente recompensados para tirar você deste posto do qual você não é digno. Nunca foi... e nunca será. - fez uma pausa, movendo os dedos das mãos para denotar um ato inesperado. - Viemos para leva-lo ao expiatório. Eu sugiro que não nos subestime.

— Ora, por favor. - disse Áker, demonstrando impaciência. - Não me envergonhe. Sei que está desenhando um sigilo. Vai precisar muito mais do que isso se quiser me deixar realmente intimidado com suas ameaças.

— Não seja tolo, nunca iria desperdiçar toda minha energia em uma escória feito você. - provocou o soldado, manifestando seu ódio. - Combinamos de reservar algo bem especial para você. E, honestamente, nenhum de nós queria estar na sua pele. A sua pele de verdade, não esse saco de carne e ossos. A escolha é sua, Áker: Do jeito fácil... - enfiou sua mão direita por detrás do colete para retirar algo. - ... ou, se preferir... do jeito difícil. - mostrara uma afiada lâmina dourada, parecendo estar pronto para ataca-lo.

— É o bastante para me fazer temer pela minha própria vida? - questionou Áker, fitando a faca com certo desdém.

— Vamos descobrir. - disse o soldado, logo em seguida avançando contra o arauto.

Áker tentou imobilizar o braço direito do oponente antes que a lâmina chegasse ao seu rosto, logo o jogando contra parede ao lado, embora não o fazendo largar a arma. O soldado investira novamente ao se erguer, empurrando, supervelozmente, o arauto contra a outra parede, gerando um impacto que a fez rachar. Tentou perfurar Áker, mas o mesmo desviara a cabeça e a ponta da espada cravou no concreto da parede. O arauto o empurrara contra um dos armários com forte violência.

O soldado, por sua vez, em vez de reerguer, pusera um amuleto sobre a palma da mão esquerda, proferindo uma mensagem rápida.

— Eu o encontrei! - alertou ele aos demais.

Áker o pegara pelo colete, dera um giro e o jogara no chão brutalmente. O piso danificou-se, deixando um rastro médio de destruição.

Por meio de teleporte, outros dois surgiram por trás do arauto e tentaram agarra-lo.

Áker incutiu uma pressão em sua mão direita, fazendo um deles voar para fora do corredor, danificando a porta dupla. Tendo baixado a guarda por causa disso, Áker fora atingido pelas costas por uma lâmina dourada arremessada pelo primeiro a aparecer. O terceiro desferira um cruzado de direita e outro de esquerda, aproveitando que o arauto perdera a concentração, em seguida o chutando-o no queixo, fazendo-o cair.

Uma cuspida de sangue manchara o piso de cerâmica.

O mesmo soldado tentara esfaqueá-lo com a lâmina dourada, mas Áker, ainda que caído, defendera-se ao agarra-lo com as duas mãos. Quebrara os ossos do pulso do soldado, fazendo-o largar a lâmina, logo depois erguendo-se um pouco e quebrando seu pescoço. Ao se levantar, o arauto se dirigiu superveloz até o primeiro, tirando a faca antes cravada em suas costas, para golpeá-lo de modo certeiro. O mesmo se defendera, pegando o cabo da faca antes que a ponta perfurasse um dos olhos.

O terceiro viera por trás de Áker, também superveloz, mas o arauto o socara sem olha-lo, derrubando-o contra a parede.

— Vieram somente vocês três? Uma pena. - disse o mensageiro de Yuga, limpando o smoking, achando pouco.

— Lorde Yuga só permitiu que somente três soldados determinados a fazerem o possível e o impossível para salvar o império fossem designados a capturarem o desertor. - informou ele, depois tentando atacar Áker novamente.

O arauto o pegara pelo pescoço no mesmo instante, levantando-o.

— Agora entendi. - disse Áker, sem parecer piedoso. - Ele lhes concedeu quase o mesmo nível de força que o meu, pude sentir logo no primeiro golpe. Não é a mesma coisa, mas um dia vocês chegam lá.

— Se acha muito forte, não é? - perguntou o soldado, a voz enfraquecida pelo intenso aperto que Áker infligia em seu pescoço. - Saiba que não desistiremos tão fácil...

— Sei que não vão. - disse o arauto, olhando por cima do ombro por uns segundos e, logo em seguida, jogando-o contra a parede da direita como se fosse um mero objeto descartável.

Rapidamente sacando sua adaga dourada, Áker virou-se e investira contra o soldado que empurrara para fora do corredor e que havia retornado para contra-atacar.

Certeiramente cravou sua lâmina em um ponto vital do soldado... que logo mais se revelou como uma simples ilusão, desaparecendo feito um fantasma.

— Essa técnica é minha. - disse Áker, franzindo o cenho em indignação.

— Queria ver algo novo? - perguntou o primeiro soldado a surgir, fazendo o arauto se virar bruscamente.

Os três estavam juntos, exibindo sorrisos infames que indicavam um certo ar vitorioso. A dupla que aparecera depois do primeiro soldado a encontrar Áker posicionava-se à esquerda e à direita. Os dois caçadores puseram suas mãos esquerda e direita, respectivamente, nos ombros de seu "líder". Uma luminosidade amarelada passava pelos seus braços, como se estivessem realizando um veloz processo de transferência de energia para seu considerado chefe da missão. O soldado de cabelos castanhos e porte robusto recebia certa quantidade, ao passo em que seu tórax emitia uma luz de igual cor, mantendo seus punhos fechados e bem apertados.

"Mas o que estão tentando fazer, afinal? Que tipo de artimanha é essa?", pensou Áker, sem entender.

O soldado do meio abrira a boca iluminada, seus olhos refulgindo intensamente. Do seu peitoral uma grande concentração energética, assemelhando-se à uma esfera, surgira, em seguida alcançando o nível máximo de liberação ao disparar uma espécie raio retilíneo ou rajada solar, a qual acertara Áker de imediato, o arremessando de forma brutal contra uma parede próxima aos armários.

Os efeitos não pareceram tão graves quanto o esperado pelo trio, mas, em vista do esforço, valera a pena já que tal técnica possuía eficácia no enfraquecimento da vítima, até mais do que usuário.

Apenas desconheciam o limite de tal fraqueza.

Áker caíra no chão, trêmulo, mas ainda consciente, esforçando para se reerguer. Seu smoking estava em frangalhos, rasgado em várias partes e exalando fumaça. Na parede, via-se um grande rombo.

Os três soldados ofegavam bastante.

— O que achou da surpresa? - perguntou o do meio, feliz ao ver o arauto combalido. - Isto aqui tem o dobro dos efeitos que uma simples rajada pode causar. Mais duas e você estaria acabado, definitivamente.

O mensageiro de Yuga se pusera de um só joelho, recuperando o fôlego a cada segundo. Deu uma risadinha baixa, para o espanto dos opressores.

— O quê?! - perguntou o da esquerda, estranhando. - Ele ficou insano?

— Na verdade, só está se exibindo... - disse o do meio, gradualmente reavendo a disposição. - Querendo nos provar que pode suportar as dores da punição. Apenas está enganando a si mesmo.

— Pena não podermos fazer de novo. - disse o da direita.

— Não seja estúpido. - retruco o do meio, olhando-o por cima do ombro. - Lorde Yuga nos ordenou para trazê-lo vivo. Mas não disse nada sobre leva-lo repleto de danos físicos.

— Reclamam por eu me achar mais forte... - disse Áker, levantando-se lentamente, mas exibindo um tom de voz que provava sua inquebrável determinação. - Mas, em verdade, vocês se acham muito espertos...

— Héth, precisamos dar á ele uma segunda dose. - sugeriu o da esquerda, a face enfezada. - Não foi o bastante.

— Você não podem. - rebateu o arauto, mantendo a cabeça baixa e o ar de mistério. - E não querem. - dera outra risada baixa. - Só devo avisa-los... de que as coisas nem sempre acabam como se espera. - ergueu a cabeça, apresentando uma face sisuda e, em simultâneo, raivosa. As pupilas brilhavam uma luz amarela um tanto intensa e a área em torno de seus olhos parecia clarear.

Não demorou para que um tremor de terra começasse a vibrar sobre o espaço e aumentando à medida que o arauto erguia seu corpo.

— O que está havendo aqui? - perguntou Héth, recuando. - Não pode ser...

As paredes rachavam-se com uma rapidez aterradora ,bem como chão. Os armários, nos dois lados, vibravam intensamente.

— Precisamos ir... - disse um deles, preocupando-se. - Talvez tenhamos o subestimado... Ele atingiu o limite!

— Isto não está certo! Nós o acertamos com toda a força! - questionou Héth, olhando para os dois companheiros, agarrando as golas de suas camisas. - Impossível, inadmissível! - tornou a observar Áker triunfar em dar a volta por cima.

O arauto, após ficar totalmente de pé, urrara estridentemente no mesmo instante em que seus olhos refulgiram uma intensa luz amarela e suas asas se projetaram na parede como sombras. A força gerada por Áker fora tremenda de modo a destruir completamente as paredes, o chão e os armários em uma descarga avassaladora e extrema, como um terremoto de magnitude na escala mais alta possível.

Tal poder esmagador consumira toda a área que circundava a escola, a força sísmica alastrando-se ao passo em que um ínfimo ponto luminoso adquiria volume até se transformar em uma liberação assoladora, estrondosa e flamejante, não poupando absolutamente nada que estivesse próximo o bastante.

A cinzenta nuvem de fumaça em formato de cogumelo alcançou uma altura estratosférica, podendo ser facilmente visível à vários quilômetros dali.

  ***

Em uma área aberta e mais ampla do galpão, Sekhmet andava visualizando cada ponto onde o seu alvo poderia estar se mantendo escondido visando atingi-la imprevisivelmente.

— Estou cansada de rodeios. - declarou ela, irritando-se, pondo as mãos na cintura. - Apareça! Serviçal patético! Deveria ter pensado mil vezes antes de tentar me atrair para sua falsa armadilha. Saia de onde estiver... - andou mais alguns passos, dando um sorriso de canto de boca. - ... e talvez eu repense sobre uma interação mais pacífica, por menos que eu goste.

Um estampido ecoou por todo o recinto em altíssimo som.

A deusa parara de caminhar... dando-se conta de um pequeno corpo ter atravessado a carne de seu receptáculo direto no abdômen. Ao verificar vira um líquido vermelho escorrer pela ferida, manchando o sobretudo cinza. Aparentemente sem sentir nenhuma dor, ela vasculhou ao redor com seus olhos fervorosos.

— Quem está aí? - perguntou ela, elevando o tom.

Um vulto surgiu por detrás de uma porta entreaberta em uma área meio opaca. A figura de alguém forte e de alta estatura avizinhava-se dela com toda a calma e segurança necessárias. A deusa focara sua atenção naquela sombra que ganhava mais luz a cada passo, percebendo um objeto que se igualava a um revólver de médio calibre.

— Não está sentindo algo... diferente? - perguntou Adam, revelando sua face à deusa ao se aproximar. O caçador baixou os olhos para a ferida. - Vejo que não consegue retirar a bala. Um bom sinal.

— Quem é você, seu mortal insolente? - perguntou a deusa, rude.

— E ela realmente fala como uma verdadeira deusa! - dissera Lester, surgindo de uma parte incompleta de uma parede. - E tem a aparência de uma. - afirmou, olhando-a de cima à baixo, assoviando.

— Melhor não arriscar, Lester. - disse Êmina, aparecendo por uma das portas e andando em uma direção oposta da qual o caçador vinha. - Essa daí não parece fazer seu tipo.

— O que significa isso? - questionou Sekhmet, sem levar a sério aquela inesperada reunião. - Aquele serviçal está mesmo desesperado a ponto de contratar insetos rastejantes para fazerem o serviço sujo. E esta é a estratégia que ele recomendou? - perguntou, apontando para a ferida. - É esta a prova de confiança que ele lhes deu?

— Não fomos contratados. - disparou Êmina, fitando-a séria.

— E nem exigimos recompensa. - disse Adam. - A bala que disparei... foi por Rosie.

— Então é o cretino motivou-os a se vingarem. - disse a deusa, levantando uma sobrancelha. - Era de se esperar. Mas com isto? Ingenuidade não é bem das piores características dos mortais, mas vocês se superaram. Será que podem me algemar? - perguntou, logo dando uma gargalhada mefistofélica. - Ou devo exigir que me solicitem um médico ou curandeiro? - olhava-os com forte zombaria.

— O que te aguarda é bem pior, acredite. - disse Lester, sorrindo de leve.

— Talvez até para os deuses exista um destino bem pior do que a morte. - afirmou Êmina, cruzando os braços.

— Nem tudo o que é imortal se dá bem no final. - disse Adam, encarando com total seriedade.

— É engraçado... - disse Sekhmet, ainda dando algumas risadinhas. - Vê-los me subestimarem tão deliberadamente. E, ainda assim, tão vulneráveis. Como feras adestradas. Não pensem em ir agora. Só estou permitindo um tempo para que vivam seus últimos segundos. Por que não importa que tipo de objeto me feriu, se é especial ou não... Pois vou me regenerar... e quando assim ocorrer, vou desmonta-los como peças de bonecos. A coisa mais fácil do mundo. E extrair cada gota de sangue de seus corpos, cada fluido, cada órgão sendo saboreado. - declarou, o tom cruel gerando um feito de revolta nos três caçadores.

— Eu não teria tanta certeza. - disse um voz grave vinda de um ponto não detectável. Depois viera o som quase reverberante de um estalar de dedos.

Um pequena luz amarela acendeu-se na ferida sangrenta de Sekhmet, fazendo-a, instantaneamente, ir ao chão, ficando em posição quadrúpede. A deusa grunhiu e gemeu sentindo uma familiar sensação de algo arrancando suas forças sem misericórdia.

— Oh, não... - disse ela, a voz fraquejada.

— Quem muito ladra, acaba sem coragem para morder. - disse Êmina, adorando ver a deusa render-se.

Áker se aproximava a passos largos, prestes a explicar para o trio todas as fases do plano.

— Chegou a tempo. - disse Adam, feliz ao revê-lo em bom estado. - E então, como conseguiu lidar com aqueles caras?

— Antes de mais nada, devo dizer que não cheguei agora. - disse Áker, confundindo os bravos caçadores. - Na verdade, estive aqui o tempo todo. - revelou, olhando para cada um deles.

— O quê?! - dispararam os três, quase em uníssono, estupefatos.

— Então foi isso... - disse Sekhmet, tocando na ferida, mantendo-se na mesma posição. Tentou virar o rosto para olhar o mensageiro, os cabelos pretos e lisos cobrindo um pouco a face. - Você usou aquilo... Trapaceiro. Maldito!

— Exato. - confirmou Áker, encarando-a com desdém.

— Será que pode nos explicar o que você andou aprontando que não quis nos contar? - perguntou Lester, fortemente intrigado.

— Nos conte a verdade, Áker. - pediu Adam, fitando-o com certa preocupação.

— Estavam interagindo como uma cópia criada por mim mesmo. Possuo a habilidade de produzir cópias de mim e de outros seres. Mas respeitando o limite de uma réplica por vez. - explicou Áker. - Antes disso, forjei rastros que diziam estar levando ao local onde eu estava esperando por Sekhmet, eu intencionei atraí-la, enquanto seus subordinados se concentravam em acatar a ordem de captura dada pelo meu Lorde.

— Impossível. - reclamou a deusa. - Afinal, como diabos você soube da denúncia? Não havia como. Já estava declarado como desertor fugitivo!

— Um dos meus antigos aliados me informou, antes de se unir aos demais a testemunhar contra mim. - disse Áker, andando em redor de sua prisioneira. - Determinei que assim que conseguissem pega-la, eu poderia me desfazer da cópia. No entanto, as circunstâncias conspiraram a meu favor, e meu confronto com seus aliados durou o suficiente até o fim da cópia. Quando uma cópia excede o seu limite de tempo, ela naturalmente se auto-destrói. No fim, o lugar inteiro se reduziu em pó, e, com ele, os três soldados recém-promovidos e os infectados que lá residiam. Além disso, a bala que Adam disparou foi fornecida por mim e nela está um sigilo entalhado na ponta. Temi que não funcionasse, por ela ter sido derivada de uma lâmina dourada comum. Mas uma coisa ficou provada: O sigilo não é influenciado pela ineficácia da lâmina contra seu alvo e por isso se sobrepõe.

Sekhmet ficara pensativa enquanto enxergava uma iminente ruína de sua condição autoritária. Sua expressão arrasada comprovava sua frustração sem tamanho.

— Não... Eu não posso... Não posso aceitar...

— Você deve. - ditou o arauto, severo. - Perder com honra ou sofrer amargamente em lamentação. Já não sou eu mais quem se encontra num dilema existencial.

— Olha... - disse Lester, impressionado. - ... Tenho que admitir: Isso foi genial. - confessou, sorrindo. - Superou minhas expectativas, de verdade.

— Obrigado, Sr. Cooper. - agradeceu Áker, assentindo positivamente ao caçador.

— Espera, como sabe meu sobrenome? - perguntou ele, o cenho franzido.

— Rosie me falou bastante sobre você. - revelou ele, recordando-se dos momentos que passara ao lado da jovem. - Sonhava com todos nós reunidos... e felizes, eu acho.

A risada zombeteira de Sekhmet quebrara o breve clima de silêncio enquanto os caçadores lembravam-se, com pesar em seus rostos, das aventuras passadas com a última da linhagem Campbell.

— Agora... ela está morta. - disse a deusa, com infâmia.

— Graças à você. - disse Êmina, fitando-a com desprezo.

— Eu?! - indagou a deusa, mantendo a cabeça baixa, tentando passar a impressão de que estava suportando todo o ardor proporcionado pelo sigilo. - Eu nem sequer entrei naquela fortaleza medíocre. - revelou, tentando inocentar-se.

— Espera que acreditemos nisso? - perguntou Adam, rigoroso.

— Não espero por mais nada, minha existência perdeu qualquer sentido. - disse ela, rendida. - Deveria... tê-los matado com minhas próprias mãos enquanto tive a chance. Acho que foi tempo demais. Mas eu nunca menti. Não... matei Rosie Campbell. Mas eu teria... o imenso prazer de fazê-lo.

Como resposta, Êmina desferira um forte chute contra o rosto da deusa.

— Cala a boca, vadia. - disse ela, o tom frio.

— Vamos aguardar algumas horas. - disse Áker, decisivo. - Até que o processo se complete. - decretou, andando em uma direção aleatória para esperar em uma outra parte da grande estrutura. - Não precisam me seguir.

— Eu faço questão. - disse Lester, tocando-o no ombro de forma amigável e caminhando ao seu lado. - Estava errado ao seu respeito e recusar isso seria bem deselegante. Enquanto a dama fatal vira uma boa menina... O que acha de, sei lá, trocarmos umas ideias? Falar mais sobre você. - sugeriu, olhando-o.

— Como vocês mortais dizem: Vamos nessa. - disse o arauto, concordando fazer companhia ao caçador.

Êmina puxara Adam de leve pelo braço, convencendo-o a esperar em outro lugar.

— Anda, vamos. - disse ela. - Tortura-la é puro desperdício de energia. Não vale a pena.

— Tem razão. - aquiesceu o caçador, olhando a deusa com intenso desprazer. - Vamos deixar seu lado divino morrer aos poucos. Se é que existe um lado humano. - dissera, virando-se para se direcionar à uma das portas, ao lado da caçadora.

Até que Sekhmet perdesse cem por cento de toda sua energia divina, teria-se que esperar por cerca de 3 ou 4 horas, no máximo.

A deusa não esboçava sinais de sofrimento, muito menos tentando retirar o projétil do ferimento, em clara demonstração de que sua aceitação pelo destino era genuína e corajosa. As forças que a tornava imbatível definhavam-se , mas seu ódio por humanos e seu orgulho resistente permaneciam intactos.

CONTINUA...


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