Morte e Vida de Julieta escrita por Afrodite


Capítulo 2
Preparação dos Cupidos


Notas iniciais do capítulo

Quero agradecer às manas que comentaram no capitulo anterior, fiquei felizona ♥



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Eu não tinha nada pra ver lá naquele hospital além de um bebê todo melecado, então decidi voltar pro céu, tendo fé de que a Bia ficasse mais bonita daqui a uns meses.

Na verdade, essa era a menor das minhas preocupações, o que eu queria mesmo era saber sobre a minha "velha vida", minha curiosidade estava pra me matar. Entretanto os arcanjos disseram que era errado saber da vida anterior, que era preciso deixar tudo pra trás... Mas regras existem para serem quebradas, certo?

Quando passei pela recepção, dei "oi" a uma anjo de black power branco que estava sentada no sofá lendo um livro (Romeu e Julieta), ela mal tirou os olhos dele e só fez um sinal com a mão... Que grossa. 

Entrei no quarto e sentei na cama. Comecei a pensar em como eu faria pra descobrir, precisava fazer anotações sobre os poucos dados que tinha até então, mas como eu faria aquilo? Aquela anjo da recepção poderia me ajudar, ela era bem antipática mas eu precisava dela. Saí do quarto e me dirigi a ela sem me aproximar muito:

Ah, com licença...

Ela deu uma suspirada e olhou pra mim com uma cara meio de deboche:

O que foi?

Eu não quero incomodar nem nada, eu só queria saber onde eu posso encontrar uma caneta e uma caderneta.

Ai, meu Deus, dá-me paciência  ela falou enquanto revirava seus olhos verde claros Meu anjo, você é um anjo, caso não tenha percebido, então assim, se você quiser uma coisa, imagine a coisa e ela vai aparecer. E, por favor, PARA de me azucrinar, eu tô tentando ler.

"Então por isso aquele espelho apareceu do nada no meu quarto..." pensei. 

Muito obrigada!  falei sorridente e ela só resmungou "uhum" como resposta.

Voltei pro quarto e imaginei um caderninho e uma caneta, aí plim apareceram, como num passe de mágica. Comecei a pensar nas informações que eu possuía e a anotá-las:

— não é minha primeira vida

— eu posso ter tido uma, duas, três... 

— o Gabriel resmungou que ama humanos, então eu devia ser uma                     humana...

Enquanto eu estava escrevendo, ouvi uma sirene horrorosa seguida de "cupidos novos, pro campo de treinamento" repetido várias e várias vezes. Saí do quarto completamente perdida, onde devia ser o tal campo de treinamento? Comecei a andar meio sem rumo, fui pra estrada de ouro...

Você também não sabe pra onde ir? — perguntou uma garota sardenta, baixinha de cabelos azuis curtos e com franja que usava uma jardineira e sandálias de plástico (tudo branco como sempre). 

Não faço ideia  respondi. 

Ela voou até o anjo que estava com o autofalante, conversou um pouco com ele e voltou:

—Primeira à esquerda e sobe, parece que vamos treinar tiro ao alvo e ganhar nossos utensílios de cupido. Ah, tô tão animada!

Que legal... Eu me chamo Julieta  me apresentei estendendo a mão, aquela anjo sardenta poderia ser minha amiga, era um cupido novo e parecia saber tanto quanto eu das coisas do céu. 

E eu sou Sarah.

Fomos voando e conversando até o campo, naquele momento eu já tinha progredido bastante no ato de voar, era quase automático. 

O campo era enorme, e o chão não era de nuvem, era uma grama bem verdinha, havia vários alvos, mas ao invés de circunferências, eram desenhados corações, uns dentro dos outros: vermelho, rosa, violeta, roxo e azul, respectivamente do centro às extremidades. Era tudo tão lindo e organizado. 

—Sejam bem-vindos! — Um rato gigante falou.

A Sarah deu um grito e me agarrou, mas logo o ratão se transformou no Gabriel e ele começou a rir, seguido por todos os cupidos novos, incluindo eu e a Sarah.

— Era só uma brincadeirinha pra quebrar o gelo ele disse — mas agora, falando sério, essa é a aula de tiro com arco de vocês. Como cupidos, vocês precisam dominar muito bem essa arte, todos vocês tem a manha, podem ter certeza, o que vamos fazer aqui é apenas aperfeiçoá-la. Podem pegar seus instrumentos no cesto lá atrás e começar a treinar, irei de um em um para ver seu desempenho.

Quando olhei pro lado, a Sarah estava com seu arco e sua aljava e já me entregando os meus, quase tudo branco, mas as penas das flechas eram douradas. Começamos a treinar, lançando flechas para nossos alvos, ela era boa pra uma principiante, e eu era péssima, até mesmo pra uma principiante. 

—O que você pensa que está fazendo, Julieta? — Gabriel me indagou. 

—Eu, sinceramente, não faço ideia.

Ele deu uma gargalhada e depois me aconselhou com algumas dicas de como proceder. 

Com o tempo eu melhorei bastante e já conseguia acertar o coração vermelho, assim como todos os outros cupidos, tínhamos progredido de verdade. Depois que estávamos todos no mesmo nível, Gabriel mandou que devolvêssemos os arcos e flechas, para irmos à parte mais teórica e "chata" como ele disse, além de também recebermos nossos utensílios.

A próxima parada foi em um prédio, entramos em uma espécie de auditório com uma mesa grande e muitas cadeiras em rampa, parecia uma sala de aula de faculdade. Eu e Sarah nos sentamos na primeira fileira, pra ver bem. Tempo depois apareceu Miguel, diferente da outra vez, ele não estava com aquela roupa brega até os pés, estava de roupa social branca, com a gravata dourada, muito melhor!

—Olá, cupidos, agora vamos pra parte boa da preparação de vocês. Em breve veremos todos atingindo bem suas vítimas, como se deve. Bem, antes da parte que todos esperam, que é a entrega dos utensílios, vou apresentar cada um deles e falar um pouco sobre, e no fim da aula um aluno poderá fazer uma pergunta... E quero lembrar a vocês que ser cupido é uma tarefa importante e espero que todos zelem bem por esse cargo.

Ele pegou a maleta que estava na sua mão, a pôs na mesa e começou a tirar os objetos dela: tirou primeiro uma aljava e um arco (não faço ideia de como coube lá dentro, mas tudo bem), depois um despertador, seguido por um relógio de bolso e um grande relógio (que também não sei como coube), aí tirou uma pulseirinha molenga com um rubi nela, e depois uma espécie de colar com um pingente meio paralelepipédico e um diamante rosa circular no centro.

—Bastante coisa, não? Esses são, provavelmente, os utensílios mais importantes de vocês, os clássicos — ele começou, pegando o arco e a aljava — Vocês podem lançar as flechas utilizando o arco, ou simplesmente com as mãos mesmo, mas quanto mais de longe a flecha for lançada, mais tempo ela dura no coração. Lembrando que se errarem o alvo, não tem problema, a flecha só tem efeito se atingir o coração. Vocês possuem um número ilimitado de flechas, podendo fazer sua vítima se apaixonar quantas vezes vocês quiserem, mas vocês obrigatoriamente precisam fazer ela se apaixonar, se ela chegar a morrer de velhice sem nunca ter se apaixonado, vocês morrem junto com ela. Não é muito recomendado fazer um humano se apaixonar antes dos 12 anos, mas se vocês quiserem fazer ele se apaixonar com 7 anos, estão liberados. Dependendo do humano, vocês só podem fazer ele se apaixonar por uma pessoa por vez, mas o número de flechas é livre, pode ter 10 flechas pra mesma pessoa, por exemplo, mas sugiro que comecem apenas com uma.

Depois ele deu a aljava e o arco pra passarem pela sala, para que todos pudessem vê-los. 

—Isso nos leva ao próximo utensílio: o cordão de diamante rosa. Esse cordão está ligado às flechas: toda vez que você atinge uma vítima com uma flecha, no cordão acende uma luz cor-de-rosa, se você fizer alguém se apaixonar por mais de uma pessoa, você terá mais de um cordão. Agora quando a paixão se transformar em amor romântico, a luz do diamante rosa ficará vermelha. 

Em seguida, o cordão passou por todos também. 

—Essa é a pulseira rubi, ela não é muito necessária, o uso dela é completamente opcional. O rubi pisca e apita toda vez que sua vítima se interessa por alguma pessoa de forma romântica pela primeira vez, pode ser quando ela acha uma pessoa atraente de alguma forma, quando ela beija, ou quando tem relações com alguém. É só pra vocês terem uma opção que agrade sua vítima, mas vocês podem fazer ela se apaixonar por qualquer um, inclusive por um inimigo dela. 

E a pulseira passou pela sala. 

—E por fim temos esses três contadores de tempo: o grande relógio, o relógio de bolso e o despertador. Eles servem pra vocês terem noção do tempo cronológico, o tempo da terra, vêm com a hora, o dia, o mês e o ano. Aqui no céu sempre é dia e nós não contamos o tempo, não dá pra ter noção, só Deus sabe, então vocês têm o despertador para programar a fim de saberem exatamente a hora de ir lá em baixo exercer seu trabalho, o relógio de bolso pra levarem pra todos os lugares, e o grande relógio, que ficará no quarto de vocês... Ou sei lá, vocês decidem onde ele vai ficar.

Os três contadores de tempo passaram pela sala.

—Agora quem tiver dúvidas pode levantar a mão, escolherei apenas um pra responder. Essa é uma tática pra vocês não começarem com tudo preparado e planejado, queremos que vocês aprendam sozinhos e errando. 

Muita gente levantou a mão, quase todos da sala, mas ele escolheu um rapaz negro de cabelos roxos:

—Por que os nossos humanos são chamados de vítimas? — foi a pergunta do cupido.

—Ótima pergunta. Seus humanos são chamados de vítima porque vocês vão flechá-los no coração, e essa flecha tem muitos efeitos colaterais que podem se manifestar, como diarreia, vômito, tontura, enxaqueca, insônia, ansiedade, pensamentos voltados para uma só pessoa, falta de atenção, decaimento da eficiência, coração acelerado, náuseas, falta de ar, depressão, euforia, calafrios, pressão baixa ou alta...

Ele continuou a falar um monte de outros sintomas e eu só conseguia me assustar (assim como os outros cupidos, todos de olhos arregalados), pedi a Deus que poucos sintomas se manifestassem na Bia, eu não me perdoaria se a fizesse sofrer, mas parecia ser necessário, senão eu ia morrer...

—Que sinistro isso — a Sarah resmungou. 

Finalmente fomos receber nossos utensílios, os meus tinham detalhes cor-de-rosa, os da Sarah azuis, e junto aos que o Miguel tinha nos apresentado no auditório, recebemos também fichas das nossas vítimas, contendo dados importantes e essenciais sobre elas, e informações sobre suas vivências, que seriam atualizadas todos os dias de acordo com a contagem cronológica. Voltamos ao nosso prédio e nos despedimos, o quarto da Sarah era em cima do meu. Sentei na cama e pensei em continuar minha missão de busca pela minha antiga vida, mas eu não tinha nada pra fazer em relação àquilo... 

Peguei meus utensílios, pus meu cordão e minha pulseira, guardei meu relógio de bolso no meu bolso, pendurei meu grande relógio na parede, peguei o despertador e botei pra despertar quando a Bia estivesse com 14 anos, julguei uma boa idade pra se apaixonar.

A Bia... O que será que ela estava fazendo? Olhei meu relógio de bolso, ela estava com mais ou menos 3 meses de vida. Não aguentei e fui vê-la. 

O quarto da Bia tinha uma parede azul com várias nuvenzinhas brancas, um bercinho azul claro, ela estava dentro dele, tinha um colchão no chão e uma poltrona branca, onde a mamãe dela estava sentada lendo um livro (Mamães De Primeira Viagem). Um quarto simples, mas eu sentia o conforto dele.

Me aproximei do berço e a vi, ela tinha pele escura, os cabelos bem pretinhos e olhos pequenos, ela tinha ficado linda mesmo. 

—Oi, Bia — eu falei com uma voz idiota. 

Os olhos da Bia então começaram a brilhar e ela sorriu, comecei a falar coisas idiotas pra ela e ela começou a dar gargalhada, será que ela estava me vendo? A mãe dela deu um pulo da poltrona e veio vê-la:

—Cê tá rindo, filha? MÃE, VEM VER!

A avó veio correndo.

Mãe, ela tá rindo de verdade pela primeira vez! 

O que você fez pra ela rir?  a avó perguntou comovida. 

—Nada, ela só começou a rir do nada...

—Ela tá vendo um anjo, filha. 


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Notas finais do capítulo

Só amor pela relação entre Ju e Bia ♥



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